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A saúde de mulheres e o fenômeno das drogas em revistas brasileiras1 1 Artigo elaborado a partir da pesquisa intitulada - O fenômeno das drogas e a saúde das mulheres na mídia escrita brasileira: uma análise de gênero, aprovada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), para o período de 2009/2010, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão da Bahia (FAPESB).

Resumos

Este artigo tem como objetivo discutir as repercussões sociais e na saúde de mulheres envolvidas com drogas, divulgadas em reportagens publicadas em revistas de circulação nacional. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e descritivo. Utilizou-se reportagens publicadas em quatro revistas, durante o período de seis meses consecutivos, a partir de setembro de 2009. Foram identificadas 52 reportagens que comentavam sobre as mulheres e o fenômeno das drogas. Para o tratamento dos dados, adotou-se a análise de conteúdo temática. As reportagens abordam aumento do consumo de drogas por mulheres, o consumo de medicamentos para manter e/ou atingir padrões de beleza socioculturalmente estabelecidos, com riscos para dependência e overdose, e situações de violências para mulheres decorrentes da convivência com homens usuários de drogas. Os reflexos econômicos, políticos, ideológicos e culturais para mulheres envolvidas com o fenômeno das drogas podem ser causa e/ou consequência das implicações para a saúde desta população.

Mulheres; Usuários de drogas; Meios de comunicação de massa


The aim of this paper is to discuss social and health repercussions in women due to drug use, as disclosed in reports published in magazines with national circulation. This is a qualitative research, with an exploratory and descriptive approach. Articles published in four magazines were used, during six consecutive months as of September of 2009. Fifty-two articles were identified with comments on women and the drug phenomena. The information was addressed by means of thematic content analysis. The reports address the increased consumption of drugs by women, the consumption of drugs to maintain and/or achieve the established sociocultural standards of beauty, with risks for addiction and overdose, and situations resulting from violence towards women living with male drug users. Economical, political, ideological and cultural reflexes for women involved with the drug phenomena could be the cause or consequence of implications in the health of this population.

Women; Drug users; Mass media


Este artículo tiene como objetivo discutir las repercusiones sociales y en la salud de las mujeres involucradas con drogas, divulgadas en reportajes publicadas en revistas de circulación nacional. Se trata de una pesquisa cualitativa, de carácter exploratorio y descriptivo. Se utilizó reportajes publicados en cuatro revistas, durante el periodo de seis meses consecutivos, a partir de septiembre del 2009. Fueron identificados 52 reportajes que comentaban sobre las mujeres y el fenómeno de las drogas. Para el tratamiento do los datos, se adoptó el análisis de contenido temático. Los informes apuntan el aumento del consumo de drogas por las mujeres, el consumo de drogas para mantener y/o alcanzar estándares socioculturales de belleza, con riesgos de adicción y sobredosis y las situaciones derivadas de la violencia de mujeres que viven con hombres usuarios de drogas. Los reflejos económicos, políticos, ideológicos y culturales para las mujeres involucradas con el fenómeno de las drogas pueden ser causa o consecuencia de las implicaciones para la salud de esta población.

Mujeres; Consumidores de drogas; Medios de comunicación de masa


INTRODUÇÃO

A produção, o comércio e o consumo de drogas constituem um problema social e de saúde de ordem mundial que afeta de formas distintas todas as sociedades e envolvem pessoas de todas as raças, sexos, religiões, classes sociais e escolaridades.

Entende-se por repercussões sociais e de saúde, os reflexos econômicos, políticos e ideológicos do envolvimento das mulheres com as drogas, bem como as tendências de vulnerabilidades a doenças e agravos para elas, frente a esta problemática. Tais questões ainda são pouco discutidas na literatura brasileira, mas são divulgadas frequentemente nos meios de comunicação de massa.

Ainda que o envolvimento com as drogas seja socialmente considerado como uma conduta masculina, estudos epidemiológicos (nacional e internacional)11. Carlini EA, Galduróz JC, Noto AR, Carlini CM, Oliveira LG, Nappo AS, et al. II levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país - 2005. São Paulo (SP): Páginas & Letras; 2007. - 22. United Nations Publication. World drug report [online]. 2007 [acesso 2007 Jul 27]. Disponível em: http://www.unodc.org/pdf/research/wdr07/WDR_2007.pdf
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apontam crescimento do número de mulheres consumidoras de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas, principalmente de medicamentos. No que se refere ao comércio de drogas, dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) apontam crescimento acentuado da taxa de encarceramento de mulheres decorrentes de crimes associados ao tráfico.33. Ministério da Justiça (BR). Relatório de Gestão do Departamento Penitenciário Nacional. Brasília (DF): MJ; 2009.

Os estudos que enfocam as mulheres, na questão das drogas ilícitas, referem sua participação como coadjuvantes do processo, destacando que o envolvimento dá-se por meio de relações de afeto com homens do seu entorno social: companheiro, irmão, vizinho,44. Barcinski M. Protagonismo e vitimização na trajetória de mulheres envolvidas na rede do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Ciênc Saúde Coletiva [online]. 2009 [acesso 2010 Jun 21]; 14(2):577-86. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csc/v14n2/a26v14n2.pdf - 55. Souza KOJ. A pouca visibilidade da mulher brasileira no tráfico de drogas. Estud Psicol [online]. 2009 [acesso 2011 Nov 22]; 14(4):649-57. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v14n4/v14n4a05.pdf
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sendo pouco exploradas situações nas quais elas aparecem sós, como decorrência de escolhas pessoais.

