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Fontes de informação na Web: apropriação, uso e disseminação da informação étnico-racial no movimento negro da Paraíba

Sources of information on the Web: Ownership, use and dissemination of racial and ethnic information in the Afro-Brazilian movement from the state of Paraíba, Brazil

Resumos

O artigo analisa como o Movimento Negro do Estado da Paraíba faz a apropriação das fontes de informação na Web e usa-as na perspectiva de disseminação da informação étnico-racial. As fontes de informação podem ser utilizadas como um canal de disseminação da informação étnico-racial para auxiliar os grupos sociais e etnicamente invisibilizados na atual sociedade da informação-conhecimento-aprendizagem-comunicação, em cujo local o preconceito, a discriminação e o racismo fazem parte do cotidiano dos sujeitos. O universo da pesquisa foi o Movimento Negro Organizado da Paraíba, e os participantes foram quatro ativistas desse movimento: o Núcleo de Estudantes Negras e Negros da Universidade Federal da Paraíba e a Organização de Mulheres Negras na Paraíba. Os resultados mostraram que a ferramenta mais utilizada para veicular a informação é o e-mail. Conclui-se que a apropriação das fontes de informação já utilizadas deve servir como um espaço virtual de armazenamento da informação produzida.

Disseminação da informação; Fontes de informação na Web ; Informação étnico-racial; Movimento Negro da Paraíba; Uso da informação


This article analyzes how the Afro-Brazilian Movement from the state of Paraíba uses information sources from the Web with the purpose of disseminating racial and ethnic information. The information sources can be used as a channel for the dissemination of racial and ethnic information to assist the socially and ethnically invisible groups in the current information-knowledge-learning-communication society, in which prejudice, discrimination and racism are part of the subjects' daily life. The research involved the Afro-Brazilian Movement from the State of Paraíba. The participants were four activists from the following groups: Center for Afro-Brazilian/women Students and Afro-Brazilian/men Students from the Federal University of Paraíba, Organization of Afro-Brazilian Women from the state of Paraíba. The results showed that the most common tool for disseminating information was via e-mail. We conclude that by using the information sources, the Afro-Brazilian Movement/blog will serve as a virtual space for storing the information collected.

Information dissemination; Information sources from the Web; Racial and ethnic information; Afro-Brazilian Movement from the State of Paraíba; Information use


Introdução

A compreensão sobre a necessidade da disseminação da informação que aborda as questões étnico-raciais nas universidades pouco ajudou para se perceber a sólida contribuição de negros na formação da sociedade brasileira. O evento da pós-abolição mergulhou o povo negro na pobreza e no abandono, sem chances de acesso à informação e à educação. O déficit histórico do escravismo não foi totalmente reconhecido e reparado pelos diversos setores do nosso país, porque permanece ainda o discurso da cordialidade e das relações harmoniosas, defendido pela ideologia da democracia racial, colaborando para a invisibilidade de negros na sociedade da informação-conhecimento-aprendizagem-comunicação.

Na ciência, os africanos e os afrodescendentes foram estudados como objetos, sem serem considerados sujeitos capazes de produzir informação e gerar conhecimento sobre sua história e cultura. Os estudos e as pesquisas ainda não reconheceram totalmente que a apropriação dos saberes não é privilégio apenas de um grupo dominante que continua detendo o poder na atual sociedade, ignorando que os saberes pertencem à humanidade. Na literatura das áreas de Biblioteconomia/Ciência da Informação pouco se discute sobre a importância, o valor e o uso da informação de interesse de grupos específicos (negros, indígenas, deficientes, homossexuais, mulheres, dentre outros). Em geral, nessas áreas, aborda-se a informação para o público como um todo, mas raramente especificam-se os grupos a que se destina essa informação. Em razão disso, é necessário que seus pesquisadores se preocupem com a produção e disseminação dessa informação na atualidade, momento em que a cultura digital agrega, de forma sutil ou velada, determinados estereótipos referentes a grupos específicos historicamente discriminados pela cor e pobreza.

Portanto, este artigo discute o uso e a apropriação das ferramentas da Web na perspectiva da disseminação da informação étnico-racial e da memória do Movimento Negro Organizado da Paraíba (MNOPB), partindo do princípio de que as Ciências Sociais Aplicadas precisam exercitar práticas de pesquisas que possam evidenciar a invisibilidade de negros nas instituições públicas da sociedade brasileira.

Fontes de informação: passado e presente

A história da humanidade sempre sobreviveu na dependência das fontes de informação. Elas foram transformando-se, renovando-se, reatualizando-se, adquirindo novas formas e moldando-se em novos espaços. Também são responsáveis por carregar e armazenar a informação que age como formadora e transformadora de opiniões. Por fonte de informação, entende-se qualquer recurso que responda a uma demanda de informação por parte de usuários-aprendentes3 e que gere ou veicule informação, influenciando na geração do conhecimento e do aprendizado. Essas fontes incluem produtos e serviços de informação, pessoas ou rede de pessoas, programas de computador etc.

