Acessibilidade / Reportar erro

Luanda e Maputo: inflexões suburbanísticas da cidade socialista à cidade-metrópole neoliberal

Luanda and Maputo: sub-urbanistic inflections from the socialist city to the neoliberal metropolis city

Resumos

Luanda e Maputo, duas capitais africanas da lusofonia, são marcadas por crescentes desigualdades socioespaciais. Os centros urbanizados dessas urbes, traçados pela e para a sociedade colonial e onde hoje reside a maioria da população de maiores recursos, distinguem-se dos densos e extensos subúrbios habitacionais suburbanizados, onde outrora residia a sociedade colonizada e hoje se acantona a população de menores recursos. Nos primeiros anos de independência, em contexto de ideologia de inspiração socialista, economia planificada e planeamento centralizado, ambos os países visaram diminuir as desigualdades socioespaciais herdadas do colonialismo, intervindo nos subúrbios. A partir de finais da década de 80 do século XX, com o início da liberalização económica e política, que levou, em Moçambique, à descentralização (ainda emergente em Angola), surgem novos actores, indutores de diferentes modelos de cidade e de fazer cidade, diversificando-se os tipos de intervenções suburbanas. A explosão, segregação e complexidade socioespacial desses subúrbios tem-se intensificado com a adopção do modelo de cidade neoliberal, competitiva e desigual. Tomando como referência esses dois grandes períodos sociopolíticos e urbanísticos, este artigo restitui, num olhar cruzado e crítico, diferentes tipos de intervenção nos subúrbios habitacionais semiurbanizados. O seu principal objectivo é reflectir sobre a circulação de influências e os paradigmas suburbanísticos em que se inscrevem.

Cidade socialista; Cidade neoliberal; Paradigmas suburbanísticos; Luanda e Maputo


Luanda and Maputo, two major Lusophone African capitals, are marked by growing socio-spatial inequalities. Their urbanized centers, traced by and to the colonial society and where today lives the population with more resources, differs from the dense and extensive residential sub-urbanized suburbs, once inhabited by the colonized society and where currently lives the lower income population. In the first years of the independence, in the context of a socialist ideology, planned economy and centralized planning, both countries aimed to diminish the socio-spatial inequalities inherited from colonialism, intervening in the suburbs. From the late eighties of the twentieth century, with the beginning of the economic and political liberalization, which led, in Mozambique, to decentralization (emerging in Angola), new actors emerging and inducing different models of city and of doing the city, diversifying the types of suburban interventions. Explosion, segregation and socio-spatial complexity of these suburbs are intensifying with the model of the neoliberal city, competitive and unequal. Taking as a reference these two big socio-political and urban periods, this paper returns, in a crossed and critical look, different types of interventions in the residential sub-urbanized suburbs. Its main objective is to reflect upon the circulation of influences and the sub-urban paradigms in which they are inscribed.