Mudanças ocorridas no final do século XX estão relacionadas com a pós-modernidade, acarretando modificações no estilo de vida de todas as pessoas nas distintas sociedades, padrões de conduta e de lazer, incluindo mudanças no consumo, produção e comércio de substâncias psicoativas. Para as mulheres, especificamente, as mudanças ocasionaram dentre outros aspectos, maior inserção no mercado de trabalho, aumento do número de famílias chefiadas por mulheres.66. Zilberman M. Uso de drogas entre mulheres. In: Baptista M, Cruz MS, Matias R, organizadores. Drogas e pós-modernidade: prazer, sofrimento e tabu. Rio de Janeiro (RJ): EDUERJ; 2003. p.175-85. - 77. Romo N. Gênero y uso de drogas: la invisibilidad de las mujeres [online]. 2006 [acesso 2007 Mar 29]; Disponível em: http://www.fundacionmhm.org/pdf/Mono5/Articulos/articulo4.pdf
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A incorporação das mulheres, desde crianças, adolescentes e adultas na esfera social implica também estar submetidas aos mesmos fatores de riscos aos quais os homens estão submetidos, incorporando hábitos como o consumo de drogas.

A imagem da mulher, historicamente construída, não está de acordo com a imagem de pessoa usuária de droga e/ou participante do narcotráfico, contribuindo para o processo de invisibilidade das mulheres no fenômeno das drogas e, consequentemente, em maior vulnerabilidade aos agravos sociais e de saúde para este grupo populacional.88. Oliveira JF. (In)visibilidade do consumo de drogas como problema de saúde pública num contexto assistencial: uma abordagem de gênero [tese]. Salvador (BA): Universidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde Coletiva; 2008. Aspectos fisiológicos que determinam um metabolismo diferenciado das substâncias psicoativas, tornando as mulheres mais sensíveis aos seus efeitos, também constituem fatores de vulnerabilidade.66. Zilberman M. Uso de drogas entre mulheres. In: Baptista M, Cruz MS, Matias R, organizadores. Drogas e pós-modernidade: prazer, sofrimento e tabu. Rio de Janeiro (RJ): EDUERJ; 2003. p.175-85. , 99. Hochgraf PB, Brasiliano S. Mulheres e substâncias psicoativas. In: Seibel SD, organizador. Dependência de drogas. 2ª ed. São Paulo (SP): Atheneu; 2010. p.1025-41. - 1010. Wolle CC, Zilberman ML. Mulheres. In: Laranjeira R, Diehl AC, Cruz D. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre (RS): Artmed; 2011. p. 375-82.

Os meios de comunicação de massa, enquanto equipamentos sociais de amplo alcance e poder atuam na difusão de esquemas dominantes de significação e interpretação do mundo, influenciando nos modos de viver e pensar dos indivíduos, em diferentes contextos sociais.1111. Alexandre M. O papel da mídia na difusão das representações sociais. Comum. 2001 Jul-Dez; 17(6):111-25. Logo, é pertinente considerar que a mídia de massa contribui para a expansão do fenômeno das drogas, juntamente com os processos de urbanização e globalização,1212. Pavarino RN. Teoria das Representações Sociais: pertinência para as pesquisas em comunicação de massa. In: Anais do 26º Congresso Anual em Ciências da Comunicação [CD-ROM], 2003 Set 02-06; Belo Horizonte, Brasil . São Paulo (SP): Intercom; 2003. os quais determinaram modificações nas conjunturas sociais, culturais, políticas e econômicas das sociedades.1313. Wright MGM, Chisman AMG. A saúde internacional, o fenômeno das drogas e a profissão de enfermagem na América Latina. Texto Contexto Enferm [online]. 2004 Jan-Mar [acesso 2010 Abr 07]; 2(1):123-34. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=71413210
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A criação de mecanismos eficazes de enfrentamentos à expansão do fenômeno das drogas compõe a agenda política dos diversos países. Dentre as estratégias discutidas, tem-se a formação de profissionais das mais diversas áreas, inclusive da saúde, que sejam capazes de lidar com as multifaces que permeiam este fenômeno.1414. Wright MGM, Gliksman L, Khenti A. A pesquisa sobre o fenômeno das drogas na perspectiva dos estudos multicêntricos na América Latina e Caribe. Rev Latino-Am Enferm [online]. 2009 Nov-Dez [acesso 2010 Abr 05]; 17(Esp):751-3. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v17nspe/en_01.pdf
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No âmbito da saúde e, especificamente, da saúde da mulher, o enfrentamento do fenômeno das drogas ultrapassa as dimensões biomédicas, exigindo que os profissionais compreendam o processo saúde/doença de uma forma mais ampla, abrangendo as especificidades da mulher enquanto sujeito social. Para tanto, faz-se importante o entendimento da inserção da mulher na sociedade contemporânea, das relações sociais que elas estabelecem e das desigualdades de gênero que permeiam estas relações. O presente artigo tem como objetivo discutir as repercussões sociais e na saúde de mulheres envolvidas com drogas, divulgadas em revistas de circulação nacional.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, realizada a partir de reportagens publicadas em quatro revistas brasileiras. Duas das revistas escolhidas (Veja e Isto É) são publicadas semanalmente e discutem temas diversos sobre política, economia, trabalho, saúde, sendo direcionada para o público em geral. As duas outras (Cláudia e Boa Forma) têm edição mensal e seu conteúdo aborda temas relacionados à saúde, beleza, prevenção de doenças, estilo de vida, relacionamentos, moda, filhos, família e é direcionado, mais especificamente, para o público feminino.

