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Composição físico-química, microbiológica e rendimento do filé de tilápia tailandesa (Oreochromis niloticus)

Physicochemical and microbiological composition and yield of thai-style tilapia fillets (Oreochromis niloticus)

Resumos

Foram determinados o rendimento do filé e a composição físico-química da tilápia quanto ao teor de umidade, proteína, cinza, lipídeos e atividade de água. Para as análises, foram utilizados 19 exemplares de tilápia com peso médio e comprimento de 989,6 g e 38,9 cm, respectivamente. Os peixes foram pesados, medidos (comprimento, largura e espessura) e após a filetagem calculou-se o rendimento. Foi realizada a determinação da composição físico-química, que apresentou teores de: 77,13% de umidade; 2,60% lipídios; 19,30% proteína; 1,09% cinza; e atividade de água de 0,983. As relações de peso filé/peixe e peixe/resíduo apresentaram boas correlações lineares. Foi realizada também a análise microbiológica do peixe in natura; a matéria-prima estava dentro dos limites exigidos pela legislação brasileira, portanto apta para o processamento e/ou consumo.

composição centesimal; filetagem; subprodutos da filetagem; pescado


The fillet yield of Thai-style tilapia and its physicochemical composition, including moisture content, protein, ash lipids and water activity, were determined. The analysis involved 19 specimens of tilapia with average weight and length of 989.6 g and 38.9 cm, respectively. The fish were weighed, measured (length, width and thickness), filleted, and the yield was calculated. The chemical composition presented the following contents: 77.13% moisture, 2.60% lipids, 19.30% protein, 1.09% ash, and 0.983 water activity. The fillet/fish to fish/residue weight ratios presented good linear correlations. The raw fish was also subjected to a microbiological analysis, which indicated that it met the safety limits established by Brazilian legislation and was therefore safe for processing and consumption.

approximate composition; filleting; filleting by-products; fish


Composição físico-química, microbiológica e rendimento do filé de tilápia tailandesa (Oreochromis niloticus)

Physicochemical and microbiological composition and yield of thai-style tilapia fillets (Oreochromis niloticus)

Marcia Regina SimõesI, II,** A quem a correspondência deve ser enviada; Carmelita de Fátima Amaral RibeiroIII; Suezilde da Conceição Amaral RibeiroIV; Kil Jin ParkIII; Fernanda Elizabeth Xidieh MurrI

IDepartamento de Engenharia de Alimentos – DEA, Faculdade de Engenharia de Alimentos – FEA, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, CP 6121, CEP 13083-970, Campinas - SP, Brasil, E-mail: marciarsimoes@yahoo.com.br

IIUniversidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo - PR, Brasil

IIIFaculdade de Engenharia Agrícola – FEAGRI, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas - SP, Brasil, E-mail: kil@agr.unicamp.br

IVDepartamento de Agroindústria, Escola Agrotécnica Federal de Castanhal – EAFC, Castanhal - PA, Brasil

RESUMO

Foram determinados o rendimento do filé e a composição físico-química da tilápia quanto ao teor de umidade, proteína, cinza, lipídeos e atividade de água. Para as análises, foram utilizados 19 exemplares de tilápia com peso médio e comprimento de 989,6 g e 38,9 cm, respectivamente. Os peixes foram pesados, medidos (comprimento, largura e espessura) e após a filetagem calculou-se o rendimento. Foi realizada a determinação da composição físico-química, que apresentou teores de: 77,13% de umidade; 2,60% lipídios; 19,30% proteína; 1,09% cinza; e atividade de água de 0,983. As relações de peso filé/peixe e peixe/resíduo apresentaram boas correlações lineares. Foi realizada também a análise microbiológica do peixe in natura; a matéria-prima estava dentro dos limites exigidos pela legislação brasileira, portanto apta para o processamento e/ou consumo.

Palavras-chave: composição centesimal; filetagem; subprodutos da filetagem; pescado.

ABSTRACT

The fillet yield of Thai-style tilapia and its physicochemical composition, including moisture content, protein, ash lipids and water activity, were determined. The analysis involved 19 specimens of tilapia with average weight and length of 989.6 g and 38.9 cm, respectively. The fish were weighed, measured (length, width and thickness), filleted, and the yield was calculated. The chemical composition presented the following contents: 77.13% moisture, 2.60% lipids, 19.30% protein, 1.09% ash, and 0.983 water activity. The fillet/fish to fish/residue weight ratios presented good linear correlations. The raw fish was also subjected to a microbiological analysis, which indicated that it met the safety limits established by Brazilian legislation and was therefore safe for processing and consumption.

Keywords: approximate composition; filleting; filleting by-products; fish.

