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A cultura escolar católica da cátedra de Sociologia nos primórdios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

The catholic school culture of the chair of Sociology in the beginning of the state University of Rio Grande do Sul

La culture scolaire catholique de la chaire de Sociologie aux debuts de l'Université de l'état de Rio Grande do Sul

Resumos

Os estudos sobre a institucionalização da Sociologia no Brasil dedicaram-se aos casos centrais como São Paulo e Rio de Janeiro, em suas devidas diferenças. Entretanto, o padrão de institucionalização da Sociologia no Brasil foi a variante regional. Nesses contextos, seus precursores foram representantes das elites que definiram e reproduziram as problemáticas sociais consideradas legítimas. Essa lógica periférica da Sociologia teve no Rio Grande do Sul um caso emblemático. Refere-se ao fato de que a Cátedra de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi consagrada a um representante da geração católica: Laudelino Medeiros. Desse modo, demonstra-se nesse artigo como Medeiros redefiniu seus referenciais católicos dominantes para a Sociologia que ministrou. Contou-se, para tanto, com várias fontes, privilegiando-se aquelas referentes à metodologia levantada da cultura escolar.

Cultura escolar católica; Sociologia; Laudelino Teixeira de Medeiros; Rio Grande do Sul


In Brazil, studies on sociology institutionalization have focused on central cases as those of São Paulo and Rio de Janeiro, and their diff erences. However, the patern of sociology institutionalization varied according to regions. In these contexts, precursors were elite representatives who defined and reproduced the social set of problems considered legitimate. This Brazilian peripheral logic of sociology had an emblematic case in Rio Grande do Sul since the UFRGS's Chair of Sociology is named afer a representative of the catholic generation: Laudelino Medeiros. Thus, this paper shows how Medeiros redefined his dominant catholic sets of reference for the sociology he taught. To do so, he relied on various sources among which he privileged those referent to the methodology raised from school culture.

Catholic school culture; Sociology; Laudelino Teixeira de Medeiros; Rio Grande do Sul


Les études sur l'institutionnalisation de la sociologie au Brésil se sont surtout intéressées aux cas centraux comme São Paulo et Rio de Janeiro, et à leurs différences. Toutefois, le standard d'institutionnalisation de la sociologie au Brésil a eu des variantes régionales. Dans ces contextes, leurs précurseurs étaient des représentants des élites qui ont défini et reproduits les problématiques sociales considérées légitimes. Cete logique périphérique de la sociologie au Brésil a connu un cas emblématique à Rio Grande do Sul. En effet, la chaire de sociologie de l'UFRGS a été confiée à un représentant de la génération catholique: Laudelino Medeiros. Ainsi, cet article montre comment Medeiros a redéfini ses référentiels catholiques dominants pour la sociologie qu'il a enseignée. Pour ce faire, il comptait sur plusieurs sources parmi lesquelles il a privilégié celles sur la méthodologie provenant de la culture scolaire.

Culture scolaire catholique; Sociologie; Laudelino Teixeira de Medeiros; Rio Grande do Sul


ARTIGOS

A cultura escolar católica da cátedra de Sociologia nos primórdios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

The catholic school culture of the chair of Sociology in the beginning of the state University of Rio Grande do Sul

La culture scolaire catholique de la chaire de Sociologie aux debuts de l'Université de l'état de Rio Grande do Sul

Lorena Madruga Monteiro

Doutoranda em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: lorena.madruga@gmail.com

RESUMO

Os estudos sobre a institucionalização da Sociologia no Brasil dedicaram-se aos casos centrais como São Paulo e Rio de Janeiro, em suas devidas diferenças. Entretanto, o padrão de institucionalização da Sociologia no Brasil foi a variante regional. Nesses contextos, seus precursores foram representantes das elites que definiram e reproduziram as problemáticas sociais consideradas legítimas. Essa lógica periférica da Sociologia teve no Rio Grande do Sul um caso emblemático. Refere-se ao fato de que a Cátedra de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi consagrada a um representante da geração católica: Laudelino Medeiros. Desse modo, demonstra-se nesse artigo como Medeiros redefiniu seus referenciais católicos dominantes para a Sociologia que ministrou. Contou-se, para tanto, com várias fontes, privilegiando-se aquelas referentes à metodologia levantada da cultura escolar.

Palavras-chave: Cultura escolar católica. Sociologia. Laudelino Teixeira de Medeiros. Rio Grande do Sul.

ABSTRACT

In Brazil, studies on sociology institutionalization have focused on central cases as those of São Paulo and Rio de Janeiro, and their diff erences. However, the patern of sociology institutionalization varied according to regions. In these contexts, precursors were elite representatives who defined and reproduced the social set of problems considered legitimate. This Brazilian peripheral logic of sociology had an emblematic case in Rio Grande do Sul since the UFRGS's Chair of Sociology is named afer a representative of the catholic generation: Laudelino Medeiros. Thus, this paper shows how Medeiros redefined his dominant catholic sets of reference for the sociology he taught. To do so, he relied on various sources among which he privileged those referent to the methodology raised from school culture.

Key words: Catholic school culture. Sociology. Laudelino Teixeira de Medeiros. Rio Grande do Sul.

RÉSUMÉ

Les études sur l'institutionnalisation de la sociologie au Brésil se sont surtout intéressées aux cas centraux comme São Paulo et Rio de Janeiro, et à leurs différences. Toutefois, le standard d'institutionnalisation de la sociologie au Brésil a eu des variantes régionales. Dans ces contextes, leurs précurseurs étaient des représentants des élites qui ont défini et reproduits les problématiques sociales considérées légitimes. Cete logique périphérique de la sociologie au Brésil a connu un cas emblématique à Rio Grande do Sul. En effet, la chaire de sociologie de l'UFRGS a été confiée à un représentant de la génération catholique: Laudelino Medeiros. Ainsi, cet article montre comment Medeiros a redéfini ses référentiels catholiques dominants pour la sociologie qu'il a enseignée. Pour ce faire, il comptait sur plusieurs sources parmi lesquelles il a privilégié celles sur la méthodologie provenant de la culture scolaire.

