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Dinâmica e variabilidade espacial de plantas daninhas em sistemas de mobilização do solo em sorgo forrageiro

Dynamics and spatial variability of weeds under soil tillage systems in forage sorghumt

Resumos

O mapeamento e a caracterização da distribuição espacial de plantas daninhas por meio da agricultura de precisão, associada a levantamentos fitossociológicos, têm sido utilizados no controle localizado da infestação. O presente trabalho avaliou a incidência e a dinâmica de plantas daninhas, além da distribuição espacial em distintos sistemas de mobilização do solo, na cultura do sorgo forrageiro. O experimento foi conduzido em Petrolina-PE. Os tratamentos constaram de quatro sistemas de mobilização do solo: sem preparo primário, grade tandem mais arado de aivecas, grade off-set de discos de 0,61 m e grade tandem mais escarificador. A coleta de dados ocorreu na cultura do sorgo forrageiro aos 110 dias após emergência, em uma área retangular de 20 x 12 m (240 m²) com malha regular de 4 x 3 m, referenciadas em coordenadas x e y. A caracterização fitossociológica foi realizada pela avaliação da densidade, frequência, abundância, dominância e índice de valor de importância das espécies, e a variabilidade espacial, por meio da geoestatística com a construção de mapas de isolinhas. Cenchrus echinatus teve maior incidência e índice de valor de importância. O mapeamento de plantas daninhas tem relevância para a aplicação de métodos de controle, principalmente quando aliado ao levantamento fitossociológico.

mecanização agrícola; fitossociologia; geoestatística; Sorghum bicolor


Mapping and characterization of spatial distribution of weeds by means of precision agriculture, coupled to phytosociological surveys, has been used as a tool for localized control techniques. This study evaluated weed incidence and dynamics, as well as spatial distribution, as a function of soil tillage systems in forage sorghum. The experiment was conducted in Petrolina-PE. The experimental area was prepared with four tillage systems, as follows: no primary tillage, tandem disc harrow plus moldboard plow, disc harrow off-set of 0.61 m and tandem disc harrow plus chisel plow. Data were collected on forage sorghum at 110 days after emergence, in a rectangular area of 20 x 12 m (240 m²) with regular mesh of 4 x 3 m, referenced in x and y coordinates. Phytosociological characterization was performed by evaluating weed density, frequency, abundance, dominance, and importance value, as well as spatial variability using geo-statistics with the construction of maps. Cenchrus echinatus presented higher incidence and importance value index. Weed mapping has relevance to the application of control methods, especially when coupled with phytosociological surveys.

agricultural mechanization; phytosociology; geo-statistics; Sorghum bicolor


ARTIGO

Dinâmica e variabilidade espacial de plantas daninhas em sistemas de mobilização do solo em sorgo forrageiro

Dynamics and spatial variability of weeds under soil tillage systems in forage sorghumt

NAGAHAMA, H.J.I; CORTEZ, J.W.II; CONCENÇO, G.III; ARAUJO, V.F.I; HONORATO, A.C.I

IUniversidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro-BA, Brasil, <hideo.nagahama@univasf.edu.br>

IIUniversidade Federal da Grande Dourados, Dourados-MS, Brasil

IIIEmbrapa Agropecuária Oeste, Dourados-MS, Brasil

RESUMO

O mapeamento e a caracterização da distribuição espacial de plantas daninhas por meio da agricultura de precisão, associada a levantamentos fitossociológicos, têm sido utilizados no controle localizado da infestação. O presente trabalho avaliou a incidência e a dinâmica de plantas daninhas, além da distribuição espacial em distintos sistemas de mobilização do solo, na cultura do sorgo forrageiro. O experimento foi conduzido em Petrolina-PE. Os tratamentos constaram de quatro sistemas de mobilização do solo: sem preparo primário, grade tandem mais arado de aivecas, grade off-set de discos de 0,61 m e grade tandem mais escarificador. A coleta de dados ocorreu na cultura do sorgo forrageiro aos 110 dias após emergência, em uma área retangular de 20 x 12 m (240 m2) com malha regular de 4 x 3 m, referenciadas em coordenadas x e y. A caracterização fitossociológica foi realizada pela avaliação da densidade, frequência, abundância, dominância e índice de valor de importância das espécies, e a variabilidade espacial, por meio da geoestatística com a construção de mapas de isolinhas. Cenchrus echinatus teve maior incidência e índice de valor de importância. O mapeamento de plantas daninhas tem relevância para a aplicação de métodos de controle, principalmente quando aliado ao levantamento fitossociológico.