Vive-se hoje numa sociedade da informação-conhecimento-aprendizagem-comunicação cujas fontes de informação foram afetadas por momentos significativos do progresso da ciência e da técnica bem como a revolução das tecnologias intelectuais impactou o mundo com seu volume incontornável de informação que se tornou objeto de consumo, mercadoria. A discussão sobre uma sociedade da informação já vem sendo introduzida no contexto mundial desde a década de 1960 com Peter Drucker que, em 1966, no bestseller "The Age of Discontinuity", se reporta a uma sociedade pós-industrial. Nesse contexto, alguns autores vão anunciar e fundamentar o aparecimento de uma nova sociedade denominada "A Sociedade da Informação". Nela, conhecimento, aprendizagem e comunicação são elementos fundamentais que têm a potencialidade de estabelecer conexões entre si e de se interconectar a ponto dos seus habitantes desenvolverem competências e habilidades que possibilitem o exercício da criatividade, pautados pelos seus anseios e necessidades, reforçadas pelos desafios impostos pela cultura digital.

A informação é "Um instrumento modificador da consciência do indivíduo e de seu grupo social [que produz conhecimento e] modifica o estoque mental de saber do indivíduo e traz benefícios para seu desenvolvimento e para o bem-estar da sociedade em que ele vive" (Barreto, 2002Barreto, A.A. Transferência da informação para o conhecimento. In: Aquino, M.A. (Org.). O campo da ciência da informação: gênese, conexões e especificidade. João Pessoa: UFPB, 2002. Cap.3, p.49-59., p.49). Essa "Informação deve ser ordenada, estruturada ou contida de alguma forma, senão permanecerá amorfa e inutilizável [...] para nós de alguma forma, e transmitida por algum tipo de canal" (McGarry, 1999McGarry, K. O contexto dinâmico da informação: uma análise introdutória. Brasília: Briquet de Lemos, 1999., p.11).

Alguns autores afirmam que ter mais informação é ter mais conhecimento e ter conhecimento é ter poder, que pode ser exercido sobre o outro. Na visão de Burke (2003)Burke, P. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003., alguns sociólogos defendem a tese de que estamos numa "Sociedade do Conhecimento", devido à expansão de ocupações que produzem e disseminam o conhecimento, mas precisamos considerar que nem sempre as pessoas têm acesso a ele. O autor afirma que o conhecimento é também uma questão política que está "Centrada no caráter público ou privado de informação, e de sua natureza mercantil e social [e que] a mercantilização da informação é tão velha quanto o capitalismo"(Burke, 2003Burke, P. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003., p.11). O conhecimento só existe se houver uma fonte de informação que forneça subsídios para a construção do conhecimento.

Há aqueles que defendem a "sociedade da aprendizagem" (Assmann, 1998Assmann, H. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998.) porque somos pressionados cotidianamente a aprender e a reaprender, a usar as ferramentas digitais como"Um processo fundante para vida inteira" (Aquino, 2005Aquino, M.A. Informação para educação: construindo dispositivos de inclusão a partir do uso de objetos multimídia na sociedade da aprendizagem. João Pessoa: UFPB, 2005. (Projeto Técnico-Científico).). Todas as pessoas são convocadas para aprender e transmitir, cada vez mais, saberes evolutivos e adaptados (Delors, 1999Delors, J. Educação: um tesouro a descobrir, relatório para a Unesco da comissão internacional sobre educação para o século XXI. São Paulo: Cortez, 1999.) ao novo contexto. Viver o contexto em que eclodem as tecnologias intelectuais é estar constantemente em"estado de aprendência" (Fernandez, 2001Fernández, A. Os idiomas do aprendente: análise das modalidades ensinantes com famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2001.). Isso significa que "[...] a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas"(Assmann, 1998, p.19). E o sujeito aprendente é "Aquela articulação que vai armando o sujeito cognoscente e o sujeito desejante sobre o organismo herdado, construindo um corpo sempre em intersecção com outro (conhecimento-cultura [...]) e com outros (pais, professores, meios de comunicação)" (Fernández, 2001Fernández, A. Os idiomas do aprendente: análise das modalidades ensinantes com famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2001., p.55).

Essa nova sociedade caracteriza-se também como uma sociedade da comunicação porque as "Tecnologias contemporâneas estabelecem uma dinâmica própria de comunicação mediada por linguagens, em que estas linguagens possibilitam a construção de representações ou expressões simbólicas específicas, dando condições ao surgimento de novas práticas dentro dos processos representativos" (Gomes, 2007Gomes, P.T. A sociedade da comunicação e seus processos constituintes: ciberespaço, comunidades e ontologias. In: Reunião Anual da Anped, 30., 2007, Caxambu. Anais eletrônicos... Caxambu: ANPEd, 2007. p.1-18. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/gt16-3323-int.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2012.
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, online). Além disso, estamos vivendo "a diversidadeque emerge na globalização contemporânea [e] traz elementos novos para o pensamento" com a "movimentação de grupos sociais que trafegam política e educacionalmente no espaço dos direitos civis e humanos"(Sodré, 2013Sodré, M. Educação para o diverso. In: A Cor da cultura, Rio de Janeiro, 2013 (22 ago) . Disponível em: <http://www.acorda cultura.org.br/artigos/22082013/educacao-para-o-diversopor-muniz-sodre>. Acesso em: 10 out. 2013.
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, online).