Mots-clés: Culture scolaire catholique. Sociologie. Laudelino Teixeira de Medeiros. Rio Grande do Sul.

Introdução

De forma geral, os estudos sobre as Ciências Sociais no Brasil dedicaram-se aos casos centrais de institucionalização como São Paulo e Rio de Janeiro, em suas devidas proporções e diferenças (Almeida, 2001; Miceli, 2001). Entretanto, o padrão do desenvolvimento das Ciências Sociais no Brasil como um todo foi "a variante regional", no que diz respeito "à institucionalização da Sociologia entre as décadas de 1930 e 1950" (Oliveira, 2006, p. 13). Isso se refere diretamente à constatação de que, com exceção do caso da Universidade de São Paulo (USp), a qual contou com professores estrangeiros na formação dos seus primeiros quadros profissionais, todas as outras novas universidades do período recrutaram para assumir as cátedras indivíduos advindos das elites culturais e políticas formados nas escolas superiores existentes, como as de Direito, de Medicina e de Engenharia.

Nesses contextos, a Sociologia considerada científica não surgiu espontaneamente, seus precursores não foram sociólogos, mas sim representantes das elites culturais e políticas, estabelecidas no espaço social, que reproduziram os conhecimentos socialmente aceitos da época e definiram "as problemáticas consideradas legítimas" (Bourdieu, 1979, p. 465). Uma das críticas feita por Ramos (1954, p. 47) ao ensino da Sociologia brasileira dirigiu-se nesse sentido, pois:

Aqui as Cátedras de Sociologia não surgiram para consagrar uma tradição militante de trabalho pedagógico, como é regra em todos os países avançados. As cátedras aparecem de modo intempestivo e foram providas, inicialmente, mais ou menos, por pessoas que, no momento, ou eram diletantes, quando muito; ou desconheciam completamente os estudos de sociologia.

Essa lógica periférica dos primórdios do desenvolvimento da disciplina de Sociologia no Brasil teve, no estado do Rio Grande do Sul, um caso emblemático. Refere-se ao fato de que a Cátedra de Sociologia, da Universidade Federal do Rio Grande de Sul (UFRGS), foi consagrada a um representante da chamada geração católica: Laudelino Teixeira de Medeiros. A geração católica, como ficou conhecida após o estudo pioneiro de Fernando Trindade (1982), alude a um grupo de católicos, advindos do Ginásio Anchieta dos jesuítas alemães e da congregação mariana Mater Salvatoris, que, estrategicamente, conquistou o controle das cátedras de caráter humanístico dessa nova universidade que surgia.

Objetivou-se, nesse artigo, a partir da análise da trajetória de Medeiros e do seu relacionamento com o catolicismo, demonstrar qual foi a Sociologia que defendeu como válida naquele contexto, uma vez que há "uma estreita relação entre o tipo de capital de que dispõem os diferentes pesquisadores e a forma de Sociologia que eles defendem como a única legítima" (Bourdieu, 1990, p. 50). Com tal intuito, analisou-se como a Sociologia ministrada por Medeiros foi sendo construída no Colégio Universitário, que Sociologia ele apresentou como legítima na Faculdade de Economia e Administração, e aquela utilizada para a formação dos professores na Faculdade de Filosofia. Especificamente, demonstra-se como redefiniu ou modificou seus referenciais ideológicos católicos dominantes para a Sociologia que ministrou e para aquela que apresentou como científica. Acredita-se, assim, contribuir, por meio da análise do seu itinerário docente, para a história da disciplina de Sociologia e para os estudos sobre a institucionalização das Ciências Sociais no Brasil.

Contou-se, para tanto, com uma diversidade de fontes pesquisadas no arquivo Laudelino Teixeira Medeiros, do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS), no acervo Fernando Trindade, localizado no Grupo de Pesquisa em Ciências Sociais na América Latina (UFRGS), e no fundo Laudelino Teixeira de Medeiros, da Universidade de Caxias do Sul.1 1 . Agradeço ao professor Hélgio Trindade por ter colocado à disposição o acervo das pesquisas de Fernando Trindade e dado acesso aos documentos e entrevistas do Grupo de Pesquisas em Ciências Sociais da América Latina (CISOAL). Também agradeço ao IHGRGS, especialmente ao seu diretor, Gervásio Neves, por ter permitido o acesso ao acervo de Laudelino Medeiros, e à Biblioteca Central e ao Centro de Documentação (CEDOC) da UCS pela atenção dos seus arquivistas, que tornaram possível a digitalização dos documentos do fundo Laudelino Medeiros. Entre as fontes levantadas para esta análise, privilegiou-se aquelas referentes à perspectiva metodológica levantada pelos estudos da cultura escolar, que se define como:

(...) um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos, normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização). (Julia, 2001, p. 10)

Portanto, além da reconstrução do itinerário do primeiro catedrático de Sociologia da UFRGS, utilizaram-se, na análise da afirmação da cultura escolar católica nos primórdios desta Universidade, os produtos das práticas escolares, sejam os manuais didáticos, os currículos, as súmulas das disciplinas, enfim, todas as fontes que revelaram as estruturas dos saberes daquele período histórico (Chervel, 1990).

