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Alcaloides indólicos de cascas de Aspidosperma vargasii e A. desmanthum

Indole alkaloids from the bark of Aspidosperma vargasii and A. desmanthum

Resumo

Fractionation of extracts resulted in isolation and identification of indole alkaloids ellipticine and N-methyltetrahydroellipticine from A. vargasii and aspidocarpine from A. desmanthum. Identification of these compounds was achieved based on IR, MS, ¹H, 13C and 2-D NMR data and comparison to data in the literature.

Apocynaceae; ellipticine; N-methyltetrahydroellipticine


Apocynaceae; ellipticine; N-methyltetrahydroellipticine

ARTIGO

Alcaloides indólicos de cascas de Aspidosperma vargasii e A. desmanthum

Indole alkaloids from the bark of Aspidosperma vargasii and A. desmanthum

Marycleuma Campos HenriqueI; Sergio Massayoshi NunomuraII; Adrian Martin PohlitII, * * e-mail: ampohlit@inpa.gov.br

IDepartamento de Química, Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal do Amazonas, Av. Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000, 69077-000 Manaus - AM, Brasil

IICoordenação de Pesquisa em Produtos Naturais, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Av. André Araújo, 2936, 69060-001 Manaus - AM, Brasil

ABSTRACT

Fractionation of extracts resulted in isolation and identification of indole alkaloids ellipticine and N-methyltetrahydroellipticine from A. vargasii and aspidocarpine from A. desmanthum. Identification of these compounds was achieved based on IR, MS, 1H, 13C and 2-D NMR data and comparison to data in the literature.

Keywords: Apocynaceae; ellipticine; N-methyltetrahydroellipticine.

INTRODUÇÃO

O gênero Aspidosperma Mart. pertence à família Apocynaceae1 e é distribuído em regiões neotropicais.2 Espécies desse gênero são conhecidas popularmente como peroba na maioria das regiões brasileiras e carapanaúba na região amazônica.

A característica marcante desse gênero é a presença de alcaloides indólicos, principalmente os monoterpênicos,3 que conferem um amplo espectro de atividades biológicas reconhecidas às espécies desse gênero, tais como antitumoral,4 antiplasmódica,5 antimicrobiana,6 e antibacteriana7 consistentes, em muitos casos, com suas utilizações populares. Dentre essas atividades biológicas, a mais representativa é a citotóxica, que tem sido demonstrada frente a diferentes linhagens de células tumorais.4. Este é o caso, por exemplo, da elipticina (1), um dos alcaloides indólicos mais estudados, que chegou a ser utilizada em ensaios clínicos no tratamento do câncer.4,8

Este trabalho descreve o isolamento e contribui com dados espectrais mais atuais para a caracterização dos alcaloides elipticina (1) e N-metiltetra-hidroelipticina 2 de A. vargasii e aspidocarpina (3) de A. desmanthum (Figura 1).


PARTE EXPERIMENTAL

Instrumentação e material

Os espectros de infravermelho (IV) foram obtidos em um aparelho FTLA 2000-104 da Bomem, utilizando-se pastilhas de KBr, com frequências medidas em cm-1. Os espectros de RMN foram obtidos em CDCl3 ou CD3OD em um aparelho Unity Inova da Varian (1H: 500 MHz; 13C: 125 MHz). Espectros de massas com ionização por electrospray de alta resolução (ESI-HR-MS) foram obtidos em um Bruker-Daltronics UltraOTof em modo positivo e negativo utilizando H2O/MeOH como solventes de infusão. Para CCD foram utilizadas sílica gel 60 e sílica gel 60 RP-18 (Merck). Para as colunas cromatográficas foram utilizadas sílica gel 60 (40-63 μm), sílica gel 60 (63-200 μm) e sílica gel 60 RP-18 (40-63 μm) da Merck. Em CCD, as substâncias foram evidenciadas pelo uso de radiação ultravioleta (UV) sob comprimentos de onda de 254 e 366 nm, pela impregnação das placas em cubas de vidro saturadas por vapores de iodo, anisaldeído e reagente de Dragendorff (para revelação de compostos nitrogenados).

