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Rosa Luxemburg: breve perfil de uma revolucionária

Rosa Luxemburg: short profile of a revolutionary

Resumos

O presente texto, que serve de apresentação à série de cartas traduzidas pela A. e publicadas a seguir junto ao original alemão (Karl Kraus), esboça em rápidos traços a personalidade de Rosa Luxemburg, tendo como pano de fundo a cultura do seu tempo. Procura-se sugerir que se Rosa é uma personagem tão rica e interessante, isso deve-se ao amálgama, existente na sua formação, entre a Bildungsbürgertum e a atmosfera revolucionária proveniente da Rússia.

Social-democracia alemã; Bildungsbürgertum; literatura clássica alemã; socialismo democrático


This paper, intended as an introduction to the series of letters that follows it, is a summary sketch of Rosa Luxemburg's personality, drawn against the background of the culture of her time. It suggests that if Rosa is a character so rich and interesting, this is due to the combination, present in her upbringing, of the Bildungsbürgertum with the revolutionary atmosphere coming from Russia.

German Social Democracy; Bildungsbürgertum; classical German literature; democratic socialism


ARTIGOS ORIGINAIS

Rosa Luxemburg: breve perfil de uma revolucionária

Rosa Luxemburg: short profile of a revolutionary

Isabel Maria Loureiro

Professora do Departamento de Filosofia da UNESP - 17525-900 - Marilia - SP

RESUMO

O presente texto, que serve de apresentação à série de cartas traduzidas pela A. e publicadas a seguir junto ao original alemão (Karl Kraus), esboça em rápidos traços a personalidade de Rosa Luxemburg, tendo como pano de fundo a cultura do seu tempo. Procura-se sugerir que se Rosa é uma personagem tão rica e interessante, isso deve-se ao amálgama, existente na sua formação, entre a Bildungsbürgertum e a atmosfera revolucionária proveniente da Rússia.

Palavras-chave: Social-democracia alemã; Bildungsbürgertum; literatura clássica alemã; socialismo democrático.

ABSTRACT

This paper, intended as an introduction to the series of letters that follows it, is a summary sketch of Rosa Luxemburg's personality, drawn against the background of the culture of her time. It suggests that if Rosa is a character so rich and interesting, this is due to the combination, present in her upbringing, of the Bildungsbürgertum with the revolutionary atmosphere coming from Russia.

Keywords: German Social Democracy; Bildungsbürgertum; classical German literature; democratic socialism.

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Full text available only in PDF format.

TRADUÇÃO1 1 . Estas cartas foram publicadas pela primeira vez em 1920, um ano e meio depois do assassinato de Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht. Pela ordem, lemos a carta de Rosa, escrita da prisão a sua amiga Sônia Liebknecht, mulher de Karl Liebknecht, na época também encarcerado; em seguida, um pequeno texto de Karl Kraus publicado no seu jornal Die Fackel, comentando a carta de Rosa; depois, a resposta indignada de uma leitora aristocrata que não admite o elogio da revolucionária assassinada e, finalmente, a réplica irada de Kraus a essa leitora, jogando a ela e a sua classe na lata de lixo da história. Kraus é dono de uma prosa fascinante e poderosa, repleta de ira divina contra os pecados da humanidade; neste caso, os de uma classe social. Resolvi publicar estes textos porque o tom crispado, sem meias medidas, típico de uma época de exacerbamento da luta de classes, continua sendo inspirador para nós. Traduzir Karl Kraus foi um verdadeiro tour de force, como o leitor poderá julgar pelo original que também vai publicado. Agradeço a Oswaldo Giacóia e a Jeanne Marie Gagnebin por sugestões preciosas e correções na tradução. Pelos erros sou a única responsável. A tradução da carta de Rosa Luxemburg, que se encontra nas Gesammelte Briefe, v. 5, foi cotejada com a versão francesa publicada em J'etais, je suis, je serai. Correspondence 1914-1919. As outras foram publicadas em von Trotta, M. e Ensslin, C, Rosa Luxemburg, Das Buch zum Film. Nor düngen: Greno, 1986.

Carta de Rosa Luxemburg a Sonia Liebknecht

(Breslau, antes de 24.12.1917

Sonitchka, meu passarinho, fiquei tão contente com a sua carta! Queria responder imediatamente, mas tinha muito a fazer, o que exigia grande concentração e por isso não pude dar-me a esse luxo. Depois preferi esperar por uma boa oportunidade, porque é muito melhor podermos tagarelar à vontade.

Pensei em você todos os dias ao ler as notícias da Rússia e preocupei-me ao imaginar a sua enorme aflição a cada telegrama estúpido. O que agora vem de lá são, na maioria, informações de tártaros, e isso é duplamente verdadeiro para o sul.2 2 . Sonia Liebknecht era de Rostov sobre o Don. O que importa para as agências telegráficas (aqui e lá) é exagerar o mais possível o caos, e elas aumentam de maneira tendenciosa todo boato não confirmado. Até as coisas se esclarecerem, não tem sentido, não vale a pena ficar inquieto à toa, por antecipação. No geral, parece que as coisas se passam sem nenhum derramamento de sangue; em todo caso, todos os boatos sobre "combates" não foram confirmados. É simplesmente uma áspera luta partidária que à luz dos correspondentes dos jornais burgueses parece sempre uma loucura desenfreada e um inferno. No que concerne aos pogroms contra judeus, todos os boatos nesse sentido são simplesmente mentira. Na Rússia, a época dos pogroms acabou de uma vez por todas. O poder dos operários e do socialismo é forte demais para permitir isso. A revolução purificou de tal maneira a atmosfera dos miasmas e do ar sufocante da reação que Kichinevpertence para sempre ao passé.3 3 . Em francês no texto. Rosa refere-se ao pogrom de abril de 1903. Tenho menos dificuldade em imaginar pogroms contra judeus na Alemanha... Em todo caso, aqui reina a atmosfera propícia de baixeza, covardia, reação e estupidez. Quanto aos pogroms, você pode ficar totalmente tranqüila no que se refere ao sul da Rússia. Como lá as coisas chegaram a um conflito muito agudo entre o governo de São Petersburgo e a Rada, logo elas devem se resolver e esclarecer, e poderemos ver a situação no seu todo. De todos os pontos de vista não há nenhum sentido, nenhum motivo para você, na incerteza, consumir-se de medo e inquietação. Portanto, minha menina, coragem, cabeça erguida, fique firme e tranquila. Tudo vai melhorar, é só não ficar logo à espera do pior!...