Socialist city; Neoliberal city; Sub-urban paradigms; Luanda and Maputo


  • AMARAL, I. Apontamentos sobre Luanda: uma capital colonial imperfeita. UR Cadernos da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa: Cidades Africanas, n. 5, p. 48-56, maio. 2005.
  • ANGOLA. Lei das Associações (1991). Lei n. 14/91. Diário da República Luanda, 1991.
  • ANGOLA. Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo (2004). Lei n. 3/2004. Diário da República Luanda, 2004a.
  • ANGOLA. Lei de Terras (2004). Lei n. 9/2004. Diário da República Luanda, 2004b.
  • CROESE, S. 1 million houses?: Angola's national reconstruction and Chinese and Brazilian engagement. Strengthening the civil society perspective - Series II: China and other emerging powers in Africa. Cape Town: Emerging Powers in Africa Initiative. Fahamu, 2011. Disponível em: <http://www.fahamu.org/images/empowers_report_0311.pdf>. Acesso em: 5 nov. 2011.
  • DEVELOPMENT WORKSHOP- DW. Terra: reforma sobre a terra urbana em Angola no período pós-guerra – pesquisa, advocacia e políticas de desenvolvimento. Luanda: DW, CMAAH, 2005.
  • FAURÉ, Y-A. Angola e Moçambique: de uma descentralização prometida a uma descentralização tímida. In FAURÉ, Y.; RODRIGUES, C. (Org.). Descentralização e desenvolvimento local em Angola e Moçambique: processos, terrenos e atores. Coimbra: Almedina, 2011. p. 295-354.
  • FERNANDES, J. M. Geração Africana. Arquitectura e cidades em Angola e Moçambique. 1925-1975 Lisboa: Livros Horizonte, 2002.
  • FORJAZ, J. Uma estratégia para o melhoramento e a reabilitação dos slums em Moçambique. Ur Cadernos da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa: Cidades Africanas, n. 5, p. 92-97, maio 2005.
  • FORJAZ, J. (Coord.). Moçambique, melhoramento dos assentamentos informais: análise da situação e proposta de estratégias de intervenção. Maputo: Direcção Nacional de Planeamento e Ordenamento Territorial (DINAPOT); Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA), 2006. Disponível em: <http://www.unhabitat.org/downloads/docs/4399_50963_CWS%20in%20portuguese.pdf>. Acesso em: 20 out. 2012.
  • GROENEWALD, L.; HUCHZERMEYER, M.; KORNIENKO, K. et al. Breaking down the binary: meanings of informal settlement in southern african cities. In: FOURCHARD, L.; BEKKET, S. Governing african cities South Africa: HSRC Press, 2012. No prelo.
  • HARVEY, D. The right to the city 2008. Disponível em: <http://187.45.205.122/Portals/0/Docs/righttothecity.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2012.
  • HARVEY, D. Spaces of capital: towards a critical geography. New York: Routledge, 2001.
  • JORGE, S.; MELO, V. Processos e dinâmicas de (re)produção do espaço (peri)urbano: o caso de Maputo. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE JOVENS INVESTIGADORES URBANOS (SICYUrb), 2., 2012, Lisboa. Actas.. Lisboa: SICYUrb, 2012. Disponível em: <http://conferencias.cies.iscte.pt/ index.php/icyurb/sicyurb/paper/viewFile/105/128>. Acesso em: 3 maio 2012.
  • LEFEBVRE, H. La production de l'espace Paris: Anthropos, 1974.
  • LOPES, C. M.; AMADO, F.; MUANAMOHA, R. Dinâmica do crescimento populacional em Luanda e Maputo. In: OPPENHEIMER, J.; RAPOSO, I. (Coord.). Subúrbios Luanda e Maputo Lisboa: Edições Colibri, 2007. p. 37-64.
  • MARTINS, M. I. A evolução de Luanda e o fenómeno da globalização. Ur Cadernos da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa: Cidades Africanas, n. 5, p. 57-61, maio 2005.
  • MELO, V. Urbanization processes in the expansion areas of Luanda, Maputo and Johannesburg: urban planning and everyday practices. In: INTERNATIONAL PLANNING HISTORY SOCIETY (IPHS) Conference, 15., 2012, São Paulo. Actas.. São Paulo: FAUUSP, 2012.
  • MOÇAMBIQUE. Lei das Associações (1991). Lei n. 8/91. Diário da República Maputo, 1991.
  • MOÇAMBIQUE. Lei de Terras (1997). Decreto-lei n. 19/1997. Diário da República Maputo, 1997.
  • MOÇAMBIQUE. Lei do Ordenamento do Território (2007). Lei n. 19/2007. Diário da República Maputo, 2007.
  • OPPENHEIMER, J.; RAPOSO, I. A pobreza em Maputo Lisboa: MTS, 2002.
  • OPPENHEIMER, J.; RAPOSO, I. (Coord.). Subúrbios de Luanda e Maputo Lisboa: Edições Colibri, 2007.
  • RAPOSO, I. Instrumentos e práticas de planeamento e gestão dos bairros peri-urbanos de Luanda e Maputo. In: OPPENHEIMER, J.; RAPOSO, I. (Coord.). Subúrbios Luanda e Maputo Lisboa: Edições Colibri, 2007. p. 219-246.
  • RAPOSO, I. Sinais de modernidade na arquitectura popular em Luanda. In: GOYCOOLEA PRADO, R.; MARTINS, I. M. (Dir.). A modernidade ignorada. Arquitectura moderna de Luanda Madrid: Universidad de Alcalá, 2011. p. 172-189.
  • RAPOSO, I. Bairros de génese ilegal: metamorfoses dos modelos de intervenção. In: MENDES, M. M.; FERREIRA, C., SÁ, T.; CRESPO, J. L. (Coord.). A cidade entre bairros Lisboa: Caleidoscópio, 2012. p. 107-119.
  • RAPOSO, I.; RIBEIRO, M. As ONG, um novo actor do desenvolvimento urbano em Luanda e Maputo. In: OPPENHEIMER, J.; RAPOSO, I. (Coord.). Subúrbios Luanda e Maputo Lisboa: Edições Colibri, 2007. p. 175-218.
  • RAPOSO, I.; SALVADOR, C. Há diferença: ali é cidade, aqui é subúrbio: urbanidade dos bairros, tipos e estratégias de habitação em Luanda e Maputo. In: OPPENHEIMER, J.; RAPOSO, I. (Coord.). Subúrbios Luanda e Maputo Lisboa: Edições Colibri, 2007. p. 105-138.
  • UN-HABITAT. Mozambique Urban Sector Profile Naoirobi: UN, 2008. Disponível em: <http://www.urbangateway.org/sites/default/ugfiles/Mozambique-USP%202008.pdf>. Acesso em: 7 nov. 2008.
  • UN-HABITAT. The state of african cities 2010: governance, inequality and urban land markets. Nairobi: UN-HABITAT, 2010. Disponível em: <http://www.unhabitat.org/documents/SACR-ALL-10-FINAL.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2011.
  • VALENÇA, M. Cidades Ingovernáveis? Ensaio sobre o pensamento harveyano acerca da urbanização do capital. In: BORZACCHIELLO DA SILVA, J.; CRUZ LIMA, L. C.; DENISE, E. (Org.). Panorama da geografia brasileira São Paulo: Annablume, 2006.
  • VIEGAS, S. Urbanization in Luanda: geopolitical framework. A socio-territorial analysis. In: INTERNATIONAL PLANNING HISTORY SOCIETY (IPHS) Conference, 15., 2012, São Paulo. Actas.. São Paulo: FAUUSP, 2012.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 2012

Histórico

  • Recebido
    31 Maio 2012
  • Aceito
    25 Out 2012
Pontifícia Universidade Católica do Paraná Rua Imaculada Conceição, 1155. Prédio da Administração - 6°andar, 80215-901 - Curitiba - PR, 55 41 3271-1701 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: urbe@pucpr.br