Resumo:
O desenvolvimento de áreas interdisciplinares das neurociências (cognitiva, afetiva e da ação), contribui para a identificação das bases neurobiológicas da experiência consciente. A estrutura intrínseca da experiência consciente foi filosoficamente concebida há um século como consistindo de um pólo subjetivo, o portador de experiências, e um pólo objetivo, composto dos conteúdos experimentados. Em formulações mais recentes, Thomas Nagel refere-se a um “ponto de vista”, no qual experiências qualitativas são ancoradas, enquanto Max Velmans entende que o conteúdo fenomenal é composto de representações mentais “projetadas” para o espaço externo ao cérebro que as constrói. Na psicologia freudiana, a mente consciente contém uma tensão entre o Id e o Ego. Como relacionar esta estrutura bipolar com os resultados da neurociência? Proponho a noção de projeção (também utilizada por Williford et al., 2012WILLIFORD, K.; RUDRAUF, D.; LANDINI, G. The paradoxes of subjectivity and the projective structure of consciousness. In: MIGUENS, S.; PREYER, G. (ed.). Consciousness and subjectivity. Frankfurt a. M.: Ontos, 2012. p. 47-321.) como princípio-ponte, conectando os sistemas neurobiológicos do saber, sentir e agir com a estrutura bipolar. O processo projetivo é considerado responsável pela geração do sentido do eu e do sentido do mundo, compondo um campo fenomenal informacional gerado pelo sistema nervoso e vivenciado na perspectiva da primeira pessoa. Após apresentar a hipótese projetiva, discuto seu status filosófico, relacionando-o às abordagens fenomenológicas, à teoria do pensamento de ordem superior e ao modelo matemático da projeção. Oito maneiras de testar o status da hipótese projetiva são brevemente mencionadas.
Palavras-chave:
Projeção; Consciência; Cognitivo; Não conceitual; Sentimento