Esperava muito vê-la em breve por aqui, em janeiro. Porém Mat[hilde] W[urm] quer vir em janeiro. Seria difícil para mim renunciar à sua visita em janeiro, mas naturalmente não posso decidir livremente. Se você declarar que só pode vir em janeiro, talvez fique assim; talvez Mat[hilde] W[urm] possa vir em fevereiro? Em todo caso gostaria de saber logo quando a verei.

Faz agora um ano que Karl está na prisão em Luckau. Neste mês pensei nisso freqüentemente. E há exatamente um ano você visitou-me em Wronke e ofereceu-me a linda árvore de Natal... Este ano, pedi que me comprassem cá uma, mas a que me trouxeram estava toda estragada, faltavam-lhe galhos - sem comparação com a do ano passado. Não sei como vou colocar as oito velas que comprei. É o meu terceiro Natal no xadrez, mas não considere isso tragicamente. Continuo, como sempre, calma e alegre.

Ontem fiquei muito tempo acordada - agora não consigo dormir antes da uma, mas preciso ir para a cama às dez, porque apagam a luz, e então no escuro sonho com diversas coisas. Ontem, portanto, pensava: como é estranho eu viver permanentemente numa alegre embriaguez, sem nenhuma razão particular. Então, por exemplo, estou deitada aqui nesta cela escura, num colchão duro como pedra, enquanto à minha volta, no edifício, reina a habitual paz de cemitério; parece que estou no túmulo; através da janela desenha-se no teto o reflexo do bico de gás ardendo a noite inteira diante da prisão. De tempos em tempos ouve-se o barulho surdo de um trem passando ao longe, ou então, bem perto, sob minhas janelas, o pigarro da sentinela que, com suas pesadas botas, dá alguns passos lentos para desentorpecer as pernas. A areia estala tão desesperadamente sob esses passos, que todo o vazio e a falta de perspectivas da existência ressoam na noite úmida e sombria. E aqui estou eu deitada, quieta, sozinha, enrolada nos véus negros das trevas, do tédio, da falta de liberdade, do inverno - e, apesar disso, meu coração bate com uma alegria interior desconhecida, incompreensível, como se, debaixo de um sol radiante, estivesse atravessando um prado em flor. No escuro, sorrio à vida, como se conhecesse algum segredo mágico que pune todo mal e as tristes mentiras, transformando-as em luz intensa e em felicidade. E, ao mesmo tempo, procuro uma razão para esta alegria, não encontro nada, e tenho que sorrir novamente - de mim mesma. Creio que o segredo não é outro senão a própria vida; a profunda escuridão noturna é bela e suave como veludo, basta somente saber olhar. No estalar da areia úmida sob os passos lentos e pesados da sentinela canta também uma bela, pequena canção da vida - basta apenas saber ouvir. Nesses momentos penso em você. Gostaria tanto de passar-lhe essa chave mágica para você perceber sempre, em todas as situações, o que há de belo e alegre na vida, para que também você viva na embriaguez, como que caminhando por um prado cheio de cores. Longe de mim a idéia de contentá-la com ascetismo, com alegrias imaginárias. Concedo-lhe todas as reais alegrias dos sentidos que deseja. Só gostaria de dar-lhe também a minha inesgotável serenidade interior, para não me preocupar mais consigo, para que andasse na vida com um manto de estrelas protegendo-a de tudo que é mesquinho, banal e angustiante.

Você colheu no parque de Steglitz um lindo cacho de bagos negros e rosa-violeta. Os bagos negros podem ser de sabugueiro - seus bagos pendem em pesados cachos densos entre grandes feixes de folhas pinuladas, você certamente o conhece. Ou, mais provavelmente, aliena: elegantes, graciosas panículas de bagos, eretas, e folhinhas verdes, finas e longas. Os bagos rosa-violeta, escondidos sob folhas bem pequeninas podem ser da nespereira anã; na realidade, eles são vermelhos, mas nesta época, já um pouco maduros demais, apodrecendo, adquirem freqüentemente um tom violeta avermelhado; as folhinhas parecem as do mirto: pequenas, lanceoladas, o lado superior é verde-escuro, e embaixo rugoso, semelhante ao couro.