A escolha pelas revistas está centrada nos seguintes aspectos: circulação nacional com amplo alcance, comprovado pelo número de exemplares vendidos a cada edição, conforme websites das próprias editoras, facilidade de acesso (impresso e on-line) e diversidade de conteúdos abordados para as diferentes populações.

Durante seis meses consecutivos, a contar do mês de setembro de 2009, todos os exemplares das revistas (77) foram lidos minunciosamente, em busca de reportagens sobre a problemática estudada. Inicialmente, as reportagens foram catalogadas por título, nome da revista, ano e edição de publicação, e síntese do conteúdo abordado. Neste processo foram identificadas e registradas 87 reportagens que abordavam a temática das drogas. Leituras subsequentes de todo conteúdo dessas reportagens possibilitaram a seleção de 52, que enfocavam questões relacionadas às drogas e às mulheres.

Seguindo as etapas da análise de conteúdo temática1515. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa (PT): Edições 70; 2007. foi possível a seleção daquelas que enfocavam questões relacionadas às drogas e às mulheres, mais especificamente sobre formas de consumo, tipos de drogas consumidas, motivos para consumo, efeitos da droga no organismo, participação das mulheres no tráfico de drogas, violência pela droga e aprisionamento pelo tráfico de drogas.

As reportagens foram, então, agrupadas por similaridade de informações, o que possibilitou a organização de duas categorias temáticas: 1) Drogas que tratam e drogas que causam dependência; e 2) Protagonismo feminino no fenômeno das drogas. A primeira categoria reúne reportagens sobre o consumo de drogas lícitas, dentre elas medicamentos, tabaco e álcool, e a segunda categoria discute o consumo de drogas ilícitas, a participação feminina no tráfico de drogas e as situações de violência vivenciadas por mulheres, decorrentes da convivência com pessoas usuárias de drogas.

Este é um artigo original e por se tratar de uma pesquisa que não envolve seres humanos de modo direto, não precisou ser submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa. Entretanto, os pesquisadores seguiram todos os preceitos éticos, segundo o que determina a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O quantitativo de reportagens que abordavam questões sobre as mulheres e o fenômeno das drogas (52) representou, aproximadamente, 60% do total de reportagens identificadas, assinalando que a questão estudada é relevante e de interesse da mídia.

Em cada categoria temática foram identificadas subcategorias, revelando a complexidade da temática e as especificidades relacionadas às mulheres.

Drogas que tratam e drogas que causam dependência

As reportagens reunidas nesta categoria traziam orientações e alertas sobre o consumo de medicamentos e sobre o surgimento de sinais e sintomas característicos de doenças decorrentes de consumo de substâncias psicoativas lícitas, dentre elas o álcool e o tabaco.

De um modo geral, o conteúdo das reportagens apresentava cunho informativo, alertando para o risco de overdose medicamentosa, alcoolismo e tabagismo, como repercussões de saúde primárias, associadas ao consumo de drogas lícitas. Secundárias a elas, os textos mencionam os riscos de dependência física e psicológica, transtornos de ansiedade, sobrepeso, doenças respiratórias e, até mesmo, a morte. Vinculadas às repercussões para a saúde da mulher, os textos ressaltavam as interferências no trabalho e na família como repercussões sociais.

A morte da atriz Brittany Murphy, ocorrida em 20 de dezembro de 2009, foi abordada em matérias jornalísticas para discutir o consumo de medicamentos pelas mulheres, os riscos da dependência e morte pelo uso dos mesmos. A reportagem utilizou a imagem de pessoa pública, famosa, conhecida mundialmente, a qual desempenha na atividade de atriz, para mostrar que a dependência de fármacos teria refletido negativamente nas atividades laborais, resultando em dificuldades de atuação, problemas de relacionamentos interpessoais e desemprego, conforme mostra trecho de uma das matérias publicadas. "[...] a impressionante combinação de remédios de tarja preta encontrados no quarto de Brittany confirmaria esta suposição (overdose de medicamentos). A lista inclui o analgésico Vicoprofen [...] que causa dependência e pode provocar paradas cardíacas (causa da morte da atriz) ao diminuir a frequência respiratória do usuário. Além disso, a polícia encontrou em seu quarto frascos de ansiolíticos [...]. A carreira de Brittany, relativamente sólida nos limites do segundo time de Hollywood, andava sofrendo reveses. Duas semanas antes de sua morte, ela foi demitida da produção The Caller (grifos do texto) por causa de comportamento agressivo no set [...]".16:52