As tecnologias intelectuais potencializaram o surgimento rápido e mutável de fontes de informação, sobretudo no que se refere à rede Web (Sales & Almeida, 2007Sales, R.; Almeida, P.P. Avaliação de fontes de informação na internet: avaliando o site do NUPILL/UFSC. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v.4, n.2, p.67-87, 2007.). Os modelos ou parâmetros adotados pelas fontes de informação disponíveis vêm sendo modificados, ampliados e diversificados, tornando-se cada vez mais "Eficientes, rápidas e abrangentes, vencendo barreiras geográficas, hierárquicas e financeiras" (Campello et al., 2000Campello, B.S.; Cendón, B.V.; Kremer, J.M. Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: UFMG, 2000., p.23).

Em sua análise sobre a relação tecnologia e profissionais, autores como Tomaél et al. (2000Tomaél, M.I. et al. Fontes de informação na internet: acesso e avaliação das disponíveis nos sites de universidades. In: Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias, 11., 2000, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2000. Disponível em: <snbu.bvs.br/snbu2000/docs/pt/doc/t138.doc>. Acesso em: 13 set. 2010.
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, p.5) afirmam que "Nenhuma tecnologia da informação teve impacto tão forte nos profissionais da informação como a Internet".

Dentre as inúmeras fontes de informação da Web, é possível destacar pelo menos nove mais conhecidas e utilizadas:

-Sites e websites: são um conjunto de páginas Web ou hipertextos acessíveis; pelo protocolo de transferência da Internet;

-Portais: um tipo de site que congrega conteúdos de diversos tipos (áudio, vídeo, imagem, texto etc.);

-Blogs: espécie de diário Web que apresenta características como a personalização. Podem ser desenvolvidos para serem utilizados individual ou coletivamente;

-Microblogs: considerados ferramentas de blogs em formato mais simples e servem para postagens com limitações de tamanho;

-Youtube: permite que os usuários-aprendentes carreguem e compartilhem vídeos em formato digital;

-Redes sociais (Orkut, Facebook, Ning, Linkedin, entre outras): são uma forma de representar as relações humanas. O crescimento das redes sociais perpassa as relações pessoais e atinge também os âmbitos organizacional, social, político e científico;

-Grupos de Discussão ou Comunidades Virtuais: rede eletrônica de comunicação interativa autodefinida, organizada em torno de um interesse ou finalidade compartilhada;

-Buscadores e Metabuscadores: são motores de busca, programas feitos para auxiliar a busca de informação armazenada na rede mundial (www) ou a Internet.

O potencial de aplicação das ferramentas de busca online é necessário no contexto dinâmico da sociedade da informação-conhecimento-aprendizagem-comunicação, tendo como função orientar o usuário-aprendente à fonte desejada.

Apropriação, uso e disseminação das fontes de informação

Na visão de Chartier (1999Chartier, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador, conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Unesp, 1999., p.77), "Apropriar-se é transformar o que se recebe em algo próprio, é produzir um ato de diferenciação que se contrapõe a qualquer tentativa rígida imposta [...], é atividade de invenção, produção de significados". Sobre essa questão, Perrotti e Pierrucini (2007Perrotti, E.; Pierruccini, I. Saberes e fazer na contemporaneidade. In: Lara, M.; Fujino, A.; Noronha, D.P. (Org.). Informação e contemporaneidade: perspectivas. Recife: Néctar, 2007. p.47-96., p.27) recuperam a noção de apropriação de Perla Serfaty-Garzon:

[...] veicula duas ideias dominantes. De uma parte a de adaptação de alguma coisa a um uso definido ou a uma destinação precisa; de outra, decorrente da primeira, a de ação visando a tornar alguma coisa sua. Nesse sentido, a apropriação não é possível senão em relação a qualquer coisa que pode ser atribuída e, enquanto tal pode, ao mesmo tempo, servir de suporte à intervenção humana e ser possuída. Todavia, a propriedade aqui é [também] de ordem moral, psicológica, afetiva [...]. A apropriação é, desse modo, ao mesmo tempo, uma tomada do objeto e uma dinâmica de ação sobre o mundo material e social com uma intenção de construção do sujeito.

A noção de apropriação utilizada como instrumento de conhecimento pode também reintroduzir uma nova ilusão e pressupor a compreensão da cultura. Para Chartier (1999)Chartier, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador, conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Unesp, 1999., o conceito de cultura não é apenas um domínio particular de produções e de práticas supostamente distinto de outros níveis, como o econômico e o social. Segundo o autor, a cultura também faz parte dessas esferas, pois "[...] não existe prática que não se articule sobre as representações pelas quais os indivíduos constroem o sentido de sua existência" (Chartier, 1999Chartier, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador, conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Unesp, 1999., p.18). Ele afirma que a cultura apresenta dois aspectos: 1) os mecanismos da dominação simbólica, cujo objetivo é tornar aceitável, pelos próprios dominados, as representações e os modos de consumo que, precisamente, qualificam (ou antes, desqualificam) sua cultura como inferior e ilegítima e; 2) as lógicas específicas em funcionamento nos usos e nos modos de se apropriar do que é imposto.