Soniucha, você conhece o poema de Platen,4 4 . August Graf von Platen-Hallermünde (1796-1835), poeta conhecido pela perfeição formal de seus versos. Aqui, Rosa alude a um poema satírico publicado em 1826, "Die verhängnisvolle Gabel" (nota da tradução francesa). "Die verhängnisvolle Gabel"? Você poderia enviá-lo ou trazê-lo? Karl disse uma vez que o tinha lido na casa dele. Os poemas de George são bonitos; agora sei de "Und unterm Rauschen rötlichen Getreides..."5 5 . O verso é do poema "Nun lasse mich rufen" da coletânea Der siebente Ring. [e sob o murmúrio do trigo erubescente] que você sempre recitava quando passeávamos no campo. Você poderia copiar-me, quando puder, o Novo Amadis?6 6 . Poema épico cômico, de 1771, de Christoph Martin Wieland. Gosto tanto desse poema - naturalmente graças ao lied de Hugo Wolf -, mas não o tenho aqui. Você continua lendo a Die Lessing Legende?7 7 . Livro de Franz Mehring. Retomei a Geschichte des Materialism, de Lange,8 8 . Friedrich Albert Lange (1828-1875), filósofo neokantiano, democrata radical, cuja obra, Geschichte des Materialismus, publicada em 1866, teve larga difusão na social-democracia alemã (nota da tradução francesa). que sempre me estimula e restaura. Gostaria tanto que um dia você a lesse.

Ah! Sonitchka, tive aqui uma dor violenta. No pátio onde passeio, chegam freqüentemente carroças do exército, abarrotadas de sacos, de velhas túnicas e de camisas de soldados, muitas vezes manchadas de sangue... São descarregadas, distribuídas pelas celas, consertadas, novamente postas nas carroças para serem entregues ao exército. Outro dia, chegou uma dessas carroças, puxada não por cavalos, mas por búfalos. Era a primeira vez que via esses animais de perto. São mais fortes e maiores que nossos bois, têm a cabeça chata, chifres recurvados e baixos, o que faz com que sua cabeça, inteiramente negra, de grandes olhos meigos, se pareça à dos nossos carneiros. Originários da Romênia, são um troféu de guerra... Os soldados que conduziam a carroça diziam ser muito difícil capturar esses animais selvagens e ainda mais difícil utilizá-los para carregar fardos, pois estavam acostumados à liberdade. Foram terrivelmente maltratados até compreenderem que perderam a guerra e que também para eles vale a expressão "vae victis" [ai dos vencidos]... Só em Breslau deve haver uma centena desses animais. Eles que estavam habituados às ricas pastagens da Romênia recebem uma ração parca, miserável. Trabalham sem descanso puxando todo tipo de carga e, assim, não demoram a morrer. Há alguns dias, portanto, entrou no pátio uma dessas carroças cheias de sacos. A carga era tão alta que os búfalos não conseguiam transpor a soleira do portão. O soldado que os acompanhava, um tipo brutal, pôs-se a bater-lhes de tal maneira com o grosso cabo do seu chicote que a vigia da prisão, indignada, perguntou-lhe se não tinha pena dos animais. "Ninguém tem pena de nós, homens", respondeu com um sorriso mau e pôs-se a bater ainda com mais força... Os animais deram finalmente um puxão e conseguiram transpor o obstáculo, mas um deles sangrava... Sonitchka, apesar da proverbial espessura e resistência da pele do búfalo, ela foi dilacerada. Durante o descarregamento, os animais permaneciam imóveis, esgotados, e um deles, o que sangrava, olhava em frente com uma expressão, no rosto negro e nos meigos olhos negros, de criança em prantos. Era exatamente a expressão de uma criança que foi severamente punida e que não sabe por qual motivo nem porquê, que não sabe como escapar ao sofrimento e a essa força brutal... Eu estava diante dele, o animal me olhava, as lágrimas saltaram-me dos olhos, eram suas lágrimas. Ninguém pode ficar mais dolorosamente amargurado com a dor de um irmão querido do que eu, na minha impotência, com esse sofrimento mudo. Quão longe, inatingíveis, perdidas, as pastagens da Romênia, suculentas e verdes, belas e livres! Como tudo era diferente, o sol que brilhava, o vento que soprava, os belos cantos dos pássaros e o melodioso chamado do pastor. E aqui, esta cidade estrangeira, horrível, o estábulo sombrio, o feno mofado, repugnante, misturado com palha apodrecida, os homens desconhecidos, assustadores, e as pancadas, o sangue que corre da ferida aberta... Oh! meu pobre búfalo, meu pobre irmão querido, aqui estamos os dois impotentes e mudos, unidos na dor, na impotência, na saudade. Entretanto, os prisioneiros agitavam-se em volta do carro, descarregavam os pesados sacos e levavam-nos para dentro. Quanto ao soldado, metera as mãos nos bolsos e passeando a grandes passos pelo pátio, ria e assobiava baixinho uma canção da moda. Diante de mim, a guerra desfilava em todo o seu esplendor.

Escreva logo. Abraços, Sonitchka,

Sua Rosa.

Soniuscha, querida, fique calma e alegre apesar de tudo. Assim é a vida. É preciso tomá-la corajosamente, sem medo, sorrindo - apesar de tudo. Feliz Natal!...

Karl Kraus no Die Fackel

A mais profunda impressão, jamais causada numa sala, foi provocada pela leitura da carta de Rosa Luxemburg que eu encontrara, no domingo de Pentecostes, no jornal operário que levara comigo na viagem. Essa carta era ainda totalmente desconhecida na Alemanha dos socialistas independentes. Opróbio e vergonha a toda República que, malgrado todos os catecismos e todo cristianismo-gás-mostarda, não põe nos seus livros escolares, entre Goethe e Claudius, esse incomparável documento de humanidade (Menschlichkeit) e poesia no domínio da língua alemã e que, por horror à humanidade (Menschheit) de hoje, não comunica à juventude, sobre a qual perdeu a influência, que o corpo que tão grande alma abrigou foi morto a coronhadas. Toda a literatura viva da Alemanha não produz lágrimas como as dessa revolucionária judia, nem nos faz ficar com a respiração suspensa, como após (lermos) a descrição da pele do búfalo: "e ela foi dilacerada".