Palavras-chave: mecanização agrícola, fitossociologia, geoestatística, Sorghum bicolor.

ABSTRACT

Mapping and characterization of spatial distribution of weeds by means of precision agriculture, coupled to phytosociological surveys, has been used as a tool for localized control techniques. This study evaluated weed incidence and dynamics, as well as spatial distribution, as a function of soil tillage systems in forage sorghum. The experiment was conducted in Petrolina-PE. The experimental area was prepared with four tillage systems, as follows: no primary tillage, tandem disc harrow plus moldboard plow, disc harrow off-set of 0.61 m and tandem disc harrow plus chisel plow. Data were collected on forage sorghum at 110 days after emergence, in a rectangular area of 20 x 12 m (240 m2) with regular mesh of 4 x 3 m, referenced in x and y coordinates. Phyto­sociological characterization was performed by evaluating weed density, frequency, abundance, dominance, and importance value, as well as spatial variability using geo-statistics with the construction of maps. Cenchrus echinatus presented higher incidence and importance value index. Weed mapping has relevance to the application of control methods, especially when coupled with phytosociological surveys.

Keywords: agricultural mechanization, phytosociology, geo-statistics, Sorghum bicolor.

INTRODUÇÃO

O sorgo tornou-se importante alternativa na alimentação animal (Avelino et al., 2011), por apresentar grande capacidade energética, com características favoráveis ao cultivo em regiões com baixos índices pluviométricos anuais e altas temperaturas (Silva et al., 2007a).

As plantas daninhas interferem na cultura do sorgo não só pela competição por luz, mas também por água e nutrientes, o que resulta em menor produção de biomassa, com menor qualidade nutricional (Embrapa, 2008).

O estudo da dinâmica populacional das plantas daninhas é ferramenta importante para os sistemas produtivos, uma vez que, não controladas, podem causar grandes prejuízos ao sistema produtivo. Concomitantemente, com a identificação das espécies infestantes pode-se, indiretamente, inferir o estado nutri­cional do solo (Pereira & Melo, 2008). Além disso, pode-se estimar o nível de dano eco­nômico quando da ocorrência de espécies daninhas simultaneamente na comunidade infestante (Vidal et al., 2010).

A utilização de técnicas geoestatísticas em estudos de plantas daninhas auxilia na identi­ficação da dependência espacial das espécies estudadas, tornando possível a geração de mapas de isolinhas, por krigagem (Schaffrath et al., 2007). A variação das propriedades do solo é apenas um dos muitos fatores que alteram a ocorrência irregular dessas plantas.

A composição das populações de plantas daninhas em agroecossistemas é resultado de suas características edáficas e climáticas e das práticas agronômicas adotadas, como o manejo do solo e a aplicação de herbicidas (Soares et al., 2011). Os sistemas de mobiliza­ção do solo têm como objetivos disponibilizar água e nutrientes e eliminar a concorrência de determinadas plantas (Souza et al., 2007). Os sistemas mais sustentáveis devem propor­cionar boa cobertura do solo durante o ano todo e apresentar disponibilidade de resíduos sobre o solo, o que pode ser obtido com a utilização de plantas de cobertura que alcancem elevada produção de resíduos, por maior tempo e com menor taxa de decomposição (Otsubo et al., 2012).

