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Caracterização morfofisiológica e patogênica de isolados de Armillaria na região Sul do Brasil

Morphophysiological and pathogenic characterization of Armillaria isolates from the south region of Brazil

RESUMO

Armillaria sp. é patógeno causador de podridão de raízes e a morte de árvores de Pinus na região Sul do Brasil. Pouco se conhece sobre aspectos morfofisiológicos e patogênicos dessa espécie. Este trabalho objetivou caracterizar a morfologia, fisiologia, patogenicidade e produção de basidiomas in vitro de isolados de Armillaria da região Sul do Brasil. A análise da morfologia do micélio e rizomorfa foi feita em colônias cultivadas em meio BDA (batata-dextrose-ágar) a 20 ºC, no escuro, por 30 dias e em fragmentos de placas miceliais produzidas em seções de tronco inoculadas com o fungo, com microscopia de luz e de varredura. A fisiologia abordou a análise da biomassa produzida em caldo BD (batata-dextrose) em seis temperaturas. O teste de patogenicidade foi realizado em mudas de Pinus taeda. A indução de basidiomas foi feita em seções de tronco de P. taeda inoculados em frascos com meio BDA. As colônias apresentaram variação na morfologia do micélio, crescimento irregular sem simetria radial, coloração variando do branco, cinza ao marrom, e na maioria das vezes com rizomorfas. A análise da hifa revelou estruturas típicas do gênero Armillaria, como grampos de conexão, septos, pilosidades e massas resinosas sobre a superfície de hifas. A morfologia das rizomorfas mostrou-se variável de acordo com o ambiente, apresentando pilosidades quando em crescimento aéreo e superfície lisa quando desenvolvidas no interior do meio de cultura. A placa micelial mostrou-se crostosa com hifas verrucosas. A temperatura ótima para os isolados de Armillaria variou de 16 a 24 ºC. Somente uma planta inoculada morreu demonstrando a dificuldade de se reproduzir a doença in vivo. Um basidioma foi produzido demonstrando a possibilidade de frutificação in vitro de Armillaria sp.

Palavras-chave
basidiomiceto; fungo patogênico; Pinus

ABSTRACT

Armillaria sp. is the pathogen causing root rot and death to Pinus trees in the south region of Brazil. Little is known about the morphophysiological and pathogenic aspects of this species. This study aimed to characterize the morphology, physiology, pathogenicity and in vitro basidiome production of Armillaria isolates from the south region of Brazil. Analysis of the mycelium and rhizomorph morphology was done with colonies grown on PDA medium (potato-dextrose-agar) at 20 °C, in the dark, for 30 days, and mycelial fan fragments produced in trunk sections inoculated with the fungus, using light and scanning microscopy. Physiology was based on the analysis of biomass produced in PD broth (potato-dextrose) at six temperatures. Pathogenicity test was done with Pinus taeda seedlings. Basidiome induction was done with P. taeda trunk sections inoculated in flasks containing PDA medium. Colonies presented variation in mycelial morphology, irregular growth without radial symmetry, coloration varying from white, to gray and to brown, and most often with rhizomorphs. Analysis of hyphae revealed typical structures of the Armillaria genus, such as clamp connections, septa, pilosities and resinous masses on the hyphal surface. Rhizomorph morphology appeared variable depending on the environment, presenting pilosities when developed in aerial growth and smooth surface when developed in the culture medium. The mycelial fan was crusted and had verrucous hyphae. Optimum temperatures for Armillaria isolates varied from 16 to 24 ºC. Only one inoculated plant died, indicating difficulty in reproducing the disease in vivo. One basidiome was produced, demonstrating the possibility of in vitro fruiting of Armillaria sp.

Keywords
basidiomycete; pathogenic fungus; Pinus

Armillaria é um fungo saprófita em tocos de árvores mortas, mas se torna um patógeno quando as rizomorfas penetram nas raízes de plantas suscetíveis (3Baumgartner, B.; Coetzee, M.P.A.; Hoffmeister, D. Secrets of the subterranean pathosystem of Armillaria. Molecular Plant Pathology, London, v.12, n.6, p.515-534. 2011.), desenvolvendo a doença conhecida como armilariose. Produz rizomorfas, estruturas semelhantes a raízes, resultado do crescimento coordenado de milhares de hifas (3535 Wahlström, K.T.; Johansen, M. Structural responses in bark to mechanical wounding and Armillaria ostoyae infection in seedlings of Pinus sylvestris. Forest Pathology, Oxford. v.22, p.65-76, 1992.), as quais são responsáveis pela disseminação no solo, invasão e colonização nas raízes. Tais estruturas aderem às raízes e, por meio de enzimas e ação mecânica, penetram, colonizam e dão origem à placa micelial, que se desenvolve ao longo da entre-casca, atingindo o xilema e interferindo no fluxo da seiva no câmbio (3Baumgartner, B.; Coetzee, M.P.A.; Hoffmeister, D. Secrets of the subterranean pathosystem of Armillaria. Molecular Plant Pathology, London, v.12, n.6, p.515-534. 2011., 3535 Wahlström, K.T.; Johansen, M. Structural responses in bark to mechanical wounding and Armillaria ostoyae infection in seedlings of Pinus sylvestris. Forest Pathology, Oxford. v.22, p.65-76, 1992.).