(Die Fackel, n. 546-50, 22º ano, julho de 1920).

Karl Kraus in der Fackel

Der tiefste, je in einem Saal bewirkte Eindruck war die Vorlesung des Briefes von Rosa Luxemburg, den ich am Pfingstsonntag in der Arbeiter-Zeitung gefunden und auf die Reise mitgenommen hatte. Er war im Deutschland der unabhngigen Sozialisten noch vllig unbekannt. Schmach und Schande jeder Republik, die dieses im deutschen Sprachbereich einzigartig Dokument von Menschlichkeit und Dichtung nicht allem Fibel-und Gelbkreuzchristentum zum Trotz zwischen Goethe und Claudius in ihre Schulbücher aufnimmt und nicht zum Grausen vor der Menschheit dieser Zeit der ihr entwachsenden Jugend mitteilt, dass der Leib, der solch eine hohe Seele umschlossen hat, von Gewehrkolben erschlagen wurde. Die ganze lebende Literatur Deutschlands bringt keine Trne wie die dieser jüdischen Revolutionrin hervor und keine Atempause wie die nach der Beschreibung der Büffelhaut: "und sie ward zerrissen."

Carta de uma não-sentimental a Karl Kraus

Innsbruck, 25 de agosto de 1920

Prezado Sr. Kraus,

Por acaso veio-me às mãos (eu era assinante até 4.II/ano 1) o último número da sua "Fackel" e, embora uma missiva da ominosa Innsbruck não seja talvez muito bem vinda, permitir-me-ia retrucar-lhe algo a respeito da carta de Rosa Luxemburg, tão admirada pelo senhor. Pois bem, a carta é, na verdade, bem bela e tocante. Concordo com o sr. que poderia, perfeitamente, figurar como texto de leitura nos livros das escolas públicas primárias e secundárias, podendo-se, no preâmbulo, tecer instrutivas considerações sobre quão mais proveitosa e agradável teria sido a vida da Luxemburg, se em vez de agitadora, tivesse trabalhado como guarda num jardim zoológico, ou algo parecido. Nesse caso, provavelmente, até o "xadrez" lhe teria sido poupado. Com seus conhecimentos de botânica e sua predileção por flores teria também, em todo caso, encontrado ocupação rentável e satisfatória numa grande floricultura, não vindo, certamente, a travar relações com as coronhas das carabinas.

No que se refere à algo lacrimejante descrição do búfalo, quero crer que a mesma não deixou de causar sua impressão sobre lacrimáis das comendadeiras (Kommerzienràtinnen)9 9 . Kommerzienrätin é a esposa cio Kommerzienrat, título honorífico para o qual não há correspondente em português, mas que seria algo próximo a "comendador". (N.T.) e dos jovens estetas de Berlim, Dresden e Praga. Quem, contudo, como eu, cresceu numa grande propriedade ao sul da Hungria e conhece desde jovem esses animais, com seu couro em geral mal cuidado, freqüentemente rachado e sua "expressão facial" sempre estúpida, considera a coisa com mais calma. A boa Luxemburg deixou-se realmente levar no bico pelos referidos soldados... para o quê, provavelmente, contribuíram ainda, na sua imaginação, lembranças de Lederstrumpf,10 10 . Personagem de Karl May. manadas de búfalos selvagens nas pradarias etc. Se verdadeiramente nossos soldados (Feldgrauen),11 11 . Os Feldgrauen eram os soldados alemães na Primeira Guerra. Seu correspondente francês era o poilu e, inglês, o tommy. A palavra tem um sentido afetivo intraduzível. Talvez o que mais se aproxime seja pracinha. (N.T.) sem levar em conta as duras lutas que tiveram de travar na Romênia, ainda tivessem tempo, força e vontade para capturar búfalos às centenas, domesticando-os imediatamente como animais de carga, isto seria digno de grande admiração e, mais ainda, decididamente, de espanto. Como se animais tão fortes pudessem aceitar esse tipo de tratamento!

O que é preciso que se saiba é que os búfalos, nessas regiões, são, desde tempos imemoriais, criados e empregados, de preferência, como animais de carga (tanto quanto como vacas leiteiras). São frugais e incrivelmente fortes, embora andem muito lentamente. Por conseguinte, não acredito que o "querido irmão" da Luxemburg tenha ficado particularmente espantado com o fato de, em Breslau, eles precisarem puxar uma carroça ou de levar uma surra com o "cabo do chicote". Esta última - se não ocorrer de forma demasiado brutal - será certamente indispensável, às vezes, em animais de carga, uma vez que estes nem sempre são acessíveis a meros argumentos racionais, assim como uma bofetada atua freqüentemente de maneira muito benéfica sobre garotos robustos, o que, como mãe, posso lhe garantir! Nem sempre se deve supor o pior e, apenas por princípio, lamentar as pessoas (e os animais) sem conhecer os pormenores. Isso pode ser mais prejudicial que benéfico. Se possível, a Luxemburg teria certamente pregado a revolução dos búfalos e fundado para eles uma República dos Búfalos. Não duvido que ela teria sido capaz de obter para eles o paraíso - por ela - sonhado, com "belos cantos dos pássaros e o melodioso chamado do pastor", e duvido que os búfalos dão a isso particular importância. Há de fato muitas mulheres histéricas, que gostariam de intrometer-se em tudo e de sempre açular uns contra os outros. Quando têm espírito e bom estilo, são docilmente ouvidas pela multidão, provocando muita desgraça no mundo, de tal forma que não se deve ficar muito espantado quando uma tal mulher, que tão freqüentemente pregou a violência, tenha também um fim violento.