Objetivou-se com este trabalho verificar a incidência e a dinâmica de populações de plantas daninhas, bem como descrever a dis­tribuição espacial e a sua relação com diferen­tes sistemas de mobilização do solo, na cultura do sorgo forrageiro.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na cidade de Petrolina (PE), em altitude de 376 m. Segundo a classificação de Köppen, o clima dessa área apresenta-se como tropical semiárido, tipo BshW, seco e quente na parte norte e semiá­rido quente estípico na parte sul, caracterizado pela escassez e irregularidade das precipita­ções, com chuvas no verão e forte evaporação em consequência das altas temperaturas. O solo foi classificado como Argissolo Amarelo, textura arenosa (Amaral et al., 2006), utili­zando o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 2006).

A área experimental foi cultivada até 2009 com sorgo forrageiro (Sorghum bicolor). Entre 2009 e 2011, ela permaneceu em pousio com cobertura de plantas daninhas; após esse período, implantou-se novamente cultivo de sorgo forrageiro, variedade BRS 610, que foi submetido a três cortes, sendo a coleta rea­lizada entre o segundo e o terceiro corte. Essa área possui, ainda, um sistema linear de irrigação, que propiciou umidade do solo no momento do preparo, na coleta de dados e ao longo do desenvolvimento da cultura.

Os tratamentos constaram de distintos métodos de preparo do solo em áreas amplas, sendo (i) grade off-set de discos de 0,61 m (grade OFF-SET), (ii) grade tandem + arado de aiveca (GT+AA), (iii) grade tandem + esca­rificador (GT+ESC) e (iv) sem preparo primário (SPP).

A área sem preparo primário recebeu antes da semeadura duas gradagens leves (grade tandem), com o intuito de preparar o solo superficialmente para receber as sementes de sorgo. A área de cada tratamento foi de 240 m2. As áreas eram contíguas, separadas apenas por espaço necessário para manobras de máquinas. Nas parcelas experimentais foi cultivado sorgo forrageiro por dois ciclos (cortes), e durante esse período as plantas daninhas foram manejadas com controle mecânico por meio de capina manual, após 30 dias de emergência e de rebrota.

Para coleta e avaliação, estabeleceu-se malha regular de 4 x 3 m, devidamente refe­renciada em coordenadas x e y, em parcelas de 240 m2, com formato retangular (20 m no eixo y e 12 m no eixo x). A área amostral de coleta foi de 1,00 m2, cujo centro foi o ponto de interseção das coordenadas. Cada tratamento de mobilização do solo foi avaliado em quatro repetições. Após levantamento visual de ocorrência de plantas daninhas, conforme Moreira & Bragança (2010), foram elencadas como predominantes as seguintes espécies: Cenchrus echinatus (capim-carrapicho), Bidens pilosa (picão-preto) e Sida cordifolia (malva-branca), para a realização das avalia­ções.

A análise das comunidades das espécies predominantes foi calculada por meio da biomassa seca das espécies e de parâmetros fitossociológicos: densidade, frequência e abundância, absolutas e relativas, e biomassa seca relativa. A partir destes foi obtido o Índice de Valor de Importância (IVI) de acordo com Silva et al. (2005) e Nascimento et al. (2010), conforme as seguintes equações:

Frequência (F) = nºde parcelas que contêm a espécie/nº total de parcelas utilizadas

Densidade (D) = nº total de indivíduos por espécie/área total coletada

Abundância (A) = nº total de indivíduos por espécie/nº total de parcelas contendo a espécie

Dominância absoluta (DoA) = biomassa da espécie/área total coletada

Frequência relativa (Fr) = (frequência da espécie/frequência total de todas as espécies) x 100

Densidade relativa (Dr) = (densidade da espécie/frequência total de todas as espécies) x 100

Abundância relativa (Ar) = (abundância da espécie/abundância total de todas as espécies) x 100

Dominância relativa (DoR) = (biomassa da espécie/Σ biomassa total de todas as espécies) x 100

Índice de Valor de Importância (IVI) = (Fr + DoR+ Ar)/3

Para obtenção da biomassa seca, as plantas daninhas foram cortadas rente ao solo, acondicionadas em sacos de papel e levadas para secagem em estufa de circulação forçada a 65 ºC, até atingir massa constante.

