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EDITORIAL

O rápido crescimento do conhecimento científico e tecnológico desde o século XVIII, e em particular neste século, tem gerado grandes mudanças para a Enfermagem, o cuidado em saúde e a sociedade. Tecnologia e ciência têm se desenvolvido em um nível que afeta cada faceta de nossa sensibilidade e experiência. Apesar deste rápido crescimento da ciência e da tecnologia, inúmeros desafios nos confrontam, particularmente associados com preceitos que se adaptam rapidamente às mudanças no meio social, a exploração das pessoas, a nova divisão de classes e a pobreza, pois a sociedade de modo geral, tem sempre tido fascínio pelo avanço tecnológico.

A tecnologia se relaciona com as artes do cuidar, com implementações específicas nos diferentes contextos da prática e com o conhecimento e/ou atividade de um grupo. Portanto, a tecnologia é mais do que a soma de coisas e/ou objetos que utilizamos no cuidado em saúde. Ela apresenta características que incluem o desenvolvimento de habilidades, conhecimento e a incorporação de arranjos sociais e valores.1 Assim como a sociedade de modo geral, os enfermeiros e demais profissionais da saúde entendem que a tecnologia é bem vinda e incentivam o seu desenvolvimento. Contudo, suas crenças na eficácia da tecnologia, ainda não têm sido interpretadas tanto no que se refere ao contexto da prática de saúde e enfermagem, quanto no desenvolvimento de uma consciência histórica da influência da tecnologia, e até mesmo, na compreensão do significado da emergência de tecnologia.

Cientes deste cenário, o Programa de Pós Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina tem buscado de forma dinâmica e permanente, mediante pesquisas, produções científicas e tecnológicas, disciplinas específicas e discussões entre pares e grupos de pesquisa, fomentar a consciência tecnológica no sentido de que ela se configure em desenvolvimento de processos, análise de resultados e contribuições sociais concretas.

Compreender a influência e o significado da tecnologia tem uma importância extraordinária, especialmente por influenciar o cuidado e o ensino em Enfermagem e saúde e por ter implicações para interpretar a história, a prática contemporânea e o futuro da saúde, pois também orienta uma agenda política e novos papéis e responsabilidades.2 Deste modo, a tecnologia precisa ser entendida como dependente do contexto, em que os objetos se tornam tecnológicos, componentes da tecnologia, não somente pela virtude de como eles são definidos e classificados, mas também pela virtude de como eles são usados, ou seja, qual sua função de uso, qual a influência sobre nossas ações, concepções e contextos sociais.2-3

Em nosso entendimento, contudo, alcançar esta sensibilidade, compreender, desenvolver e fazer uso da tecnologia nesta perspectiva, exige comportamentos e atitudes, ou seja, uma "arte da prática de cuidar", que nos possibilite cada vez mais uma estreita aproximação às necessidades da pessoa que é cuidada. Esta aproximação se mostra à medida que o enfermeiro desenvolve e incorpora a arte de cuidar como uma expressão humana estética, que se manifesta em um clima de conforto, de empatia, de percepções, de confiança mútua, de sensibilidade, sentidos, intuição e expressões, com a finalidade de estabelecer um compromisso com a saúde e a segurança da pessoa.4-5

Desta forma, buscar permanentemente a convergência entre a tecnologia e a arte parece ser um caminho para a melhoria da qualidade e da segurança no cuidado de enfermagem. Nesta lógica, se tecnologia e arte influenciam a prática de enfermagem tanto da perspectiva do que fazemos, quanto de como nos compreendemos como profissionais, entende-se ser oportuno também refletir sobre o enorme avanço da Tecnologia da Informação em Enfermagem. Sabe-se que a informação é a chave para a tomada de decisão efetiva e integral da qualidade da prática de Enfermagem. Muito do que os profissionais de saúde fazem envolve informação, desde a avaliação das necessidades de cuidado, o desenvolvimento dos planos de cuidado, a comunicação da informação dos pacientes entre a equipe de saúde, até as análises gerenciais de orçamentos, recursos e competência da equipe. Ou seja, os profissionais de saúde trabalham em um ambiente intensivo de informação.

O uso crescente da Internet, indubitavelmente, trouxe possibilidades de melhoria no cuidado em saúde. Entretanto, ainda são percebidas a carência de conhecimento dos profissionais em utilizar esta tecnologia, a falta de acesso à informação e o desconhecimento de onde obtê-la, o que compromete o potencial da tecnologia da informação em melhorar o sistema de saúde, e por consequência, o cuidado às pessoas. Portanto, a tecnologia da informação em saúde precisa ser entendida como um veículo potencial que permite integrar a informação à arte da prática de cuidar em enfermagem4-5 em um ambiente de resultados, visível, rápido, eficiente, dinâmico e permanentemente voltado às necessidades da pessoa.

É ainda possível refletir sobre as inúmeras possibilidades para melhorar a qualidade da prática de enfermagem a partir da tecnologia da informação tais como: a interatividade entre grupos, indivíduos e sociedade e o fortalecimento das relações humanas ao permitir em tempo real o resgate de experiências, sentimentos, realizações, em grupos específicos e/ou gerais; a Telepresença como mais uma possibilidade de intervenção profissional; a detecção precoce e pontual de eventos e/ou danos que possam comprometer a segurança da pessoa; o monitoramento contínuo da qualidade da prática do cuidar não apenas com o olhar de controle, mas como o resultado da intervenção e da capacidade de mudança, melhoria e avanço.

Assim sendo, os artigos que integram as páginas deste número da revista Texto & Contexto Enfermagem retratam as diferentes faces das aplicações, reflexões e experiências das tecnologias e da arte em Enfermagem.

Dra. Grace Therezinha Marcon Dal Sasso

Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pós-doutora em Informática em Saúde pela Universidade do Texas. Líder do Grupo de Pesquisa em Tecnologias, Informações e Informática em Saúde e Enfermagem (GIATE)

Dra. Sayonara de Fátima Faria Barbosa

Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFSC. Membro do GIATE

  • 1. Barnard A. Sandelowski M. Technology and humane nursing care: (ir)reconcilable or invented differences?. J Adv Nurs. 2001 May; 34(3):367-75.
  • 2. Barnard A. Philosophy of technology and nursing. Nurs Philos. 2002 Apr; 3(1):15-26.
  • 3. Sandelowski M. Devices and desires: gender, technology and american nursing. Chapel Hill (US): University of North Carolina; 2000. p.23.
  • 4. Barnard A. Technology and nursing: an anatomy of definition. Int J Nurs Stud. 1996 Aug; 33(4):433-41.
  • 5. Sandelowski M. Troubling distinctions: A semiotics of the nursing/technology relationship. Nurs Inq. 1999 Sep; 6(3):198-207.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Out 2009
  • Data do Fascículo
    Set 2009
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