Força tranqüila, trabalho nas esferas de influência próximas de nós, calma, bondade e conciliação é aquilo de que precisamos, em vez de sentimentalismo e açulamento. O que o senhor acha?

Atenciosamente

Sra. von X-Y.

Karl Kraus responde à não-sentimental

Acho que me interessa muito pouco se um número do Die Fackel caiu "por acaso" ou de outra maneira nas garras de semelhante besta, ou se até 4.II/ano 1 era assinante ou ainda é... Acho que se a carta de Rosa Luxemburg fosse transmitida às novas gerações através de seus livros de leitura - se as mencionadas Repúblicas, para tanto, pudessem reanimar-se - deveria ser igualmente impressa a carta dessa megera, para ensinar à juventude, não apenas veneração à sublimidade da natureza humana, mas também aversão à sua baixeza e, neste exemplo tão claro, horror à inextirpável maneira de pensar das reprodutoras alemãs que, parecendo ter jurado fidelidade a Satã, querem estragar-nos a vida até a perspectiva absolutamente segura da nova guerra. Precisamente o que elas, por ânsia lasciva pela morte heróica, não evitaram em 1914 e que sempre deixarão voltar a acontecer. Eis o que penso, e disso quero falar mais uma vez com essa ninhada desumana de proprietários de terra e sangue e seu séquito, quero com eles... falar alemão, sobretudo porque considero a Guerra Mundial um fato nada desprezível, e o tempo que reduziu a vida humana a um monte de lixo uma implacável parede divisória. Eis o que penso: o comunismo, como realidade, é apenas a contrapartida da sua [deles] própria ideologia profanadora da vida; nascido, porém, das graças de uma origem ideal puríssima, é um complicado antídoto para um fim ideal puríssimo. O diabo carregue a sua prática, mas que Deus nô-lo conserve como constante ameaça sobre as cabeças daqueles que possuem propriedades, daqueles que, para preservá-las, gostariam de enviar todos os outros para as frentes da fome e da honra patriótica, com o consolo de que a vida não é o mais importante dos bens. Que Deus nô-lo conserve para que essa corja, a quem a insolência faz perder a cabeça, não se torne ainda mais insolente, para que a sociedade dos únicos que têm direito ao prazer, e que acredita que a humanidade que lhe é submissa tem amor suficiente quando deles pega sífilis, pelo menos também vá para a cama com pesadelos! Para que ao menos percam a vontade de pregar moral às suas vítimas e o humor de fazer piadas sobre elas! Considerando o quanto a vida de Luxemburg teria sido mais proveitosa e agradável, caso tivesse trabalhado como guarda em um jardim zoológico em vez de domadora de feras humanas, pelas quais foi finalmente dilacerada, e se, como jardineira de flores nobres, a respeito de que, aliás, sabia mais que uma latifundiária, tivesse encontrado ocupação mais rentável e satisfatória do que como jardineira de ervas humanas daninhas - para chegar a tais considerações não bastará sequer um piscar de olhos (Atemzug), enquanto a insolência for refreada pelo temor. Existiria também o perigo de que, ao eventual sarcasmo sobre o "xadrez" em que uma mártir se encontra, imediatamente se respondesse assim: que se esclareça a pessoa que a uma tal ignomínia se atreveu, a menos que se prefira dar-lhe uma bofetada, a qual, posso assegurar à senhora, atua de maneira extremamente benéfica sobre robustas mães de heróis! Quanto ao escárnio de que Rosa Luxemburg "travou relações com as coronhas das carabinas", certamente não seria nada demais levar algumas bordoadas, mas que ao menos seja com aquele cabo de chicote que o búfalo de Rosa Luxemburg encontrou... Acho decerto que não devemos nos entusiasmar com os tribunais revolucionários, nem simpatizar com o ponto de vista daqueles oficiais que, em razão da última coisa que lhes restou, a honra, se sentiram arrebatados por castrar o próximo. Sou, porém, tão injusto que gostaria, por exemplo, de condenar senhoras, que ainda hoje dizem "nossos soldados" (unsere Feldgrauen), a limpar privadas de caserna e a "imediatamente" depois abandonar a nobreza, da qual não conseguem ainda se separar, mesmo que seja apenas na anônima difamação de uma morta. Aliás, acho também que nossos soldados, sem levar em conta as duras lutas que tiveram de travar na Romênia, e, na verdade, apenas porque os livros de leitura até 1914 não se inspiravam no espírito da boa Rosa Luxemburg, mas no das latifundiárias, nossos soldados, de fato, também tiveram tempo, força e vontade para capturar e domesticar búfalos. Ainda mais. Acho que enquanto durar a admiração das Valquírias alemãs e do sul da Hungria pelo adestramento militar dos búfalos, nem a humanidade estará protegida de ser, de preferência, amestrada para animal de carga. Entretanto, além disso, ainda acho o seguinte - e quero que desta vez minha opinião seja ouvida, não apenas minha palavra -: se a palavra da boa Luxemburg não fosse confirmada pelo menor dos fatos e não houvesse mais nenhum animal de Deus nas verdes pastagens, mas, ao contrário, já estivesse tudo a serviço dos comerciantes, mesmo assim ela teria falado diante de Deus mais verdadeiramente que semelhante latifundiária, a qual elogia a frugalidade do animal, queixando-se somente do seu andar lento; a humanidade que encara os animais como irmãos queridos tem certamente mais valor que a bestialidade. Esta acha divertido e zomba com a imagem, segundo a qual um búfalo não fica "particularmente espantado" de, em Breslau, ter de puxar uma carroça, nem de "levar uma surra" com o cabo do chicote. Isto é conseqüência daquele asqueroso cinismo que ensina aos senhores da criação e a suas esposas, "desde a juventude", que o animal não sente nada, pois ele, assim como seu proprietário, é insensível. E isso, pela simples razão de não ter sido agraciado com a mesma porção de arrogância, e de não ser capaz, na algaravia de que aquele dispõe, de desistir das suas dores. Perante essa espécie [de proprietários], o animal tem a vantagem de não ser "sempre acessível a meros argumentos racionais"; por isso, o chicote aparece a essa gente como "certamente indispensável, às vezes". Realmente, essa gente emprega-o apenas por cólera surda contra um de stino incerto, destino que, de qualquer maneira, parece ter-lhes reservado o chicote! Também esbofeteiam os filhos, cuja força medem pela sua, ou deixam-nos de preferência martirizar por seminaristas sexualmente dilapidados, porque têm algo a temer, da vida ou do céu. Os filhos têm certamente a vantagem, com vergonha de terem nascido de semelhantes pais, de poderem decidir a tornarem-se melhores, apagar essa vergonha ou então, vingar-se nos seus próprios filhos. Aos animais, contudo, que somente pela violência ou pela fraude ficam na servidão, é determinado, a conselho do homem, deixarem-se por ele desonrar antes de serem devorados... O animal deve ficar tão pouco espantado com a vergonha que o homem lhe inflige, quanto o próprio homem; e como tão-somente um búfalo não deve espantar-se com Breslau, tampouco se espanta o latifundiário quando o homem tem um fim violento. Pois onde, para manter a sua ordem [deles], o mundo caminha em direção à ruína, não encontram eles senão ordem. O quer a boa Luxemburg? Naturalmente, ela, que não possuía nenhuma propriedade exceto o coração, que queria considerar um búfalo como irmão, teria certamente, se possível, pregado a revolução dos búfalos e fundado para eles uma República dos Búfalos, com belos cantos de pássaro e o melodioso chamado do pastor; mas é de se duvidar "que os búfalos dêem a isso particular importância", já que preferem, evidentemente, o peso que lhes é posto em cima.12 12 . Gewicht legen: expressão com dois sentidos: pôr peso em cima e dar importância a alguém. A frase também pode ser traduzida por "já que preferem, evidentemente, que só se dê importância aos proprietários". Infelizmente, ela não teria, de modo algum, conseguido tal coisa, porque na Terra há certamente muito mais búfalos do que búfalos!