A apropriação remete-se à forma como lemos, interpretamos e compreendemos as fontes de informação nas fontes orais, escritas e digitais para produzir conhecimento. O uso das fontes de informação ocorre a partir do momento em que o usuário-aprendente toma para si a informação, lê, interpreta. Ele é capaz de atribuir sentidos, gerar conhecimento e modificar as estruturas do pensamento. É uma "Necessidade de uma reforma do pensamento, portanto, de uma reforma do ensino" (Morin, 2004Morin, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2004., p.9), de saberes. Para este autor, "A reforma do pensamento é que permitiria o pleno emprego da inteligência para responder a esses desafios e permitiria a ligação de duas culturas dissociadas [...]. A reforma do ensino deve levar à reforma do pensamento, e a reforma do pensamento deve levar à reforma do ensino"(Morin, 2004Morin, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2004., p.20).

Em relação ao uso das fontes de informação na Web, que é um dos pontos-chave deste estudo, alguns autores estabelecem considerações sobre os espaços de informação e dos usuários-aprendentes:

A tecnologia [...] objetiva possibilitar o maior e melhor acesso à informação disponível, e o critério da Ciência da Informação, que intervém para qualificar este acesso em termos das competências que o receptor da informação deve ter para assimilar a informação, ou seja, para elaborar a informação para seu uso, seu desenvolvimento pessoal e dos seus espaços de convivência. Não é suficiente que a mensagem esteja disponível, ela deve também poder ser apropriada pelo receptor (Smit & Barreto, 2002, p.15, grifo nosso).

Com base nesse argumento, reafirma-se a importância da apropriação das fontes de informação pelo usuário-aprendente. Elas não podem ser apenas utilizada já que a cultura, hoje, passa não exclusivamente pelo conhecimento teórico-prático, mas também pelo uso de novos instrumentos de produção e pela comunicação entre os homens. A disseminação da informação por meio do uso da Internet pode contribuir para uma sociedade mais informada, mas não garante isso. Além do acesso às tecnologias intelectuais, a população necessita de acesso à educação para fins de utilização de maneira competente.

É a educação o elemento-chave para a construção de uma sociedade da informação e condição essencial para que pessoas e organizações estejam aptas a lidar com o novo, a criar e, assim, a garantir seu espaço de liberdade e autonomia. A dinâmica da sociedade da informação requer educação continuada ao longo da vida, que permita ao indivíduo não apenas acompanhar as mudanças tecnológicas, mas, sobretudo, inovar. No Brasil, até mesmo a educação básica ainda apresenta deficiências marcantes. Particularmente nos segmentos sociais de baixa renda e em regiões menos favorecidas, o analfabetismo permanece como realidade nacional. O desafio, portanto, é duplo: superar antigas deficiências e criar as competências requeridas pela nova economia (Takahashi, 2000, p.7).

Portanto, o uso efetivo dos estoques informacionais só será possível se os indivíduos tiverem competência para assimilar essa informação e a educação ganhe "Maior eficiência e alcance cada vez maior número de comunidade e regiões" (Takahashi, 2000Takahashi, T. (Org.). Sociedade da informação no Brasil: livro verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000., p.7), guetos e favelas, onde a maioria da população negra habita. Concorda-se com Bastos (2005Bastos, F.M. Organização do conhecimento em bibliotecas digitais de teses e dissertações: análise da aplicabilidade das teorias macroestruturais para categorização de áreas de assunto. 2005. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Marília, 2005., p.20), ao afirmar que:

[...] apesar de toda evolução do acesso à informação, proporcionado pelas tecnologias de informação e comunicação, continua sendo primordial um estudo sobre as necessidades de informação do indivíduo na sociedade, pois a maioria não possui repertório suficiente e adequado para receptar e processar o excesso de informações, e atuar como cidadãos na sociedade.

A disseminação da informação, segundo Bastos (2005)Bastos, F.M. Organização do conhecimento em bibliotecas digitais de teses e dissertações: análise da aplicabilidade das teorias macroestruturais para categorização de áreas de assunto. 2005. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Marília, 2005., deve ir além da socialização do conhecimento, chegar até à produção de conhecimento com base na informação acumulada. Ao assumir novos papéis (interatividade, agilidade, diminuição de espaço na armazenagem de informação) frente às fontes tradicionais que armazenam e disseminam a informação. As fontes de informação da Web podem se tornar um espaço onde o usuário-aprendente também deve explorar as possibilidades de armazenar e preservar a informação, tanto do meio físico para o virtual (digitalização), quanto pensar e criar estratégias e mecanismos para a preservação da informação existente apenas no meio virtual.