Laudelino Teixeira de Medeiros e a Geração Católica

Laudelino Teixeira de Medeiros, embora integrando a Geração Católica, teve uma formação diferente do grupo, que vinha do Colégio Anchieta diretamente para os tradicionais cursos de Direito, Medicina e Engenharia. Nascido em Dom Pedrito, em 1914, não estudou no Ginásio Anchieta, mas sim no Ginásio Municipal de Santa Maria. Nesta escola integrou o grupo da congregação mariana Mater Divinae Gratiae. Portanto, apesar do caráter de curso técnico deste Ginásio mantido pelos Irmãos Maristas, teve uma formação intelectual e religiosa similar aos melhores colégios católicos. Em 1933, então com 19 anos, Laudelino transferiu-se para a capital do Estado, a fim de prosseguir seus estudos, e incorporou-se ao grupo católico de Porto Alegre. Conforme seu depoimento:2 2 . Depoimento de Medeiros sobre a Geração Católica, concedido a Fernando Trindade (1980).

Eu já era da Congregação Mariana no ginásio em Santa Maria, mas quando me transferi para Porto Alegre, eu vim residir na Independência, 482, onde havia certa pensão para estudantes, organizada e patrocinada pela congregação Mariana. Inclusive conhecida como pensão do Padre Werner, e o padre Werner ficava brabo, dizia que não tinha pensão é a casa "Mater Salvatoris". De fato, continuei minha vida de congregado na Congregação e lá eu pude conviver com congregados [sic] de várias áreas, e esse convívio, inclusive, foi muito salutar para mim, porque eu tinha feito um curso secundário que foi razoavelmente bom, porque o ginásio de Santa Maria era um dos melhores da época, apesar de ser dos irmãos Maristas e era ensino médio. Tanto que meu primeiro contato com a Universidade foi através da Congregação Mariana, eu tive toda a influência dessas boas cabeças que estavam por lá e, sobretudo da orientação pessoal de padre Werner.

Essas boas cabeças, a que se refere Laudelino, estavam cursando Direito, Engenharia ou Medicina, e ele teve uma formação diferente, já que era acadêmico de Administração e Finanças da Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas de Porto Alegre. Formou-se nesta instituição em 1936. Após isso, de 1937 a 1938, foi professor contratado para a disciplina de Técnica Comercial e Processo de Propaganda na mesma Faculdade. Portanto, formou-se em Ciências Econômicas, em 1936, um curso que não estava dentro das profissões de prestígio social do período, mas foi essa titulação que lhe deu as condições de trabalho e, consequentemente, suporte financeiro para se estabelecer na capital e dar cabo do curso de Direito, este sim mais ligado à formação da elite católica.

O seu discurso como orador da turma de 1936, intitulado Rumos de pensamento à juventude, revela seu engajamento no grupo dos jovens católicos, bem como mostra suas disposições teóricas e práticas com a ampliação de seus conhecimentos em economia que adquirira na Escola e o uso que fez desses conhecimentos. Além das formalizações típicas desse tipo de documento, Medeiros (1937) fez uma crítica à modernização, principalmente econômica, ou seja, ao utilitarismo econômico e ao individualismo. No entanto, não é uma crítica em termos do efeito social dessas práticas e teorizações, mas focaliza-se na perda da vida espiritual. Para tanto, ele utiliza-se de alguns autores, como Thomas de Aquino e Alceu Amoroso Lima, para definir, a partir deste último, que o processo moderno consistiu "numa sacralidade decrescente e economismo ascendente" (Medeiros, 1937, p. 10).

Assim, a crítica específica de Medeiros (op. cit., p. 12) dirigia-se ao fato que "a Economia passou a ser uma ciência natural, sem relação alguma com a ética", e, desse modo, a moral fora excluída da atividade humana, ao exemplo da dominância no mundo social da ideia de lucro, na qual "o homem passou a existir para a produção e não a produção para o homem" (p. 13). Diante desta situação, Medeiros (op. cit., p. 14) sugeria que exista uma reação que busca o renascimento de uma filosofia integral da vida. Para ele, a reforma da economia começará em seus princípios, porque:

Passará de Ciência natural que pretendeu ser, ao verdadeiro conceito de ciência moral. A economia é um ramo das Ciências Sociais e o seu fundamento é o homem e não a natureza. E, portanto, deverão seus princípios ser coordenados pelas leis da ética. De economia de produção, que estava sendo, passará a economia de consumo. Isto é, o fim de toda atividade econômica não será o de produzir cada vez mais para conseguir maior lucro; mas, produzir com o fim de satisfazer o consumo, orientando-se pelo bem comum e pelo bem moral.

Portanto, esta é a finalidade da economia cristã, ou seja, é uma redefinição do saber econômico, baseada em preceitos morais de autores como Amoroso Lima, Thomas de Aquino e Salvador Minguijón, todos fora do universo do conhecimento econômico, elaborada para fins práticos, como demonstra o final do discurso:

E quando amanhecer o dia do fim desta noite de séculos, teremos tido a glória de haver levantado debaixo deste céu e por cima do solo da América a maior civilização espiritual, de beleza, de ciência e de fé, que o historiador de todos os povos haverá de chamar a grande IDADE NOVA. (Medeiros, op. cit., p. 19)

Em 1937, Medeiros entrou na Faculdade de Direito, no momento em que seus colegas do movimento católico já haviam se formado. Em 1941, formou-se, então, neste curso. Contudo, naquele momento, ele estava com 27 anos, mas fazia parte da nova geração católica, sendo formado pela geração anterior que já havia conquistado as cátedras das faculdades existentes.

