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Editorial

Editorial

Com a publicação deste número completa-se o segundo volume de Scientiæ udia. Todos os artigos tratam de temas filosóficos atuais concernentes à ciência contemporânea determinismo, tecnologia e dogmatismo na cosmologia – contribuindo para o avanço da reflexão crítica sobre a ciência e a tecnologia.

Abre o número o segundo artigo da trilogia de Michel Paty dedicada à análise histórico-conceitual de três conceitos fundamentais da ciência: causalidade, determinismo e necessidade. Essa análise realiza conjuntamente a reconstrução da gênese histórica das concepções e a investigação das condições de adequação desses conceitos para chegar a um diagnóstico de sua efetiva manifestação na ciência contemporânea. Assim, como já tratou em Scientiæ udia (v. 2, n. 1) da causalidade física, Michel Paty analisa agora o determinismo. Após mostrar como Laplace estabelece o determinismo como extensão e generalização da causalidade física, apresenta os limites que lhe foram impostos pela causalidade relativística, pelos sistemas dinâmicos "não-lineares" e pela física quântica. No segundo artigo, Alberto Cupani apresenta o campo recente da filosofia da tecnologia, introduzindo o leitor a três diferentes perspectivas: a perspectiva analítica de Bunge, a perspectiva fenomenológica de Borgmann e a perspectiva da teoria crítica de Feenberg. Ao final, Cupani avalia as posições apresentadas em vista de "saber ao quê nos atermos" com relação à tecnologia, dada a extensão de seu predomínio no mundo contemporâneo. Marcelo Byrro Ribeiro e Antonio Augusto Passos Videira discutem a questão do dogmatismo e seus efeitos inibidores de novas linhas de pesquisa na jovem área da cosmologia científica; como saída para a crise dogmática cristalizada em torno da teoria do Big Bang, os autores propõem a adoção de duas diretrizes emprestadas à epistemologia de Boltzmann de um pluralismo teórico e a firme aderência ao ideal de representar a natureza, que podem servir como antídoto ao dogmatismo.

O documento científico deste número é a carta endereçada em 9 de dezembro de 1599 por Tycho Brahe a Johannes Kepler. Nesse documento de enorme valor histórico, Brahe critica asperamente o modelo dos sólidos perfeitos exposto por Kepler no Mysterium cosmographicum, por impor aos fenômenos celestes engenhosos modelos geométricos a priori, que depois se mostram impotentes a posteriori, isto é, não servem para a previsão dos fenômenos. Em sua introdução à carta, Claudemir Roque Tossato inicia contextualizando o documento para mostrar que ele faz parte do contencioso entre Brahe e Ursus acerca da prioridade de invenção do sistema astronômico híbrido ou intermediário. A seguir, Tossato argumenta no sentido de mostrar o impacto da crítica de Brahe no modo pelo qual Kepler vai passar a entender a investigação astronômica.

Encerrando este número de Scientiæ udia, Renato Rodrigues Kinouchi resenha O método anticartesiano de C. S. Peirce, que contribui para uma compreensão mais ampla do pragmatismo original do pensador americano, inserindo-o na tradição filosófica mediante o exame de sua discordância com a perspectiva de método de Descartes.

Pablo Rubén Mariconda

editor responsável

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Maio 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2004
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