Material vegetal

As cascas das Aspidosperma foram coletadas na Reserva Adolpho Ducke, no km 26 da rodovia Manaus-Itacoatiara a partir de espécimes previamente identificados no Projeto Flora da Reserva Ducke. Exsicatas número 180459 para A. desmanthum e 191853 para A. vargasii estão depositadas no herbário do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA).

Extração e isolamento dos constituintes químicos

Aspidosperma vargasii A. DC.

O extrato alcaloídico de A. vargasii A. DC. foi obtido através de maceração contínua das serragens das cascas (1,30 kg) com solução EtOH/NH-4OH 1% à temperatura ambiente- em um frasco mariote, deixando-se repousar por 7 dias com agitação diária. A mistura foi filtrada e o procedimento repetido por quatro vezes consecutivas. As soluções obtidas foram reunidas e o solvente foi eliminado utilizando-se rotaevaporador. A mistura final foi submetida à liofilização, originando o extrato EtOH/NH4OH 1% (56 g). O extrato alcaloídico foi dissolvido em 100 mL de AcOEt e, em seguida, acidulado com solução de HCl 0,1 N. A seguir, foi feito fracionamento para extração de alcaloides ajustando-se o pH da fração aquosa ácida em 8,0 com adição NH4OH concentrada e extraindo-se com 100 mL de CHCl3 por três vezes. Em seguida, a fração aquosa com pH 8,0 teve seu pH elevado a 10 por adição de NaHCO3 e foi extraída com 100 mL de CHCl3 por três vezes. Por último, o pH da fração aquosa foi ajustado em 12 com adição de solução de NaOH 0,1 N e foi extraída com 100 mL de CHCl3 por três vezes. Os solventes foram eliminados das frações em um rotaevaporador. Ao final do procedimento, foram obtidas as frações AcOEt (1,06 g), clorofórmicas em pH 8 (8,03 g), 10 (2,8 g), 12 (0,46 g) e aquosa (3,45 g).

A fração clorofórmica pH 8 (7,0 g) de A. vargasii foi submetida à cromatografia em coluna de sílica gel 60 Merck (40-63 μm) eluindo-se com CHCl3/MeOH em gradiente crescente de polaridade e resultando em 44 frações de 50 mL cada. Em seguida, as amostras obtidas foram analisadas em CCD e reunidas de acordo com sua similaridade em 3 grupos (G1-G3). A fração reunida G3 (3,99 g) foi fracionada em CC de sílica gel (40-63 μm), utilizando-se acetona/i-PrOH com 1% de Et2NH com aumento de polaridade, obtendo-se 206 frações de aproximadamente 10 mL cada, as quais foram reunidas conforme a similaridade em 4 grupos (A1-A4). A fração A2 (93,0 mg) foi purificada por CCDP (sílica gel 60 PF254) utilizando-se como eluente 100 mL da mistura CH2Cl2/MeOH (8:2) obtendo-se a elipticina (1, 68,3 mg, p.f. 311-13 ºC) em forma de cristais amarelos pontiagudos. A fração reunida G4 forneceu por CCDP (sílica gel 60 PF254) a N-metiltetra-hidroelipticina (2, 55,3 mg, p.f. 218-223 ºC), um sólido amorfo amarelo, em eluição com 100 mL da mistura de CH2Cl2/MeOH com 1% de Et2NH.

Aspidosperma desmanthum Benth ex. Mull

A serragem da casca do tronco (1,20 kg) foi submetida à extração, semelhante à descrita acima, e forneceu o extrato alcaloídico (35,98 g), e após extração ácido-base forneceu cinco frações: AcOEt (2,03 g), CHCl3 pH 8 (1,45 g), CHCl3 pH 10 (0,22 g), CHCl3 pH 12 (0,40 g) e aquosa (4,37 g) A fração clorofórmica pH 8 (1,4 g) foi fracionada em coluna de sílica gel (40-63 μm) e eluída com mistura de solventes CH2Cl2/MeOH, obtendo-se 82 frações de 50 mL, que foram reunidas de acordo com suas similaridades em 7 grupos (M1-M7). A fração M4 foi re-fracionada em CC de sílica gel (40-63 μm), utilizando-se como eluente CH2Cl2/i-PrOH, obtendo-se 40 frações de aproximadamente 40 mL e foram reunidas em 4 grupos (S1-S4). A fração S4 forneceu a aspidocarpina (3, 68,5 mg, p.f. 311-13 ºC) um sólido cristalino branco.