O consumo de medicamentos, principalmente os estimulantes, benzodiazepínicos e analgésicos, é prevalente entre as mulheres.11. Carlini EA, Galduróz JC, Noto AR, Carlini CM, Oliveira LG, Nappo AS, et al. II levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país - 2005. São Paulo (SP): Páginas & Letras; 2007. - 22. United Nations Publication. World drug report [online]. 2007 [acesso 2007 Jul 27]. Disponível em: http://www.unodc.org/pdf/research/wdr07/WDR_2007.pdf
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No Brasil, a percentagem de mulheres que usam benzodiazepínicos e anfetamínicos é cerca de três vezes maior do que os homens,11. Carlini EA, Galduróz JC, Noto AR, Carlini CM, Oliveira LG, Nappo AS, et al. II levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país - 2005. São Paulo (SP): Páginas & Letras; 2007. , 1717. Carlini EA, Galduróz JCF, Noto AR, Nappo AS. 1º levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil - 2001. São Paulo (SP): CEBRID; 2002. sendo seu uso realizado na tentativa de solucionar problemas de saúde/enfermidade que afetam o corpo da mulher, e para atender padrões de beleza préestabelecidos.1818. Avilés, NR. Mujeres y drogas de sínteses: gênero y riesgo em la cultura del baile. 3ª ed. Donosita (ES): Gakoa; 2001.

De acordo com pesquisa realizada em propagandas de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos,1919. Mastroianni PC, Vaz ACR, Noto AR, Galduróz JCF. Análise do conteúdo de propagandas de medicamentos psicoativos. Rev Saúde Pública. 2008; 42(5):968-71. a figura feminina aparece quatro vezes mais que a figura masculina, associada a momentos de lazer, descanso doméstico e/ou contato com a natureza. As imagens transmitidas pelas propagandas favorecem o processo de medicalização para qualquer situação de desconforto do dia a dia, sem uma indicação objetiva.

A prescrição médica garante a aquisição de substâncias químicas lícitas, o que alimenta uma tendência social de aceitar naturalmente o uso de remédios, por não considerá-los como drogas.2020. Martins ERC, Zeitoune RCG, Francisco MTR. Concepções do trabalhador de enfermagem sobre drogas: a visibilidade dos riscos. Rev Enferm UERJ [online]. 2009 Jul-Set [acesso 2010 Jun 06]; 17(3):368-72. Disponível em http://www.facenf.uerj.br/v17n3/v17n3a12.pdf
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Para além do uso de medicamentos prescritos por profissional autorizado, considera-se o fenômeno cultural de supervalorização do consumo destas drogas, estimulado pela visão reducionista do processo saúde/doença. Os medicamentos adquiriram o papel central de solucionadores imediatos dos problemas de saúde, motivando também a percepção de que toda doença exige um tratamento farmacológico. As substâncias medicamentosas passaram, então, a ser compreendidas como instrumentos centrais das práticas de saúde, o que influencia no exercício da automedicação.2121. Naves JOS, Castro LLC, Carvalho CMS. Automedicação: uma abordagem qualitativa de suas motivações. Ciênc Saúde Coletiva [online]. 2010 Jun [acesso 2011 Nov 30]; 15(Supl.1):1751-62. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v15s1/087.pdf
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Algumas reportagens alertam para os riscos associados à prática da medicalização, ainda que de forma indireta, pelo estímulo ao consumo de fármacos para cura e/ou controle de patologias, através de informações que destacavam os benefícios dos medicamentos. Outra reportagem, apoiada em um fato social - a punição de ginasta brasileira Daiane dos Santos, diante do resultado do exame antidoping realizado em julho de 2009, ressaltava os efeitos adversos dos medicamentos no organismo e os riscos da automedicação. No âmbito dos esportes, o uso de uma substância socialmente lícita, comercializada na forma de medicamento, é considerado como uma conduta ilícita, passiva de punição.

Deve-se considerar que a divulgação de informações, acerca dos medicamentos e tratamentos terapêuticos, contribui para incrementar a racionalidade do uso dos mesmos.2222. Lage EA, Freitas MIF, Acurcio FA. Informações sobre medicamentos na imprensa: uma contribuição para o uso racional? Ciênc Saúde Coletiva [online]. 2005 Set-Dez [acesso 2011 Nov 30]; 10(Supl):133-9. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/pdf/630/63009916.pdf
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Em contrapartida, o acúmulo de conhecimentos e a disposição de informações compartilhadas entre os pares, vizinhos e através dos meios de comunicação, auxiliam as pessoas na escolha do medicamento, tornando-a mais confiantes para se automedicar.2323. Silva IM, Catrib AMF, Matos VC. Automedicação na adolescência: um desafio para a educação em saúde. Ciênc Saúde Coletiva [online]. 2011[ acesso 2011 Nov 30]; 16(Supl 1):1651-60. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v16s1/101v16s1.pdf
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As mensagens repassadas pela mídia podem ser assimiladas e interpretadas pelo público com significados diversos. Nesse sentido, é importante repensar a qualidade das informações sobre medicamentos que são divulgadas pelamídia, uma vez que elas constituem instrumento elementar para a conscientização da população, favorecendo avanços no processo de educação em saúde.2222. Lage EA, Freitas MIF, Acurcio FA. Informações sobre medicamentos na imprensa: uma contribuição para o uso racional? Ciênc Saúde Coletiva [online]. 2005 Set-Dez [acesso 2011 Nov 30]; 10(Supl):133-9. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/pdf/630/63009916.pdf
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Doenças decorrentes do abuso de drogas lícitas, assim como os avanços científicos no tratamento farmacológico de patologias, a exemplo da obesidade, câncer e depressão, foram abordadas em várias reportagens. Dentre as doenças decorrentes do consumo de drogas lícitas tiveram destaque: o alcoolismo feminino, enquanto patologia primária associada ao abuso de bebidas alcoólicas pelas mulheres, e a anorexia alcoólica ou drunkorexia, caracterizada como um transtorno alimentar associado à dependência química, que leva as mulheres a ingerirem bebidas alcoólicas para suprimir o apetite e, consequentemente, perder peso.2424. Di Domenico M. Trocar comida por álcool? Mau negócio! Rev Boa Forma, 2009 Dez; edição 273, Saúde 109.