A (in)definição da Sociologia: a docência nas primeiras iniciativas escolares

Sua trajetória como docente na Universidade começou em 1938, ainda estudante de Direito, quando assumiu o curso de Sociologia no Colégio Universitário. Os cursos complementares, chamados de pré-médico, pré-jurídico e pré-técnico, realizados no Colégio, eram destinados aos candidatos ao ingresso nos cursos de Engenharia, de Medicina e de Direito. O ensino de Sociologia no Rio Grande do Sul esteve presente nesses cursos preparatórios de 1931 até 1942, já que seu conhecimento era um dos requisitos para o exame de admissão da Universidade. No Brasil, a Sociologia nos cursos preparatórios, bem como seu ensino nas Escolas Normais foram os primeiros esforços de institucionalização da área, especialmente favorecida pela reforma educacional de 1931.

No momento que Medeiros assumiu a docência de Sociologia no Colégio Universitário, começava a vigorar a Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1937, a qual excluiu o ensino de Sociologia obrigatório das escolas secundárias. Dessa forma, até 1942, com sua extinção definitiva, a matéria era ministrada no Rio Grande do Sul apenas neste Colégio e na Escola Normal. Depois, passou a constar apenas no currículo desta última e, a partir de 1943, na cátedra de Sociologia da Universidade.

A cadeira de Sociologia do Colégio Universitário, no ano de 1942, funcionava em condições precárias. Medeiros contava com 307 alunos distribuídos nas diversas sessões, possuía como material de ensino um mapa sobre a distribuição das raças, além de mapas demográficos e tabelas de dados estatísticos construídos pelos próprios alunos. Ele preparava os futuros ingressantes da Universidade a partir dos manuais de Sociologia listados no programa fixo, como o de Amaral Fontoura e os de Amoroso Lima.3 3 . Resposta ao questionário formulado à Cadeira de Sociologia, de 10 de junho de 1942, encontrado no acervo do CEDOC/ UCS, em Caxias do Sul. Sabe-se que a proliferação de manuais de Sociologia católica na década de 1930 fez parte da estratégia da elite católica de redefinir a Sociologia científica nos termos dos dogmas cristãos, uma vez que,

Afirmando a ilegitimidade da Sociologia e retirando-a do domínio do positivismo, Amoroso Lima acaba de identificar um campo de possibilidades para uma nova definição da disciplina. Em verdade ele acena com a possibilidade de compatibilidade entre os pressupostos cristãos e a reflexão racional acerca da vida social inspirado em autores como Le Play e Jacques Maritain. (Meucci, 2000, p. 40)

Ao analisar seus cadernos de aula do Colégio Universitário,4 4 .Curso do ano de 1941, localizado no acervo do CEDOC/ UCS. além da Sociologia de orientação católica, trabalhou com orientações diversas da Sociologia. Por exemplo, no curso pré-médico contrastava o conceito de Fato Social, de Durkheim, com a interpretação de Amoroso Lima e de Valdour. Nesta direção, no curso prémédico,5 5 . Medeiros não assumiu o pré-jurídico porque era aluno de Direito na Universidade. em sua aula6 6 . Aula do ano de 1943, sem data, localizada no CEDOC/ UCS. sobre a definição da Sociologia, utilizou-se da concepção de Osborn e Neumeyer (1936, p. 366), para quem ela é "é o estudo dos processos e produtos da vida humana associativa, manifestados nas relações interativas dentro dos grupos sociais", juntamente com o código de Doutrina Moral Cristã de Malinas, de 1927, da União Nacional de Estudos Sociais, o qual definiu como objeto da sociologia todas as "manifestações da vida social, tais como são e tais como deveriam ser" e sua finalidade consiste em "determinar as leis que presidem a sua evolução e de estabelecer as regras práticas a que convém submeter às relações sociais para harmonizá-las com o destino humano". Desta maneira, ao misturar preceitos morais, filosóficos, e supostamente científicos, ampliava o campo da sociologia na defesa do que considerava seu fim prático: o progresso social. Portanto, apesar do currículo da Sociologia no Colégio Universitário ser fixo, as obras representativas da Sociologia católica foram dominantes nas aulas de Laudelino Medeiros.

Quando o Colégio Universitário foi incorporado ao Colégio Júlio de Castilhos, Medeiros passou a lecionar nele História do Brasil e Problemas Brasileiros, por dois anos. Encontramos apenas uma sugestão7 7 . Localizado no acervo do CEDOC/ UCS. de atividades para comemorar a Semana da Pátria no curso de Problemas Brasileiros do Colégio Júlio de Castilhos. A atividade referia-se a apresentação de uma obra dos seguintes autores: Alberto Torres, Felix Contreiras Rodrigues, Alceu Amoroso Lima, Euclides da Cunha, Oliveira Vianna e Ovídio da Cunha. De todo modo, esse primeiro momento de sua docência preparava os futuros engenheiros e médicos com um conhecimento sociológico eclético, meio indefinido em seus objetivos, prevalecendo as grandes interpretações do Brasil, assim como os temas da sociologia cristã.

A Sociologia na Universidade: seu surgimento e desenvolvimento na Cátedra da Faculdade de Economia e Administração

A Sociologia inicialmente foi incluída na secção de Psicologia e Lógica da Escola de Comércio. Esta escola foi fundada em 1909 e incorporada, em 1934, à Universidade de Porto Alegre como Escola Superior de Comércio. Posteriormente, foi transformada, pelo Decreto-Lei n. 789, em Faculdade de Economia e Administração. Como citado anteriormente, Medeiros prestou concurso para a Escola de Comércio em 1938, sendo efetivado em 1942.

