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Um Pitágoras africano entre o Brasil e o exílio: André Rebouças e a crença na evolução do cosmos (1888-1893)

An African Pythagoras between Brazil and Exile: André Rebouças and the Belief in the Evolution of the Cosmos (1888-1893)

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar a presença da crença nas ideias evolucionistas - ao mesmo tempo místico-religiosas e científicas - do filósofo Pitágoras (570-490 a.C.) nos escritos do intelectual negro André Rebouças (1838-1898). Pretende-se compreender os sentidos atribuídos pelo abolicionista brasileiro à sua “propaganda pitagórica”, como caminho ideal para se alcançar as transformações da sociedade, por meio de projetos reformistas voltados tanto ao Brasil quanto à África (1892-1893). Em sua militância, ele acreditava, em consonância com o pensador grego, que o mundo estava em constante evolução moral e material, e sua transformação era ordenada matematicamente pela harmonia dos opostos. Nesse sentido, uma sociedade conduzida por virtudes e comportamentos morais rígidos e disciplinados teria, como consequência, o desenvolvimento social e econômico menos desigual, e vice-versa. Assim, Rebouças defendia, de modo concomitante, um projeto de intervenção moral e material na sociedade como etapa para se alcançar uma futura fraternidade universal, baseada no altruísmo. Com base em seus artigos de jornais, cartas e diários, escritos entre 1888 e 1893, o texto demonstra que André Rebouças inspirou-se nas ideias pitagóricas de evolução do cosmos para propor soluções para causas sociais como a abolição da escravidão e da miséria e a democratização do acesso à terra.

Palavras-chave:
André Rebouças; Pitágoras; evolução do cosmos

Abstract

This article aims to analyze the presence of belief in the evolutionist ideas - at once mystical-religious and scientific - of the philosopher Pythagoras (570-490 B.C.) in the writings of the black intellectual André Rebouças (1838-1898). We intend to understand the meanings attributed by the Brazilian abolitionist to his “Pythagorean propaganda”, conceived as an ideal way to achieve societal transformations, through reformist projects that he advocated for both in Brazil and in Africa (1892-1893). In alignment with the Greek thinker, Rebouças’ militancy was guided by the belief that the world was in constant moral and material evolution, whilst its transformation was mathematically ordered by the harmony of the opposites. A society led by strict, disciplined virtues and moral behavior would thus experience less unequal social and economic development, and vice versa. Rebouças concurrently maintained that a project of moral and material intervention in society would constitute a step towards achieving a future universal brotherhood rooted in altruism. Drawing upon his newspaper articles, letters, and diaries, written between 1888 and 1893, this text demonstrates that André Rebouças found inspiration in Pythagorean conceptions of the evolution of the cosmos to propose solutions to social issues such as the abolition of slavery, poverty relief, and the democratization of access to land.

Keywords:
André Rebouças; Pythagoras; cosmos evolution

Introdução

Em novembro de 1889, indignado com o movimento encabeçado por militares que derrubou a monarquia no Brasil, André Rebouças (1838-1898) saiu do país e partiu para uma viagem de autoexílio, acompanhando inicialmente a família imperial brasileira em Portugal e, em seguida, na França (SPITZER, 2001SPITZER, Leo. Vidas de entremeio: Assimilação e marginalização na Áustria, no Brasil e na África Ocidental. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001.). Depois disso, em 1893, após passar cerca de quatorze meses na África, ele fixou residência na cidade de Funchal, na Ilha da Madeira, onde permaneceu durante os últimos cinco anos de sua vida. Daquele território português, Rebouças escreveu sobre sua rotina no exílio ao seu amigo Alfredo Taunay, no Brasil: “só venço a dor e a saudade aprofundando infinitos cálculos matemáticos. Você verá cadernos e cadernos cheios das maiores curvas e superfícies, com equações de coeficientes impossíveis a desafiar a paciência de 30 Beneditinos”.1 1 FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO (FUNDAJ), Recife. Carta de André Rebouças para Alfredo Taunay, 13 dez. 1893. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7. Em outra carta, também remetida a Taunay, ele afirmava: “o meio mais enérgico é combater a obsessão Brasileira e Humanitária com a obsessão Matemática. Tenho sempre um problema em mente; resolvida uma dificuldade, forja-se logo outra, e assim espero, humilde e resignado, que se cumpra a Justiça de Deus”.2 2 FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças para Alfredo Taunay, 19 dez. 1893. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7.

Ao contrário do que se possa imaginar em uma primeira impressão, os cálculos desse ilustre abolicionista não eram uma simples fuga, nem um estranho exercício de passatempo ou mesmo um modo de se esquecer de sua terra natal, do outro lado do Atlântico. Mas quais seriam, então, os sentidos dessas atividades? Qual o significado atribuído por André Rebouças ao que ele chamava de “obsessão Brasileira e Humanitária” e qual o sentido de a combater com a “obsessão Matemática”? Qual a relação entre a “obsessão matemática” e o cumprimento do que Rebouças imaginava ser a “Justiça de Deus”? Neste texto, pretendo problematizar e analisar essas expressões por meio da autocompreensão de Rebouças como um seguidor de Pitágoras. Para tanto, farei uma investigação de suas apropriações das ideias do filósofo grego, como base de idealização das transformações da sociedade do seu tempo, tanto em seus projetos de reforma social no Brasil no fim dos anos 1880 quanto na África (1892-1893).

André Rebouças: Um intelectual cosmopolita

Matemático e astrônomo, botânico e geólogo, industrial e moralista, higienista e filantropo, poeta e filósofo, Rebouças foi talvez dos homens nascidos no Brasil o único universal pelo espírito e pelo coração… Pelo espírito teremos alguns, pelo coração outros; mas somente ele foi capaz de refletir em si, ao mesmo tempo, a universalidade dos conhecimentos e a dos sentimentos humanos. Quem sabe se não foi a imagem que partiu o espelho! (NABUCO, 1900NABUCO, Joaquim. Minha formação. Rio de Janeiro: Garnier, 1900., p. 239).

André Rebouças é, certamente, um dos intelectuais negros mais conhecidos na história do Brasil do século XIX. Ainda hoje, diversos logradouros como o Túnel Rebouças no Rio de Janeiro e a Avenida Rebouças em São Paulo fixam seu nome na memória pública do país (MATTOS, 2022MATTOS, Hebe. Ulisses Africano: Modernidade e dupla consciência no Atlântico Sul. In: MATTOS, Hebe (Org.). Cartas da África: Registro de correspondência (1891-1893), André Rebouças. São Paulo: Chão, 2022, p. 315-366.). Na historiografia brasileira, ele é bastante reconhecido, sobretudo como um importante articulador da militância abolicionista no Brasil dos anos 1880 (ALONSO, 2015ALONSO, Ângela. Flores, votos e balas: O movimento abolicionista brasileiro (1868-1888). São Paulo: Companhia das Letras, 2015.), mas também como um ilustre intelectual negro, professor, engenheiro, empresário, escritor, monarquista e liberal reformista (JUCÁ, 2001JUCÁ, Joselice. André Rebouças: Reforma & utopia no contexto do Segundo Império. Quem possui a terra possui o homem. Rio de Janeiro: Odebrecht, 2001.; TRINDADE, 2011TRINDADE, Alexandre Dantas. André Rebouças: Um engenheiro do Império. São Paulo: HUCITEC; FAPESP, 2011.; MATTOS, 2013). Em diversos estudos e pesquisas, sua inteligência e erudição são destacadas como suas principais características.

Quando criança, André Rebouças distinguiu-se como um aluno exemplar que recebia prêmios e condecorações de seus professores e era aprovado com excelentes notas no colégio. Em casa, cresceu entre os livros de uma enorme biblioteca, composta por cerca de dois mil volumes, com destaque para obras jurídicas, manuais de história de países europeus, “Shakespeare e os gregos em francês, (…) todos os clássicos da Economia Política inglesa e do iluminismo francês, como Adam Smith, Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Robespierre e a própria Enciclopédia” (GRINBERG, 2002GRINBERG, Keila. O fiador dos brasileiros: Cidadania, escravidão e direito civil no tempo de Antônio Pereira Rebouças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002., p. 199-200). Esses livros, publicados em português, mas sobretudo em francês e inglês, eram de seu pai, reconhecido como intelectual autodidata e um dos mais bem-sucedidos advogados da capital do Império. Antônio Pereira Rebouças foi um destacado combatente nas lutas pela independência na Bahia, tendo atuado posteriormente como deputado pela Assembleia Geral nas décadas de 1830 e 1840 e ainda como advogado do Conselho de Estado e Conselheiro do Imperador. Sua impressionante erudição e sua ação política em defesa da ordem e dos princípios monárquico-constitucionais traduziram-se em uma atuação profissional de sucesso, renderam-lhe ascensão social e o reconhecimento como um dos maiores especialistas em direito civil do país (GRINBERG, 2002).