(DieFackel, n. 554-6, 22º ano, nov. 1920, p. 3 ss.)

Karl Kraus antwortet der Unsentimentalen

Was ich meine, ist: dass es mich sehr wenig interessiert, ob eine Nummer der Fackel "zufllig" oder anderwegen einer derartigen Bestie in ihre Fänge gekommen ist, und ob sie bis 4.II.1.J. Abonnentin war oder es noch ist... Was ich meine, ist, dass neben dem Brief der Rosa Luxemburg, wenn sich die sogenannten Republiken dazu aufraffen könnten, ihn durch ihre Lesebücher den aufwachsenden Generationen zu überliefern, gleich der Brief dieser Megäre abgedruckt werden müsste, um der Jugend nicht allein Ehrfurcht vor der Erhabenheit der menschlichen Natur beizubringen, sondern auch Abscheu vor ihrer Niedrigkeit und an dem handgreiflichsten Beispiel ein Gruseln vor der unausrottbaren Geistesart deutscher Fortpflanzerinnen, die uns das Leben bis zur todsichern Aussicht auf neue Kriege verhunzen wollen und die dem Satan einen Treueid geschworen zu haben scheinen, eben das was sie anno 1914 aus Heldentodgeilheilt nicht verhindert haben, immer wieder geschehen zu lassen. Was ich meine, ist - und da will ich einmal mit dieser entmenschten Brut von Guts- und Blutbesitzern und deren Anhang, da will ich mit ihnen... deutsch reden, nämlich weil ich den Weltkrieg für eine unmissdeutbare Tatsache halte und die Zeit, die das Menschenleben auf einem Dreckhaufen reduziert hat, für eine unerbittliche Scheidewand -was ich meine, ist: Der Kommunismus als Realität ist nur das Widerspiel ihrer eigenen lebensschänderischen Ideologie, immerhin von Gnaden eines reineren ideellen Ursprungs, ein vertracktes Gegenmittel zum reineren ideellen Zweck - der Teufel hole seine Praxis, aber Gott erhalte ihn uns als konstante Drohung über den Häuptern jener, so da Güter besitzen und alle andern zu deren Bewahrung und mit dem Trost, dass das Leben der Güter höchstes nicht sei, an die Fronten des Hungers und der vaterländischen Ehre treiben mchten. Gott erhalte ihn uns, damit dieses Gesindel, das schon nicht mehr ein und aus weiss vor Frechheit, nicht noch frecher werde, damit die Gesellschaft der ausschliesslich Genussberechtigten, die da glaubt, dass die ihr botmässige Menschheit genug der Liebe habe, wenn sie von ihnen die Syphilis bekommt, wenigstens doch auch mit einem Alpdruck zu Bette gehe! Damit ihnen wenigstens die Lust vergehe, ihren Opfern Moral zu predigen, und der Humor, über sie Witze zu machen! Zu Betrachtungen, wie viel erspriesslicher und erfreulicher das Leben der Luxemburg verlaufen wäre, wenn sie als Wärterin in einem Zoologischen Garten betätigt htte statt als Bändigerin von Menschenbestien, von denen sie schliesslich zerfleischt ward, und ob sie als Gärtnerin edler Blumen, von denen sie allerdings mehr als eine Gutsbesitzerin wusste, lohnendere und befriedigendere Beschäftigung gefunden hätte denn als Gärtnerin menschlichen Unkrauts - zu solchen Betrachtungen wird, solange die Frechheit von der Furcht gezügelt ist, kein Atemzug langen. Auch bestünde die Gefahr, dass etwaiger Spott über das "Kittchen", in dem eine Märtyrerin sitzt, auf der Stelle damit beantwortet würde, dass man es der Person, die sich solcher Schändlichkeit erdreistet hat, in die Höhe hebt, wenn man nicht eine Ohrfeige vorzöge, die, wie ich Ihnen versichern kann, bei kräftigen Heldenmüttern sehr wohltätig wirkt! Was vollends den Hohn darüber betrifft, dass Rosa Luxemburg "mit Gewehrkolben Bekanntschaft gemacht hat", so wäre er gewiss mit ein paar Hieben, aber nur mit jenem Peitschenstiel, der Rosa Luxemburgs Büffel getroffen hat, nicht zu teuer bezahlt... Ich meine nun freilich, dass man weder für Revolutionstribunale sich begeistern noch mit dem Standpunkt jener Offiziere sympathiesieren soll, die sich aus dem Grunde, weil das Letzte, was ihnen geblieben ist, die Ehre ist, dazu hingerissen fühlen, ihre Nebenmenschen zu kastrieren. Aber so ungerecht bin ich doch, dass ich zum Beispiel Damen, die noch heute "unsere Feldgrauen" sagen, verurteilen würde, den Abort einer Kaserne zu putzen und hierauf "stracks" den Adel abzulegen, von dem sie sich noch immer, und wär's auch nur in anonymen Besundelungen einer Toten, nicht trennen können. Allerdings meine ich auch, dass unsere Feldgrauen, abgesehen von den schweren Kämpfen, die sie in Rumänien zu bestehen hatten und zwar nur deshalb, weil die Lesebücher bis 1914 noch nicht vom Geist der guten Rosa Luxemburg, sondern von dem der Gutsbesitzerinnen inspiriert waren, faktisch auch Zeit, Kraft und Lust gehabt haben, Büffel zu stehlen und zu zähmen, und ferner, dass, solange die Bewunderung deutscher und südungarischer Walküren für die militrische Büffeldressur vorhält, auch die Menschheit nicht davor bewahrt sein wird, mit Vorliebe zu Lasttieren abgerichtet zu werden. Was ich aber ausserdem noch meine - da ja nun einmal meine Meinung nicht bloss mein Wort gehört werden will -ist: dass, wenn das Wort der guten Rosa Luxemburg nicht von der geringsten Tatsächlichkeit beglaubigt wäre und längst kein Tier Gottes mehr auf einen grünen Weide, sondern alles schon im Dienste des Kaufmanns, sie doch vor Gott wahrer gesprochen htte als solch eine Gutsbesitzerin, die am Tier die Anspruchslosigkeit im Futter rühmt und nur die langsame Gangart beklagt, und dass die Menschlichkeit, die das Tier als den geliebten Bruder anschaut, doch wertvoller ist als die Bestialität, die solches belustigend findet und mit der Vorstellung scherzt, dass ein Büffel "nicht besonders erstaunt" ist, in Breslau einen Lastwagen ziehen zu müssen und mit dem Ende eines Peitschenstieles "Eines übers Fell zu bekommen". Denn es ist jene ekelhafte Gewitztheit, die die Herren der Schöpfung und deren Damen "von Jugend auf" Bescheid wissen lässt, dass im Tier nichts los ist, dass es in demselben Masse gefühllos ist wie sein Besitzer, einfach aus dem Grund, weil es nicht mit der gleichen Portion Hochmut begabt wurde und zudem nicht fähig ist, in dem Kauderwelsch, über welches jener verfügt, seine Leiden preiszugeben. Weil es vor dieser Sorte aber den Vorzug hat, "blossen Vernunftgründen gegenüber nicht immer zugänglich" zu sein, erscheint ihr der Peitschenstiel "wohl ab und zu unerlässlich". Wahrlich, sie verwendet ihn bloss aus dumpfer Wut gegen ein unsicheres Schicksal, das ihr selbst ihn irgendwie vorzubehalten scheint! Sie ohrfeigen auch ihre Kinder nur, deren Kraft sie an der eigenen Kraft messen, oder lassen sie von sexuell disponierten Kandidaten der Theologie nur darum mit Vorliebe martern, weil vom Leben oder vom Himmel irgendwas zu befürchten haben. Dabei haben die Kinder doch den Vorteil, dass sie die Schmach, von solchen Eltern geboren zu sein, durch den Entschluss, bessere z u werden, tilgen oder andernfalls sich dafür an den eigenen Kindern rchen können. Den Tieren jedoch, die nur durch Gewalt oder Betrug in die Leibeigenschaft des Menschen gelangen, ist es in dessen Rat bestimmt, sich von ihm entehren zu lassen, bevor sie von ihm gefressen werden... Das Tier darf so wenig erstaunt sein über die Schmach, die er ihm antut, wie er selbst; und wie nur ein Büffel nicht über Breslau staunen soll, so wenig staunt der Gutsbesitzer, wenn der Mensch ein gewaltsames Ende nimmt. Denn wo die Welt für ihre Ordnung in Trümmer geht, da finden sie alles in Ordnung. Was will die gute Luxemburg? Natürlich, sie, die kein Gut besass ausser ihrem Herzen, die einen Büffel als Bruder betrachten wollte, hätte gewiss gern, wenn es ihr mglich gewesen wäre, den Büffeln Revolution gepredigt, ihnen eine Büffel-Republik gegründet, womöglich mit schönen Lauten der Vögel und dem melodischen Rufen der Hirten, wobei es fraglich ist, "ob die Büffel auf Letzteres so besonderes Gewicht legen", da sie es selbstverständlich vorziehen, dass nur auf sie selbst Gewicht gelegt wird. Leider wäre es ihr absolut nicht gelungen, weil es eben auf Erden ja doch weit mehr Büffel gibt als Büffel!

