Resumo
O fenômeno da financeirização é pouco sistematizado em suas expressões socioespaciais, embora o tema seja frequente nos estudos urbanos. Em geral, os trabalhos só revelam uma parcela do problema, pois desconsideram a cidade como mediação interescalar nos processos. Isso dificulta o entendimento sistemático da reprodução socioespacial urbana da financeirização. Desse modo, o artigo levanta a seguinte questão: como a financeirização se reproduz no espaço urbano? Ao utilizar a noção de níveis urbanos, Henri Lefebvre indica uma proposta integradora que considera a cidade como mediação sistêmica entre o global e o cotidiano, mobilizando e ultrapassando escalas. Analisa os setores habitacional e varejista para mostrar que a crescente penetração da lógica financeira intensifica desigualdade, segregação e fragmentação nas cidades brasileiras. Shopping centers, super e hipermercados, espaços residenciais fechados e e-commerce são algumas de suas expressões. Finalmente, apresenta um quadro síntese acompanhado da proposição conceitual denominada de pulverização urbano-diferencial da lógica financeira. Revela que a financeirização se processa como pulverização sistêmica nas cidades, com diferenças geográficas, num fluxo renovado de valorização do capital. Elucida a complexidade inerente ao movimento de reprodução socioespacial urbana da financeirização e ilumina novas estratégias e práticas espaciais.
Palavras-chave:
Níveis urbanos; Financeirização; Cidade; Habitação; Varejo