O ambiente doméstico de André Rebouças era estruturado nos padrões dos saberes consagrados pelo modelo europeu de civilização. Por sua saúde frágil durante a infância, seu pai atuava por longos períodos como seu mestre, em diversos momentos em que era preciso afastar-se da escola. Em seus diários, que cobrem grande parte de sua vida, as referências aos pensadores clássicos e à cultura greco-romana são abundantes e constantes, assim como a autores da história moderna e contemporânea dos Estados Unidos e da Europa, dedicados à economia política, ao pensamento liberal e aos diversos campos do conhecimento científico e tecnológico. Quando adulto, além de engenheiro, Rebouças tornou-se também um professor nos padrões de um típico homem de ciência de seu tempo, com interesses variados e abrangentes. Apesar de sua especialização na área de engenharia, suas leituras contemplavam também estudos de botânica, literatura, economia política, filosofia, astronomia, física, entre muitos outros (REBOUÇAS, 1938REBOUÇAS, André. Diário e notas autobiográficas: Texto escolhido e anotado por Ana Flora e Inácio José Veríssimo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1938.).

Em grande parte de sua trajetória, amparado por sua profunda dedicação aos estudos científicos, André Rebouças idealizou o progresso e o desenvolvimento do Brasil como um caminho de superação das estruturas arcaicas da sociedade escravocrata e senhorial de seu tempo (TRINDADE, 2011TRINDADE, Alexandre Dantas. André Rebouças: Um engenheiro do Império. São Paulo: HUCITEC; FAPESP, 2011.). Entre os anos 1870 e 1880, seu pensamento caminhou de uma ideia liberal de transformação radical do Brasil, conduzida pela afirmação dos interesses individuais e do autoesclarecimento social, para a defesa de um Estado antiaristocrático, capaz de conduzir a modernização e desestruturar o poder dos latifundiários, garantindo a expansão em massa da pequena propriedade e do mercado interno (CARVALHO, 1998CARVALHO, Maria Alice Rezende. O quinto século: André Rebouças e a construção do Brasil. Rio de Janeiro: Revan; Ed. IUPERJ, 1998.). Sua incansável militância abolicionista era parte integrante de um projeto maior de reformas, que passava pela democratização do acesso à terra por meio da multiplicação de pequenas propriedades (JUCÁ, 2001JUCÁ, Joselice. André Rebouças: Reforma & utopia no contexto do Segundo Império. Quem possui a terra possui o homem. Rio de Janeiro: Odebrecht, 2001.; PESSANHA, 2005PESSANHA, Andréa Santos. Da abolição da escravatura à abolição da miséria: A vida e as ideias de André Rebouças. Rio de Janeiro: Quartet, 2005.). Sua formação complementar na França e na Inglaterra, no início dos anos 1860, garantiu-lhe uma especialização na construção de docas e vias férreas. Ao retornar de sua primeira viagem à Europa, o engenheiro envolveu-se em diversos projetos no Brasil: foi inspetor de fortaleza em Santos e em Santa Catarina, além de atuar em obras em províncias como Paraná, Maranhão, Ceará e Grão-Pará. Seu trabalho pela modernização e adequação dos portos brasileiros às novas tecnologias europeias e estadunidenses foi marcado por um ferrenho enfrentamento dos interesses escravocratas nacionais enraizados na política imperial (SILVA, 2019SILVA, Antônio Carlos Higino da. Portos de Commercio: Tecnologia, associacionismo e redes de sociabilidade. Os desafios e as propostas modernizadoras de André Pinto Rebouças para o Brasil do Segundo Reinado (1850-1890). Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.).

André Rebouças fez parte da chamada geração de 1870, um movimento intelectual e político formado por homens marginalizados em relação aos postos de mando do Segundo Reinado. Os textos desse grupo eram formas de marcar suas posições, situando-se no debate político e propondo intervenções que expressavam, de modo organizado e sistemático, críticas ao pensamento e à ação da elite imperial que monopolizava a administração do país. Insatisfeitos com essa dominação conservadora, muitos intelectuais passaram a contestar e a combater o status quo imperial, representado pela centralização monárquica, pela escravidão, pelo latifúndio monocultor, pela religião de Estado e pelo jogo de representação política entre os partidos. Como alternativa a essa ordem, em crise a partir dos anos 1870, surgiram propostas ligadas à universalização dos direitos civis e políticos, materializada pela inclusão disciplinada de homens livres e pobres na sociedade. Os membros do movimento reivindicavam um controle científico da política e percebiam a si mesmos como uma vanguarda ilustrada, uma nova elite benevolente, responsável por um projeto civilizatório capaz de completar o processo de construção do Estado e da nação e ainda modernizar a economia nacional (ALONSO, 2002ALONSO, Ângela. Ideias em movimento: A geração de 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002., p. 331-335).

A geração de 1870 era formada por grupos de intelectuais que sustentavam diferentes propostas para a superação do atraso do Brasil. Segundo Ângela Alonso (2002ALONSO, Ângela. Ideias em movimento: A geração de 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002., p. 112-120; p. 202-203), André Rebouças estava inserido em um segmento específico do movimento: os “novos liberais”. Embora politicamente marginalizados pelo domínio conservador, faziam parte das famílias tradicionais do Império e não propunham uma ruptura com o regime em vigor. Defendiam um liberalismo monárquico suprapartidário, incompatível com a escravidão e com a organização estamental da política imperial. Eram favoráveis à reorganização do regime de trabalho e da estrutura fundiária, bem como à expansão dos direitos individuais e da participação política, que deveria ser ampliada para os setores mais empobrecidos, como os africanos e seus descendentes.

Os membros desse movimento tinham formação superior e, em suas viagens ao exterior, estabeleciam contatos com outros intelectuais e cientistas no efervescente universo intelectual e político internacional, sobretudo em países como França, Inglaterra e Estados Unidos (ALONSO, 2002ALONSO, Ângela. Ideias em movimento: A geração de 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002., p. 112-120). Fluente em inglês e francês, Rebouças viajou por diversos países do mundo, como Canadá, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, Portugal, territórios africanos, entre outros. Por onde passou, estabeleceu amizades e relações que lhe renderam uma profícua rede de sociabilidade, traduzida muitas vezes em projetos, trocas de experiência e indicações. Os fios dessa teia ainda hoje podem ser conhecidos e estudados por meio de sua vasta produção escrita, composta por diários, cartas, artigos de jornais, projetos e livros (VERÍSSIMO, 1939VERÍSSIMO, Inácio José. André Rebouças através de sua autobiografia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1939.).

Como um dos principais representantes e organizador dos “novos liberais”, Rebouças investiu na propaganda como grande arma de ação política nos anos 1870 e 1880, tentando influenciar os debates no parlamento. Dessa forma, graças às suas ações, as ideias políticas do grupo circulavam em artigos de jornais, conferências, livros, eventos, associações abolicionistas, sociedades científicas, entre outras. Como monarquistas convictos, os membros desse movimento tentavam fazer uso político de sua circulação pelos salões aristocráticos da Corte e do acesso ao imperador e à família imperial como caminho de pavimentação para as reformas. Buscavam, assim, mobilizar também o poder moderador de Dom Pedro II, teoricamente isento dos interesses partidários, em favor de reformas modernizadoras, como o fim da escravidão e a reorganização do regime de trabalho e da propriedade de terras (ALONSO, 2002ALONSO, Ângela. Ideias em movimento: A geração de 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002., p. 112-120).

André Rebouças dedicou toda sua vida às atividades intelectuais e profissionais, sempre relacionadas à sua militância intelectual e política em favor das causas sociais. No Brasil, filiou-se a diversas associações científicas, sobretudo aquelas dedicadas à engenharia e aos projetos de desenvolvimento tecnológico, científico e econômico da sociedade. Também durante suas viagens a países estrangeiros, suas ações e discursos despertavam atenção. Certa vez, em passagem por Nova Iorque, Rebouças foi apelidado de “Mr. Perpetual Motion”, alcunha que tentava expressar sua constante inquietação em busca de conhecimentos aliados a projetos de mudança e progresso em torno da modernização da sociedade brasileira (BRITO, 2019BRITO, Luciana da Cruz. “Mr. Perpetual Motion” enfrenta o Jim Crow: André Rebouças e sua passagem pelos Estados Unidos no pós-abolição. Estudos Históricos, v. 32, n. 66, p. 241-266, jan./abr. 2019., p. 260). Curiosamente, esse apelido não pegou, e Rebouças acabou ficando conhecido por outra alcunha. Seus amigos mais próximos o chamavam de Pitágoras.

André Rebouças como um Pitágoras

Em carta datada de 28 de agosto de 1892, Joaquim Nabuco informava estar, por coincidência, hospedado no mesmo quarto do Hotel Bragança, em Lisboa, onde tempos atrás Rebouças havia residido no início do exílio. Segundo Nabuco (1949, p. 215), naquele local, referindo-se a Rebouças, “ainda se sente o espírito do grande Pitagórico”. Meses depois, em outra carta dirigida ao amigo exilado, Nabuco afirmava (1949, p. 220, grifos meus): “Quanto estimo sempre que te sei bom e o mesmo! Espero que Deus tenha organizado tua vida aí do modo mais providencial e que te mostres em tudo um verdadeiro Pitagórico”. Nabuco via em Rebouças um seguidor das ideias do filósofo e matemático grego Pitágoras (570-490 a.C.), percepção que aparece de modo recorrente em suas cartas. Nos anos seguintes, Nabuco insistia em reafirmar seu desejo de sobrevivência das ideias do mesmo André Rebouças que conheceu no Brasil, com ênfase em sua face pitagórica, como nesta carta de 9 de março de 1895:

Meu querido Rebouças, o Taunay (…) mandou-me hoje pelo correio a carta que você lhe escreveu (…), pela qual vejo que você é sempre o mesmo e está o mesmo. (…) Adeus, meu querido Rebouças, nós aqui conservamos o seu culto, e desejamos que sua vida tenha um belo desfecho, um longo final no meio de amigos e discípulos amorosos - e discípulas também, se você é um verdadeiro Pitágoras (NABUCO, 1949NABUCO, Joaquim. Cartas a meus amigos. V. 1. São Paulo: Progresso Editorial, 1949., p. 256-257, grifos meus).