Elipticina (1): cristais amarelos pontiagudos, p.f. 311-13 ºC (lit.: 315-17 ºC),9 RMN 1H (500 MHz, CDCl3:CD3OD, 1:1): 3H-17 (δ-H 2,7 , s), 3H-21 (δ-H 3,2, s), 1H-10 (δ-H 7,2 , ddd=7,5;6,8;1,5), 2H-11 e 12 (δ-H 7,4 a 7,5, m), 1H-14 (δ-H 7,9 , d=7,0), 1H-9 (δ-H 8,3 , d =7,0), 1H-3 (δ-H 8,3 , d=7,0), 1H-18 (δ-H 9,5 , s). RMN 13C (125 MHz, CDCl3:CD3OD): C-18 (δ-c 148,3), C-13 (δ-c 143,1), C-2 (δ-c 141,9), C-3(δ-c 137,6), C-15 (δ-c 133,4), C-20 (δ-c 129,0), C-11 (δ-c 127,3, C-7 (δ-c 124,8, C-9 (δ-c123,8), C-8 (δ-c 123,6), C-19 (δ-c 122,2), C-10 (δ-c 119,5), C-14 (δ-c 116,9), C-12 (δ-c 110,7), C-16 (δ-c 108,4), C-21 (δ-c 14,1), C-17 (δ-c 11,2).

N-metiltetra-hidroelipticina 2: um sólido amorfo amarelo, p.f. 218-223 ºC (lit.: 215-225 ºC),10 RMN 1H (500 MHz, CDCl3:CD3OD): 3H-17 (δ-H 2,4, s), 3H-4' (δ-H 2,6, s), 3H-21 (δ-H 2,7, s), 2H-3 (δ-H 2,8, t=6,5), 2H-14 (δ-H 3,0, t=6,5), 2H-18 (3,8 , s), 1H-10 (δ-H 7,1, t=7,8), 1H-11 (δ-H 7,3, t=7,8), 1H-12 (δ-H 7,4, d=7,8), 1H-9 (δ-H 8,2, d=7,8). RMN 13C (125 MHz, CDCl3:CD3OD): C-13 (δ-c 140,8), C-2 (δ-c 138,7), C-15 (δ-c 128,6), C-20 (δ-c 126,3), C-11 (δc 124,6), C-8 (δc 124,1), C-9 (δ-c 122,3), C-19 (δ-c 122,2), C-7 (δ-c 120,1), C-10 (δ-c 118,4), C-16 (δc 114,9), C-12 (δ-c 110,6), -18 (δ-c 56,5), C-3 (δc 52,5), C-4' (δc 45,4), C-14 (δc 27,3), C-21(δc 14,7), C-17 (δc 12,1).