A apresentação dos resultados, em vez de discorrer sobre a incidência de plantas daninhas dentro de cada sistema de manejo, como convencionalmente adotado (Duarte Júnior et al., 2009), focou no efeito dos dis­tintos manejos do solo sobre as três principais espécies daninhas previamente identificadas durante o levantamento visual de ocorrência (Corrêa et al., 2011).

As áreas foram comparadas entre si pelo coeficiente de Jaccard, considerando a abun­dância, frequência, densidade e dominância absolutas das espécies daninhas nos trata­mentos. Foi elaborada a matriz de similari­dade, e a partir desta foi obtida a matriz de dissimilaridade (1-similaridade). A análise multivariada de agrupamento hierárquico foi efetuada a partir da matriz de dissimilaridade, pelo método UPGMA (Unweighted Pair Group Method with Arithmethic Mean) (Sneath & Sokal, 1973). O nível crítico para separação dos grupos na análise de agrupamento foi baseado na média aritmética das similaridades na matriz original de Jaccard (Barbour et al., 1998), desconsiderando os pontos de cruza­mento entre as mesmas áreas na matriz. A validação dos grupos foi feita pelo coeficiente de correlação cofenética (Sokal & Rohlf, 1962), obtido por correlação linear de Pearson entre a matriz original de dissimilaridade e a matriz cofenética.

A análise espacial foi efetuada por meio da geoestatística e constou de construção e interpretação de semivariograma e do ajuste "a sentimento" de um modelo matemático para explicar a estrutura de variância dos dados, que foram submetidos ao procedimento de transformação por meio da função , para obtenção de valores positivos. Adicionalmente, são apresentadas estima­tivas dos parâmetros: efeito pepita (Co), que indica as variabilidades não explicadas, que podem ser devido aos erros de medidas e às microvariações; patamar (C), que representa a estabilização da semivariância, sendo apro­ximadamente igual à variância dos dados; e alcance (a), que se refere à distância-limite de dependência espacial. O modelo escolhido foi testado por meio da validação cruzada. Com base nos parâmetros do semivario­grama, foi obtido o avaliador de dependência espacial (ADE), que é a proporção da variância estrutural (C1) em relação ao patamar (Co+ C1). Se o valor de ADE for igual a 1, significa que o semivariograma não apresenta efeito pepita e, consequentemente, quando for zero, não há dependência espacial, conside­rando-se o efeito pepita puro (Toledo et al., 2010). Os valores de ADE foram correlacio­nados com os observados para a frequência absoluta e relativa de ocorrência das espécies daninhas, de forma a estabelecer interco­nexão entre a variabilidade espacial estimada pelo levantamento fitossociológico e a obtida por geoestatística.

Em seguida à modelagem dos semiva­riogramas, foi realizada a interpolação por "krigagem" ordinária, para estimativa de valores em locais não amostrados. Na cons­trução dos mapas temáticos foi utilizado um interpolador (preditor), a Krigagem, o que permitiu maior detalhamento espacial das plantas daninhas, sendo possível identificar possíveis locais com problemas de infestação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dinâmica de plantas daninhas

Nas áreas experimentais foram identi­ficadas cinco espécies, distribuídas em cinco famílias botânicas (Tabela 1). De acordo com Silva et al. (2007b), as Poáceas apresentam em torno de 44 espécies com importância como plantas daninhas, totalizando cerca de 37% das consideradas infestantes importantes em sistemas produtivos. As Asteráceas estão em segundo lugar, com 32 espécies e 26,9% das plantas consideradas infestantes, e as Malváceas, embora com poucas espécies con­sideradas infestantes importantes (somente quatro espécies), são relevantes devido ao seu sistema radicular profundo, fibroso e resis­tente, sendo espécies amplamente adaptadas a sistemas de cultivo sem revolvimento do solo, como o plantio direto (Piccolo et al., 2007). Portanto, o trabalho focou as espécies Cenchrus echinatus (capim-carrapicho - Poaceae), Bidens pilosa (picão-preto - Asteraceae) e Sida cordifolia (malva-branca - Malvaceae) (Tabela 1).