Joaquim Nabuco referia-se ao fato de que as mulheres eram respeitadas e valorizadas nas escolas pitagóricas da Grécia Antiga, onde recebiam tratamento igualitário e desempenhavam papéis ativos como sábias seguidoras de Pitágoras (KAHN, 2007KAHN, Charles. Pitágoras e os pitagóricos: Uma breve história. São Paulo: Loyola, 2007., p. 24; p. 26). Sutilmente, em tom de brincadeira, Nabuco provocava o amigo. Em seu entendimento, para se considerar um verdadeiro Pitágoras, além de todos os requisitos já cumpridos, André Rebouças precisava também ter discípulas, algo incomum nos meios intelectuais dominados por homens no fim do século XIX e inexistente também em sua trajetória tanto intelectual quanto pessoal. Rebouças nunca se casou, não teve filhos, nem qualquer tipo de relacionamento amoroso conhecido. No entanto, o que importa destacar é que, de acordo com Nabuco, seu amigo se identificava com o filósofo grego e tentava inspirar-se em suas ideias. Mas o que o próprio Rebouças dizia sobre isso?

No exílio, em carta dirigida a Nabuco, ele desabafava: “Há momentos em que desejo voar ao Brasil e continuar nossa Propaganda Pitagórica; depois pergunto: - se isso não é ‘Limodocia’, período de glórias mundanas?!”.3 3 FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Joaquim Nabuco, 19 jul. 1894. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7, grifos meus. Obviamente, não havia aviões no fim do século XIX, período em que ocorreu essa troca de correspondências, de modo que o verbo “voar” foi usado para reforçar a dimensão onírica do desejo do autor e ainda a intensidade e a irracionalidade do seu impulso. O próprio Rebouças explicou em outro texto o significado da palavra grega “Limodocia”. Trata-se de um “desejo ardente, sede insaciável de renome e glória”.4 4 REBOUÇAS, André. Instrução Técnica. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 257, 14 maio 1891, p. 449. Ou seja, Rebouças considerava que, naquele momento de exílio, seu sonho não deveria ser realizado por ser uma ambição mundana, evitada em nome de ideais mais elevados. Antes da queda da monarquia, houve um tempo, no entanto, em que o projeto de uma propaganda pitagórica no Brasil assumiu centralidade e destaque em seus escritos.

Projetos para o Brasil

Delirante ovação dos meus sonhos, escrevia ele [Rebouças] em 15 de maio de 1888 no seu diário. Anuncio-lhes o projeto de Triangulação Moral e Cadastral do Brasil (NABUCO, 1900NABUCO, Joaquim. Minha formação. Rio de Janeiro: Garnier, 1900., p. 239).

Para entendermos o significado atribuído por André Rebouças a essa “propaganda pitagórica”, precisamos observar alguns princípios básicos propostos pelo filósofo e matemático grego. Pitágoras foi o primeiro filósofo a cunhar a palavra “cosmos”, entendendo-a como sinônimo de um mundo perfeito, harmônico e ordenado (STRATHERN, 1998STRATHERN, Paul. Pitágoras e seu teorema. Rio de Janeiro: Zahar, 1998., p. 7-8). Em sua concepção, essa harmonia não é dada como um princípio original estático, e sim como algo a ser perseguido, em um movimento constante de evolução e de busca pela perfectibilidade, construída pela simetria entre opostos. Para os pitagóricos, há uma lei universal dos opostos que rege tanto o mundo físico quanto o mundo social, de modo que o cosmos tende, em uma escala evolutiva, a negar e a superar o caos. De acordo com Mário Ferreira dos Santos (2000SANTOS, Mário Ferreira. Pitágoras e o tema do número. São Paulo: IBRASA, 2000., p. 221), nessa perspectiva, o “cosmos, como oposição ao caos, significa a atualização ordenada dos possíveis que, no caos, estão contidos em suas possibilidades contraditórias”. Assim, de acordo com a lei da evolução cósmica de Pitágoras, todas as coisas na sociedade passam por “evoluções que rompem o ajustamento e a ordenação anterior dos opostos (harmonia) para sofrerem saltos qualitativos específicos” (SANTOS, 2000SANTOS, Mário Ferreira. Pitágoras e o tema do número. São Paulo: IBRASA, 2000., p. 202). Esses saltos caminham para a configuração de uma nova harmonia, uma evolução superior, atingindo um novo equilíbrio “acima do anteriormente vivido”, de modo que “todas as coisas tendem para um bem que está além delas, o bem superior do Ser Supremo” (SANTOS, 2000, p. 202-203), por participarem e estarem unidas a uma ordem cósmica transcendental.

Em seus escritos do fim dos anos 1880, André Rebouças apropria-se desses princípios pitagóricos para pensar e interpretar a sociedade brasileira. Isso pode ser observado, por exemplo, em um discurso proferido aos seus alunos de engenharia da Escola Politécnica da Corte, em meio às efusivas comemorações da abolição da escravidão. Em 15 de maio de 1888, após receber homenagens calorosas pelos anos dedicados à militância abolicionista, ele foi carregado pelos estudantes do saguão da escola até a sala da Congregação. Em seu diário, esse episódio foi registrado como um momento de “delirante ovação”.5 5 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB), Rio de Janeiro. Diário de André Rebouças, 15 maio 1888. Lata 164, doc. 6, f. 136. No calor da hora, Rebouças proferiu um discurso bastante otimista, reproduzido no dia seguinte, nas páginas do jornal O Paiz:

Meus amigos, meus filhos como costumo chamar-vos em aula! Meu agradecimento vai ser ainda uma lição. A voz mais autorizada do escravagismo disse no Senado que o Brasil estava em Feudalismo Patriarcal. Essa é a verdade. Estávamos no tempo de Abraão. E aqui, nessa casa, lecionávamos caminho de ferro e eletricidade e ainda mais: - ensinávamos quanto de mais sublime produziu Newton e Charles Darwin. Foi este antagonismo que cessou a 13 de maio de 1888. Foi a Escola Politécnica que doutrinou a abolição. O futuro pertence aos filhos desta Escola. A escravidão durou três séculos. A triangulação do Brasil vai durar também séculos, a divisão da terra, os canais, os caminhos de ferro, os rios navegáveis, os portos do mar, serão feitos por vós. Aos engenheiros o trabalho da constituição da Democracia Rural Brasileira. Viva a Escola Politécnica!6 6 REBOUÇAS, André. Ave, Libertas! O Paiz, Rio de Janeiro, n. 1.318, 16 maio 1888, p. 1-2.

Em seu diário, André Rebouças intitulou seu discurso Triangulação Moral e Cadastral do Brasil.7 7 IHGB, Rio de Janeiro. Diário de André Rebouças, 15 maio 1888. Lata 164, doc. 6, f. 136. A triangulação cadastral fazia parte do seu projeto de democracia rural e consistia em medir o território e promover cálculos relativos ao seu grande projeto de distribuição de terras para imigrantes e ex-escravizados. Mas e a triangulação moral? Para Pitágoras, a evolução do mundo ocorria por meio de triângulos elementares, espécie de símbolos de uma ordem secreta na natureza que representariam a combinação harmoniosa dos opostos, como vimos acima, um princípio básico de funcionamento do cosmos (KAHN, 2007KAHN, Charles. Pitágoras e os pitagóricos: Uma breve história. São Paulo: Loyola, 2007., p. 19; p. 53). Assim, no discurso de Rebouças a seus alunos, a triangulação moral estava relacionada à lei dos opostos que levaria à evolução. Do antagonismo entre o escravagismo do nosso patriarcado arcaico e o abolicionismo pregado na Escola Politécnica, surgiria, a seu ver, uma nova fase marcada pelo desenvolvimento e pelo progresso, em que os futuros engenheiros teriam grandes responsabilidades.

Sob um ponto de vista pitagórico, a triangulação moral e a cadastral estavam diretamente relacionadas, já que tanto a evolução espiritual quanto a material fazem parte de um mesmo processo de ordenamento matemático do cosmos. Para Pitágoras, era necessário interpretar o movimento de transformação do universo sob os polos opostos físico e espiritual, considerando que “um não se explica sem o outro, e, [ambos] vistos em conjunto, explicam o mundo” (SCHURÉ, 1985SCHURÉ, Edouard. Os grandes iniciados: Esboço da história secreta das religiões. Rama, Krishna, Hermes, Moises, Orfeu, Pitágoras, Platão, Jesus. São Paulo: IBRASA, 1985., p. 256). É nesse sentido que, para André Rebouças, após três séculos de escravidão, o Brasil passaria por três séculos de desenvolvimento, considerando que cada um desses dois períodos possuía uma configuração física e espiritual própria. Com base na lei de evolução do cosmos pela oposição entre os opostos, era possível fazer cálculos e previsões por meio de uma espécie de matemática mística, orientada pela filosofia pitagórica.