A armilariose por afetar grande número de plantas lenhosas, sendo constatada em fruteiras de clima temperado e coníferas dos gêneros Pinus e Araucaria, nos estados da região Sul e Sudeste (1Auer, C.G.; Santos, A.F. Doenças dos pinheiros In: Amorim, L.; Rezende J.A.M.; Bergamim Filho, A.; Camargo. L.E.A. Manual de fitopatologia. 5.ed. Ouro Fino: Editora Agronômica Ceres, 2016. v.2, p.595-602.). Impacta plantios de Pinus localizados em áreas de mata natural ou reflorestamentos com espécies florestais hospedeiras do patógeno, cujos solos estavam infestados com o patógeno (1Auer, C.G.; Santos, A.F. Doenças dos pinheiros In: Amorim, L.; Rezende J.A.M.; Bergamim Filho, A.; Camargo. L.E.A. Manual de fitopatologia. 5.ed. Ouro Fino: Editora Agronômica Ceres, 2016. v.2, p.595-602.).

No Brasil, a identidade da espécie de Armillaria, associada à armilariose em Pinus, ainda não foi elucidada. Por enquanto, essa espécie tem sido relatada como Armillaria sp., pois um estudo de caracterização molecular de isolados da região Sul (3131 Shaw, C.G.; Kile, G.A. Armillaria root disease. Washington, DC: USDA Forest Service, 1991. 233p. (Agriculture Handbook, 691).) demonstrou tratar-se de uma única espécie, nova ou ainda não publicada no GenBank. Os trabalhos de identificação desse gênero se concentram em taxonomia clássica baseada na morfologia de basidiomas (3Baumgartner, B.; Coetzee, M.P.A.; Hoffmeister, D. Secrets of the subterranean pathosystem of Armillaria. Molecular Plant Pathology, London, v.12, n.6, p.515-534. 2011.) ou sequenciamento de DNA e comparação com sequências depositadas no GenBank (8Coetzee, M.P.A.; Bloomer, P.; Wingfield, M.J.; Wingfield, B.D. Paleogene radiation of a plant pathogenic mushroom. Plos One, v.6, p.25-35, 2012.). Poucos estudos abordaram a caracterização morfológica do micélio, rizomorfas e hifas de espécies de Armillaria (7Cheng, X.H.; GU, S.X. Cultural characteristics of Armillaria mellea on solid media. Acta Academiae Medicinae Sinicae, Beijing, v.28, n.4, p.553-557, 2006., 2323 Morrison, D.J. Variation among British isolates of Armillaria mellea. Transactions of the British Mycological Society, Cambridge, v.78, n.3, p.459-464, 1982.). Desse modo, este estudo foi desenvolvido para caracterizar a morfologia das colônias, micélio, hifas, rizomorfas e placa micelial de isolados de Armillaria sp., além de aspectos da fisiologia, patogenicidade e produção de basidiomas.

MATERIAL E MÉTODOS

Os estudos de caracterização foram conduzidos nos laboratórios de Patologia Florestal da Embrapa Florestas, Colombo, PR e do Centro de Microscopia Eletrônica da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR. Culturas puras de isolados de Armillaria sp. utilizados neste trabalho foram obtidos da Coleção de Fungos Florestais da Embrapa Florestas (Tabela 1). Os fungos isolados foram inicialmente identificados pela presença de rizomorfas, estruturas típicas do gênero. Os isolados encontram-se armazenados em geladeira (4 ºC), pelos métodos de Castellani, óleo mineral e repicagem periódica.

Tabela 1
Relação de isolados de Armillaria sp. coletados na região Sul do Brasil e hospedeiros

O estudo foi feito em colônias produzidas em meio BDA (batata-dextrose-ágar, 20 ºC, 30 dias no escuro), avaliando a forma, coloração e presença de hifas e rizomorfas. A morfologia da hifa foi analisada por meio de microscopia estereoscópica, microscopia de luz (100X e 400 X) e microscopia eletrônica de varredura. Na microscopia de luz, fragmentos de micélio foram retirados de colônias e colocados em lâminas de vidro corados com líquido de Amann (lactoglicerol-azul de metileno). Na microscopia eletrônica de varredura, utilizou-se três isolados de Armillaria sp. da região Sul (Rio Negrinho, SC; Cambará do Sul, RS e São Mateus do Sul, PR). O micélio retirado do meio BDA foi fixado (glutaraldeído 2,5%, tampão cacodilato de sódio 0,1 M, pH 7,2), pós-fixado em tetróxido de ósmio 1% e desidratado em etanol. Posteriormente, fez-se a secagem ao ponto crítico com CO2 líquido e levado ao metalizador para a cobertura com uma fina camada de ouro. As amostras foram analisadas no microscópio e as estruturas presentes nas hifas foram fotografadas.

As rizomorfas foram removidas de colônias e sua morfologia analisada em microscopia de luz, fragmentando-se em segmentos de 5 mm, sem aplicação de corante para não alterar sua visualização.