Para Cenchrus echinatus (capim-carrapicho) (Tabela 2), a Grade OFF-SET e GT+AA foram os sistemas mecanizados que apresentaram maiores valores de frequência, ou seja, o pre­paro mecânico do solo propiciou a distribuição dessa espécie ao longo da área experimental. Ela não é conhecida pela sua capacidade de se propagar por estruturas vegetativas; logo, para evitar a sua proliferação na área, o preparo deve ser feito antes que as plantas apresentem sementes viáveis. Para a densidade e índice de valor de importância (IVI), observa-se que a Grade OFF-SET também proporcionou os maiores valores, o que pode ser comprovado pelo valor de densidade relativa acima da média dos sistemas analisados.

O índice de valor de importância (IVI) da espécie Cenchrus echinatus (Tabela 2) teve valor médio igual a 72,1%, o que representa alta ocorrência, distribuição e capacidade de dominar indivíduos das demais espécies em todos os sistemas de mobilização do solo (Brandão et al., 1998; Nascimento et al., 2010).

Para Bidens pilosa (picão-preto) (Tabela 2), diferentemente de Cenchrus echinatus, no sistema SPP foram observados os menores valores para os parâmetros analisados, com IVI igual a 10,4% da importância de infestação.

A Grade OFF-SET e o GT+ESC mostraram valores de IVI acima da média quando comparados com o GT+AA e SPP (Tabela 2). Pode-se observar, ainda, que a Grade OFF-SET apresentou os maiores valores de abundância e dominância relativas. O IVI de Bidens pilosa apresentou valor médio de 15,3%, muito abai­xo do encontrado para a infestante Cenchrus echinatus (72,1%); para esta espécie, o trata­mento GT+ESC foi o que mostrou maior IVI (19,4%), e o SPP, o menor valor (10,4%).

Santos & Cury (2011) afirmam que a infestação em ambientes com práticas agrícolas convencionais expõe as sementes de Bidens pilosa ora enterradas à luz, o que favorece a maior germinação e aumenta a infestação. Diversos estudos indicam que a prática de revolvimento do solo, independen­temente do equipamento utilizado, pode resultar em maiores níveis de infestação por plantas daninhas, comparado a sistemas com características mais conservacionistas (Silva et al., 2005; Gama et al., 2007; Soares et al., 2011).

De acordo com Canossa et al. (2008), o efeito da luz na germinação de sementes de plantas daninhas é mais rápido em relação ao daquelas mantidas em condição sem luz. Entretanto, Orzari et al. (2013), ao determina­rem o comportamento germinativo de espécies infestantes, concluíram que a germinação é resultante de uma relação entre temperatura, profundidade de semeadura e tipo de solo, além da condição da luz.

Concenço et al. (2011) observaram que as plantas daninhas foram em torno de 50% me­nores em altura em área de sistema plantio direto em comparação com aquelas presentes em sistema convencional adjacente, pois o mesmo número de plantas cobriu pratica­mente a metade da área de solo. Isso pode indicar que em sistemas conservacionistas, como o plantio direto, as sementes de plantas infestantes demoram mais para iniciar o processo germinativo, provavelmente devido à ausência de revolvimento do solo e à pre­sença da cobertura, que reduz o acesso das plântulas recém-emergidas à luz.