De acordo com Pitágoras, os números são o princípio universal, fundamento e essência de todas as coisas. Por meio deles, tudo no mundo pode ser debatido, pensado, planejado e organizado, em nome de uma ordem harmônica do cosmos. Para esse filósofo pré-socrático, o universo é regido por uma ordem matemática numericamente determinada, e através dos números podemos conhecer toda e qualquer realidade por meio de cálculos e medições. A Escola Pitagórica fundada no século VI a.C. defendia também que o estudo da astronomia, da aritmética, da música e da geometria era essencial para purificar a mente, formar o homem e ainda possibilitar o conhecimento de si e da realidade (OZGA; SANTOS, 2021OZGA, Juliano; SANTOS, Lorena. A importância dos números na escola pitagórica. Diaphonia, v. 7, n. 1, p. 22-29, jan./mar. 2021., p. 23-24; p. 28). Para os pitagóricos, assim como há uma harmonia na natureza, há também uma harmonia dos números que organiza e sustenta o universo. Dessa forma, os cálculos numéricos eram vistos como o meio para se atingir uma perfeição futura, a ordem, a racionalidade e a verdade, em contraposição ao obscurantismo e ao conhecimento fundado em mitos.

Nesse sentido, o conhecimento matemático, ou melhor, da mística escondida por trás dos números, era o caminho para se alcançar a harmonia tanto na alma humana quanto na ordem cosmológica. Em outras palavras, “os números possuíam um caráter místico que harmonizava a alma e o universo” (DUARTE; GONÇALVES; NÓBREGA, 2017DUARTE, Carlos Lisboa; GONÇALVES, Hegildo Holanda; NÓBREGA, Nádia Pinheiro. Tudo é número: Uma análise conceitual da ideia de número em Pitágoras. Principia, n. 33, p. 99-107, maio 2017., p. 107). Assim, nos seus primórdios, a matemática nasceu como instrumento capaz de garantir a devida e verdadeira ordenação do mundo e a evolução das pessoas e da humanidade. Por meio de cálculos, seria possível, aos pitagóricos, portanto, combater práticas equivocadas, injustiças na vida pessoal e na sociedade, corrigindo assim desequilíbrios e alcançando a harmonia. Ao longo dos séculos, Pitágoras foi retratado como uma figura lendária, como um “homem divino”, um líder espiritual e carismático que adquiriu sabedoria para se tornar um vidente, um grande professor, filósofo e benfeitor da humanidade (KAHN, 2007KAHN, Charles. Pitágoras e os pitagóricos: Uma breve história. São Paulo: Loyola, 2007., p. 17; p. 22). De acordo com Edouard Schuré (1985SCHURÉ, Edouard. Os grandes iniciados: Esboço da história secreta das religiões. Rama, Krishna, Hermes, Moises, Orfeu, Pitágoras, Platão, Jesus. São Paulo: IBRASA, 1985., p. 242), “pela teoria e pela prática, pelas ciências e pelas artes reunidas, chegava-se lentamente à ciência das ciências, à harmonia mágica da alma e do intelecto com o universo, que os pitagóricos consideravam como o arcano da filosofia e da religião”.

Os escritos pitagóricos apresentavam uma doutrina a respeito da imortalidade da alma, só atingida após uma progressiva purificação que libertaria os seres humanos de um ciclo contínuo de renascimentos, espécie de reencarnação denominada metempsicose. Nesse processo de ascensão, a alma seria purificada até alcançar uma perfeição moral e escapar dos ciclos de sucessivas encarnações (CASORETTI, 2014CASORETTI, Anna Maria. O surgimento da ascética da alma na antiguidade grega: Orfismo e pitagorismo. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014., p. 69; p. 75-83; p. 107). Em sua concepção, o ser humano deveria buscar a purificação como meio de evolução para unir-se à divindade, e isso não se alcançava apenas com rituais e cultos. Era preciso também buscar a filosofia, os poderes da razão, da observação e do cálculo, para adquirir conhecimento, comportamento moral e, assim, produzir a harmonia do universo (PEREIRA, 2010PEREIRA, Ângelo Balbino Soares. A teoria da metempsicose pitagórica. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Universidade de Brasília, Brasília, 2010., p. 61; STRATHERN, 1998STRATHERN, Paul. Pitágoras e seu teorema. Rio de Janeiro: Zahar, 1998., p. 45).

Mas quais seriam as relações entre esses princípios pitagóricos e o pensamento de André Rebouças no fim do século XIX? Sua propaganda pitagórica no Brasil encontra-se registrada em diversos de seus artigos publicados em jornais nos anos de 1888 e 1889. Entre fevereiro e maio de 1888, por exemplo, ele apresentou na imprensa uma reflexão sobre as relações entre higiene pessoal, pública e internacional em uma série de textos publicados na Revista de Engenharia. Nesses escritos, encontramos a defesa de uma sincronia entre a higiene pessoal (moral, mental e física), a higiene pública (municipal, provincial e nacional) e a higiene internacional (comércio, navegações e migrações). Em sua perspectiva, a evolução da humanidade só seria possível mediante a adoção de medidas de cuidado com o corpo e combate a qualquer tipo de vício, entendendo que essas práticas teriam um efeito em cadeia para o desenvolvimento econômico do espaço físico local, caminhando para a construção de um país desenvolvido e civilizado e, consequentemente, para uma fraternidade internacional. Nesse sentido, Rebouças reproduzia os princípios pitagóricos de comportamento moral rígido e disciplinado. Para o filósofo grego, vencer as paixões era um dever de todas as pessoas, pois “à purificação da alma corresponderia necessariamente a do corpo, alcançada pela higiene e pela severa disciplina dos costumes. (…) Quem não faz do seu próprio ser uma harmonia não pode refletir a harmonia divina” (SCHURÉ, 1985SCHURÉ, Edouard. Os grandes iniciados: Esboço da história secreta das religiões. Rama, Krishna, Hermes, Moises, Orfeu, Pitágoras, Platão, Jesus. São Paulo: IBRASA, 1985., p. 247).

Em seu discurso, André Rebouças parecia levar bastante a sério essas orientações e defendia medidas rígidas para o que ele chamava de higiene moral. Condenava, assim, o fumo, a cocaína, a morfina, vistos como depravadores do organismo humano. E ainda recomendava o combate ao “erotismo pela restrição nos alimentos e pela privação absoluta do vinho e de qualquer outro excitante”. Nesse sentido, Rebouças argumentou que o “excesso de bem-estar, uma vida contínua de gozo e de prazer conduz ao bestialismo”.8 8 REBOUÇAS, André. Higiene pessoal, higiene pública e higiene internacional. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 180, 28 fev. 1888, p. 40. Apontava, igualmente, alguns efeitos nefastos do escravismo sobre a higiene moral, mental e física da família brasileira. Entre eles, merecem destaque: o ódio ao trabalho e a aversão aos esforços da inteligência e do corpo, a preguiça, a promiscuidade, a cobiça, o apego ao jogo e à loteria. A seu ver, as famílias brasileiras, sob o efeito do escravismo, viviam um atraso moral que repercutia na sociedade e retardava o desenvolvimento econômico e o progresso do país. Para Rebouças, a

superexcitação erótica pela preguiça, tendo a sua disposição desde a infância, uma raça inferior para satisfazer o bestialismo, a cretinização da espécie, os hábitos fetichistas, importados d’África, a secular amalgamação do escravizador e do escravizado, produz afinal massa informe, da qual desapareceu tudo quanto havia de bom e de nobre nas raças primitivas.9 9 REBOUÇAS, André. Higiene pessoal, higiene pública e higiene internacional. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 180, 28 fev. 1888, p. 41.

De um modo geral, a defesa de uma vida disciplinada, controlada e ascética aparece com frequência em seus escritos e sempre associada a efeitos sociais positivos de desenvolvimento econômico e de progresso. Ao dissertar sobre o Imposto Territorial, como parte do grande projeto de distribuição de pequenas propriedades de terra para ex-escravizados e imigrantes, André Rebouças afirmava que “para que haja paz e tranquilidade, é preciso que todas as relações sociais sejam dirigidas pela Moral, pela Justiça e pela Equidade”.10 10 REBOUÇAS, André. Imposto Territorial. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 208, 28 abr. 1889, p. 110. Por outro lado, a não observância de determinados comportamentos também poderia provocar estagnação ou retrocessos na escala de evolução. De acordo com Pitágoras, as pessoas apegadas aos prazeres do corpo e que desrespeitassem os princípios morais poderiam ter suas almas encarnadas em animais ou vegetais como castigo após a morte. Nesse sentido, os pitagóricos não comiam carne nem mesmo pisavam em plantas, pois acreditavam que, após a morte, a alma humana poderia migrar para animais ou vegetais, regredindo nos ciclos de evolução (SCHURÉ, 1985SCHURÉ, Edouard. Os grandes iniciados: Esboço da história secreta das religiões. Rama, Krishna, Hermes, Moises, Orfeu, Pitágoras, Platão, Jesus. São Paulo: IBRASA, 1985., p. 271). Já aqueles que em vida procuraram a pureza, a filosofia e um comportamento moral adequado ascenderiam na escala de desenvolvimento do cosmos (PEREIRA, 2010PEREIRA, Ângelo Balbino Soares. A teoria da metempsicose pitagórica. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Universidade de Brasília, Brasília, 2010., p. 88).