A Faculdade de Economia e Administração, em 1945, incorporou na estrutura acadêmica existente da antiga Escola Superior de Comércio dois novos cursos: Ciências Econômicas e Ciências Contábeis e Atuariais. E assim, no curso de Ciências Econômicas, Medeiros ministrou sucessivamente duas disciplinas do último ano: Estudo Comparado dos Sistemas Econômicos, de 1946 a 1961, e Princípios de Sociologia Aplicados à Economia, de 1954 a 1960. Anteriormente, porém, exerceu a docência na disciplina de Sociologia Geral e Sociologia Econômica, de 1942-1953, no curso de Administração e Finanças.

Encontram-se muitas súmulas da disciplina de Sociologia Geral, dispersas nos acervos pesquisados, mas a do ano de 1947 pode ser considerada a mais completa entre as consultadas. Nela aparece uma preocupação com a pesquisa científica, uma vez que incluiu a discussão de técnicas de pesquisa e demografia especialmente centradas no caso do Brasil e do Rio Grande do Sul. Já na disciplina de Sociologia Econômica, do Curso de Administração e Finanças, a temática abordada foi ampliada especialmente a partir de 1951. Medeiros incluiu uma discussão sobre sociedade e multidão, no contexto da administração federal populista de Vargas. Interessante que Medeiros não opôs sociedade às massas, como a Sociologia sistematizada por católicos compreendia essa dinâmica (Fontoura, 1943), mas sim à multidão. Assim como, nesses programas, aparece mais claramente uma preocupação de Medeiros com a reprodução de métodos de pesquisa social, acabando por definir sua orientação teórica: Le Play e Jacques Valdour. Ambos não estavam ligados aos sistemas universitários modernos, o que demonstra que a tradição da leitura da realidade social nem sempre foi construída no ambiente acadêmico, muito menos foi desenvolvida nos moldes cientificistas, mas foram tradições que se desenvolveram em torno de grupos que criaram certas instituições e, desse modo, deram continuidade a certas linhas de pensamento, que posteriormente defrontam-se, desaparecem ou são reatualizadas no processo de institucionalização da Sociologia como disciplina acadêmica (Lepenies, 1996).

Portanto, Medeiros reatualizou essas orientações ligadas ao catolicismo francês, ambas das enquetes sociais, especialmente sobre os operários. No entanto, mesmo que os historiadores da Sociologia considerem a escola de Le Play como precursora da Sociologia empírica, conforme Karady (1976), não há nenhuma continuidade histórica entre os empreendimentos de Le Play e as práticas científicas posteriores. Destaca-se que a "Escola sintética e geográfica de Le Play" estava dentro do conteúdo sociológico sistematizado por Sorokin (1928). Logo, foi este o manual amplamente utilizado por Medeiros na maioria dos cursos de Sociologia e classificado por Levine (1997) como de tradição pluralista. Portanto, embora outras orientações ainda estivessem obscuras nos cursos ministrados por Medeiros, o fato social de Durkheim, a classificação da Sociologia entre as ciências de Comte, o método de Le Play e o de Valdour prevaleceram em seus cursos.

A partir de 1946, Medeiros assumiu disciplinas do Curso de Ciências Econômicas, especialmente a de Estudo Comparado dos Sistemas Econômicos (1946-1961) e a de Princípios de Sociologia Aplicados à Economia (1954-1960). Os primeiros anos reproduzidos nos programas8 8 . Consultados no acervo Laudelino Medeiros do IHGRS. desta última disciplina são muitos similares àqueles das disciplinas do curso de Administração e Finanças, só diferindo-se a partir de 1957. Um dos fatores explicativos dessa mudança foi a criação do Centro de Pesquisas Econômicas (CEpE), em 1953.

O IEPE foi criado quando a Universidade estava sendo federalizada, com o objetivo de: 1) realizar pesquisas na área de economia nacional e regional; 2) proporcionar o aperfeiçoamento dos economistas e dos professores; 3) exercitar os alunos na investigação científica, complementando o ensino do FCE; e 4) cooperar com a administração pública e entidades privadas. Foi nesse contexto, na Divisão de Pesquisas do IEPE, que se criou a Secção de Estudos Sociais, coordenada por Medeiros, a qual agregou alunos, colaboradores, assistentes e pesquisadores no intuito de realizar científicas.

Nesta disciplina, alguns temas novos foram incluídos a partir dos programas de 1957, como a planificação regional, e de 1960, como o padrão de vida familiar. É claro que esses temas estão relacionados com as pesquisas desenvolvidas no IEPE, especialmente nos anos de 1960, pois, juntando os dados das sucessivas pesquisas sobre o padrão de vida do operariado (1954, 1960, 1970, 1983), foi possível posteriormente construir índices de preço ao consumidor (Massina, 2003).

A disciplina de Estudos Comparados dos Sistemas Econômicos foi a primeira cadeira assumida por Laudelino Medeiros no curso de Ciências Econômicas, criada pelo Decreto estadual n. 1757, de 29 de outubro de 1946. Como o seu nome indica, o objetivo da disciplina consistiu no estudo dos sistemas econômicos presentes no mundo pós-guerra. A contribuição da Sociologia nesse sentido, numa disciplina estritamente econômica, foi relacionar uma série de aspectos do mundo social com os sistemas econômicos, como: a cultura, as instituições, as comunidades. Portanto, ao analisar as súmulas, o papel da Sociologia e de seu catedrático foi incluir a discussão dos princípios não econômicos na constituição dos sistemas econômicos. Essa imbricação da Sociologia na Economia, ou socialização da Economia, foi descrita por Medeiros em 1952, no artigo intitulado "A Sociologia Econômica e a formação dos economistas", no qual demonstra que:

A economia, ao elaborar a teoria econômica, não pode ignorar a realidade propriamente social, sobre a qual, ou na qual, existem os fatos econômicos. Em primeiro lugar, as instituições econômicas - pontos de partida ou de amarra das relações econômicas - são instituições sociais e muitas vezes organizações societárias: a empresa, o mercado, o costume regulador, a divisão profissional do trabalho etc. É necessário, pois, que a Sociologia informe sobre a natureza e a resistência desses materiais. De outro lado, os fatos econômicos não se comportam da mesma maneira em todos os meios sociais indiscutivelmente. E, por fim, a ordem econômica, o sistema econômico, não é senão um aspecto da polimórfica realidade social. E a ordem econômica, encarada do ponto de vista teleológico, existe para a organização social; para que, sendo boa (a ordem econômica), também sob este aspectoa ordem social propicie o bem comum. É claro que uma boa ordem social deve assegurar uma boa ordem jurídica, uma boa ordem política, uma boa ordem social-recreativa e social-religiosa, uma boa ordem educacional e, também, uma boa ordem econômica. Portanto, é ainda uma vez manifesta a contribuição da Sociologia à Economia, quando se elabora a teoria econômica, ao fornecer conclusões, supostos sociais e princípios. (Medeiros, 1952, p. 700-701)

A importância da análise dos princípios sociais no estudo de sistemas econômicos e na formação de especialista em Economia é reiterada por Medeiros (op. cit., p. 701):

Mais evidentes se tornam as relações da Sociologia com a Economia ao se examinar a política e a técnica econômica. A política econômica é o conhecimento dos meios necessários e eficazes para que seja conduzido um sistema econômico, admitidos os conhecimentos oferecidos pela teoria e doutrinas econômicas. A elaboração desse conhecimento da política não pode deixar de lado os ensinamentos da sociologia sobre a natureza e o mecanismo da vida social, sobre os objetivos gerais da sociedade, aos quais se deve ajustar o objetivo particular econômico. E o mesmo ocorre com a técnica econômica. Esta já não é a elaboração de um conhecimento, mas um fazer. E a maneira de realizar isso, diante das situações concretas individualizadas, a política econômica adotada. E então é indispensável o conhecimento da realidade com a qual se está trabalhando - a sociedade -, para o que é necessário recorrer à sociologia.

Medeiros escreveu esse artigo em 1952, um ano após a profissão de economista ser reconhecida. Na análise das súmulas e provas da disciplina, anteriormente a 1954, e após, até 1960, a relação da realidade social com a econômica ainda é representativa nos pontos trabalhados, mas a partir de 1960 a teoria econômica prepondera. Isso é representativo do processo de institucionalização e profissionalização do economista, que, especialmente a partir da década de 1960, proliferaram-se programas de pós-graduação da disciplina no Brasil. No entanto, no Rio Grande do Sul, a expansão do ensino com a criação da pós-graduação ocorreu juntamente com a Sociologia, no curso de mestrado em Economia e Sociologia Rural, de 1963. Essa vinculação da Economia com a Sociologia Rural, objetivada na criação do primeiro curso de pós-graduação dessa área de pesquisas foi decorrente das atividades de pesquisa e intercâmbios acadêmicos desenvolvidos no IEPE.

Desde o final da década de 1950, o IEPE recebeu apoio da Fundação Rockfeller e da Fundação Ford para seu desenvolvimento institucional, assim como da Fundação Getúlio Vargas (FVG), do Conselho Nacional de Economia, e do Instituto Roberto Simonsen. Com esses recursos financeiros, a Instituição pôde, além de desenvolver pesquisas, aperfeiçoar o seu pessoal técnico através da formação qualificada de seus pesquisadores e alunos, tanto no Brasil quanto no exterior. Uma das iniciativas nesse sentido foi o intercâmbio acadêmico firmado entre a secção de estudos rurais do IEPE com a Universidade de Wisconsin (EUA), iniciado em 1961, que resultou na realização do curso de aperfeiçoamento em Economia Rural, realizado em 1962, uma espécie de embrião do mestrado em Economia e Sociologia Rural.

O curso de mestrado em Economia e Sociologia Rural foi criado em 1963 e desmembrado, em 1965, como Economia Rural e Sociologia Rural. Desse modo, o estudo da Economia pura propriamente dita surgiu posteriormente em 1971, com a criação de um curso de pós-graduação específico de Ciências Econômicas. Portanto, o desenvolvimento da Sociologia Rural foi favorecido pelos empreendimentos da secção de estudos rurais do IEPE, especialmente pela cooperação internacional de formação e recomposição dos quadros docentes. Por ter sido uma área precursora, foi hegemônica, inclusive, quando surgiu o curso de Ciências Sociais (1959) e o Centro de Estudos Sociais (1961), muitos dos especialistas do IEPE, formados ou não no exterior, foram aproveitados no corpo docente da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, especialmente pelo apoio de Laudelino Medeiros, que ainda dispunha de alguma influência na Universidade.

Na década de 1970, Medeiros pediu aposentadoria dos cursos de Ciências Econômicas e Ciências Sociais.9 9 . Conforme Medeiros [Ofício], 21 de agosto de 1972, Porto Alegre [para] Reitor UFRGS Ivo Wolff , Porto Alegre. Correspondência consultada no acervo do IHGRS. No entanto, desde a criação do Centro de Estudos Sociais, em 1963, na Faculdade de Filosofia, ele já estava afastado da Faculdade de Ciências Econômicas, especialmente com a extinção da secção de estudos sociais do IEPE, mas manteve-se até a década de 1980 no curso de pós-graduação em Sociologia Rural. De todo modo, após a reforma universitária de 1968, Medeiros ficou numa situação indefinida nos novos departamentos de ensino, porque não era mais o catedrático, tendo que disputar espaços de atuação com outros professores, com formação distinta, o que, de certa forma, explica seu pedido de afastamento da Universidade. Todavia, a particularidade da cátedra de Sociologia no Rio Grande do Sul é o fato dela ter surgido na Faculdade de Ciências Econômicas e não na Faculdade de Direito, como foi o padrão na Sociologia de Cátedra latino-americana (Azevedo, 1956).