Seções de tronco de Pinus taeda L. com casca, com dez cm de comprimento e cinco cm de diâmetro, foram inseridas em frascos de vidro de 500 mL, contendo 100 mL de meio BDA, esterilizados por duas vezes sucessivas em autoclave (120 ºC, 1 h). Depois, os frascos foram inoculados com três discos de micélio-ágar de cinco mm de diâmetro de culturas dos isolados A2, A7, A13 e A23 previamente cultivados em meio BDA, por 30 dias, a 20 ºC, no escuro. Os frascos foram incubados em câmara BOD à temperatura de 20 ºC, no escuro, por 120 dias, para a colonização do fungo nas seções do tronco. Após a colonização, a separação da casca do lenho foi realizada com uma lâmina de aço e fragmentos de placa micelial foram removidos e analisados sob microscopia estereoscópica e microscopia de luz (100X e 400X), sem aplicação de corante.

O estudo do efeito da temperatura no crescimento micelial dos isolados foi feito em frascos de vidro de 500 mL, com tampa plástica, perfurada e tamponada com algodão, contendo 50 mL de caldo BD (extrato comercial de batata e dextrose, 1000 mL de água ultrapurificada) segundo Gomes et al. (12), esterilizados em autoclave (120 ºC, 1 h). A inoculação dos frascos foi realizada com três discos de micélio-ágar, com cinco mm de diâmetro, de culturas cultivadas em meio BDA, por 30 dias, a 20 ºC, no escuro, dos isolados A1, A2, A3, A4, A6 e A13. Cinco frascos foram utilizados para cada isolado e cada temperatura. Os frascos foram incubados em câmaras BOD a 4, 8, 12, 16, 20, 24 e 28 ºC no escuro, sem agitação. Após 35 dias, a biomassa fúngica foi avaliada filtrando-se o caldo contendo micélio e rizomorfas em papel filtro Whatman n. 1, secando-se a biomassa em estufa a 40 ºC, por 72 h. A partir da biomassa seca estabeleceu-se uma regressão polinomial para cada isolado e a determinação da temperatura de máximo crescimento.

Para o teste de patogenicidade, empregou-se a mesma metodologia para produção de placa micelial em seções de tronco de P. taeda em frascos de vidro de 500 mL com 100 mL de meio BD. Foram utilizados os isolados A2, A7, A13 e A23, cultivados por 35 dias em meio BDA, em câmara BOD, a 20 ºC, no escuro. Foram preparados 20 frascos para cada isolado. O teste foi feito em plantas de P. taeda de seis meses de idade, cultivadas em vasos de 10 L com substrato comercial de mudas à base de turfa, esterilizado e sem adubação. As seções colonizadas pelo fungo foram retiradas dos frascos e inseridas verticalmente, a cinco cm de profundidade, em um orifício no solo, próximo da planta, com ferimento das raízes por bisturi. Os vasos foram mantidos ao ar livre, com irrigação quando necessária. Cem plantas de P. taeda foram utilizadas para este ensaio sendo 20 para cada isolado e deixando-se 20 como controle. No controle, foram inseridas apenas seções de tronco esterilizadas em autoclave, sem ferimento da raiz. A incidência de plantas com sintomas típicos da armilariose (amarelecimento ou morte) foi avaliada aos 6, 12, 18 e 24 meses depois da inoculação. O reisolamento do fungo foi feito em meio seletivo para Armillaria (33) e sua comparação com a cultura pura para completar o postulado de Koch.

Para a produção de basidiomas in vitro, seções de tronco de P. taeda com casca, com 15 cm de comprimento e oito cm de diâmetro foram inseridos em frascos de vidro de 3 L com 500 mL de meio BDA, esterilizados por duas vezes, em dias consecutivos, a 120 ºC, por 1 h. As seções de tronco foram inoculadas com três discos de micélio-ágar, com cinco mm de diâmetro, do isolado A1 de Armillaria sp., previamente cultivado em meio BDA, por 35 dias, a 20 ºC, no escuro. Os frascos foram incubados em câmara BOD, a 20 ºC, no escuro, por seis meses para a colonização do tronco, e depois mantidos em prateleiras, sob condições ambientes de temperatura e luminosidade, para indução da frutificação. Os frascos foram avaliados mensalmente quanto à presença de basidiomas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização do micélio de Armillaria sp.

As colônias apresentaram crescimento irregular, ausência de simetria radial, coloração variando de branco, tons de cinza a marrom, e na maioria das vezes com a presença de rizomorfas em meio BDA (Figura 1, Tabela 2). Alguns isolados apresentaram colônias de coloração cinza e branca, com micélio aéreo abundante, de aspecto rugoso em certas partes e rizomorfas presentes (isolados A17, A18, A19 e A21). Outros isolados produziram colônias de micélio e rizomorfas menos abundantes, com micélio aéreo variando entre branco, marrom e cinza (isolados A14, A28 e A30).

Figura 1
Variação micelial de isolados de Armillaria sp. (meio BDA, 20 °C, 30 dias).
Tabela 2
Características culturais dos isolados de Armillaria sp., após cultivo por 30 dias, em meio BDA, a 20 °C.

