Resumo
Este texto aborda alianças e conflitos entre brincantes, gestores públicos, jornalistas e literatos envolvidos direta ou indiretamente com grupos de boi bumbá em Belém do Pará nas décadas de 1920 e 1930. Interações positivas ou negativas garantiam visibilidade e repercussão social (pela oposição ou pela exaltação) aos agentes do boi nas folhas jornalísticas e na produção memorialística de literatos, identificados com as manifestações culturais do que chamavam de povo suburbano de Belém. Os cordões de boi tornam-se então, à despeito de juízos condenatórios de membros das elites e da repressão policial, prática legítima de sociabilidade festiva das classes trabalhadoras dos bairros pobres de Belém diante da apreciação pública. Vinculavam-se a essas manifestações matrizes culturais negras evocadoras de temas e tipos sociais amazônicos (caboclos, índios, vaqueiros), ao mesmo tempo, constituídas como atração do mercado suburbano de entretenimento. O artigo investiga as condições da convivência conflituosa interna e externa ao "pessoal do boi", com foco nas tentativas de agentes de segurança pública de coibir a circulação dos grupos pelas ruas da cidade, bem como na proposição de intelectuais de que os bumbás compunham a tradição da cultura regional.
Palavras-chave:
Boi Bumbá; Belém; intelectuais