Métodos

A abordagem qualitativa tende a responder às questões particulares nas Ciências Sociais Aplicadas e dar um novo sentido aos problemas específicos e compreensão dos significados. Trata-se de uma abordagem que nos incita "A repensar o estudo das necessidades socioculturais dos meios de vida" (Groulx, 2008Groulx, L.H. Contribuição da pesquisa qualitativa à pesquisa social. In: Poupart, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2008. p.95-124., p.98) e permite ressaltar "A natureza socialmente construída da realidade, a íntima relação entre o pesquisador e o que é estudado e as limitações situacionais que influenciam a investigação"(Denzin & Lincoln, 2006Denzin, N.K.; Lincoln, Y.S. Introdução: a disciplina e a prática da pesquisa qualitativa. In: Denzin, N.K.; Lincoln, Y.S. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2006. Cap.1, p.15-47., p.23). Esses autores entendem que pesquisadores qualitativos buscam soluções para tentar resolver as questões que apontam o modo como a experiência social é criada e adquire significados.

O universo de pesquisa é o Movimento Negro Organizado da Paraíba (MNOPB), formado por um conjunto de diversas organizações negras, a saber: a) comunidades descendentes de antigos Quilombos (Caiana dos Crioulos, Zumbi etc.); b) grupos artísticos (Banda Ylê Odara, Bateria Show da Escola de Samba Malandros do Morro, Grupo de danças Afroprimitivas, Grupos de Hip-hop); c) grupos de formação (alfabetização, reflexão, professores, intelectuais negros e outros); d) grupos de arte marcial (Badauê dos Palmares, Afronagô e outros); e) entidades de articulação e luta em defesa dos direitos da etnia negra (Movimento da Ação Negra e Agentes de Pastoral Negros); f ) grupos de gênero (Mulheres Negras, Bamidelê; g) comunidade de Religião dos Orixás (terreiros); dentre outras formas de organização (Movimento Negro da Paraíba, 2007Movimento Negro da Paraíba. Nossa história. 2007. Disponível em: <http://valeuzumbivaleu.blogspot.com.br/2007_11_01_archive.html>. Acesso em: 10 ago. 2010.
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). Escolheu-se o MNOPB por entender que os grupos ativistas desse movimento se posicionam como porta-vozes de afrodescendentes para conseguir valorizar a identidade de seus integrantes, construir sentidos e manifestar seu pertencimento.

Os participantes dessa pesquisa são quatro ativistas negros, vinculados ao Núcleo de Estudantes Negras e Negros da Universidade Federal da Paraíba -NENN/UFPB e à Organização de Mulheres Negras na Paraíba - Bamidelê. Na escolha desses sujeitos, foram selecionados, principalmente, os líderes dessas organizações, por supor que estariam mais familiarizados e atualizados acerca dos processos de uso e apropriação das fontes de informação na Web, tendo como finalidade de apropriação, produção e disseminação da informação étnico-racial.

Para saber como os participantes da pesquisa se apropriam das fontes de informação na Web e delas fazem uso, adotou-se a entrevista semiestruturada como instrumento de coleta de dados em que o sujeito tem uma participação ativa e o pesquisador pode fazer perguntas adicionais para esclarecer questões que visem compreender bem mais o contexto.

A transcrição das entrevistas foi feita com base na Análise da Conversação (Marcuschi, 1986Marcuschi, L.A. Análise da conversação. São Paulo: Ática, 1986.) após o término de cada uma, visando a facilitar a identificação dos diálogos, a compreensão do conteúdo e a seleção das partes mais relevantes para a composição da análise.

Discurso do sujeito coletivo: um modo de ler discursos de ativistas do MNOPB

Para analisar como o MNOPB faz a apropriação, utilização e disseminação das fontes de informação na Web, recorreu-se ao Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) que pressupõe um conjunto de princípios e conceitos operacionais, emprestado pela Semiótica de Pierce e pela Teoria das Representações Sociais, representadas por Jodelet (2001)Jodelet, D. Representações sociais: um domínio de expansão. In: Jodelet, D. As representações sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. p.17-44. e Moscovici (2003)Moscovici, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2003.. Eles consideram os fenômenos sociais como "A fonte principal da produção de discursos e estes são assimilados como um fragmento do pensamento social" (Almeida, 2005Almeida, C.C. Discurso do sujeito coletivo: reconstruindo a fala do social. In: Valentim, M.L.P. (Org.). Métodos qualitativos de pesquisa em ciência da informação. São Paulo: Polis, 2005. Cap.3, p.59-79., p.61). As realidades, segundo Moscovici (2003)Moscovici, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2003., são medidas pelas representações, e "[...] uma de suas funções principais é de dar significados de aspectos dessa realidade"(Almeida, 2005Almeida, C.C. Discurso do sujeito coletivo: reconstruindo a fala do social. In: Valentim, M.L.P. (Org.). Métodos qualitativos de pesquisa em ciência da informação. São Paulo: Polis, 2005. Cap.3, p.59-79., p.71). Essa teoria orienta as ações das pessoas, ligando "sujeito e objeto do conhecimento".