Considerado como um grave problema de saúde pública, o alcoolismo é um dos transtornos mentais mais prevalentes na sociedade brasileira, associado a elevados prejuízos clínicos, sociais, econômicos, trabalhistas e familiares. Além disso, está relacionado, também, a situações diversas de violências, acidentes de trânsito e traumas.2525. Seibel SD. Álcool. In: Seibel SD, organizador. Dependência de drogas. 2ª ed. São Paulo (SP): Atheneu; 2010. p. 119-37.

De acordo com uma das reportagens, "os efeitos da bebida são mais devastadores para o sexo feminino do que para o masculino. As doenças decorrentes do alcoolismo matam proporcionalmente duas vezes mais as mulheres do que os homens alcoólatras. Entre elas, os estragos à saúde provocados pelo vício da bebida costumam aparecer dez anos antes do que entre eles".26:86 As consequências à saúde das mulheres que abusam de bebidas alcoólicas, apontadas nas reportagens, são os distúrbios cardiovasculares e neurológicos, as doenças hepáticas, o câncer, a osteoporose e os transtornos psiquiátricos.

Estudos científicos apontam que diferenças fisiológicas e metabólicas entre os sexos determinam maior sensibilidade das mulheres aos efeitos do álcool e, consequentemente, maior vulnerabilidade à síndrome da dependência alcoólica e aos danos fisiológicos a ela relacionados. As mulheres iniciam de forma mais tardia o consumo de bebidas alcoólicas em relação aos homens, contudo, elas apresentam mais precocemente as patologias advindas deste consumo.99. Hochgraf PB, Brasiliano S. Mulheres e substâncias psicoativas. In: Seibel SD, organizador. Dependência de drogas. 2ª ed. São Paulo (SP): Atheneu; 2010. p.1025-41. - 1010. Wolle CC, Zilberman ML. Mulheres. In: Laranjeira R, Diehl AC, Cruz D. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre (RS): Artmed; 2011. p. 375-82. , 2727. Souza JG, Lima JMB, Santos RS. Alcoolismo feminino: subsídios para prática de enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm [online]. 2008 Dez [ acesso 2011 Nov 29]; 12 (4):622-9. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n4/v12n4a03.pdf
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Embora as reportagens indiquem as repercussões na saúde consequentes do uso abusivo de álcool, a ênfase em aspectos sociais e psicológicos como perda da autoestima, dificuldades de relacionamento interpessoal, prejuízo no desempenho profissional e comprometimento da estabilidade familiar apontam para aspectos das diferenças de gênero.

Trecho extraído de uma das reportagens denuncia o início do consumo de bebidas alcoólicas na adolescência, relacionado a um transtorno alimentar não especificado: "na adolescência, fazia todo tipo de dieta, mas, como adorava beber, só não cortava o álcool. Bolava cardápios em que 80% das calorias vinham da bebida, pois acreditava que assim não ia engordar (...). Até que um dia tive um ataque de pânico, achei que fosse morrer (...). No hospital desconfiaram do transtorno alimentar, pois eu tinha problemas no fígado e estava quase desnutrida (...)".24:109

A associação entre uso de substâncias psicoativas por mulheres e a redução de peso é considerada na literatura nacional.2828. Brasiliano S, Hochgraf PB. A influência da comorbidade com transtornos alimentares na apresentação de mulheres dependentes de substâncias psicoativas. Rev Psiq Clín. [ online]. 2006 [acesso 2011 Dez 03]; 33(3):134-44. - 2929. Borges NJBG, Sicchieri JMF, Ribeiro RPP. Transtornos alimentares - quadro clínico. Medicina [online]. 2006 Jul-Set [acesso 2011 Dez 02]; 39(3):340-8. Disponível em: http://revista.fmrp.usp.br/2006/vol39n3/4_transtornos_alimentares_quadro_clinico.pdf
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No entanto, ressalta-se a existência de dificuldades de recorte de amostras populacionais para a realização de pesquisas mais específicas nesta temática, devido à comum associação entre transtornos alimentares, dependência de drogas e outros transtornos psiquiátricos, como os transtornos de humor e de ansiedade.3030. Brasiliano S, Hochgraf PB. Comorbidade com transtornos alimentares. In: Seibel SD, organizador. Dependência de drogas. 2ª ed. São Paulo (SP): Atheneu; 2010. p. 727-47.