Aspidoscarpina (3): sólido cristalino branco, p.f. 169-171 ºC (lit.: 166-169 ºC),11 RMN 1H (500 MHz, CDCl3): 1H-18 (δ-H 0,6 , t=7,5), 1H-19 (δH 0,9 , dq=14;7), 1H-15' (δH 1,1 , dd=13,5;4,5), 1H-14' (1,1 , d=13,5), 1H-19' (δ-H 1,4 , dq=14;7), 4H-16;6';15;17 (δ-H 1,5-1,7 , m), 1H-17' (δ-H 1,7 , dd=13;3,5), 1H-16' (δ-H 1,8-1,9 , m), 3H- (δH 1,9 , m ), 1H-21 (δH 2,2 , s), 1H-5' (δH 2,3 , d=9), 1H-23 (δ-H 2,3 , s), 1H-3 (δH 3,0 , d=3,5), 1H-5 (δ-H 3,1 , ddd=9;9;2), 1H-11' (δH 3,8 , s), 1H-2 (δH 4,1 , dd=11;6), 1H-9 (δ-H 6,6 , d=8,0), 1H-10 (δH 6,7 , d=8), 1H-12' (δ-H 10,9 , s). RMN 13C (125 MHz, CDCl3): δ 169,5, 149,6, 137,8, 133,3, 127,7, 112,6, 110,3, 70,9, 70,5, 53,9, 53,7, 52,7, 52,4, 39,6, 35,7, 34,3, 30,3, 25,4, 23,2, 22,9, 21,8, 7,0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Amazônia muitas espécies de Aspidosperma são utilizadas pelas populações indígena e cabocla por suas propriedades medicinais. A infusão da casca de algumas espécies, como A. nitidum e A. album, A. discolor, A. excelsum e A. polineuron, é utilizada no tratamento de malária.12,13 A A. nitidum é utilizada no tratamento do útero, ovário, câncer, diabetes, estômago e como anticonceptivo.14 Extrato alcaloídico das cascas de A. ramiflorum demonstrou eficácia no tratamento de leishmaniose15 e foi demonstrada atividade antimalárica em extratos polares das cascas de A. megalocarpon.16 A presença de alcaloides indólicos nas duas espécies em estudo já era esperada, uma vez que as espécies de Aspidosperma são caracterizadas pela ocorrência frequente de substâncias alcaloídicas, tornando-se bons marcadores quimiotaxonômicos para classificação dessas espécies.17 O fracionamento cromatográfico das frações enriquecidas em alcaloides (teste positivo com solução de Dragendorff) dos extratos etanólicos em amônia das cascas de A. desmanthum e A. vargasii resultaram nos isolamentos e posteriores identificações dos alcaloides elipticina (1) e N-metiltetra-hidroelipticina 2 de A. vargasii e aspidoscarpina (3) de A. desmanthum.

A elipticina foi identificada pela análise dos espectros de RMN de 1H e 13C. Analisando o espectro de RMN de 1H de 1 mostrou em δ 7,2 a 9,5 os seguintes sinais para o núcleo piperidínico: um singleto em δ 9,5 atribuído ao H-18, um dubleto (J 7,0 Hz) em δ 7,9 referente ao H-14, um dubleto (J 7,0 Hz) em δ 8,3 e atribuído ao H-3 e, para o núcleo indólico, um dubleto (J 7,0 Hz) para H-9, um multipleto em δ 7,5 com integração equivalente a dois hidrogênios foi atribuído a H-11 e H-12, e um duplo duplo dubleto centralizado em δ 7,2 que foi atribuído a H -10 (J 7,5; 6,8; 1,5 Hz).

As duas metilas de 1 foram evidenciadas por singletos em δH 2,7 e 3,2 e sua localização no esqueleto indoloisoquinolínico, bem como a atribuição desses sinais, foram realizadas baseando-se no espectro de HMBC (Figura 2). Nesse último, as interações a três ligações entre os hidrogênios metílicos com δH 3,2 (H-21) e os carbonos com δc 122,2 (C-19) e δc 124,8 (C-7) e entre os hidrogênios metílicos com δH 2,7 (H-17) e os carbonos com δc 133,4 (C-15) e δc 141,9 (C-2) permitiram atribuição inequívoca dos sinais das metilas. Também, através das correlações no espectro de NOESY, foram evidenciadas interações através do espaço (Figura 2) entre H-21 e os hidrogênios com δH 8,3 (H-9) e 9,5 (H-18) e entre H-17 e o hidrogênio com δH 7,9 (H-14). O espectro de ESI-HR-MS possibilitou a determinação da fórmula molecular do alcaloide 1 em C17H14N2. Os dados espectrais de 1 foram também comparados com a literatura,9 permitindo identificá-lo como elipticina (1). A elipticina também foi isolada de outras espécies, como A. williamsii,4A. dasycarpon, A. ulei,17A. subincanum,18A. gilbertii19 e Ochrosia elliptica labill.20 Nas últimas décadas tem recebido uma grande atenção, devido sua propriedade antitumoral.21 Há relatos na literatura de um grande número de trabalhos com síntese de elipticina e seus análogos.22,23