Essa técnica propõe três conceitos operacionais básicos para análise dos discursos dos sujeitos coletivos, a saber: as Expressões-Chave, a Ideia Central e a Ancoragem. As Expressões-Chave são fragmentos extraídos da transcrição literal do discurso do sujeito na entrevista. A Ideia Central é "A descrição, precisa e direta, dos significados do conjunto dos discursos que foram analisados e destacados nas expressões-chave [...] descreve o sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo" (Almeida, 2005Almeida, C.C. Discurso do sujeito coletivo: reconstruindo a fala do social. In: Valentim, M.L.P. (Org.). Métodos qualitativos de pesquisa em ciência da informação. São Paulo: Polis, 2005. Cap.3, p.59-79., p.71). E a Ancoragem é a "Figura metodológica que indica a teoria, o pressuposto, a corrente de pensamento e o fundo do conhecimento que o sujeito aceita e compartilha de uma maneira natural para representar um dado fenômeno da realidade" (Almeida, 2005Almeida, C.C. Discurso do sujeito coletivo: reconstruindo a fala do social. In: Valentim, M.L.P. (Org.). Métodos qualitativos de pesquisa em ciência da informação. São Paulo: Polis, 2005. Cap.3, p.59-79., p.71).

Nesta análise, o sujeito coletivo é a voz dos ativistas do Movimento Negro do Estado da Paraíba, que se manifesta na primeira pessoa do singular. O entrevistado (sujeito individual) é aquele que fala em nome do grupo (sujeito coletivo) ao qual pertence. O resultado das suposições bem como as considerações e análises representam o sujeito individual e o sujeito coletivo, entendidos como"Um ser ou entidade empírica coletiva, opinante na forma de um sujeito de discurso emitido na primeira pessoa do singular" (Lefèvre & Lefèvre, 2006Lefèvre, F.; Lefèvre, A.M.C. O sujeito coletivo que fala. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, v.10, n.20, p.517-24, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 nov. 2010., p.518).

O primeiro passo da análise consistiu na leitura dos discursos de cada um dos sujeitos individuais. Em seguida, foram recortados os discursos observando os conceitos operacionais e legendamos (Sujeito A, Sujeito B, Sujeito C e Sujeito D). O segundo passo consistiu em destacar, em negrito, as expressões-chave presentes nas ideias centrais. No terceiro passo, as ideias centrais foram identificadas e redigidas. No quarto passo, foram estabelecidas as categorias do DSC a partir das ideias centrais. Finalmente, o quinto passo consistiu no agrupamento das categorias, formadas a partir de fragmentos dos discursos dos sujeitos, com a finalidade de construir o DSC de cada um dos discursos.

A primeira interlocução com os sujeitos individuais teve como finalidade identificar se o Movimento Negro de João Pessoa utilizava alguma fonte de informação da Web. Caso utilizasse, como se dava o processo de apropriação. Após essa identificação das Ideias Centrais, foram retiradas as Expressões-Chave e delas extraíram-se as categorias "uso de blog e e-mail" e "apropriar para divulgar, disseminar", referentes ao uso e processo de apropriação das fontes de informação na Web. Dessa operacionalização, obteve-se o DSC:

[...] o próprio movimento negro organizado da Paraíba tem um blog, tem um blog e tem um email, então faz sim [...]. Mas, é um grupo de discussão também que assim como o blog não tá funcionando [...] essas coisas assim, usa pra publicar, para divulgar, [...] a gente tem feito o uso dessa ferramenta para se apropriar e para divulgar [...] (DSC1).

Interpretando o DSC com base no discurso dos "sujeitos coletivos", é possível constatar que o blog e o e-mail são as fontes de informação mais empregadas pelo MNOPB na Web. Na maioria das vezes, o processo de apropriação dessas ferramentas tem como finalidade disseminar a informação de interesse do grupo. A apropriação das ferramentas está associada ao uso de postagens acerca das questões levantadas por um grupo de discussão. Essas postagens são coletivas e espontâneas, e a apropriação das ferramentas efetiva-se por meio delas. Nota-se, entretanto, que, em razão da desorganização do MNOPB, as postagens não têm sido atualizadas.

Os discursos mostram que o grupo usa o blog como a ferramenta mais adequada para a de disseminação da informação. Essa ferramenta, segundo eles, serve para noticiar visões de mundo individuais ou de pequenas coletividades sobre temas variados. No campo da Ciência da Informação, o blog é visto como mais um complemento para disseminar a informação e disponibilizar o conhecimento para usuários-aprendentes que navegam na Web.

Hoje, existe um número de empresas consolidadas no mercado que recorrem a essa ferramenta para construir identidades, aumentar sua credibilidade e divulgar seus produtos. Há também indivíduos que usam essas ferramentas no formato de diário e outros, com fins jornalísticos. É uma ferramenta de fácil publicação, não dependendo do conhecimento prévio por parte do usuário-aprendente da linguagem de programação e a maioria delas é gratuita. Por sua vez, o e-mail é a ferramenta de comunicação que mais evoluiu nas últimas décadas e vem se popularizando à medida que as tecnologias intelectuais também se popularizam.