  • 1 ETTINGER, E. Rosa Luxemburgo. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
  • 2 HAUPT, G. Apresentação In: Luxemburg, R. J'étais, je suis, je serai!, correspondance 1914-1919. Paris: Maspero, 1977.
  • 3 KAUTSKY, L. Mon amie Rosa Luxembourg. Paris: Spartacus, s.d.
  • 4 LÖWY, M. Para uma sociologia dos intelectuais revolucionários. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.
  • 5 LUXEMBURG, R. Lettres à Léon Jogiches. Paris: Denoël/Gonthier, 1971.
  • 6 ______. Gesammelte Werke. Berlin: Dietz, 1979. v. 1/2.
  • 7 ______. Gesammelte Briefe. Berlin: Dietz, 1983. v. 4.
  • 8 ______. Gesammelte Briefe. Berlin: Dietz, 1984a. v. 1.
  • 9 ______. Gesammelte Briefe. Berlin: Dietz, 1984b. v. 2.
  • 10 ______. Gesammelte Briefe. Berlin: Dietz, 1984c. v. 5.
  • 11 ______. Gesammelte Werke. Berlin: Dietz, 1984d. v. 3.
  • 12 ______. Gesammelte Werke. Berlin: Dietz, 1985. v. 5.
  • 13 LUXEMBURG, R. Gesammelte Werke. Berlin: Dietz, 1987. v. 4.
  • 14 NETTL, J. P. La vie et l'oeuvre de Rosa Luxemburg. Paris: Maspero, 1972.
  • 15 ROLAND HOLST-VAN DER SCHALK, H. Rosa Luxemburg, ihr Leben und Wirken. Zurique: Jean-Christophe, 1937.
  • 16 VON TROTTA, M., ENSSLIN, C. Rosa Luxemburg, das Buch zum Film. Nördlingen: Greno, 1986.
  • 1
    . Estas cartas foram publicadas pela primeira vez em 1920, um ano e meio depois do assassinato de Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht. Pela ordem, lemos a carta de Rosa, escrita da prisão a sua amiga Sônia Liebknecht, mulher de Karl Liebknecht, na época também encarcerado; em seguida, um pequeno texto de Karl Kraus publicado no seu jornal
    Die Fackel, comentando a carta de Rosa; depois, a resposta indignada de uma leitora aristocrata que não admite o elogio da revolucionária assassinada e, finalmente, a réplica irada de Kraus a essa leitora, jogando a ela e a sua classe na lata de lixo da história. Kraus é dono de uma prosa fascinante e poderosa, repleta de ira divina contra os pecados da humanidade; neste caso, os de uma classe social. Resolvi publicar estes textos porque o tom crispado, sem meias medidas, típico de uma época de exacerbamento da luta de classes, continua sendo inspirador para nós. Traduzir Karl Kraus foi um verdadeiro
    tour de force, como o leitor poderá julgar pelo original que também vai publicado. Agradeço a Oswaldo Giacóia e a Jeanne Marie Gagnebin por sugestões preciosas e correções na tradução. Pelos erros sou a única responsável. A tradução da carta de Rosa Luxemburg, que se encontra nas
    Gesammelte Briefe, v. 5, foi cotejada com a versão francesa publicada em
    J'etais, je suis, je serai. Correspondence 1914-1919. As outras foram publicadas em von Trotta, M. e Ensslin, C,
    Rosa Luxemburg, Das Buch zum Film. Nor düngen: Greno, 1986.
  • 2
    . Sonia Liebknecht era de Rostov sobre o Don.
  • 3
    . Em francês no texto. Rosa refere-se ao
    pogrom de abril de 1903.
  • 4
    . August Graf von Platen-Hallermünde (1796-1835), poeta conhecido pela perfeição formal de seus versos. Aqui, Rosa alude a um poema satírico publicado em 1826,
    "Die verhängnisvolle Gabel" (nota da tradução francesa).
  • 5
    . O verso é do poema "Nun lasse mich rufen" da coletânea
    Der siebente Ring.
  • 6
    . Poema épico cômico, de 1771, de Christoph Martin Wieland.
  • 7
    . Livro de Franz Mehring.
  • 8
    . Friedrich Albert Lange (1828-1875), filósofo neokantiano, democrata radical, cuja obra,
    Geschichte des Materialismus, publicada em 1866, teve larga difusão na social-democracia alemã (nota da tradução francesa).
  • 9
    .
    Kommerzienrätin é a esposa cio
    Kommerzienrat, título honorífico para o qual não há correspondente em português, mas que seria algo próximo a "comendador". (N.T.)
  • 10
    . Personagem de Karl May.
  • 11
    . Os
    Feldgrauen eram os soldados alemães na Primeira Guerra. Seu correspondente francês era o
    poilu e, inglês, o
    tommy. A palavra tem um sentido afetivo intraduzível. Talvez o que mais se aproxime seja pracinha. (N.T.)
  • 12
    .
    Gewicht legen: expressão com dois sentidos: pôr peso em cima e dar importância a alguém. A frase também pode ser traduzida por "já que preferem, evidentemente, que só se dê importância aos proprietários".
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Nov 2011
    • Data do Fascículo
      Jan 1994
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