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Experiências de carceralidade: saída da prisão, pobreza extrema, alojamento de urgência (França)

Resumo

Este artigo baseia-se em uma pesquisa qualitativa sobre as condições de soltura dos prisioneiros mais pobres da França e sua busca por moradia. Foram realizadas 44 entrevistas com profissionais de integração. Deslocando o olhar teórico sobre os efeitos do período de confinamento em direção à análise das continuidades experienciais dos dois lados dos muros prisionais, a análise recoloca a passagem pelo encarceramento no interior de uma experiência de carceralidade que a engloba e a desloca. Neste artigo, trata-se menos de resumir todos os resultados relativos ao acesso à moradia para pessoas que foram soltas das prisões na França, do que focar em três paradoxos que frequentemente permanecem nas sombras da sociologia da prisão, e que obrigam a revisitar certas rotinas. Primeiro, o próprio encarceramento é menos um “choque da prisão” do que uma experiência banal em uma trajetória altamente precária. Além disso, o “conceito arraigado”, segundo o qual as condições de detenção são piores que as condições de vida do trabalhador pobre no exterior, encontra limites na experiência da pessoa para quem a prisão se torna um asilo protetor. Em segundo lugar, a saída é caracterizada por um despreparo e uma incerteza radical, que afeta particularmente os presos mais pobres. É menos uma “libertação” do que um mergulho e um retorno à precariedade mais crua. Em outras palavras, a liberação não coloca fim à pena, é parte integrante dela. Por fim, o único acesso disponível a um alojamento prolonga a experiência carcerária: concentração de ex-prisioneiros, insalubridade, violência e disciplina formam a trama da vida cotidiana em seu seio.

Prisão; Pobreza; Carceralidade; Saída da prisão; Desespecificação; Alojamento

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