1 Introdução

A tilápia apresenta requisitos típicos dos peixes preferidos do consumidor, tais como carne branca de textura firme, sabor delicado e fácil filetagem, não tendo espinha em "Y" e nem odor desagradável22. Possui também características que a colocam no pódio das principais espécies cultiva das comercialmente, como: facilidade de reprodução e obtenção de alevinos, a possibilidade de manipulação hormonal do sexo para produção de machos, aceitação de diversos alimentos, excelente crescimento em cultivo intensivo e resistência às doenças.

O estoque inicial de tilápia do Nilo, introduzida no Brasil foi formado por 60 indivíduos provenientes da Estação de Piscicultura de Bouaké, Costa do Marfim, África, NUGENT15, em 1971 por meio do DNOCS, em Pentecostes, Estado do Ceará4.

A tilápia do Nilo da linhagem Chitralada teve sua introdução oficial no Brasil no ano de 1996, com 20800 exemplares importados do Agricultural and Aquatic Systems, do Asian Institute of Tecnology (AIT), com sede na Tailândia31. No entanto, a sua importação foi realizada pela Alevinopar (Associação de Produtores de Alevinos do Estado do Paraná) e SEAB (Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná).

Assim, as linhagens de tilápia do Nilo, existentes no Brasil, possuem duas origens, a tilápia de Bouaké, originária da Costa do Marfim, região oeste da África e a tilápia tailandesa ou chitralada, originária da Tailândia, que, por sua vez, tinha importado do Japão, e cujo estoque teve origem no Egito, região leste da África14.

No Brasil, a expansão da tilápia tem sido impulsionada pela demanda de mercado por sua boa aceitação pela população, quanto ao sabor, valor nutritivo e preços baixos. O grande interesse pela tilápia também está nos piscicultores que a estão produzindo em todo o País, principalmente pela facilidade de cultivo, o que desperta o interesse das indústrias em processar este peixe.

O valor nutritivo e os preços dos peixes dependem da textura da carne, da composição química, do rendimento e de fatores relacionados aos métodos de captura e beneficiamento. O conhecimento da composição química dos pescados é de fundamental importância para a padronização dos produtos alimentares na base de critérios nutricionais, pois fornece subsídios para decisões de caráter dietário, acompanhamento de processos industriais e seleção de equipamentos para otimização econômico-tecnológica6 .

SOUZA22 determinou o rendimento do filé de tilápia (Oreochromis niloticus), em torno de 34,6 a 36,6%, porém, encontrou diferenças significativas quanto aos métodos de filetagem usados. No processamento da tilápia, é importante destacar que o peixe gera grande quantidade de resíduos que podem ser aproveitados na fabricação de outros produtos alimentícios.

Segundo BRUSHI3, muitas tecnologias têm surgido com possíveis utilizações dos resíduos como fontes alimentares, transformando-os em produtos nutritivos e com boa aceitação no mercado, como o caso do surimi, que pode ser obtido através da carne que fica aderida à espinha dorsal do pescado no processo de filetagem e outros produtos como patês, bolinhos e fishburguers. Considerando a importância de se conhecer o valor nutritivo e potencial de carne e resíduos da tilápia, o principal objetivo deste trabalho foi obter a caracterização física, a composição química e a análise microbiológica e determinar o rendimento do filé e resíduos gerados no processamento da tilápia.

2 Material e métodos

2.1 Material

A matéria-prima constou de um lote de 30 kg de tilápia Tailandesa coletado de um pesqueiro comercial de Cosmópolis (SP). Os peixes foram coletados através de uma rede de pesca, eviscerados no local e lavados em água corrente. Após serem retirados do pesqueiro foram armazenados em gelo até serem levados ao Laboratório de Medidas Físicas da UNICAMP. Os peixes foram lavados em água corrente e em água clorada para retirada do muco superficial e outras impurezas. Cinco peixes inteiros foram congelados a –18 °C até serem submetidos à análise microbiológica. Para as análises físico-químicas, utilizou-se o filé sem pele que foi homogeneizado em um liquidificador.

2.2 Avaliação microbiológica

Foram realizadas as análises microbiológicas de Salmonella sp. e Estaphylococcus coagulase positiva para o pescado. As análises foram realizadas em 5 amostras de tilápia levadas inteiras até a análise. Para as análises, foram retirados 25 g do filé sem pele para análise de Salmonella sp. e 25 g para a análise de Estaphylococcus coagulase positiva. As amostras foram homogeneizadas em Stomacher (homogeneizador de pistão). As análises foram realizadas de acordo com a Resolução-RDC n° 12, de 2 de janeiro de 2001 da Agência Nacional de Saúde (ANVISA)1, no laboratório de Higiene do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos da UNICAMP.

2.3 Avaliação físico-química da matéria-prima

Caracterização física

Foi realizada com um lote de 19 peixes eviscerados de pesqueiro comercial em Cosmópolis - SP. Foram verificados o comprimento, a largura e a espessura com o auxílio de trena e paquímetro, e o peso das amostras em balança analítica. Foram calculados os rendimentos dos filés e resíduos, definidos neste trabalho como cabeça e coluna vertebral.