A comparação da morfologia das colônias de Armillaria sp. com outras espécies necessita de algum ajuste, pois a maioria dos trabalhos utilizou meio malte-ágar com ou sem adição de fontes de N ou sais minerais. Armillaria sp. se desenvolve muito bem em meio BDA, comumente utilizado em estudos com fungos fitopatogênicos. Após quatro semanas em meio malte-ágar, Armillaria mellea (Vahl ex Fries) Kummer formou colônias cotonosas de coloração branca que gradualmente passaram para marrom e finalmente marrom crostoso, com gotas de coloração marrom (1515 Hansson, G.; Reifert, G. Effects of cultivation techniques and media on yields and morphology of the basidiomycete Armillaria mellea. Applied Microbiology and Biotechnology, Berlin, v.26, n.5, p.468-473, 1987.). Tais variações da colônia podem ser função do meio empregado, em dado período de cultivo.

A maioria das colônias apresentou bom desenvolvimento micelial, a exceção de A7, A13 e A15 com menor crescimento, predomínio de rizomorfas e micélio aéreo. No caso de A11, 16 e A23, as colônias apresentaram formações crostosas. Espécies do Zimbabwe cultivadas em meio malte-peptona-ágar a 25 °C por 30 dias (1919 Mwangi, L.M.; Lin, D.; Hubbes, M. Identification of Kenyan Armillaria isolates by cultural morphology, intersterility tests and analysis of isozyme profiles. European Journal of Forest Pathology, Berlin, v.19, n., p.399-406, 1989.) e do Quênia em malte-ágar a 22 °C, por 15 dias (1818 Mallett, K.I.; Colotelo, N. Rhizomorph exudate of Armillaria mellea. Canadian Journal of Microbiology, Ottawa, v.30, p.1247-1252, 1984.) foram separadas em três grupos considerando as características da colônia (coloração e tipo) e rizomorfas (produção e tipo). No presente estudo, usando de condições de cultivo diferentes (meio BDA, a 20 °C, 30 dias) e considerando características da colônia e rizomorfas, esse número chegou a 15 grupos distintos, indicando a necessidade de padronizar meio de cultivo e temperatura ótima para estudos com Armillaria.

Bruhn et al. (4Bruhn, J.N.; Johnson, T.E.; Karr, A.L.; Wetteroff, J.J.; Leininger, T.D. Identification of Armillaria field isolates using isozymes and mycelial growth characteristics. Mycopathologia, The Hague, v.142, n.2, p.89-96, 1998.) avaliaram as características do crescimento micelial de algumas espécies de Armillaria e relataram que, entre espécies, o padrão de crescimento é diferente, variando em relação à formação e aspecto de hifas, a coloração e a densidade do micélio e a pigmentação escura observada no meio de cultura. Porém, dentro da mesma espécie, as variações foram mínimas ou indistinguíveis. Por outro lado, grande variação fenotípica foi encontrada em isolados de A. mellea (1515 Hansson, G.; Reifert, G. Effects of cultivation techniques and media on yields and morphology of the basidiomycete Armillaria mellea. Applied Microbiology and Biotechnology, Berlin, v.26, n.5, p.468-473, 1987.). Também foi observada grande variação na morfologia dos isolados de Armillaria sp. desse estudo, o que não significa que são de espécies diferentes, pois o sequenciamento da região ITS com os mesmos isolados sugeriu serem pertencentes a uma mesma espécie (3333 Silva, F.B. Caracterização molecular de isolados de Armillaria da região Sul do Brasil. 2009. 75p. Dissertação (Mestrado em Microbiologia) -Universidade Federal do Paraná, Curitiba.).

Um dado isolado repicado para meio BDA, sob as mesmas condições de tempo e cultivo pode produzir colônias de aspecto bem diferentes, inclusive sem formar rizomorfas, como observado no isolado A2 (Figura 2). Nobles (2424 Nobles, M.K. Identification of cultures of wood-inhabiting hymenomycetes. Canadian Journal of Botany, Ottawa, v.43, p.1097-1113, 1965.) comentou sobre tais variações que podem ser devidas às condições de cultivo, como meio e temperatura. Outra possibilidade seria que diferentes pontos de coleta de inóculo na mesma colônia representariam diferentes estádios de crescimento ou variabilidade fenotípica, influenciando o desenvolvimento da nova colônia.

Figura 2
Variação micelial de duas colônias (isolado A-2), originárias de mesma cultura e repicadas no mesmo dia.

O ponto da colônia selecionado para repicagem é importante para a produção de novas colônias. Quando a repicagem é feita com fragmentos de micélio e rizomorfas, as colônias cresceram mais rapidamente e com aspecto mais vigoroso. Quando somente fragmentos de rizomorfa foram selecionados, o aspecto da cultura demonstrou-se mais rugoso e com menor crescimento micelial e alguns isolados repicados somente com fragmentos de micélio, desenvolveram rizomorfas. Isto sugere que as propriedades do micélio sustentam o crescimento das rizomorfas, pois em condições naturais as rizomorfas são formadas a partir da placa micelial (10Fox, R.T.V. Cultural methods to manage Armillaria. In: Fox, R.T.V. (Ed.). Armillaria root rot: biology and control of honey fungus. Andover: Intercept, 2000. p.151-171.).