O espectro de IV de 2 exibiu banda de absorção em νmáx 3240 cm-1, referente à deformação axial de N-H, em νmáx 2918 e 2847 cm-1, referentes à presença de deformações axiais C-H, sugerindo a presença de grupos metilas. O espectro de RMN de 1H de 2 apresentou sinais de hidrogênios do anel piperidínico em δ 2,8 (H-3, t, 6,5 Hz), δ 3,0 (H-14, t, 6,5 Hz), δ 3,8 (H-18, s) e singletos em δH 2,4, 2,6 e 2,7 referentes aos hidrogênios metílicos H-17, H-4' e H-21, respectivamente. O espectro de HMBC revelou interações em três ligações (Figura 3) através de correlações entre os sinais em δ 2,7 (H-21) e os sinais de C-19 (δ 122,2) e C-7 (δ 120,0), entre os sinais em δ 2,4 (H-17) e os de C-2 (δ 138,7) e C-15 (δ 128,6), e entre o sinal em δ 2,6 (H-4') e os de C-18 (δ 56,5) e C-3 (δ 52,5), o que tornou possível estabelecer as posições das metilas nos anéis piperidínico e no núcleo 1,4 dimetilbenzeno. O espectro de NOESY também ajudou na confirmação dessas posições das metilas, podendo-se destacar interações entre H-21 e H-9 e H-18, entre H-14 e H-3 e H-17, e entre H-4' e H-3 e H-18 (Figura 3). O espectro de ESI-HR-MS permitiu a determinação da formula molecular de C18H20N2 para 2. Os dados espectrais foram comparados com a literatura10 e possibilitou a identificação desse alcaloide como a N-metiltetra-hidroelipticina 2.


O espectro de IV de 3 exibiu bandas de absorção em νmáx 1580 e 1463 cm-1 , referentes a deformações axiais das ligações C=C do anel aromático. A banda de absorção em 753 cm-1 também evidencia a natureza aromática da substância. Bandas de absorção em 1631 cm-1, característica de deformação axial C=O de ligação de hidrogênio interna na carbonila amídica e em 2936 cm-1, referente à deformação axial de C-H de grupos metilas.

O espectro de RMN de 1H apresentou sinais na região de hidrogênios aromáticos em δH 6,6 (H-9, d, 8 Hz) e em 6,7 (H-10, d, 8 Hz), além de sinal em δH 10,95, consistente com a presença de uma hidroxila. O sinal em δH 3,8 com integração para três hidrogênios foi atribuído ao grupo metoxila e esse sinal correlaciona-se ao carbono metílico C-11'em δ 53,7. Também, a presença de oito carbonos metilênicos em δ 53,9 (C-3), 52,7(C-5), 39,6 (C-6), 23,2 (C-14), 34,3 (C-15), 25,4 (C-16), 21,8(C-17) e 30,3 (C-19) foi revelada pela análise do espectro de DEPT 135. Pela análise do espectro de COSY (Figura 4 e Figura 3S, material suplementar) destacaram-se as seguintes correlações 3J: H-14' (δ 1,14) com H-3 e H-15 (δ 1,9-2,1 e 1,5-1,7, respectivamente), H-5' (δ 2,3) com H-6' (δ 1,5-1,7), H-2 (δ 4,1) com H-16 e H-16' (δ 1,5-1,7 e 1,8-1,9, respectivamente) e H-17 (δ 1,5-1,7) com H-16' (δ 1,8-1,9). Observou-se em δ 2,23 um singleto referente ao H-21. Também, através das correlações no espectro de NOESY (Figura 4S, material suplementar), foram evidenciadas interações através do espaço entre H-21 e H-15 (δH 1,5-1,7), H-5 (δH 3,1), H-3 (δH 3,0) e H-9 (δH 6,6). O espectro de ESI-HR-MS possibilitou a determinação da fórmula molecular do alcaloide 3 em C22H30N2O3 . A estrutura do alcaloide 3 foi estabelecida com base nos dados dos espectros de RMN de 1H e de 13C (Figuras 1S e 2S, material suplementar), massas, bem como através de comparação com valores dos seus deslocamentos químicos na literatura24 e possibilitou a identificação do alcaloide 3 como aspidoscarpina, a qual foi isolada também das cascas de A. marcgravianum,25A. limae,26A. formasanum.27 A aspidoscarpina (3) mostrou-se bastante ativa in vitro frente à linhagem K1 de Plasmodium falciparum.5