Análise físico-química

As análises descritas a seguir foram feitas em triplicata.

  • Umidade: este método baseia-se na evaporação da água presente no alimento em estufa a vácuo a 70 °C e 660 mmHg, até peso constante2;

  • Cinza: determinada por incineração da matéria orgânica, em forno mufla a 550 °C, até peso constante2;

  • Proteína: foi utilizado o método de Kjeldahl para determinar o nitrogênio total. Este método baseia-se no conteúdo de nitrogênio da matéria orgânica, incluindo o nitrogênio protéico propriamente dito e outros compostos nitrogenados não protéicos, tais como aminas, aminoácidos, entre outros. Neste caso, o resultado foi expresso em proteínas bruta ou total, utilizando-se para o cálculo o fator 6,252;

  • Lipídeos: os lipídeos foram determinados pelo método de BLIGH e DYER (1959), utilizando-se clorofórmio e metanol como solvente2; e

  • Atividade de água: baseia-se na medida direta a 25 °C da amostra acondicionada em cápsula plástica, em equilíbrio com a atmosfera interna do equipamento, através do instrumento Aqualab, modelo CX-2T-Decagon. O valor da atividade de água é registrado quando há a formação da primeira gota de orvalho em função do equilíbrio alcançado entre a fase líquida presente na amostra, e a fase gasosa.

3 Resultados e discussão

3.1 Avaliação microbiológica

Os resultados das análises microbiológicas efetuadas conforme a resolução – RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001, da Agência de Vigilância Sanitária – ANVISA estão apresentados na Tabela 1.

A Tabela 1 indica que a matéria-prima estava dentro dos limites exigidos pela legislação brasileira, portanto apta para o processamento e/ou consumo.

As ausências de Staphylococcus coagulase positiva e Salmonella confirmam que os procedimentos sanitários e higiênicos foram corretamente seguidos desde a captura até a preparação da matéria-prima. Se fosse confirmada a presença destas bactérias, a matéria-prima deveria ser descartada para impedir qualquer tipo de toxinfecções alimentares. No Brasil, pesquisas realizadas em diferentes regiões do País, mostraram a ocorrência de S. aureus em pescado8,11.

O gênero Staphyloccocus é o agente responsável por aproximadamente 45% das toxinfecções do mundo. O Staphyloccocus aureus é um dos agentes patogênicos mais comuns, responsável por surtos de origem alimentar, sendo normalmente transmitido aos alimentos por manipuladores7.

Tilápias (Oreochromis niloticus) recém-capturadas foram analisadas quanto à presença de S. aureus segundo VIEIRA et al.29. Todas as amostras apresentaram valores que variaram de <10 a 1,06.103 UFC.g –1.

O habitat da Salmonella é o trato intestinal e sua presença indica provável contaminação fecal de fontes humanas ou animais. Peixes capturados em águas não poluídas estão isentas de Salmonella pelo fato desta não fazer parte da microbiota natural do pescado. Sua presença neste alimento é oriunda normalmente do manuseio ou contato com superfícies higienizadas inadequadamente. A presença de Salmonella é razão suficiente para que a amostra seja condenada12.

3.2 Caracterização física da matéria-prima

Um lote de, aproximadamente 30 kg de tilápia eviscerada, obtido no pesqueiro BT (Cosmópolis - SP), apresentou as seguintes características físicas, como mostra a Tabela 2.

Em média os peixes apresentaram 989,6 ± 326,0 g, 38,9 ± 9,4 cm, 16,2 ± 4,0 cm e 3,8 ± 1,0 cm que corresponderam ao peso total, comprimento, largura e espessura, respectivamente. A relação entre a largura e o peso total da tilápia está representada na Figura 1.


A largura variou desde 12,0 até 18,0 cm, com uma média de 16,2 ± 4,0 cm, e o peso da tilápia desde 447,9 até 1369,6 g, com a média de 989,6 ± 326,0 g. A relação entre o peso total e o peso do filé da tilápia está apresentada na Figura 2.


O peso do filé com pele variou de 91,0 até 306,5 g, com média de 214,1 ± 73,9 g e o filé sem pele variou de 64,5 até 261,6 g, com média de 172,0 ± 63,8 g.

Os resíduos foram definidos como a somatória da cabeça e coluna vertebral gerada no processamento da tilápia, e sua relação com o peso total está apresentada na Figura 3.


O valor dos resíduos variou de 259,1 até 738,4 g com média de 552,5 ± 125,6 g.

A Tabela 3 mostra os modelos de regressão linear obtidos para as Figuras de 1 a 3 e seus respectivos coeficientes de determinação (R2). A regressão foi significativa ao nível de 5% para todos os modelos propostos. A relação entre largura e peso apresentou o menor coeficiente de determinação, 75,7%.