O discurso do sujeito coletivo mostra que MNOPB, mesmo tendo as ferramentas, não atinge seus propósitos de uso, porque elas se encontram desatualizadas, resultando na desis-tência do uso. Esse distanciamento pode ser atribuído à não funcionalidade da própria organização. A apropriação do blog e do grupo de discussão serve para a divulgação e disseminação da informação recuperada pelo MNOPB. Porém, não há uma periodicidade nessa disseminação, perdendo-se, assim, um requisito básico para que a ferramenta seja utilizada constantemente, que é a atualização da informação disponibilizada.

A segunda interlocução com os entrevistados referiu-se ao uso do e-mail como fonte de informação para a apropriação da informação disseminada pelos ativistas do MNOPB e os tipos que utilizam. Nesse sentido, os posicionamentos dos sujeitos individuais e das Ideias Centrais, retiradas do segundo bloco de dados discursivos, serviramparaextrairacategoria" e-mail: veículo de apropriação da informação no MNOPB", com vistas à disseminação e à memória do MNOPB, resultando no discurso do sujeito coletivo: "Utilizo sim, a fonte de informação mais eficaz, ainda é o e-mail, não é o e-mail do Grupo, é o e-mail pessoal" (DSC2).

Os discursos dos sujeitos apontam possibilidades que potencializariam o poder de comunicação dessas ferramentas, tendo em vista o uso que lhes é atribuído, mas não são devidamente empregadas. Eles informaram que as questões de uso restrito dessas ferramentas estão relacionadas a algumas características que estão agregadas ao seu manuseio, tais como a pouca familiaridade com essas ferramentas, a falta de articulação dos ativistas, a ausência de mobilização de pessoas que poderiam orientar os ativistas a usá-las.

Essa inabilidade, no que concerne ao uso das ferramentas pelos ativistas, contrasta com a literatura e as pesquisas, pois tem sido mostrado que as fontes de informação da Web demandam uma praticidade, que é reconhecida como uma das características das ferramentas digitais contemporâneas. A demanda pela usabilidade é tão simples quanto o uso que se faz dela.

No discurso do sujeito coletivo, constatou-se que a apropriação da informação disseminada pelo MNOPB é feita apenas por meio da troca de e-mailspessoais e não entre os ativistas. Essa ferramenta é considerada mais acessível ao grupo e mais fácil de ser operacionalizada. O e-mail é utilizado para disseminar a informação das quais os ativistas do MNOPB se apropriam nas entidades bem como para os ativistas ligados ao movimento, em âmbito local, estadual e federal.

Ao que parece a apropriação das ferramentas na Web pode muito contribuir para fortalecer o MNOPB, uma vez que esse movimento caracteriza-se como unidade agregadora de interesses comuns, cujo objetivo maior de suas lutas está voltado para a visibilidade de suas ações que visam à reversão dos preconceitos, discriminações e racismos que afetam historicamente o potencial humano e cultural da população negra, relegando negros à exclusão. Entretanto, a desarticulação e os conflitos internos inerentes ao MNOPB interferem nos efeitos positivos que o uso dessas ferramentas poderia trazer.

A voz dos ativistas expressa que o MNOPB está preocupado em veicular informação étnico-racial para fortalecer essa organização. Embora se autoafirmem como "apáticos", os ativistas mantêm-se atualizados e, atualizando-se, no que concerne à informação étnico-racial, continuam disseminando essa informação entre si, instigando as discussões e reflexões, principalmente quando se trata de temas relacionados ao racismo.

À luz das ideias de Correia (1999Correia, T.M.S. Lemba odu: práticas informacionais no contexto do Movimento Negro de João Pessoa-PB. 1999. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) -Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1999., p.114),"O acesso/uso da informação vai possibilitar a mudança de mentalidade dentro do contexto social do movimento negro, pois, conhecendo sua condição social, ele buscará ser reconhecido enquanto indivíduo, sem afastar-se de sua etnicidade e cultura". Com essa atuação, os ativistas do MNOPB fazem com que a informação passe a ser "Um elemento organizador do processo de comunicação e de apoio da elaboração do conhecimento do indivíduo". Isso conduz esse indivíduo a desenvolver um papel social pautado na liberdade de expressão e a expor a sua cultura, sem que se sinta reprimido ou até mesmo discriminado.

Prosseguindo a interlocução com os ativistas entrevistados, perguntou-se se achavam que as fontes de informação na Web facilitavam a disseminação da informação e solicitou-se que justificassem suas respostas. Dos discursos de cada um deles, foi extraída as categorias "agilidade e rapidez" e "diminui as fronteiras", as quais originaram os discursos dos sujeitos coletivos a seguir:

Facilita sim, porque encurta as fronteiras. Tanto ampliam a possibilidade de você se comunicar, quanto elas ampliam a possibilidade de você organizar a comunicação. Acho que é a rapidez. É a agilidade e praticidade. Ela é importante, ela dissemina a informação. Mas aí a gente tem que repassar de outra forma porque a gente não pode entender que a gente vai divulgar uma ação e que todas as pessoas vão ter acesso, e não vão ter acesso. Então, a gente faz essa reflexão, porque no acesso a gente tá atrás da população branca (DSC3).