Segundo Rebouças,

A preparação dos povos para a prática dos santos princípios de Fraternidade Internacional levará ainda muitos séculos. (…) O trabalho inicial far-se-á nas escolas por um ensino pitagórico, doutrinando o horror à morte, ensinando o respeito absoluto à vida humana e pregando a inviolabilidade do homem. Havia uma lenda na grande Grécia (…) que é por si só uma grande demonstração do efeito produzido, mesmo nestas épocas quase pré-históricas, pelas Sacrossantas Doutrinas do Divino Pitágoras. Assassinado o Mestre [Pitágoras], em um motim promovido pelos tiranos (vê-se bem que esse recurso não é uma invenção moderna) os discípulos fugiram de Crotona. Perseguidos pelos sicários encontraram no momento supremo, um campo plantado de favas, em plena inflorescência; preferiram ser assassinados a matar com os pés as benéficas plantinhas!! O grande trabalho pedagógico do futuro será mais nos corações do que nos cérebros, mais na sentimentalidade do que na mentalidade. Importará menos que um mancebo saiba diferenciar e integrar do que possuir a consciência e a ciência perfeita de que a Vida deve ser respeitada, ainda mesmo nas suas mais humildes manifestações (...). O Cosmo Moral, a Harmonia Universal e a Fraternidade Internacional está toda contida (sic) nesses princípios. Deles decorre imediatamente a eliminação do duelo, da guerra, da paz armada e do protecionismo.11 11 REBOUÇAS, André. Higiene pessoal, higiene pública e higiene internacional. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 183, 14 abr. 1888, p. 73.

Não sabemos se Rebouças acreditava literalmente na transmigração da alma, mas há registros de que ele seguiu por um tempo uma dieta vegetariana, tentando, segundo suas palavras, “viver de alimentos que não tenham custado nem dor e nem morte”.12 12 REBOUÇAS, André. Benjamin Franklin. O Novo Mundo, Nova York, n. 60, 23 set. 1875, p. 299. Essa prática, no entanto, teve que ser abandonada por ter debilitado seu organismo, considerado fraco desde o nascimento. Apesar disso, em seus discursos, ele apropriava-se dos princípios pitagóricos e propunha sua aplicação nas escolas. Mesmo após a abolição da escravidão, no período que antecedeu a queda da monarquia, entre maio de 1888 e novembro de 1889, André Rebouças prosseguiu sua propaganda pitagórica no Brasil, defendendo a evolução do país por meio de reformas morais e concomitantemente sociais, capazes de trazer o desenvolvimento e o progresso. Sua luta pelo fim da escravidão, bandeira pela qual ficou mais conhecido, era apenas a “ponta de um iceberg” de um projeto de reformas sociais muito mais amplo. Em suas palavras: “Todos os problemas sociais são simples equações de Justiça, de Equidade e de Moral. Toda reforma consiste em abolir, em extinguir, em declarar extinta uma injustiça, uma iniquidade e uma imoralidade”.13 13 REBOUÇAS, André. Imposto Territorial. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 208, 28 abr. 1889, p. 85. Em Abolição da miséria, série de artigos publicados no pós-abolição, entre setembro de 1888 e fevereiro de 1889, Rebouças afirmava que os obstáculos à evolução do Brasil, a seu ver, tinham como base questões morais observadas nas práticas dos membros do clero, nos militares e nas elites aristocráticas ligadas à grande propriedade de terras.

Em sua leitura crítica do status quo no país, o comportamento desses grupos era marcado pelo apego à riqueza, à ganância, ao luxo, ao egoísmo, ao parasitismo. Todos viviam da exploração do privilégio, do lucro adquirido do trabalho alheio, produzindo, por um lado, grandes riquezas concentradas e, por outro, a miséria e a degradação moral de si mesmos e da população empobrecida. Como argumento, Antônio Pereira Rebouças, seu pai falecido em 1880, era citado em um desses seus artigos como alguém que, por possuir “muito de Pitágoras (…) resumia todos esses raciocínios em uma fórmula muito singela: ‘Riqueza não livra de dor, nem de morte, nem de vergonha, nem de infâmia’”. De modo complementar, André Rebouças afirma que bastava “uma análise acurada de todos os fenômenos físicos, fisiológicos e sociais para reconhecer que a riqueza atua como uma verdadeira maldição”.14 14 REBOUÇAS, André. Abolição da Miséria. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 197, 14 nov. 1888, p. 241. Como solução para esse problema, seus textos defendiam insistentemente uma mudança radical na estrutura fundiária do país, por meio da distribuição de terras para pequenos proprietários rurais e o fim das isenções e dos privilégios das elites aristocráticas, militares e teocráticas, essas últimas entendidas como sinônimo do clero católico romano institucionalizado.

No livro Orphelinato Gonçalves de Araújo: Lemas e contribuições para a abolição da miséria, publicado em 1889, Rebouças mais uma vez responsabilizava os privilégios, as isenções e os monopólios aristocráticos, teocráticos e militares por esse grave problema social, entendendo que a “Abolição da Miséria só depende da Moral, da Justiça e da Equidade das classes dirigentes” (REBOUÇAS, 1889REBOUÇAS, André. Orphelinato Gonçalves de Araújo: Lemas e contribuições para a abolição da miséria. Petrópolis: G. Luizinger e Filhos, 1889., p. 20). A solução passaria por uma espécie de “conversão moral” desses segmentos sociais privilegiados aos princípios da equidade, da abnegação e do altruísmo. Seria possível, assim, acabar com o acúmulo de riquezas proveniente do trabalho alheio e com a grande propriedade de terra. Em seu lugar, Rebouças (1889, p. 30-42) propõe a expansão das pequenas propriedades rurais, formadas por famílias de trabalhadores nacionais ou imigrantes, obrigadas a adotar de duas a quatro crianças órfãs ou desamparadas.

De modo complementar, o projeto previa a abolição legal da herança, o que considerava, em suas palavras, um problema “de máxima urgência para a progressiva evolução dos sentimentos altruístas da Espécie Humana” (REBOUÇAS, 1889REBOUÇAS, André. Orphelinato Gonçalves de Araújo: Lemas e contribuições para a abolição da miséria. Petrópolis: G. Luizinger e Filhos, 1889., p. 47-48). De modo utópico, André Rebouças acreditava, assim, que sua propaganda pitagórica produziria reformas sociais acompanhadas por sentimentos humanitários elevados e sublimes, produzindo a evolução moral e material da sociedade. Por meio da abolição da herança, seria possível finalmente modificar moralmente as classes dirigentes, acabando com sua ganância, cobiça e apego às riquezas materiais. Desta forma, seria possível a emergência de uma nova e promissora família rural, espécie de célula da sociedade, capaz de combater “os elementos mórbidos do corpo e da alma” (REBOUÇAS, 1889, p. 31-32), antes produzidos pela miséria, como a pobreza, a vagabundagem, a mendicância, a embriaguez e a prostituição.

Os sonhos, as utopias e os projetos pitagóricos de André Rebouças para o Brasil sofreram revés com o golpe militar que derrubou a monarquia no Brasil. A partir de 1889, como exilado, sua propaganda pitagórica foi redirecionada.

Projetos para a África

No exílio, após a queda da monarquia, o pitagorismo de André Rebouças sobreviveu por um tempo como uma importante inspiração para novos projetos sociais. Sua viagem pelo continente africano, entre 1892 e 1893, foi planejada como parte de uma missão científica e civilizatória, tentando contribuir para a evolução dos africanos. Esse objetivo poderia ser alcançado por meio do acesso à pequena propriedade de terras e do domínio das línguas europeias, elementos capazes de garantir a ocidentalização das populações locais. Em um período de cerca de quatorze meses, Rebouças residiu em Lourenço Marques (Moçambique), em Barberton, em Queenstown e na Cidade do Cabo (África do Sul). Inicialmente, com base na ideia do cosmo moral, Rebouças acreditou que a presença e a ação imperialista europeias poderiam contribuir para o desenvolvimento e para a reparação devida pelo Ocidente àquele território, explorado por séculos de escravidão (MATTOS, 2022MATTOS, Hebe. Ulisses Africano: Modernidade e dupla consciência no Atlântico Sul. In: MATTOS, Hebe (Org.). Cartas da África: Registro de correspondência (1891-1893), André Rebouças. São Paulo: Chão, 2022, p. 315-366., p. 198-206). Sua propaganda pitagórica na África foi, portanto, estruturada como vetor desse processo, amparada pela valorização da ação colonialista no continente.