Estudos demonstram a possibilidade de diferenciação de culturas em morfotipos, quando estas pertencem a espécies diferentes (4Bruhn, J.N.; Johnson, T.E.; Karr, A.L.; Wetteroff, J.J.; Leininger, T.D. Identification of Armillaria field isolates using isozymes and mycelial growth characteristics. Mycopathologia, The Hague, v.142, n.2, p.89-96, 1998., 2323 Morrison, D.J. Variation among British isolates of Armillaria mellea. Transactions of the British Mycological Society, Cambridge, v.78, n.3, p.459-464, 1982., 2828 Raabe, R.D. Variation of Armillaria mellea in culture. Phytopathology, Saint Paul, v.56, p.1241-1244, 1966.). Não foram encontrados relatos na literatura sobre a diferenciação entre culturas da mesma espécie.

Durante o exame das colônias ao microscópio estereoscópico, micélio compacto, de superfície lisa e coloração diferenciada foi visualizado com frequência, e quando perfurado revelou-se consistência carnosa com líquido em seu interior (Figura 7A). Possivelmente, seria uma estrutura de reserva de água e nutrientes. Outras colônias apresentaram partes do micélio formando uma região rugosa, ao redor do micélio aéreo (Figura 7B) e, também, formações crostosas (Figura 7C). Segundo Morrison (2323 Morrison, D.J. Variation among British isolates of Armillaria mellea. Transactions of the British Mycological Society, Cambridge, v.78, n.3, p.459-464, 1982.), estas formações crostosas são típicas em isolados diplóides, e ausentes em haplóides. Não foi possível traçar a frequência da formação destas estruturas entre os isolados, que aparentemente independem da idade da colônia.

Figura 7
Placa micelial de Armillaria sp. A: Produção in vitro em tronco de pinus colonizado. B, C: Placa micelial formada na entre-casca. D: Fragmento de placa micelial observado em microscópio de luz (100 X). E, F: Hifas verrucosas presentes na superfície da placa micelial (E, 100X; F 400X).

Exsudatos de coloração marrom escura podem ser observados sobre a superfície do micélio de alguns isolados (Figura 7D). Tais exsudatos, também observados sobre rizomorfas, seriam compostos por aminoácidos livres, proteínas, enzimas β-glicosidase e peroxidase, polifenol, ácidos e elementos inorgânicos, relacionados com o processo de patogênese em plantas (1818 Mallett, K.I.; Colotelo, N. Rhizomorph exudate of Armillaria mellea. Canadian Journal of Microbiology, Ottawa, v.30, p.1247-1252, 1984.).

Figura 3
Colônia de Armillaria sp. ao microscópio estereoscópio (400X). A: Micélio compacto, com coloração amarelada (seta branca); B: Micélio diferenciado, formando área rugosa ao redor do micélio aéreo (setas branca e escura); C: Micélio com formações crostosas (seta branca); D: Presença de exsudato sobre a colônia (seta branca).

Pigmentação escura foi observada no meio de cultura, até mesmo antes do início do desenvolvimento das colonias. Segundo Nobles (2424 Nobles, M.K. Identification of cultures of wood-inhabiting hymenomycetes. Canadian Journal of Botany, Ottawa, v.43, p.1097-1113, 1965.), essa pigmentação seria resultado da produção de oxidase extracelular, comum em alguns basidiomicetos. Tais oxidases foram relacionadas com a patogênese de Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora durante a degradação do tecido do hospedeiro (2Bastos, C.N. Produção de enzimas extracelulares por Crinipellis perniciosa. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.30, p.286-288, 2005.).

Os isolados que demonstraram um padrão similar no crescimento das colônias foram provenientes de localidades e de hospedeiros diferentes. Assim, não foi possível traçar alguma relação entre a morfologia, origem e hospedeiro.

Caracterização da hifa de Armillaria sp.

Várias estruturas foram evidenciadas nas hifas: grampos de conexão e septos (Figuras 4A e 4B), projeções diminutas, similares a pelos sobre a superfície (Figuras 4C e 4D) e massas resinosas (Figuras 4E e 4F). Tais estruturas foram verificadas em vários gêneros de basidiomicetos, inclusive Armillaria (2424 Nobles, M.K. Identification of cultures of wood-inhabiting hymenomycetes. Canadian Journal of Botany, Ottawa, v.43, p.1097-1113, 1965.).

Figura 4
Microscopia eletrônica de varredura (esquerda) e de luz (direita, 400X) de hifas de Armillaria sp. A e B: Formação de grampos de conexão (setas); C e D: Projeções diminutas, similares a pelos sobre a superfície (setas); E, F: Massas resinosas sobre a parede (setas).

Armillaria e outros basidiomicetos apresentam células cuticulares em áreas pseudoparenquimatosas (2424 Nobles, M.K. Identification of cultures of wood-inhabiting hymenomycetes. Canadian Journal of Botany, Ottawa, v.43, p.1097-1113, 1965.), evidenciadas na análise de hifas (Figura 5). Leite (1717 Leite, C. Estudos biológicos em culturas de Panus Fr. (Basidiomycetes) no Rio Grande do Sul, Brasil. Insula Revista de Botânica, Florianópolis, v. 15, p. 117-140, 1985.) estudando a morfologia de Panus sp. visualizou tais estruturas e descreveu-as como vesículas ou clamidósporos, presentes em espécies desse gênero. A presença dessas estruturas em Armillaria sp. poderia significar uma importante adaptação ecológica, em termos de dispersão e sobrevivência, além das rizomorfas.