Enquanto as causas e consequências do alcoolismo feminino estão mais frequentemente associadas a questões psicológicas, portanto intrínsecas às mulheres, para os homens referem-se a assuntos de ordem social. As marcas do gênero no alcoolismo dizem respeito, entre outros aspectos, à atribuição do fenômeno à dimensão moral, quando referido às mulheres.3131. Alzuguir FV. Álcool e gênero: uma combinação moral. Centro Lat-Am Sexualid Direit Hum [online]. 2012 Jan [acesso 2013 Mar 12]; Disponível em: http://www.clam.org.br/entrevistas/conteudo.asp?cod=9131
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Nesse caso, o julgamento moral indica o fracasso das mulheres no cumprimento dos papéis de gênero que lhes são atribuídos socialmente e o rechaço a comportamentos que não são esperados para elas, como consequência da perda do controle sobre si mesma.

Novos padrões de aparência física e de estilos de vida são fomentados pela mídia de massa, atrelados à ideia imperativa de beleza e de um corpo dominado, domesticado para conquistar a perfeição estética, e com ela a felicidade.3232. Melo CM, Oliveira DR. O uso de inibidores de apetite por mulheres: um olhar a partir da perspectiva de gênero. Ciênc Saúde Coletiva [online]. 2011 Mai [acesso 2011 Dez 01]; 16(5):2523-32. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n5/a22v16n5.pdf
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Neste contexto, algumas reportagens trouxeram como foco a incompatibilidade do hábito de fumar com a beleza feminina.

No início do século passado o cigarro era visto como um acessório charmoso que impunha poder e valorizava a sensualidade feminina. Esta representação sofreu transformações ao longo dos anos, não se constituindo, hoje em dia, como ideia central no tocante ao consumo desta droga.3333. Giacomini Filho G, Caprino MP. A propaganda de cigarro: eterno conflito entre público e privado. UNIrevista [online]. 2006 Jul [acesso 2011 Dez 01]; 3(1):1-12. Disponível em: http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Giacomini_e_Caprino.PDF
Disponível em: http://www.unirevista.uni...
O tabagismo é considerado um dos mais importantes problemas de saúde pública, sendo a principal causa evitável de mortes por doenças crônicas não transmissíveis.3434. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional do Câncer. O controle do tabagismo no Brasil: avanços e desafios. Brasília (DF): INCA [online]. 2004 [acesso 2011 Dez 01]; Disponível em: http://www.inca.gov.br/tabagismo/31maio2004/tabag_br_folheto_04.pdf
Disponível em: http://www.inca.gov.br/ta...
- 3535. Granville-Garcia AF, Sobrinho JEL, Araújo JC. Ocorrência de tabagismo e fatores associados em escolares. RFO [online]. 2008 Jan-Abr [acesso 2011 Set 12]; 13(1):30-4. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/1413-4012/2008/v13n1/a30-34.pdf
Disponível em: http://files.bvs.br/uploa...
Contudo, o consumo de cigarros vem crescendo em âmbito mundial, principalmente em países em desenvolvimento.3434. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional do Câncer. O controle do tabagismo no Brasil: avanços e desafios. Brasília (DF): INCA [online]. 2004 [acesso 2011 Dez 01]; Disponível em: http://www.inca.gov.br/tabagismo/31maio2004/tabag_br_folheto_04.pdf
Disponível em: http://www.inca.gov.br/ta...
No Brasil, as taxas de consumo se elevam principalmente entre as mulheres jovens3636. Serradilha AFZ, Ruiz-Moreno L, Seiffert OMLB. Uso de tabaco entre estudantes do ensino técnico de enfermagem. Texto Contexto Enferm [online]. 2010 Jul-Set [acesso 2011 Dez 03]; 19(3):479-87. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v19n3/a09v19n3.pdf
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e de condição socioeconômica menos favorecida.3737. Borges MTT, Barbosa RHS. As marcas de gênero no fumar feminino: uma aproximação sociológica do tabagismo em mulheres. Ciênc Saúde Coletiva [online]. 2009 [acesso 2011 Nov 13]; 14(4):1129-39. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csc/v14n4/a14v14n4.pdf
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Exibir uma pele luminosa, dentes brancos, hálito agradável, maiores oportunidades de conseguir um parceiro e a possibilidade de aumentar as chances de gravidez foram ressaltadas como vantagens para o não uso do tabaco por mulheres. A supressão do fumo para prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, como as neoplasias e as doenças coronarianas, pulmonares e cerebrovasculares, responsáveis pelas maiores taxas de morbimortalidade relacionadas ao tabagismo, não foram discutidas.

De um modo geral, o conteúdo das reportagens utiliza-se de uma rede discursiva através de depoimentos de profissionais renomados e de leitoras que adotaram as práticas veiculadas e tiveram resultados satisfatórios e, ainda, de dados de pesquisas científicas nacionais e internacionais para reproduzir valores que condicionam as mulheres a práticas e condutas para o alcance da beleza e corpo ideal.