CONCLUSÃO

Os extratos alcaloídicos de A. vargasii e A. desmanthum mostraram-se ser uma fonte promissora de alcaloides indólicos, dos quais foram isolados elipticina, N-metiltetra-hidroelipticina e aspidoscarpina. A continuação dos estudos dessas espécies torna-se necessária, devido essa classe de alcaloides possuir um espectro de atividades biológicas comprovadas. Testes para atividade antimalárica realizados com os alcaloides elipticina (1) e aspidoscarpina (3) confirmaram atividade em P. falciparum.5 Os resultados obtidos neste estudo confirmam a importância da investigação química e biológica das espécies de Aspidosperma na busca de novos agentes biologicamente ativos.

MATERIAL SUPLEMENTAR

No material suplementar, disponível gratuitamente em http://quimicanova.sbq.org.br, na forma de PDF, estão apresentados os espectros de RMN de 1H (Figura 1S) e de 13C (Figura 2S), COSY (Figura 3S) e Noesy (Figura 4S) do alcaloide aspidoscarpina (3) utilizados na sua identificação estrutural.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq (PNOPG 520.354/99-0, 550.260/01-3; PPBIO/MCT 480.002/04-5; PPG-7 557.106/05-2) e PROBEM (Contrato Bioamazonia-BASA-FEPAD) pelos financiamentos recebidos. Ao J. C. Tomaz, Dr. C. Carollo e Prof. N. Lopes (FCFRP/USP) pelas análises de HR-ESI-MS. Ao Dr. M. Yoshida, L. C. Oliveira e L. C. Roque do CBA (Manaus-AM) pelos espectros de RMN. Ao Prof. V. F. Veiga Jr. pela leitura crítica desse manuscrito.

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Recebido em 21/1/09; aceito em 28/7/09; publicado na web em 21/1/10

MATERIAL SUPLEMENTAR

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  • Pereira, M. M.; Jácome, R. L. R. P.; Alcântara, A. F. de C.; Alves, R. B.; Raslan, D. S.; Quim. Nova 2007, 30, 970.
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  • 5. Mitaine, A. C.; Weniger, B.; Sauvain, M.; Lucumi, E.; Aragón, R.; Zèches-Hanrot, M.; Planta Med. 1998, 64, 487;
  • Andrade Neto, V. F.; Pohlit, A. M.; Pinto, A. C. S.; Silva, E. C. C.; Nogueira, K. L.; Melo, M. R. S.; Henrique, M. C.; Amorim, R. C. N.; Silva, L. F. R.; Costa, M. R. F.; Nunomura, R. C. S.; Nunomura, S. M.; Alecrim, W. D.; Alecrim, M. G. C.; Mem. Inst. Oswaldo Cruz 2007, 102, 359.
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  • 8. Pedersen, J. M.; Bowman, W. R.; Elsegood, M. R. J.; Fletcher, A. J.; Lovell, P. J.; J. Org. Chem. 2005, 70, 10615.
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  • 16. Mitaine, A. C.; Weniger, B.; Sauvain, M.; Lucumi, E.; Aragón, ???; Zèches-Hanrot, M.; Planta Med 1998, 65, 487.
  • 17. Pereira, M. M.; Jácome, R. L. R. P.; Alcântara, A. F.de C.; Alves, R. B.; Raslan, D. S.; Quim. Nova 2007, 30, 970.
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  • 27. M. Garcia, R. F.; Brown, K. S.; Phytochemistry 1976, 15, 1093.
  • *
    e-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Mar 2010
    • Data do Fascículo
      2010

    Histórico

    • Recebido
      21 Jan 2009
    • Aceito
      28 Jul 2009
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