Na análise de Sida cordifolia (malva­branca) (Tabela 2), tem-se o GT+AA como o sistema mecanizado que mais estimulou a germinação e instalação da espécie, com IVI igual a 14,5%. A Grade OFF-SET e o GT+ESC obtiveram valores de IVI abaixo da média, que significa diretamente menor infestação de Sida cordifolia neste tratamento. O menor valor de IVI para o GT+ESC, provavelmente, ocorreu devido à competição pelo espaço com as espécies Bidens pilosa e Cenchrus echinatus, cujo IVI foi de 19,4 e 71,6%, res­pectivamente. Figueiredo (2010) verificou situação similar ao estudar a sobrevivência e o crescimento inicial de plantas essências arbóreas em duas áreas antropizadas da caatinga e os seus efeitos na recomposição do estrato herbáceo. No GT+ESC, pode-se observar, ainda, que a dominância relativa (DoR) apresentou valor de 1,0%, sendo, portanto, muito abaixo da média (4,6%), o que se reflete no menor ganho de biomassa dentro de todas as espécies e sistemas de mobiliza­ção do solo analisados; contudo, o mesmo sistema apresenta-se com o maior valor de DoR para Cenchrus echinatus (89,9%).

A Dominância Relativa (DoR) e o Índice de Valor de Importância (IVI) (Tabela 2) demons-tram que a infestante Cenchrus echinatus predomina em todos os sistemas de mobi­lização do solo. Anastácio et al. (2012), ao avaliarem a dinâmica de plantas daninhas, especialmente o capim-favorito (Rhynchelytrum repens), em sistemas de produção, verificaram dominância relativa de Cenchrus echinatus na mobilização convencional, devido à sua alta competitividade, por ser uma planta com metabolismo do carbono pelo ciclo C4 (Klink, 1986).

Por ordem de grandeza, a infestante Bidens pilosa, no presente estudo, prevaleceu após Cenchrus echinatus nos sistemas Grade OFF-SET e GT+ESC, ao passo que nos sistemas GT+AA e SPP a malvácea Sida cordifolia prevalece em comparação à asterácea Bidens pilosa, conforme se verifica na avaliação do IVI. Na avaliação da DoR, observa-se que Bidens pilosa prevalece em quase todos os sistemas mecanizados em relação a Sida cordifolia; entretanto, no SPP verifica-se equivalência de valores entre Bidens pilosa e Sida cordifolia (7,5 e 7,4%, respectivamente).

O agrupamento dos tratamentos com base na similaridade de ocorrência das três espé­cies estudadas, considerando os valores abso­lutos de abundância, densidade, frequência e dominância das espécies nos tratamentos, indicou três grupos, sendo que somente existe semelhança entre os tratamentos Grade OFF-SET e GT+ESC em nível de 18% de dissi­milaridade (Figura 1). Pelo critério da média aritmética da matriz original de similaridades, os tratamentos SPP e GT+AA mostraram nível muito alto de dissimilaridade, não podendo ser agrupados.


Variabilidade espacial de plantas daninhas

Os pontos amostrados foram regiona­lizados por meio da análise do semivariograma de cada espécie estudada (Tabela 3). Observa­se, para Cenchrus echinatus, que o modelo de semivariograma de melhor ajuste foi o esférico e a exponencial. Os sistemas de mobilização do solo apresentaram alcance (a)

entre 5,49 e 6,88 m, ou seja, limite mínimo e máximo para a malha de coleta dos dados. A dependência espacial (ADE) conforme Zimback (2001) foi classificada como forte, uma vez que o valor do coeficiente de determinação (R2) variou entre 0,79 e 0,99.

Quanto à espécie Bidens pilosa (Tabela 3), o modelo exponencial foi o que melhor se ajustou para todos os sistemas de mobilização do solo. O efeito pepita (Co) decresceu seus valores do sistema Grade OFF-SET para SPP, diferentemente do observado em Cenchrus echinatus, no qual houve aumento. O alcance para o GT+ESC e SPP apresentou os meno­res valores; contrariamente, registraram-se valores elevados para a Grade OFF-SET e GT+AA. A dependência espacial (ADE) foi classificada, para os sistemas Grade OFF-SET, GT+ESC e GT+AA, como forte, e para o SPP, como moderada (Zimback, 2001).