Protagonismo feminino no fenômeno das drogas

As reportagens reunidas nesta categoria tratam essencialmente de dois aspectos. Um deles, ainda pouco explorado no fenômeno das drogas, diz respeito à participação das mulheres no consumo e tráfico de drogas ilícitas, sem relação direta com a influência de companheiros sexuais ou amigos. Neste caso, as drogas destacadas nas reportagens foram LSD, êxtase, álcool e cocaína.

O segundo aspecto abordado diz respeito à vitimização de mulheres que sofreram violências físicas de amigos ou companheiros usuários de drogas. Nas reportagens, o crack e o álcool foram mencionados como causadores da violência cometida contra as mulheres.

O consumo de drogas ilícitas pela população feminina é uma realidade ainda pouco discutida na literatura nacional, embora estudos epidemiológicos comprovem o crescimento deste fato11. Carlini EA, Galduróz JC, Noto AR, Carlini CM, Oliveira LG, Nappo AS, et al. II levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país - 2005. São Paulo (SP): Páginas & Letras; 2007. e do número de mulheres reclusas em regime prisional, cujo principal motivo é o narcotráfico.33. Ministério da Justiça (BR). Relatório de Gestão do Departamento Penitenciário Nacional. Brasília (DF): MJ; 2009. , 3838. Soares BM, Ilgenfritz I. Prisioneiras: vida e violência atrás das grades. Rio de Janeiro (RJ): Garamond; 2002. Alguns desses estudos atribuem o fato como resultante das relações desiguais de gênero caracterizadas, dentre outros aspectos, pela submissão das mulheres aos homens.88. Oliveira JF. (In)visibilidade do consumo de drogas como problema de saúde pública num contexto assistencial: uma abordagem de gênero [tese]. Salvador (BA): Universidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde Coletiva; 2008. , 3939. Oliveira JF, Nascimento ER, Paiva MS. Especificidades de usuários(as) de drogas visando uma assistência baseada na heterogeneidade. Esc Anna Nery Rev Enferm [online]. 2007 Dez [ acesso 2011 Dez 02]; 11 (4):694-8. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v11n4/v11n4a22.pdf
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- 4040. Barcinski M. Centralidade de gênero no processo de construção da identidade de mulheres envolvidas na rede do tráfico de drogas. Ciênc Saúde Coletiva [online]. 2009 [acesso 2010 Jun 21]; 14(5):1843-53. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csc/v14n5/26.pdf
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Entretanto, a ideia de uma iniciativa própria, uma intencionalidade feminina como aspecto motivador para o consumo e/ou tráfico de drogas, começa a ser considerada.44. Barcinski M. Protagonismo e vitimização na trajetória de mulheres envolvidas na rede do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Ciênc Saúde Coletiva [online]. 2009 [acesso 2010 Jun 21]; 14(2):577-86. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csc/v14n2/a26v14n2.pdf - 55. Souza KOJ. A pouca visibilidade da mulher brasileira no tráfico de drogas. Estud Psicol [online]. 2009 [acesso 2011 Nov 22]; 14(4):649-57. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v14n4/v14n4a05.pdf
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/...

Ainda que não tivesse foco no consumo de drogas pela população feminina, algumas das reportagens tratavam sobre o consumo de drogas, sintéticas misturadas a outras substâncias como medicamentos, álcool e cocaína por jovens de classe média e alta. As imagens utilizadas nas reportagens mostravam mulheres dançando em festas, denotando estarem sob efeito de substâncias psicoativas, com depoimentos de experiências vivenciadas pelo consumo abusivo de diferentes substâncias psicoativas.

As imagens e depoimentos focalizavam mulheres jovens, de classe social elevada, que frequentavam casas noturnas e rave, e que faziam uso das referidas drogas 'para ficar o mais louca possível' e curtir a festa. O contexto de uso e o perfil do público consumidor das drogas sintéticas apontados nas reportagens são compatíveis com as características já descritas em estudo científico nacional.4141. Baptista MC, Noto AR, Nappo AS, Carlini EA. O uso de êxtase (MDMA) na cidade de São Paulo e imediações: um estudo etnográfico. J Bras Psiquiatr. 2002 Mar-Abr; 51(2):81-9.

O consumo de cocaína e crack pela população feminina foi abordado nas reportagens, evidenciando a expansão do consumo dessas substâncias entre mulheres de todas as classes sociais, raça/cor, escolaridade. Uma das reportagens relatou a história do consumo de cocaína e crack por uma mulher branca, jovem, pertencente a família de classe social alta, iniciado aos 11 anos de idade, em reprodução ao uso abusivo de álcool e cocaína feito pela sua mãe, dentro de casa. Embora de maneira discreta, a reportagem mostra que o uso problemático de álcool e outras drogas por mulheres não se constitui num problema recente, ele atravessa gerações. O que mudou foram os tipos de substâncias produzidas e comercializadas.

De maneira geral, o conteúdo das reportagens aponta para repercussões físicas e sociais para as mulheres, decorrentes do consumo de drogas ilícitas, tais como: overdose, abortos, alterações cardíacas e neurológicas, além de exposição a situações de violência, desequilíbrio familiar e emocional, dificuldades de inserção e manutenção no mercado de trabalho e diversas internações para tratamento da dependência química.