Figura 5
Áreas pseudoparenquimatosas em micélio de Armillaria sp. (400X). A, B, C, D: presença de células cuticulares (setas); E, F: presença de estruturas similares a clamidósporos em hifas (setas).

Muitos fungos habitantes do solo possuem elevada capacidade de competição saprofítica e podem sobreviver em resíduos de plantas introduzidos no solo, mantendo-se em elevadas densidades populacionais mesmo durante longos períodos de rotação de culturas, como Armillaria (3Baumgartner, B.; Coetzee, M.P.A.; Hoffmeister, D. Secrets of the subterranean pathosystem of Armillaria. Molecular Plant Pathology, London, v.12, n.6, p.515-534. 2011.). Alguns fungos que vivem nesse ambiente produzem estruturas como agregados miceliais, escleródios, oósporos, clamidósporos ou outros tipos de esporos, que resistem às condições ambientais adversas e permanecem viáveis quando as plantas hospedeiras não estão presentes. Essas estruturas podem estar associadas com resíduos de plantas, mas frequentemente encontram-se livres no solo. A alta capacidade de competição saprofítica, aliada à produção de estruturas de resistência, como clamidósporos, pode esclarecer o grande poder adaptativo de Armillaria em condições ambientais variadas.

Caracterização das rizomorfas

As rizomorfas são estruturas alongadas, de coloração marrom, por vezes de coloração avermelhada, com a superfície de aparência lisa ou pilosa. A pilosidade foi encontrada em rizomorfas formadas sobre ou fora do meio de cultura, não sendo encontrada nas rizomorfas formadas no interior do meio de cultura sólido (Figura 6A). Pareek et al. (2626 Pareek, M.; Cole, L.; Ashford, A.E. Variations in structure of aerial and submerged rhizomorphs of Armillaria luteobubalina indicate that they may be organs of absorption. Mycological Research, Cambridge, v.105, n.11, p.1377-1387, 2006.) analisando a estrutura de rizomorfas de Armillaria luteobubalina Watling & Kile demonstrou que a estrutura da rizomorfa varia de acordo com as condições de crescimento, sugerindo que a diferenciação é devida à presença e concentração de oxigênio no meio circundante e que, essas pilosidades seriam prolongamentos de hifas, cujo papel é aumentar a área de captação de água e, especialmente, de oxigênio. Outros estudos demonstraram o papel das rizomorfas na absorção e translocação de água, nutrientes e oxigênio para a colônia (6Cairney, J.W.G. Translocation of solutes in ectomycorrhizal and saprotrophic rhizomorphs. Mycological Research, Cambridge, v.96, n.2, p.135-141, 1992., 9Eamus, D.; Thompson, W.; Cairney, J.W.G.; Jennings, D.H. Internal structure and hydraulic conductivity of basidiomycete translocating organs. Journal of Experimental Botany, London, v.36, n.168, p.1110-1116, 1985.).

Figura 6
Rizomorfas de Armillaria sp. em meio BDA. A. Pilosidade sobre rizomorfas aéreas (50X). B: Pilosidade e pigmentação diferenciada entre rizomorfas aéreas e imersa (50X). C: Hifa inflada em rizomorfa imersa (seta, 400X). D: Hifa inflada em rizomorfa aérea (seta, 400X).

Em relação à pigmentação, as rizomorfas “aéreas” de Armillaria sp. mostraram-se mais pigmentadas do que as hifas imersas (Figura 6B). Essa diferença poderia ser explicada pela maior quantidade de melanina na rizomorfas aéreas (5Butler, M.J.; Day, A.W.; Henson, J.W.; Money, N.P. Pathogenic properties of fungal melanins. Mycologia, New York, v.93, n.1, p.1-8, 2001.). Como a deposição de melanina na superfície na rizomorfa parece estar relacionada com resistência e proteção frente às condições ambientais adversas, a exposição ao ar e luz pode estar induzindo a formação da melanina na superfície das rizomorfas aéreas.

A rizomorfa é um pseudoparênquima formado por emaranhado de hifas. As hifas das rizomorfas são similares às hifas do micélio, com a presença de septos, e células infladas, lembrando as células cuticulares encontradas no micélio. Essas estruturas foram observadas em hifas imersas (Figura 6C) e aéreas (Figura 6D). Para Money (2222 Money, N.P. Carpet monsters and killer spores: a natural history of toxic Mold. Oxford University Press: New York. 2004. p. 127-142.) e Pareek et al. (2626 Pareek, M.; Cole, L.; Ashford, A.E. Variations in structure of aerial and submerged rhizomorphs of Armillaria luteobubalina indicate that they may be organs of absorption. Mycological Research, Cambridge, v.105, n.11, p.1377-1387, 2006.) a presença de hifas infladas nas rizomorfas aéreas estaria diretamente relacionada com a presença e concentração de oxigênio no meio, sendo mais presentes e mais volumosas em rizomorfas aéreas, podendo tratar-se de um reservatório de oxigênio. Mihail & Bruhn (2121 Mihail, J.D.; Bruhn, J.N. Foraging behaviour of Armillaria rhizomorph systems. Mycological Research, Cambridge, v.109, p.1195-207, 2005.) estudaram o desenvolvimento in vitro de rizomorfas de espécies de Armillaria e sugeriram que algumas características destas estruturas são inatas de cada espécie, como a quantidade de melanina e o mecanismo de invasão. Contudo, os autores observaram uma grande variabilidade no diâmetro, no comprimento, na quantidade de estruturas formadas e na intensidade da coloração, de acordo com a temperatura ou constituição do meio de cultura.