Para se alcançar a futura evolução desejada, seria preciso partir de um diagnóstico. Em carta dirigida a Antônio Júlio Machado, André Rebouças apresentou uma “síntese da hedionda exploração de Escravagismo, de Monopólio Territorial e de Landlordismo, que agora põem em crise toda a África Oriental Portuguesa”.15 15 FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Antônio Julio Machado, 27 maio 1892. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 4. Em suas palavras, naquele território:

A Escravidão existe real, prática e efetivamente: 1º. Na denegação sistemática do salário; na sedução forçada ao mínimo absoluto; na fraude constante dos vales e das moedas; na substituição do salário pela violência; pelo chicote de cavalo miserável; 2º. Na nudez em que sempre mantém o Negro Africano. O famigerado escravocrata Manoel Antônio de Souza fuzilava os Africanos, que encontrava vestidos de calças!! O espírito satânico da Escravidão tem horror ao negro vestido à Europeia; quer o mísero nu ou seminu; envolvido em trapos de algodão de Manchester ou de Hamburgo; para depois tirar disso mesmo argumentos e pretextos para os sofismas de inferioridade de raça e de incapacidade de evoluir para a Civilização Cristã e Igualitária. Escrevi ao amigo Taunay, para publicar nos Jornais Abolicionistas do Brasil proposta da Nova Propaganda - Vestir 300 Milhões de Negros Africanos.16 16 FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Antônio Julio Machado, 27 maio 1892. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 4.

É interessante observar que Rebouças criticava os defensores de uma inferioridade racial pautada em valores biológicos. Em seu lugar, defendia a capacidade dos africanos em evoluir para o mesmo patamar dos brancos, desde que tivessem acesso às mesmas condições básicas. Os princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade da família humana em constante evolução moral são tomados como resposta universalista aos problemas sociais e às desigualdades. Sua proposta de uma nova propaganda pitagórica na África aparece de modo mais detalhado em um projeto intitulado Nova Propaganda Abolicionista: Vestir 300.000.000 de Negros Africanos. Prospectus. Moral, Decência e Dignidade para a Família Humana.17 17 ARQUIVO PRIVADO DE ANA MARIA REBOUÇAS (APAMR), Rio de Janeiro. REBOUÇAS, André. Nova Propaganda Abolicionista. Vestir 300.000.000 de Negros Africanos. Prospectus. Moral, Decência e Dignidade para a Família Humana, Cidade do Cabo, 15-16 jan. 1893. Todas as citações textuais a Rebouças feitas neste e nos próximos três parágrafos provêm da mesma fonte. Esse projeto recebeu uma definição humanitária e foi caracterizada por André Rebouças como

Obra Santa de Solidariedade, de Fraternidade e de Igualdade; trabalho Hercúleo para Higiene, Purificação, Asseio e Elevação de toda a Família Humana; cometimento Evangélico, que será abençoado por “Nosso Pai que está nos Céus”, e que será recompensado na terra, imediatamente por milhões e milhões de bênçãos.

Nesse documento, Rebouças também faz um diagnóstico sobre o que observou na África:

Nudez de homens, de mulheres, de meninos e de meninas; excitação, contínua e perpétua, dia e noite, para o erotismo e para o bestialismo; promiscuidade crapulosa e bestial de brancos, de pretos e de amarelos; de Fetichistas, do Buhmaros, de Parsis, de Budhidas, de Confucistas, de Maometanos, de Hebreus, de Católicos e Apostólicos Romanos, de Luteranos, de Calvinistas e de Protestantes de todos os matizes imaginados e ainda por imaginar. Nudez hedionda e horripilante, que causa ojeriza a todos; livres, escravos e semiescravos; que os conserva num lodaçal imundo de vícios e de torpezas; de adultérios e de incestos; como nos tempos proto-históricos, (…) dezenas de milhares de rebeldes e de refratários à Moral, ao Progresso e ao Aperfeiçoamento da Espécie Humana.

Ao vestir os africanos, André Rebouças pensava em garantir uma evolução moral que, em uma perspectiva pitagórica, também estaria organicamente ligada à evolução, ao desenvolvimento e ao progresso social e material do continente. Em sua visão, de modo complementar, além de roupas, era preciso também investir na distribuição de terras e sementes de algodão. Assim,

ter-se-á, em poucos meses, na Costa Oriental e na Costa Ocidental da África, um enorme suprimento de algodão (…) e das mais preciosas qualidades, pedidas pelas fábricas de Manchester e dos outros centros manufatureiros da Europa. Ter-se-á criado assim uma corrente contínua de benefícios recíprocos e mútuos entre a Europa e a África; para a Indústria, para o Comércio e para a Navegação; ter-se-á inaugurado um exemplo novo e sublime; uma escola Pitagórica e Evangélica; para dar à geração atual e às vindouras uma prova viva e perpétua da indefectível Solidariedade de toda a Família Humana.

Por meio dessa nova propaganda pitagórica na África, André Rebouças acreditava que conseguiria

elevar o Negro; cobrir-lhe a bárbara nudez; dar-lhe um pedaço de terra; constituir lhe família pela Propriedade Rural; acelerar sua evolução cerebral pelo Bem-Estar, indispensável a todo o progresso intelectual; ensiná-lo; instruí-lo; educá-lo; prepará-lo, em tudo e por tudo, para a fusão final no grande Cosmos Humano.

Mas, após meses percorrendo o continente africano, Rebouças decepcionou-se também com o racismo, a segregação e a violência impostos pelo colonialismo europeu naquele território, marcado pela exploração do trabalho e pela busca do lucro (MATTOS, 2022MATTOS, Hebe. Ulisses Africano: Modernidade e dupla consciência no Atlântico Sul. In: MATTOS, Hebe (Org.). Cartas da África: Registro de correspondência (1891-1893), André Rebouças. São Paulo: Chão, 2022, p. 315-366., p. 205-207). Bastante frustrado, ele resolveu voltar à Europa e abrigar-se em Portugal, na Ilha da Madeira, de onde passou a revisitar seus projetos fracassados no Brasil.

De acordo com Pitágoras, a marcha da humanidade opera por meio de uma lei da progressão ascendente que faz parte da ordem divina, não de maneira uniforme, mas em ciclos, considerando que “cada povo tem sua juventude, sua maturidade e seu declínio” (SCHURÉ, 1985SCHURÉ, Edouard. Os grandes iniciados: Esboço da história secreta das religiões. Rama, Krishna, Hermes, Moises, Orfeu, Pitágoras, Platão, Jesus. São Paulo: IBRASA, 1985., p. 271). É com base em tais premissas que Rebouças permaneceu no exílio, recusando-se a voltar ao Brasil por considerá-lo, em suas palavras, “uma nação do passado, como a Grécia Antiga. É preciso que só trabalhe para a memória de D. Pedro II, que foi, simultaneamente, nosso Pitágoras e nosso Sócrates”.18 18 FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a José Joaquim de Maia Monteiro, 20 dez. 1892. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 5.

André Rebouças acreditava, assim, já ter cumprido sua missão no Brasil, terra condenada a expiar seus pecados pela ação da justiça de Deus sobre as classes dirigentes responsáveis pelo golpe que derrubou a monarquia. Esse movimento, a seu ver, foi um retrocesso no cosmo moral e garantiu a sobrevivência da grande propriedade de terras improdutivas, a continuidade da exploração dos ricos sobre os pobres, a perpetuação da miséria social e moral, sob o controle da aristocracia agrária, dos militares e do clero católico. No exílio, ele refletia em suas memórias sobre as ações e trabalhos realizados no Brasil. Em sua escrita de si, revisitava seus diários, organizava correspondências e ainda fazia anotações para a elaboração de uma autobiografia. Nas cartas, relembrava seu papel na militância abolicionista, na qual dizia ter formado com Nabuco e Taunay um “triângulo pitagórico”, também chamado de “triângulo moral”.19 19 FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Alfredo Taunay, 9 fev. 1894; 21 jun. 1894. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7. No seu entendimento, os três juntos trabalharam na propaganda abolicionista como filantropos, acreditando que teria sido possível uma evolução e um progresso sem guerras e sem revoluções. Em suas palavras, por esse grandioso trabalho, os três intelectuais seriam “alistados na História entre os Poetas por excesso de amor à Humanidade”.20 20 FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Alfredo Taunay, 9 fev. 1894. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7. Em suma, também no exílio, Rebouças continuava a interpretar essa militância abolicionista e a construir a memória desse movimento como uma “propaganda pitagórica”, humanitária, corretora de injustiças e evolucionista.

De acordo com Pitágoras, a fraternidade e a solidariedade deviam ser fortalecidas pela simpatia e pela caridade, pois somos todos da mesma raça, distribuídos em quatro classes diversas de pessoas numa escala de evolução. A primeira classe seria formada por aqueles que seguem seus instintos, de modo que a vontade age sobre o corpo, levando-os a atuar com uma inteligência física e em trabalhos manuais. A segunda classe seria formada por pessoas que acionam a inteligência por uma sensibilidade emocional, em ideias modificadas pelas paixões particulares e subjetivas, sem conseguir atingir a universalidade. Já a terceira seria formada por intelectuais que agiriam como heróis e mártires da pátria, de modo que suas vontades seriam pautadas por uma pureza intelectual que “desembaraça a inteligência da tirania das paixões e dos limites da matéria, o que dá a todas as suas concepções um caráter de universalidade” (SCHURÉ, 1985SCHURÉ, Edouard. Os grandes iniciados: Esboço da história secreta das religiões. Rama, Krishna, Hermes, Moises, Orfeu, Pitágoras, Platão, Jesus. São Paulo: IBRASA, 1985., p. 279). Eram vistos como os verdadeiros sábios que deveriam governar a humanidade. Nesse terceiro grupo, as paixões não estavam extintas, mas se tornavam servas da inteligência. Por fim, haveria ainda a quarta classe, ocupada pelo mais alto ideal humano, império da inteligência sobre o instinto e sobre a alma. Essa posição seria ocupada por gênios raros e sublimes que transformam a humanidade e aparecem de tempos em tempos (SCHURÉ, 1985, p. 278-279).