Eles disseram que no MNOPB a disseminação da informação é agilizada pelas fontes de informação. Nessa questão, os ativistas entrevistados parecem reconhecer a importância dessas fontes, considerando que, por ser a comunicação simultânea, essa produz agilidade e rapidez encurtando, assim, as fronteiras. Concorda-se com a facilidade na disseminação da informação, pois eles atribuíram sentido ao uso dessas ferramentas. A eficácia da disseminação perpassa a mecânica da simultaneidade no recebimento de informação para alcançar resultados no uso que se faz dela.

Na verdade, o DSC explicita que as ferramentas intensificam a capacidade de organizar a informação e repassá-la, mas cabe ao usuário-aprendente apropriar-se dessas características para atingir o propósito que intenciona. Caso esses propósitos inexistam, as possibilidades da democratização informacional podem ser reduzidas.

O uso das ferramentas deve ser perpetuado para a inclusão étnico-racial e a neutralização das ações direcionadas, desse modo, a preconceitos, discriminações e racismos. Essa iniciativa não é responsabilidade dos meios digitais, mas de questionamentos e críticas dos sujeitos. Aqueles que dominam essas fontes são responsáveis por repassar a informação para a população que não tem acesso a ela. Os meios são apenas suportes facilitadores para que esse fim seja alcançado.

Sendo assim, os ativistas do MNOPB, como agentes da informação étnico-racial, devem reafirmar seu compromisso de"conscientizar a raça negra para que seja feita uma releitura dos acontecimentos a partir da compreensão do seu papel na história" (Movimento Negro da Paraíba, 2007Movimento Negro da Paraíba. Nossa história. 2007. Disponível em: <http://valeuzumbivaleu.blogspot.com.br/2007_11_01_archive.html>. Acesso em: 10 ago. 2010.
http://valeuzumbivaleu.blogspot.com.br/2...
), disseminando a informação étnico-racial para desconstruir o discurso que a exclui.

Conclusão

As pesquisas sobre as relações étnico-raciais e sua relação com a disseminação de fontes de informação na Web implicam em construir e juntar os fragmentos da memória coletiva da história da população negra. Elas possibilitam uma concepção de um conhecimento que sirva para reduzir as discriminações, os racismos e os preconceitos que submetem negros a humilhações, excluindo-os dos diversos âmbitos da sociedade. É possível constatar que, desde o processamento, passando pelo tratamento da informação étnico-racial e chegando à sua disseminação e memória, o profissional da informação deve abandonar o preconceito em relação a qualquer suporte informacional, sejam eles físicos, digitais e virtuais, e fazer com que as fontes de informação étnico-racial da Web possam inovar as práticas de mediação na disseminação dessa informação para os diferentes usuários-aprendentes da grande rede.

Os profissionais da informação, conjuntamente com pesquisadores, professores e alunos, devem construir uma rede social sobre as fontes de informação da Web, aliada às práticas culturais desenvolvidas pelos movimentos sociais que sirvam para desvelar a realidade e as contradições. A partir do ponto de vista de um profissional da informação, que se preocupa com o uso e a apropriação da informação disponibilizada na Web pelos grupos socialmente invisibilizados, entendeu-se que caberia ao Estado e aos Conselhos de Educação elaborar políticas de reparações por meio de programas de ações afirmativas e políticas de informação que orientem a sociedade, seus representantes e a comunidade científica para corrigir as desvantagens e a exclusão nessa sociedade excludente e discriminatória, que invisibiliza seus atores sociais, por meio de preconceitos e diferentes formas de negação de sua cultura de origem, impondo uma cultura dominante, que impera, dita normas e valores, exclui e fecha as portas aos menos favorecidos socialmente.

A disseminação da informação étnico-racial, por meio da Web, faz com que os sujeitos tenham condições de modificar suas ações e, consequentemente, passem a ter maior controle e integração com as instituições sociais de forma mais democrática. Neste estudo, encontram-se fontes de informação da Web que servem de instrumentos para as entidades ligadas ao MNOPB e canais de disseminação da informação étnico-racial. Elas visam ao uso e à apropriação da informação étnico-racial para dar possibilidade ao indivíduo de se tornar mais consciente do espaço em que vive e interagir com ele por meio de sua cultura e de seus direitos e deveres. Percebe-se que o MNOPB é uma entidade que utiliza as fontes de informação da Web para se apropriar da informaçãoétnico-racial e preservar a memória histórico-cultural desse grupo.

Essas ferramentas podem contribuir para ajudar os grupos sociais que lutam por direitos, democracia e justiça. É necessário entender também que a tecnologia, por si só, não atende aos propósitos e às demandas da sociedade. Ela somente é relevante se tiver condições de resolver e/ou buscar soluções para atender aos problemas que atingem os grupos sociais etnicamente vulneráveis e todos aqueles que vivem situações de marginalidade na sociedade da informação-conhecimento-aprendizagem-comunicação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2014

Histórico

  • Recebido
    07 Dez 2012
  • Revisado
    10 Dez 2013
  • Aceito
    19 Fev 2014
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