Figura 8
Biomassa seca média (g) de seis isolados de Armillaria sp. produzidos em caldo BD, sob várias temperaturas (Cº).

Caracterização da placa micelial

As seções de tronco inoculadas foram colonizadas pelos isolados testados (Figuras 7A e 7B) e com a remoção da casca pode-se observar a placa micelial formada in vitro (Figura 7C), constituída por pseudoparênquima (Figura 7D). As hifas que formam a placa micelial apresentaram um aspecto grosseiro, crostoso, com estruturas verrucosas sobre a superfície (Figura 7D e 7E), as quais também foram observadas por Nobles (2424 Nobles, M.K. Identification of cultures of wood-inhabiting hymenomycetes. Canadian Journal of Botany, Ottawa, v.43, p.1097-1113, 1965.).

Determinação da temperatura ótima de crescimento

Em caldo BD, o fungo Armillaria sp. ficou parcialmente submerso formando uma massa constituída de micélio e rizomorfas, similar ao descrito por Hansson e Reifert (1515 Hansson, G.; Reifert, G. Effects of cultivation techniques and media on yields and morphology of the basidiomycete Armillaria mellea. Applied Microbiology and Biotechnology, Berlin, v.26, n.5, p.468-473, 1987.) em caldo extrato de malte. A faixa de temperatura de maior produção de biomassa seca variou entre 16 e 24 ºC (Figura 8), próximo dos resultados de Gomes et al. (12Gomes, N.S.B.; Auer, C.G.; Grigoletti Junior, A. Crescimento in vitro de isolados de Armillaria sp. obtidos de Pinus elliottii var: elliottii sob várias temperaturas. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.33, p.184-189, 2007.) com três isolados de Armillaria sp., sugerindo 22 ºC como temperatura ótima de crescimento. Rishbeth (2929 Rishbeth, J. Effects of soil temperature and atmosphere on growth of Armillaria rhizomorphs. Transactions of the British Mycological Society, Cambridge, v.70, n.2, p.213-220, 1978.) estudando os efeitos da temperatura no crescimento de rizomorfas de A. mellea em meio malte-ágar e verificou que a temperatura ótima para o crescimento foi 25 ºC, crescendo entre 5 e 32 ºC. De acordo com classificação de Pérez-Sierra et al. (2727 Pérez-Sierra, A.; Guillaumin, J.J.; Spooner, B.M.; Bridge, P.D. Characterization of Armillaria heimii from Africa. Plant Pathology, London, v.53, p.220-230. 2004.), os isolados de Armillaria sp. têm caráter mesofílico de crescimento, pois nenhum mostrou temperatura ótima de 30 ºC.

Outros estudos mostram faixa de temperatura próxima da verificada para Armillaria sp. Cheng e Gu (7Cheng, X.H.; GU, S.X. Cultural characteristics of Armillaria mellea on solid media. Acta Academiae Medicinae Sinicae, Beijing, v.28, n.4, p.553-557, 2006.) sugerem que a faixa de temperatura ótima para crescimento de A. mellea está entre 20 e 30 ºC. Keča et al. (1616 Keča, N. Characteristics of Armillaria species development and their growth at different temperatures. Bulletin of the Faculty of Forestry, Belgrado, v.91, p.149-162, 2005.) testaram cinco espécies de Armillaria: A. cepistipes Velen., A. gallica Marx. & Rom., A. mellea, A. ostoyae (Rom.) Herink e A. tabescens (Scop.) Emel. a 13, 22, 27 e 32 ºC, sugerindo que a temperatura ótima para o crescimento do gênero estaria entre 22 e 27 ºC.

Utilizando a regressão polinomial, a temperatura de maior produção biomassa dos isolados testados ficou próxima de 17 ºC. Além da temperatura ótima para crescimento (17 ºC) estar abaixo da faixa relatada na literatura para outras espécies, houve crescimento a 4 e 8 ºC, demonstrando que os isolados brasileiros de Armillaria sp. desenvolvem-se em temperaturas mais baixas.

Patogenicidade de Armillaria sp.

As avaliações aos seis e 12 meses após a inoculação não detectaram plantas com sintomas de armilariose. Somente aos 18 meses, uma planta inoculada com o isolado A2 apresentou amarelecimento da copa, sintoma inicial típico da doença, e aos 24 meses a planta estava morta (Figura 9A). A raiz apresentou sintoma típico de podridão da raiz (Figura 9B) e a remoção da casca confirmou a presença de placa micelial e rizomorfas (Figura 9C). Apesar da baixa incidência da armilariose, o reisolamento do isolado A2 comprovou a patogenicidade de Armillaria sp.

Figura 9
Plantas de Pinus taeda inoculadas com isolado A-2 de Armillaria sp. A: Planta morta. B: Raiz com sintomas da podridão. C: Rizomorfa e placa micelial na casca da planta morta (setas).