A Cátedra de Sociologia na Faculdade de Filosofia e sua inserção na formação de professores

Na condição de catedrático de Sociologia da Faculdade de Economia e Administração, Medeiros assumiu a Sociologia na Faculdade de Filosofia. Primeiramente, foi designado para reger a cadeira de História do Brasil, já que naquele momento a Sociologia estava ao encargo do reitor Edgar Schneider. Em 1944, com a nomeação de Dante de Laytano para essa disciplina, Medeiros assumiu a Sociologia.

As disciplinas ao encargo do catedrático foram Sociologia e Fundamentos Sociológicos da Educação. A primeira era ministrada, conforme o currículo nacional padrão da Universidade do Brasil, no segundo ano de Filosofia e no primeiro ano do curso de Pedagogia. A segunda disciplina constava no currículo do segundo ano do curso de Pedagogia e no primeiro e único ano do curso de Didática. Portanto, nesse primeiro momento, a Sociologia da Faculdade de Filosofia teve como objetivo a formação de professores.

Quando assumiu a disciplina de Sociologia do curso de Filosofia, em 1944, reproduziu em suas primeiras aulas a sociologia sistematizada por Amoroso Lima, no seu manual Preparação à Sociologia. A Sociologia proposta por Amoroso Lima, e seguida nos primeiros cursos de Medeiros, defende uma Sociologia finalista e integral. Nessa perspectiva, a Sociologia aparece como a "ciência que tem por objetivo os fatos sociais e por fim o progresso coletivo" (Athayde, 1932, p. 83). Assim, esta sociologia com pretensão científica estaria a serviço de fins práticos e, por isso, finalista, que seria a recristianização da sociedade.

A partir dos programas da disciplina de Fundamentos Sociológicos da Educação ministrada no curso de Pedagogia, Didática e Filosofia, pode-se analisar que tipo de sociologia Medeiros defendia como legítima nesse primeiro momento na Faculdade. As aulas ministradas versavam sobre os seguintes pontos da sociologia educacional: a escola, a comunidade, a família, as classes sociais, as profissões, as elites, o papel do Estado, a Igreja, a tradição, o progresso social, as doutrinas políticas, o crime, o alcoolismo etc. Para dar conta desses pontos, a relação bibliográfica não era muito extensa, mas a predileção foi por representantes de uma Sociologia cristã, ou Pedagogia cristã, como as obras de Lúcio José dos Santos, de Alceu Amoroso Lima, Jacques Maritain, Etiene Gilson e Pio XI.

Com efeito, a disciplina de Fundamentos Sociológicos da Educação era, tendo em vista a clientela a que se destinava - futuros professores da rede secundária de ensino - o curso ideal para a propagação dos ideais católicos. As atividades de pesquisa, nessa disciplina e na disciplina de Sociologia do curso de Pedagogia, foram realizações de inquéritos pelos alunos sobre o nível cultural da empregada doméstica, ou a cultura na camada social das domésticas, ou análises históricas sobre uma determinada rua de residência urbana de Porto Alegre.10 10 . Todos esses trabalhos estão localizados no acervo Laudelino Medeiros, do CEDOC/ UCS. Portanto, a prática de pesquisa consistiu numa espécie de figuração, não sendo o objetivo real desses cursos, que foi a formação intelectual dos futuros professores, especialmente para a rede católica de ensino.

Em outra perspectiva, discorria-se sobre a Sociologia na América Latina e no Brasil. Nesse sentido, apenas para citar os manuais brasileiros de Sociologia, indicase três interpretações distintas da Sociologia no Brasil, como a de Gilberto Freyre, a de Donald Pierson, e a de Guerreiro Ramos. De fato, Medeiros não se posicionou em relação ao debate dos anos de 1950 entre a Sociologia considerada científica e, deste modo, universal, defendida pelo grupo da USp e da Escola Livre de Sociologia e Política (ELSp), representados por Florestan Fernandes e Fernando Azevedo, e a possibilidade de uma Sociologia nacional, a qual preconizava Guerreiro Ramos. De todo modo, sua interpretação da Sociologia no Brasil estava distante da dicotomia entre tradição ensaística versus cientificista, porque a questão nem se colocava nesses termos para ele, que se preocupava em determinar os precursores dos estudos sociais no Brasil, como Gilberto Freyre e Oliveira Vianna.

A ênfase nos estudos sociais foi predominante nos conteúdos de suas aulas na Faculdade de Filosofia, desde a década de 1940. Logo, Alberto Torres, Thales de Azevedo, Almir de Andrade e Oliveira Vianna foram referências importantes. Além dos estudos sociais, os programas mantiveram uma matriz básica de temas e orientação. A matriz foi a Sociologia de orientação moral e as temáticas discutidas estavam dentro do universo do grupo católico desse período, como as questões que envolviam o divórcio, a família, o perigo da modernidade e o anticomunismo.

No entanto, há dois pontos essenciais nos programas. O primeiro é o que trata da demografia e o outro, da sociologia rural. Foram exatamente esses temas que orientaram as preocupações teóricas e práticas de Medeiros, que se traduzem no processo de urbanização no Rio Grande do Sul, na questão das vilas e malocas em Porto Alegre, no problema das migrações internas no estado e na educação em áreas rurais neste estado. Portanto, apesar de ele ter sido mais o catedrático que ministrava aulas, ou seja, o docente, do que um pesquisador no sentido estrito do termo, apresentaria um tipo de Sociologia em suas primeiras pesquisas que pode revelar uma espécie de tradição sociológica, que marcaria o surgimento do curso de Ciências Sociais na UFRGS, criado apenas em 1959.