André Rebouças acreditava fazer parte da terceira classe de pessoas. Sua luta pela abolição da escravidão foi embasada, a seu ver, por um triângulo pitagórico e moral, cujas demais vértices, como vimos, eram formadas por Nabuco e por Taunay, também heróis da pátria dedicados a uma grande causa humanitária. Na quarta posição, a mais elevada, aparecem de modo recorrente em seus escritos os nomes de Pitágoras, Sócrates, Jesus Cristo e Benjamin Franklin, como mentores de um ideal sublime e universal de amor à humanidade e à evolução da família humana. Sobre esses seres humanos iluminados, Rebouças afirmava:

Benjamin Franklin é, do ponto de vista socionômico, a última evolução de Pitágoras e de Sócrates. O oráculo de Delfos proclamou Sócrates o mais sábio dos homens, mas o sublime Filósofo dedicava esse elogio a Pitágoras, Arquimestre de todos os Filósofos, de todos os Moralistas e de todos os Filantropos. Benjamin Franklin, o predileto dos Patriarcas de 1789, somou a moral de Pitágoras, de Sócrates e de Jesus, adaptando-a para os novos séculos de trabalho incessante e de progresso industrial.21 21 REBOUÇAS, André. Higiene pessoal, higiene pública e higiene internacional. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 180, 28 fev. 1888, p. 39.

Essas figuras são retratadas por André Rebouças como espécie de lideranças universais, portadoras de valores sublimes e elevados. Pitágoras, ao lado de Sócrates e de Jesus Cristo, são evocados como modelos de inspiração moral e exemplos de abnegação, altruísmo e caridade. Tais características são citadas por Rebouças como capazes de contribuir para a evolução da humanidade na superação do atraso e das injustiças. No exílio, no entanto, sua identificação com essas personagens assumiu uma feição especial, como no trecho abaixo, transcrito de uma carta dirigida a Rangel da Costa:

Acrescentarei ainda que, nos abrimos a perpétuos combates em prol da Verdade, do Progresso e do Bem-Estar da Família Humana, é melhor ser vencido como Pitágoras, como Sócrates envenenado e como Jesus crucificado. São como Divinos Vencidos os faróis da Humanidade; sem Eles, seríamos ainda antropófagos e canibais; trespassadores de crânios e chupadores de miolos, como os Trogloditas, os tristes habitantes de cavernas nas nefandas épocas da pedra lascada.22 22 FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Rangel da Costa, 28 dez. 1892. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 5.

André Rebouças identificava-se com as três lideranças citadas acima por terem sido injustiçadas ou perseguidas, por defenderam princípios morais e humanitários elevados e se sacrificarem por ideias sublimes. Se, por um lado, foram vencidas, por outro, seus princípios sobreviveram e contribuíram para a evolução da humanidade. Os três, portanto, são tomados como seus mártires, como significação de sua própria experiência pessoal, em seu autoexílio, e da frustração de seus ideais e projetos. Essa interpretação lhe oferecia ainda consolo e resignação, uma sensação de missão cumprida dentro dos designíos do cosmos. No seu entendimento, não havia mais esperança para a evolução do Brasil. Nesse sentido, Rebouças escreveu a Taunay, já na Ilha da Madeira, seu último endereço:

Se, meu querido Taunay, a realidade prática (…) é hoje sonho e ilusão; se não há mais lugar no mísero Brasil para os ideais de Justiça e de Liberdade; de Filantropia e de Caridade; então cumpre matematicamente concluir que não há perdão perante a Justiça Suprema para os crimes atrozes de monopolizar terra - a mais bela terra que Deus há criado - e de escravizar homens - miseráveis, desgraçados e infelizes Africanos, Europeus e Asiáticos. É horrível só o imaginar que o Brasil vai, como as outras Repúblicas da América, passar um século inteiro emendando guerras com revoluções. Misericórdia! Misericórdia! Santo Deus!23 23 FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Alfredo Taunay, 10 set. 1894. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7.

Em seu entendimento, na contramão de sua idealizada evolução, o golpe republicano foi conduzido pelo atraso moral e pelo arcaísmo econômico de uma elite escravocrata, aristocrática, teocrática, latifundiária e militarizada. Para André Rebouças, ao tomar o poder, esse grupo impediu o fluxo de desenvolvimento do cosmos rumo a uma etapa superior da civilização e do progresso do país, pela qual ele havia lutado desde os anos 1870, ao lado de outros intelectuais de sua geração. Assim, ao final de sua vida, frustrado com sua propaganda pitagórica tanto no Brasil quanto no continente africano, ele se mudou para Ilha da Madeira, onde passou os últimos cinco anos de sua vida refazendo seus cálculos.

Considerações finais

Rebouças encarnou, como nenhum outro de nós, o espírito antiescravagista: o espírito inteiro, sistemático, absoluto, sacrificando tudo, sem exceção, que lhe fosse contrário ou suspeito, não se contentando de tomar a questão por um só lado olhando-a por todos, triangulando-a, por assim dizer - era uma de suas expressões favoritas - socialmente, moralmente, economicamente (NABUCO, 1900NABUCO, Joaquim. Minha formação. Rio de Janeiro: Garnier, 1900., p. 234).

André Rebouças afirmou-se e foi reconhecido por seus pares como um pitagórico, em sua forma de pensar a existência humana no planeta como evolução do cosmos, algo que aparece de modo recorrente em seus escritos, entre 1888 e 1893, intrinsecamente ligado à evolução social proposta pelo reformismo dos “novos liberais” desde os anos 1870. A modernização da sociedade seria conduzida pelo Estado com o auxílio de uma vanguarda ilustrada fiel aos princípios monárquicos, em uma aliança capaz de produzir desenvolvimento e progresso da sociedade. Essa visão serviu de base para que ele pudesse projetar e calcular sua propaganda pitagórica, entendida como intervenções morais e materiais na sociedade brasileira e na África, em causas como a abolição da escravidão, da miséria e da herança, a democratização do acesso à terra, a adoção de órfãos, o combate à nudez, a higiene social, entre outras.

As ideias do filósofo grego estão presentes em seus discursos de defesa radical de uma vida conduzida por virtudes morais que, a seu ver, assegurariam, como consequência, a existência de uma sociedade sem guerras, como caminho de evolução, rumo a uma futura fraternidade universal, baseada na caridade e no altruísmo, sempre associados ao cientificismo e ao pensamento liberal dos direitos individuais. A visão pitagórica de evolução moral do cosmo proposta por André Rebouças em sua propaganda como um expoente dos “novos liberais” incorporava também um conjunto de outras ideias que se amalgamavam de modo orgânico e que, embora não caibam nos limites deste artigo, merecem ao menos menção. Nesse sentido, destacam-se: a justiça, o bem e a ética da virtude em Sócrates; o ideal de amor ao próximo, prescrito no evangelho, adquirido sobretudo das leituras de Leon Tolstói (DAIBERT JÚNIOR; MATTOS, 2022MATTOS, Hebe. Ulisses Africano: Modernidade e dupla consciência no Atlântico Sul. In: MATTOS, Hebe (Org.). Cartas da África: Registro de correspondência (1891-1893), André Rebouças. São Paulo: Chão, 2022, p. 315-366.); os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, defendidos pelos revolucionários franceses; o evolucionismo de Charles Darwin que, segundo Rebouças, deu base científica aos “divinos idílios de Pitágoras”;24 24 REBOUÇAS, André. Democracia Católica. Cidade do Rio, Rio de Janeiro, n. 149, 6 jul. 1888, p. 1. uma visão liberal estadunidense adquirida da leitura de Benjamin Franklin, em sua tentativa de conciliação entre o individualismo virtuoso e a construção de uma comunidade moral pacificada e altruísta em sua ética social (CARVALHO, 1998CARVALHO, Maria Alice Rezende. O quinto século: André Rebouças e a construção do Brasil. Rio de Janeiro: Revan; Ed. IUPERJ, 1998., p. 185).