A baixa incidência de plantas doentes em ensaios com Armillaria pode ser explicada pelas condições ambientais durante a condução do ensaio em vasos. A esse respeito, Rishbeth (2929 Rishbeth, J. Effects of soil temperature and atmosphere on growth of Armillaria rhizomorphs. Transactions of the British Mycological Society, Cambridge, v.70, n.2, p.213-220, 1978.) relatou que Armillaria é sensível às alterações do solo, como umidade, pH, temperatura, concentração de oxigênio e dióxido de carbono. As rizomorfas normalmente se desenvolvem nas camadas mais superficiais do solo, dependentes de concentração adequada de oxigênio. Como o micélio e a placa micelial necessitam de temperaturas mais amenas para o seu desenvolvimento, a temperatura mais elevada do solo em vasos pode ter dificultado o desenvolvimento do fungo.

Outra explicação seria o tempo de desenvolvimento da doença em condições experimentais. Sicoli et al. (3232 Sicoli, G.; Annese, V.; De Gioia, T.; Luisi, N. Armillaria pathogenicity tests on oaks in southern Italy. Journal of Plant Pathology, Pisa, v.84, p.107-111, 2002.) estudando a patogenicidade de A. ostoyae, A. mellea, A. gallica e A. tabescens em plantas de carvalho, verificaram sintomas somente após quatro anos da inoculação. Esses autores comentaram a possibilidade de que as plantas utilizadas provavelmente apresentavam ou desenvolveram alguma resistência contra o patógeno. Guillaumin & Pierson (1414 Guillaumin J.J.; Pierson J. Inoculation of two stocks of Prunus mahaleb by Armillariella mellea. Incidence of grafting and wounds. Annales de Phytopathologie, Paris, v.9, p.533, 1977.) sugeriram que a inoculação por ferimentos pode estimular os mecanismos de defesa e resistência da planta. Como Armillaria sp. apresenta um lento crescimento em temperaturas mais elevadas, condição existente em vaso, seu desenvolvimento estaria sendo dificultado no solo, o que possibilitaria a cicatrização e recuperação das plantas inoculadas.

Figura 10
Basidioma formado em frasco com meio BDA e tronco de pínus inoculado com isolado A-1 de Armillaria sp.

Produção de basidiomas in vitro

Somente um basidioma foi produzido após 18 meses de cultivo em seção de tronco de P. taeda e meio BDA (Figura 10). Raabe (2828 Raabe, R.D. Variation of Armillaria mellea in culture. Phytopathology, Saint Paul, v.56, p.1241-1244, 1966.) também obteve um basidioma de A. mellea inoculando galhos de figueira, enquanto Shaw et al. (3131 Shaw, C.G.; Kile, G.A. Armillaria root disease. Washington, DC: USDA Forest Service, 1991. 233p. (Agriculture Handbook, 691).) obtiveram um basidioma de Armillaria novae-zelandiae (Stev.) Boesewinkel em meio de cultura. Entretanto, dependendo do isolado, substrato e espécie de Armillaria pode haver formação de número considerável ou não de basidiomas (2121 Mihail, J.D.; Bruhn, J.N. Foraging behaviour of Armillaria rhizomorph systems. Mycological Research, Cambridge, v.109, p.1195-207, 2005., 2727 Pérez-Sierra, A.; Guillaumin, J.J.; Spooner, B.M.; Bridge, P.D. Characterization of Armillaria heimii from Africa. Plant Pathology, London, v.53, p.220-230. 2004., 3434 Tsopelas, P. Distribution and ecology of Armillaria in Greece. European Journal of Forest Pathology, Berlin, v.29, p.103-116, 1999.). Nestes estudos, os substratos utilizados foram laranja, madeira picada, ou serragem adicionados de fonte de açúcares e proteínas.

Outro aspecto sobre a produção de basidiomas in vitro, seria que as técnicas utilizadas podem não ser adequadas para Armillaria, envolvendo muitas limitações, e seu desenvolvimento é variável, dependendo da espécie (11Garraway, M.O.; Hüttermann, A.; Wargo, P.M. Ontology and physiology. In: Shaw, C.G. III; Kile, G.A. Armillaria Root Disease. Agricultural Handbook, 691, Washington DC: USDA Forest Service, 1991, p.21-47.). Grillo et al. (13Grillo, R.; Korhonen, K.; Hantula, J.; Hietala, A.M. Genetic evidence for somatic haploidization in developing fruit bodies of Armillaria tabescens. Fungal Genetics and Biology, New York, v.30, n., p.135-145, 2000.) obteve sucesso com A. tabescens, em substrato a base de farelo de arroz, e comentou da possibilidade de frutificação in vitro para algumas espécies.

A caracterização dos isolados de Armillaria sp. mostrou similaridade em vários aspectos com outras espécies de Armillaria e outros basidiomicetos. Possivelmente, algumas das estruturas anatômicas sejam únicas de Armillaria sp. justificando o aprofundamento dos estudos sobre tais estruturas quanto à participação na patogênese, bem como na identificação da espécie em questão.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    19 Fev 2016
  • Aceito
    20 Jun 2017
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