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Editorial

Editorial

A revista Serviço Social & Sociedade apresenta aos seus leitores, em seu número 118, algumas determinações da categoria trabalho, trazendo elementos teóricos, metodológicos e históricos que a fundamentam na perspectiva da produção marxiana e da tradição marxista.

Apresenta contribuições da materialidade das relações do trabalho na vida dos homens em diferentes momentos da sua existência, procurando elucidar como essas formas de objetivações refratam no fazer profissional do assistente social.

Com a temática Trabalho Precarizado, convidamos os leitores a se apropriarem desses conteúdos, compreendendo que a expressão "precarizado" é a manifestação que se tornou determinante na forma como o projeto societário burguês desenvolve suas relações com o trabalho humano desde seu princípio.

A precarização do trabalho é intrínseca ao modo de produção capitalista, porém apresenta graus diferenciados historicamente em termos de tempo e espaço, quando se efetiva sua materialização.

É sob essa matriz de compreensão e análise que, neste número da revista, os leitores terão a oportunidade de conhecer o debate e suas implicações no pensar/fazer do cotidiano profissional.

Iniciamos apresentando o processo de trabalho em sua constituição histórica — da manufatura à maquinaria —, possibilitando a compreensão da relação dos trabalhadores com a natureza em seus diferentes momentos de sua efetivação, e colocando em movimento suas potencialidades. Encontrar registros de atividades que manifestem dimensões humanas criativas é raro; verifica-se em quase a totalidade das atividades humanas, expressões concretas negadoras. Vinculando-se diretamente à natureza bruta ou já modificada, os homens vão construindo uma dada sociabilidade. Sob a determinação do projeto societário burguês, em particular durante o processo de trabalho demarcado pela manufatura e pela maquinaria, tem o trabalhador constituído uma sociabilidade negadora da sua existência humana.

No entanto, o projeto societário burguês tem, em sua essência, períodos de crises em sua base estrutural. O artigo Crise do capital, precarização do trabalho e impactos no Serviço Social revela como as respostas dos "donos do poder" atingem a centralidade do trabalho humano para amenizar a crise da continuidade em acumular valor. É somente pela expropriação exponencial da força de trabalho, em seus diferentes níveis, que o capital consegue responder às contradições imediatas. Esse procedimento atinge os usuários das ações, programas e políticas sociais ofertadas pelos órgãos públicos. Os trabalhadores que estão envolvidos com essas demandas também recebem as refrações desse processo. Nesse horizonte destaca-se a presença dos assistentes sociais.

O universo da relação capital/trabalho é expressão direta de lutas constantes que demarcam a efetivação do capital por meio de diferentes formas de exploração do trabalho humano. É neste movimento que Gramsci é figura central para evidenciar as contradições e antagonismos presentes nessa relação.

O artigo A questão dos Intelectuais em Gramsci traz ao debate, conteúdos que nos permitem compreender com mais profundidade as categorias fundantes de sua análise a partir de seus escritos originais.

Na sequência, o artigo Reestruturação produtiva, trabalho informal e a invisibilidade social do trabalho de crianças e adolescentes, como o próprio nome indica, aborda o trabalho precoce, situando-o com base na lógica societária dada pelo capitalismo.

Ainda que o trabalho de crianças e adolescentes seja um fenômeno mundial, o quadro é mais grave nos países cuja inserção no mundo globalizado se dá de forma subordinada. Com base em uma pesquisa realizada no município de Franca/SP, a autora traz dados que permitem apreender a gravidade do quadro apresentado.

O artigo Benefício de prestação continuada e perícia médica previdenciária enfoca o recorrente processo de restrição do acesso ao benefício por parte das pessoas com deficiência, mesmo após a implantação do modelo de avaliação baseado na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).

O não acesso aos direitos conquistados pela classe trabalhadora decorre de elementos estruturais que dialogam diretamente com as problemáticas elencadas nos artigos anteriores. Afinal, mais do que problemas técnicos e operacionais, a negação do acesso completa o quadro de precarização das condições de vida e trabalho que atinge de forma ainda mais violenta o contingente de pessoas com deficiência.

Nesse mesmo arco analítico, cabe situar as expressões da precarização e da terceirização profissional que alcança o conjunto dos trabalhadores e, certamente alcança também, e muito, os assistentes sociais. É expressiva, nesse sentido, a análise realizada no artigo Consultoria empresarial de Serviço Social.

Enriquece ainda esta reflexão, o texto Saúde Mental, intersetorialidade e questão social: um estudo na ótica dos sujeitos.

Finalmente, cabe destacar a resenha sobre o livro Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil II, organizado por Ricardo Antunes, na qual, de modo muito preciso, essa nova morfologia do trabalho é analisada, deixando claro o quanto ela se faz acompanhar da informalidade e da precarização.

Trata-se, sem dúvida, de um número que traz contribuições fundamentais para fazer avançar a reflexão sobre a precarização do trabalho e suas graves expressões no cenário contemporâneo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jul 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 2014
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