Para André Rebouças, assim como os estudos científicos explicavam as leis de funcionamento do mundo físico (Newton) e as leis de evolução das espécies (Darwin), era preciso conhecer as leis que governavam o funcionamento e as mudanças das sociedades.25 25 REBOUÇAS, André. Abolição da Miséria. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 204, 28 fev. 1889, p. 39-40; REBOUÇAS, André. Instrução Técnica. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 257, 14 maio 1891, p. 449-450. Nesse sentido, ele investia esforços na criação de uma espécie de disciplina denominada Socionomia, formada por esse amálgama de ideias citado acima, em um conjunto teórico capaz de explicar, em bases pitagóricas, as leis de evolução das sociedades, considerando, de modo relacionado, orgânico e triangular, três aspectos: os histórico-sociais, os morais e os econômicos. Em relação a essa proposta, ele chegou a escrever por muitos anos uma Enciclopédia Socionômica, infelizmente desaparecida. Segundo seus registros, esse trabalho teve início em fevereiro de 1885 (REBOUÇAS, 1889REBOUÇAS, André. Orphelinato Gonçalves de Araújo: Lemas e contribuições para a abolição da miséria. Petrópolis: G. Luizinger e Filhos, 1889.) e ainda aparecia como um projeto em andamento nos diários de 1893.26 26 FUNDAJ, Recife. Diário de André Rebouças, 1 jan. 1889. V. 19; IHGB, Rio de Janeiro. Diário de André Rebouças, 1893, Lata 464, manuscrito 7.

Em consonância com as ideias e ações propagadas pelo movimento intelectual e político dos “novos liberais” da geração de 1870, André Rebouças tentou construir e aplicar uma espécie de teoria evolucionista da história, capaz de produzir desenvolvimento e modernização rumo a etapas mais avançadas do estágio civilizatório, com mudanças controladas dentro da ordem, sem apelar para revoluções, baseando-se no potencial da ciência para solucionar questões sociais e políticas (ALONSO, 2002ALONSO, Ângela. Ideias em movimento: A geração de 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002., p. 237-241). As ideias de Pitágoras foram, portanto, acionadas como fundamentos de uma lei de evolução universal para idealização de intervenções sociais por meio de ações políticas reformistas, tanto no Brasil dos anos 1880 quanto em territórios coloniais africanos no início dos anos 1890.

Tratava-se, sem dúvida, de um esforço epistemológico bastante original, em diálogo crítico com o positivismo, com o qual Rebouças guardava certa distância, e com o darwinismo, que lhe servia de inspiração. Suas perspectivas de uma nova ciência voltada para o estudo das leis de evolução da sociedade e ao combate das desigualdades sociais dialogavam sobretudo com as ideias pitagóricas apresentadas neste artigo e também com os princípios cristãos tolstoicos de uma ciência altruísta, produzida em favor de uma solidariedade humanitária (TOLSTÓI, 1887TOLSTÓI, Leon. Que faire? Paris: A. Savine, 1887.).27 27 REBOUÇAS, André. Abolição da Miséria. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 204, 28 fev. 1889, p. 39-40; REBOUÇAS, André. Instrução Técnica. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 257, 14 maio 1891, p. 449-450. Uma hipótese possível que merece investigação futura é que a adesão de André Rebouças ao pitagorismo esteja relacionada aos ambientes de sociabilidade maçônica.28 28 As relações de André Rebouças com o tolstoísmo, o darwinismo, o positivismo e a maçonaria merecem ser investigadas em artigos futuros. Algumas dessas temáticas foram contempladas na pesquisa de pós-doutorado desenvolvida na Universidade Federal Fluminense (UFF) entre junho de 2022 e maio de 2023, intitulada Escrita de si, leituras do outro: Faces de André Rebouças no exílio (1889-1898), sob a supervisão da Profa. Hebe Mattos. Outras, no entanto, serão abordadas a partir dos desdobramentos desse projeto.

Em seus últimos anos de vida na Ilha da Madeira, assim como Pitágoras, André Rebouças permaneceu obcecado pela astronomia e pelo significado místico da coincidência de alguns números em datas, calendários e aniversários de eventos. Como espécie de oráculos sagrados, os números podiam revelar ciclos de evolução e desenvolvimento, tanto moral quanto material das sociedades. Apesar dos projetos frustrados no Brasil e na África, Rebouças manteve sua crença pitagórica em um cosmos em constante evolução moral e material, ordenado matematicamente pela harmonia dos opostos. Nesse sentido, com base nos princípios místico-religiosos-científico-filosóficos do pitagorismo, ele tentou combater a “obsessão Brasileira e Humanitária com a obsessão Matemática”, aguardando e, principalmente, calculando a “Justiça de Deus” sobre o cosmos.

Agradecimentos

Agradeço a Ana Maria Rebouças, sobrinha-bisneta de André Rebouças, pela gentileza em permitir meu acesso ao acervo privado da família Rebouças que contém parte da documentação histórica utilizada neste artigo.

Este texto é fruto de pesquisa que contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

Referências

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  • 1
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  • 2
    FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças para Alfredo Taunay, 19 dez. 1893. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7.
  • 3
    FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Joaquim Nabuco, 19 jul. 1894. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7, grifos meus.
  • 4
    REBOUÇAS, André. Instrução Técnica. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 257, 14 maio 1891, p. 449.
  • 5
    INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB), Rio de Janeiro. Diário de André Rebouças, 15 maio 1888. Lata 164, doc. 6, f. 136.
  • 6
    REBOUÇAS, André. Ave, Libertas! O Paiz, Rio de Janeiro, n. 1.318, 16 maio 1888, p. 1-2.
  • 7
    IHGB, Rio de Janeiro. Diário de André Rebouças, 15 maio 1888. Lata 164, doc. 6, f. 136.
  • 8
    REBOUÇAS, André. Higiene pessoal, higiene pública e higiene internacional. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 180, 28 fev. 1888, p. 40.
  • 9
    REBOUÇAS, André. Higiene pessoal, higiene pública e higiene internacional. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 180, 28 fev. 1888, p. 41.
  • 10
    REBOUÇAS, André. Imposto Territorial. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 208, 28 abr. 1889, p. 110.
  • 11
    REBOUÇAS, André. Higiene pessoal, higiene pública e higiene internacional. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 183, 14 abr. 1888, p. 73.
  • 12
    REBOUÇAS, André. Benjamin Franklin. O Novo Mundo, Nova York, n. 60, 23 set. 1875, p. 299.
  • 13
    REBOUÇAS, André. Imposto Territorial. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 208, 28 abr. 1889, p. 85.
  • 14
    REBOUÇAS, André. Abolição da Miséria. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 197, 14 nov. 1888, p. 241.
  • 15
    FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Antônio Julio Machado, 27 maio 1892. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 4.
  • 16
    FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Antônio Julio Machado, 27 maio 1892. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 4.
  • 17
    ARQUIVO PRIVADO DE ANA MARIA REBOUÇAS (APAMR), Rio de Janeiro. REBOUÇAS, André. Nova Propaganda Abolicionista. Vestir 300.000.000 de Negros Africanos. Prospectus. Moral, Decência e Dignidade para a Família Humana, Cidade do Cabo, 15-16 jan. 1893. Todas as citações textuais a Rebouças feitas neste e nos próximos três parágrafos provêm da mesma fonte.
  • 18
    FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a José Joaquim de Maia Monteiro, 20 dez. 1892. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 5.
  • 19
    FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Alfredo Taunay, 9 fev. 1894; 21 jun. 1894. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7.
  • 20
    FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Alfredo Taunay, 9 fev. 1894. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7.
  • 21
    REBOUÇAS, André. Higiene pessoal, higiene pública e higiene internacional. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 180, 28 fev. 1888, p. 39.
  • 22
    FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Rangel da Costa, 28 dez. 1892. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 5.
  • 23
    FUNDAJ, Recife. Carta de André Rebouças a Alfredo Taunay, 10 set. 1894. Arquivo André Rebouças, Registro de Correspondência, v. 7.
  • 24
    REBOUÇAS, André. Democracia Católica. Cidade do Rio, Rio de Janeiro, n. 149, 6 jul. 1888, p. 1.
  • 25
    REBOUÇAS, André. Abolição da Miséria. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 204, 28 fev. 1889, p. 39-40; REBOUÇAS, André. Instrução Técnica. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 257, 14 maio 1891, p. 449-450.
  • 26
    FUNDAJ, Recife. Diário de André Rebouças, 1 jan. 1889. V. 19; IHGB, Rio de Janeiro. Diário de André Rebouças, 1893, Lata 464, manuscrito 7.
  • 27
    REBOUÇAS, André. Abolição da Miséria. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 204, 28 fev. 1889, p. 39-40; REBOUÇAS, André. Instrução Técnica. Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, n. 257, 14 maio 1891, p. 449-450.
  • 28
    As relações de André Rebouças com o tolstoísmo, o darwinismo, o positivismo e a maçonaria merecem ser investigadas em artigos futuros. Algumas dessas temáticas foram contempladas na pesquisa de pós-doutorado desenvolvida na Universidade Federal Fluminense (UFF) entre junho de 2022 e maio de 2023, intitulada Escrita de si, leituras do outro: Faces de André Rebouças no exílio (1889-1898), sob a supervisão da Profa. Hebe Mattos. Outras, no entanto, serão abordadas a partir dos desdobramentos desse projeto.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2023
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    12 Dez 2022
  • Aceito
    03 Mar 2023
Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antônio Carlos, 6627 , Pampulha, Cidade Universitária, Caixa Postal 253 - CEP 31270-901, Tel./Fax: (55 31) 3409-5045, Belo Horizonte - MG, Brasil - Belo Horizonte - MG - Brazil
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