Dessa forma, as análises demográficas e populacionais estiveram presentes tanto nas disciplinas da Faculdade de Ciências Econômicas como na de Filosofia. Nas suas provas, pedia que os alunos dissertassem sobre as causas do surgimento das vilas e malocas como um fato social habitacional e as causas do crescimento da população, assim como sobre a complexidade social de certas regiões e cidades. É importante destacar que suas preocupações em relação às questões demográficas foram anteriores ao boom dos estudos demográficos na América Latina, especialmente na década de 1970, quando a explosão demográfica era considerada um entrave ao desenvolvimento social e econômico, especialmente nos governos autoritários.

No entanto, ainda que seu interesse temático fosse anterior, Medeiros seguiu o desenvolvimento desse campo de estudos com a pesquisa sobre as migrações internas e, posteriormente, quando assumiu a disciplina de Sociologia do Desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Sociologia Rural. Portanto, é o aspecto populacional a característica das aulas e das preocupações científicas de Medeiros, e essa é sua ligação com desenvolvimento das Ciências Sociais em outros centros brasileiros, como o Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais (CLApCS), através de sua Comissão de População e Desenvolvimento.

Considerações finais

A Sociologia que Laudelino Medeiros apresentou em sua trajetória docente foi reproduzida de formas distintas. Por um lado, em relação ao publico a que se destinava e, por outro, levando em consideração o contexto político e social do mundo e do Brasil. Dessa maneira, em todos os cursos houve, inicialmente, um esforço de definir o que era a Sociologia e sua classificação no campo das ciências. Nesse sentido, seguiu a tendência do ensino da Sociologia no Brasil, reproduzido nos manuais de conteúdos sociológicos sistematizados, surgidos após 1930, quando a Sociologia foi incluída nos cursos secundários e normais (Meucci, 2000).

Com efeito, se pudéssemos eleger um autor privilegiado nas aulas de Medeiros, este seria Alceu Amoroso Lima. Mesmo nas aulas do curso de Economia e no de Administração, onde a Sociologia de Laudelino teve outro enfoque, as questões levantadas nos manuais de Amoroso e aquelas que, de um modo geral, fizeram parte do universo católico do período, como autoridade e hierarquia, individualismo e despersonalismo, moral do trabalho, a propriedade privada, a classe média etc., estiveram presentes. Juntam-se a estas os outros temas trabalhados nos cursos de Pedagogia, Didática e Filosofia, como: o divórcio, o alcoolismo, o crime etc. Portanto, sua definição da Sociologia seguiu a orientação cristã, especialmente nos cursos de formação de professores, uma vez que preparavam os quadros para a rede secundária de ensino, especialmente para a católica.

Por outro lado, ao contrário da maioria dos sistematizadores do conteúdo sociológico identificados com essa corrente de definição cristã da Sociologia, Medeiros preocupou-se com os métodos de investigação. Dessa forma, nos cursos da Faculdade de Economia, Medeiros privilegiou os temas que constituíam seu interesse de pesquisa, como os problemas populacionais urbanos e, noutro extremo, as comunidades rurais. Nos cursos da Faculdade de Filosofia, o catedrático preocupou-se na formação intelectual e cultural dos futuros professores, por meio de uma Sociologia orientada moralmente para o diagnóstico dos problemas sociais, especialmente na comunidade escolar, e consequentemente para o progresso social da humanidade.

Notas

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Recebido em setembro de 2009.

Aprovado em janeiro de 2010.

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  • WILLEMS, E.; BARRETO, R. Leituras sociológicas. Sociologia, São Paulo, 1940.
  • 1
    . Agradeço ao professor Hélgio Trindade por ter colocado à disposição o acervo das pesquisas de Fernando Trindade e dado acesso aos documentos e entrevistas do Grupo de Pesquisas em Ciências Sociais da América Latina (CISOAL). Também agradeço ao IHGRGS, especialmente ao seu diretor, Gervásio Neves, por ter permitido o acesso ao acervo de Laudelino Medeiros, e à Biblioteca Central e ao Centro de Documentação (CEDOC) da UCS pela atenção dos seus arquivistas, que tornaram possível a digitalização dos documentos do fundo Laudelino Medeiros.
  • 2
    . Depoimento de Medeiros sobre a Geração Católica, concedido a Fernando Trindade (1980).
  • 3
    . Resposta ao questionário formulado à Cadeira de Sociologia, de 10 de junho de 1942, encontrado no acervo do CEDOC/ UCS, em Caxias do Sul.
  • 4
    .Curso do ano de 1941, localizado no acervo do CEDOC/ UCS.
  • 5
    . Medeiros não assumiu o pré-jurídico porque era aluno de Direito na Universidade.
  • 6
    . Aula do ano de 1943, sem data, localizada no CEDOC/ UCS.
  • 7
    . Localizado no acervo do CEDOC/ UCS.
  • 8
    . Consultados no acervo Laudelino Medeiros do IHGRS.
  • 9
    . Conforme Medeiros [Ofício], 21 de agosto de 1972, Porto Alegre [para] Reitor UFRGS Ivo Wolff , Porto Alegre. Correspondência consultada no acervo do IHGRS.
  • 10
    . Todos esses trabalhos estão localizados no acervo Laudelino Medeiros, do CEDOC/ UCS.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Ago 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Recebido
      Set 2009
    • Aceito
      Jan 2010
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