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EDITORIAL

EDITORIAL EDITORIAL

Os artigos publicados neste fascículo de Trabalho, Educação e Saúde têm em sua maioria uma característica comum: voltam suas lentes para o diálogo com os trabalhadores da saúde, ator privilegiado para que se amplie o conhecimento sobre o trabalho e a formação em saúde nos textos aqui apresentados. A despeito dos diferentes objetos tratados, é com base em análises fundamentadas na metodologia qualitativa que se constroem sentidos sobre as falas de diferentes profissionais do campo da saúde.

No ensaio A formação clínica e a produção do cuidado em saúde e na enfermagem, os autores Alcivan Nunes Vieira, Lia Carneiro Silveira e Túlio Batista Franco propõem uma discussão sobre a clínica na prática e na formação acadêmica da enfermagem com base em referenciais teórico-conceituais do campo da filosofia, abordando temas sempre presentes no encontro entre os sujeitos implicados em cuidado e saúde e formação acadêmica, tais como relações de poder, saber e subjetividade.

Em dois dos textos que se valem dessa perspectiva - Grupos de educação em saúde: aprendizagem permanente com pessoas soropositivas para o HIV, de Audrey Vidal Pereira, Ana Luiza Stiebler Vieira e Antenor Amâncio Filho, e o artigo Avaliação de ações educativas sobre consumo de drogas e juventude: a práxis no trabalho e na vida, de Cássia Baldini Soares, Célia Maria Sivalli Campos, Juliana Sette Berto e Érica Gomes Pereira -, os autores discutem práticas de educação em saúde em territórios atravessados por preconceitos. Em ambos, a perspectiva adotada é a de compreender modos de configurar relações em saúde que se afastem da culpabilização dos indivíduos e que insiram a reflexão sobre a promoção, a prevenção e o cuidado em saúde em um contexto emancipatório.

As interações entre o espaço acadêmico e o Sistema Único de Saúde são destacadas em dois artigos que debatem a formação e o processo de trabalho em saúde. Juliana Guisardi Pereira e Lislaine Aparecida Fracolli, autoras de Articulação ensino-serviço e Vigilância da Saúde: a percepção de trabalhadores de saúde de um distrito escola, e Rinaldo Henrique Aguilar da Silva, Soraida Sozzi Miguel e Luciana Scapin Teixeira, autores de Problematização como método ativo de ensino-aprendizagem: estudantes de Farmácia em cenários de prática, desenvolvem pesquisas que mostram a necessidade de conceber de modo integrado o projeto pedagógico e o trabalho na atenção primária em saúde, problematizando o lugar e a responsabilidade não apenas dos indivíduos, mas também das instituições para a construção de processos mais coerentes com o enfoque integral de atenção à saúde.

O artigo Avaliação para melhoria da qualidade da Estratégia Saúde da Família e a qualificação profissional, de José Mendes da Silva e Antônio Prates Caldeira, aborda a qualidade na atenção primária em saúde no município de Montes Claros, no estado de Minas Gerais, e a pertinência da autoavaliação por meio da utilização do instrumento AMQ. Na discussão decorrente da pesquisa, os autores mostram aspectos satisfatórios e insatisfatórios da atenção e registram as limitações do estudo. Quanto ao uso do instrumento de autoavaliação, ressaltam os aspectos positivos de sua incorporação, em particular seu potencial formativo, por proporcionar o envolvimento dos trabalhadores na reflexão sobre a qualidade dos serviços e suas possibilidades de ampliá-la.

O artigo Lei n.º 11.889/2008: avanço ou retrocesso nas competências do técnico em saúde bucal?, de Paulo Frazão e Paulo Capel Narvai, situa-nos historicamente no que diz respeito à construção da profissão de técnico em saúde bucal, indagando, com base no exame de documentos relevantes para a normatização da profissão, sobre as competências que vêm sendo atribuídas a ele. Ao concluir o texto, os autores indicam ter havido um avanço na definição do papel profissional desse trabalhador.

Compreender os diversos significados atribuídos à humanização do cuidado é o propósito da pesquisa que deu origem ao texto Humanização na produção do cuidado à criança hospitalizada: concepção da equipe de enfermagem, de Ilvana Lima Verde Gomes, Nair Assunta Corso Câmara, Guesa Maria Dantas Lélis, Gilvânia Ferreira Castro Grangeiro e Maria Salete Bessa Jorge. Os resultados revelam a preocupação dos profissionais com as dimensões materiais e subjetivas em que se produz o cuidado, trazendo a integralidade da atenção para o centro do debate.

As estratégias adotadas e o empenho na inclusão da atenção em saúde do trabalhador na atenção básica do município de Amparo, no estado de São Paulo, no período 2001 a 2008, são o tema do relato Saúde do trabalhador na atenção básica: análise a partir de uma experiência municipal, de Maria Dionísia do Amaral Dias, Grazielle Cristina dos Santos Bertolini e Aparecida Linhares Pimenta. Dentre os vários aprendizados trazidos pela experiência, ressaltam-se a necessidade de articulação com uma rede de referência e a participação permanente de atores sociais diversificados.

Este número traz ainda entrevista com a pesquisadora Danièle Linhart, que aborda a penosidade do trabalho no contexto das empresas modernas e explicita processos que tornaram a relação entre subjetividade e trabalho um elemento central na pesquisa sociológica atual.

Na seção Resenhas, Helena David analisa Educação e trabalho em disputa no SUS: a política de formação dos agentes comunitários de saúde, de Márcia Valéria Morosini, e Fábio Henrique Lopes discute As ciências da vida: de Canguilhem a Foucault, de Vera Portocarrero.

Angélica Ferreira Fonseca

Carla Macedo Martins

Isabel Brasil Pereira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 2011
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