Na análise de Sida cordifolia (Tabela 3), pode-se observar que o modelo exponencial prevaleceu; entretanto, para o sistema GT+AA houve o melhor ajuste por meio do modelo linear. O efeito pepita (Co) não seguiu um padrão ascendente ou descendente definido, como verificado para as outras espécies. O GT+ESC apresentou o menor valor de alcance (a): 5,17 m. A dependência espacial (ADE), para os sistemas Grade OFF-SET, GT+AA e SPP, foi classificada como forte, e para o GT+ESC, como moderada (Zimback, 2001).

Os mapas de isolinhas gerados a partir da interpolação por krigagem para a represen­tação da densidade de plantas daninhas (Figuras 2, 3 e 4) permitem identificar regiões distintas com valores semelhantes de den­sidade populacional e, com isso, verificar a maior e menor concentração de infestação. Segundo Shiratsuchi et al. (2004), a impor­tância da determinação real da infestação nas áreas de cultivo para aplicação de her­bicidas em doses diferenciadas permite o manejo das plantas daninhas de forma dis­tinta para cada local infestado. Os valores de densidade de plantas daninhas estão agrupados em cinco classes de cores de ordem crescente.




A infestante Cenchrus echinatus (Figura 2), nos sistemas mecanizados, comportou-se com a maior concentração de plantas na região central das parcelas, principalmente no GT+AA; já no SPP ocorreu maior distribuição populacional.

A espécie Bidens pilosa (Figura 3), no SPP, apresentou maior concentração na porção superior da parcela representada por zonas escuras. Para o GT+AA, observou-se menor predominância da espécie, mais especifica­mente na região central-superior da parcela. A Grade OFF-SET e o GT+ESC mostraram com­portamento similar, porém no GT+ESC ocorreu a formação de zonas de maior concentração de Bidens pilosa. Isso também foi verificado na análise de agrupamento por similaridade, onde somente OFF-SET e GT+ESC foram agru­pados pelo método UPGMA, com base no inverso dos coeficientes de Jaccard (Figura 1).

Para Sida cordifolia, observou-se, por meio de mapas de isolinhas (Figura 4), que no GT+AA ocorreu maior favorecimento de propagação/infestação da espécie, uma vez que se verificou maior distribuição popula­cional. Quanto aos demais sistemas de mobilização do solo, observou-se distribuição das plantas localizadas na região periférica das parcelas, com consequente decréscimo populacional na região central.

A análise de correlação entre o avaliador de dependência espacial (ADE) e a frequência absoluta das espécies daninhas (F) indicou não haver correlação entre esses métodos (cor=0,41, p=0,18), da mesma forma que não houve correlação entre ADE e a frequência relativa (Fr) das espécies daninhas (cor= 0,47; p=0,12). Essa informação pode ser tomada como indicativo de que somente a análise da frequência das espécies pelo método fitos­sociológico, sem o georreferenciamento dos pontos amostrados, não subsidia a aplicação de métodos localizados de controle. Somente o georreferenciamento permite a delimitação das áreas onde determinada prática de con­trole deve ser aplicada.

Com base no exposto, conclui-se que a mobilização do solo, independentemente do método utilizado, promoveu maior infestação das áreas por plantas daninhas, comparadas a áreas sem preparo primário. Isso indica que áreas submetidas ao preparo mecânico podem necessitar de controle adicional antes da semeadura da cultura, para evitar alta infes­tação por plantas daninhas. O mapeamento de plantas daninhas tem relevância para a apli­cação de métodos de controle, principalmente quando aliado ao levantamento fitossocioló­gico. Esse levantamento auxilia a geoesta­tística quanto à determinação da importância das espécies daninhas, subsidiando a decisão por métodos de controle eficientes sobre as espécies mais importantes; a análise de frequência, no entanto, por si só não subsidia a aplicação localizada das práticas de controle, sendo necessário que os pontos amostrados sejam georreferenciados para a confecção de mapas de isolinhas.

AGRADECIMENTO

Ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em 16.9.2013 e aprovado em 20.1.2014.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jun 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 2014

Histórico

  • Aceito
    20 Jan 2014
  • Recebido
    16 Set 2013
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