No que concerne à exposição de mulheres às situações de violência praticadas por seus parceiros ou amigos usuários de drogas, os textos encontrados nas revistas propagam a ideia de que a droga age sobre os indivíduos, determinando suas ações, tal qual foi encontrado em estudo realizado em jornal de Salvador-BA.42 42. Souza MRR, Oliveira JF. Fenômeno das drogas: análise de reportagens veiculadas num jornal de Salvador. Rev Baiana Enferm. 2008 Jan-Dez; 22/23(1/3):145-56.A prática de agressões e crimes é justificada pelo efeito de drogas ilícitas ao qual o agressor, representado por uma pessoa do sexo masculino, está submetido. A reportagem intitulada "Uma droga brutal" confirma esta assertiva, no seguinte trecho: "sob efeito de crack, ele estrangulou a estudante Bárbara Calazans, de 18 anos, a quem chamava de 'meu anjo da guarda'".43:66

O tema desta reportagem foi abordado em duas das revistas selecionadas, com conteúdo semelhante. Os textos enfocavam a expansão do consumo de crack entre a classe média e consideravam este aumento como uma epidemia urbana devastadora, levando a classificar o crack como um problema social e de saúde. Ao utilizar-se de expressões como 'o crack é uma droga essencialmente perigosa', 'o crack brutaliza', 'O crack põe em risco quem se vicia e, frequentemente, as pessoas que estão à sua volta', a mídia reforça a ideia de que a droga é o principal elemento no processo da drogadição, a qual atua sobre a pessoa levando-a a agir de forma violenta e descontrolada. Nesta perspectiva a droga torna-se a responsável por atos de criminalidade, violência e agressividade praticados por pessoas que a consomem.

Numa das reportagens, a mulher apareceu como vítima de violência física praticada por seu parceiro, usuário de bebidas alcoólicas. As reportagens publicadas estavam associadas a atos de violência praticados pelo jogador de futebol, Adriano, contra sua companheira, revelando seu consumo problemático de álcool.

A relação do fenômeno das drogas com o fenômeno da violência é consenso na literatura especializada,4444. Deslandes SF. Drogas e vulnerabilidade às violências. In: Minayo MCS, Souza ER. Violência sob o olhar da saúde: a infrapolítica da contemporaneidade brasileira. Rio de Janeiro (RJ): FIOCRUZ; 2003. p.243-68. na qual as mulheres assumem o lugar de vítimas de violência física e/ou psicológica do companheiro usuário de álcool e outras drogas. A mídia reproduz a imagem da mulher, dócil, ingênua, cuidadora, como principal vítima da violência desmedida da droga, personificada no homem usuário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acervo analisado permite considerar significativa a abordagem da problemática das drogas na população feminina, nos meios de comunicação investigados. Entre os temas abordados nas reportagens houve destaque para os riscos do consumo de medicamentos, a expansão do alcoolismo e tabagismo feminino, o envolvimento de mulheres de distintas classes sociais, idade e raça/cor com o narcotráfico e com o consumo de drogas ilícitas e, ainda, situações de violência contra as mulheres decorrentes da convivência com pessoas usuárias de drogas.

Nos temas abordados foram enfocadas repercussões biológicas, decorrentes dos efeitos das drogas no organismo e a ação desses nas relações sociais e afetivas. A submissão da mulher ao homem, desvantagens relacionadas à força física e muscular, situações de violência, sentimentos de sofrimento, a necessidade de atender aos padrões de beleza socialmente impostos e o contexto familiar de uso de substâncias psicoativas foram atribuídos como causa e consequência para o envolvimento das mulheres com as drogas. A reprodução de tais ideias evidencia a vinculação de construções sociais e culturais que determinam desigualdades entre pessoas do mesmo sexo e de sexos diferentes que reflete nas ações cotidianas e, consequentemente, no consumo de substâncias psicoativas.

A partir de punição da atleta por doping foi possível problematizar o conceito do que é considerado lícito ou ilícito no mundo das drogas. O consumo de diuréticos, medicamentos de fácil acesso nas farmácias, é proibido no contexto das competições esportivas, levando a punições das atletas que supostamente fizerem uso deles.

Finalmente, os dados analisados mostram que as repercussões de ordem social nas reportagens estudadas suplantaram, de alguma maneira, as questões de saúde, com destaque para o desequilíbrio afetivoemocional e familiar. O conteúdo das reportagens indica a reprodução de relações desiguais de gênero no fenômeno das drogas, ao atribuir o envolvimento das mulheres a questões morais/afetivas, relegando a saúde e a preservação da vida a um segundo plano. Os dados apresentados alertam para a necessidade de planejamento e redirecionamento das ações de saúde para as mulheres, buscando contemplar as diversas repercussões advindas do seu envolvimento com as drogas.

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    Artigo elaborado a partir da pesquisa intitulada - O fenômeno das drogas e a saúde das mulheres na mídia escrita brasileira: uma análise de gênero, aprovada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), para o período de 2009/2010, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão da Bahia (FAPESB).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2014

Histórico

  • Recebido
    03 Maio 2012
  • Aceito
    27 Fev 2013
Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Enfermagem Campus Universitário Trindade, 88040-970 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil, Tel.: (55 48) 3721-4915 / (55 48) 3721-9043 - Florianópolis - SC - Brazil
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