Resumo
Na madrugada de 3 de dezembro de 1984, um acidente numa fábrica da filial indiana da empresa estadunidense Union Carbide Corporation (UCC) viria a desencadear o maior desastre industrial da história: o desastre de Bhopal. Neste texto, a partir de um trabalho etnográfico recente, propõe-se um encontro, mais de 30 anos depois, com as vozes daqueles cujas vidas foram afetadas pelo desastre de Bhopal. Esta abordagem pretende convocar leituras sobre o tempo, a violência e as demarcações de humanidade que definem a memória social. Em particular, pretende-se questionar os processos pelos quais algumas vidas são desproporcionadamente expostas à violência e fracassam em receber justa compensação, bem como os itinerários pelos quais alguns sofrimentos são tendencialmente elididos da memória social do Ocidente. Finalmente, analisa-se a forma como a vulnerabilidade biográfica e corpórea, imposta pelo desastre, criou espaços de enunciação e narrativas de resistência.1 1 Artigo elaborado no âmbito do projeto de pesquisa “ALICE – Espelhos Estranhos, Lições Imprevistas: Definindo para a Europa um novo modo de partilhar as experiências do Mundo", financiado pelo 7.º Programa-Quadro da União Europeia (FP/2007-2013)/ERC Grant Agreement no. 269807.
Palavras-chave:
Desastre de Bhopal; Epistemologias do Sul; Violência Lenta; Índia; Memória Social