SANTOS21, trabalhando com duas espécies de tilápia, a Tailandesa e a Suprema, utilizou uma equação logística para descrever a idade da tilápia em função do peso. Utilizando esta equação para os pesos obtidos neste trabalho, a idade da tilápia Tailandesa encontra-se entre 281 e 407 dias, sendo, portanto, tilápias adultas.

A Tabela 4 mostra os valores médios da filetagem de carcaça, filés e subprodutos da filetagem.

Considerando o rendimento da carcaça sem cabeça, SOUZA e MARANHÃO27 obtiveram um rendimento de 75,61 e 78,18% para pesos de tilápia do Nilo variando de 300-400 g e 401-500 g, estes valores foram levemente superiores ao encontrado neste experimento que foi de 70,85%. SOUZA et al.24 relata rendimentos inferiores, de 57,13 a 61,91% em função da categoria de peso de 250-400 g e 401-550 g, respectivamente.

Os valores obtidos de rendimento do filé, 17,38% (filé sem pele) e 21,63% (filé com pele) foram inferiores aos encontrados na literatura que variam de 25,4% até valores de 42%5. Neste trabalho, a filetagem foi executada por pessoas não treinadas, o que contribuiu para o baixo rendimento do filé.

A pele é importante porque várias espécies são comercializadas sob a forma de filé com pele, no entanto a tilápia não é comercializada desta forma. Segundo CONTRERAS-GUSMÁN6, a pele corresponde a 7,5% do peso dos peixes ósseos. A porcentagem de pele bruta obtida neste experimento foi de 3,68%, que foi inferior às relatadas na literatura por MACEDO-VIEGAS, SOUZA, KRONKA13, SOUZA et al.24, SOUZA e MARANHÂO27, PINHEIRO et al.18 cujas porcentagens variaram, respectivamente, de 4,77 a 5,71%, 6,54 a 5,65%, 6,16 a 6,56% e 8%.

O rendimento da cabeça obtido neste experimento foi de 29,14%. Este valor é bem próximo ao encontrado na literatura por MACEDO-VIEGAS, SOUZA, KRONKA13, que encontraram valores de no mínimo 25,41% para a categoria de peso de (401-450 g) e no máximo de 29,02% para tilápias do Nilo pesando entre 301-350 g. Estes autores citam que a categoria de peso não influencia na porcentagem de cabeça. SOUZA et al.24 relatam que a categoria de peso influencia na percentagem de cabeça da tilápia do Nilo, sendo a maior porcentagem (30,67%) observada na categoria de 250 a 400 g comparada com 27,07% referente à categoria de (401-550 g).

Alguns autores19,23,25,26 citam que a faixa de peso influencia o rendimento do filé. Por exemplo, RIBEIRO, LIMA e TURRA19 encontraram um rendimento mínimo de 26,32% e no máximo de 37,08% para a tilápia vermelha (Oreochromis sp.) e observaram que o rendimento do filé aumentou em função do peso do peixe, sendo de 31,49% na menor classe (150-350 g) e de 33,67% na maior classe (751-950 g). SOUZA, MACEDO-VIEGAS, KRONKA25,26 e SOUZA23 relataram diferenças no rendimento de filetagem de acordo com as categorias de peso. Por outro lado, SOUZA e MARANHÃO27 não encontraram diferença significativa para o rendimento de filés de tilápia nilótica na faixa de peso estudado que foi de 36,5% para 300-400 g e 36,84% para a faixa de peso de 401-500 g. Igualmente, PINHEIRO et al.18 também não encontrou diferença significativa no rendimento de filé de tilápia tailandesa entre as categorias de peso, (300-600 g), (601-800 g) e (801-1000 g).

Os resíduos (cabeça + espinha) corresponderam em média a 55,85% do total do pescado, o que torna importante o seu aproveitamento.

A Tabela 5 mostra a distribuição de peso da tilápia tailandesa em 3 faixas de peso. Os valores de rendimento dos filés com e sem pele na faixa de peso estudada não diferiram estatisticamente em si no teste de Tukey (p > 0,05).

O rendimento de filé, além da eficiência das máquinas filetadoras ou da destreza manual do operário, depende de algumas características intrínsecas à matéria-prima, ou seja, da forma anatômica do corpo, do tamanho da cabeça e dos pesos dos resíduos (vísceras, pele e nadadeiras)6,9,19.

SOUZA22 encontrou diferenças significativas quando comparou seis métodos de filetagem, em relação ao rendimento de filé e de subprodutos do processamento da tilápia do Nilo. O melhor método de filetagem foi o que retirou a pele do peixe inteiro e depois removeu o filé.

3.3 Caracterização físico-química da matéria-prima

A Tabela 6 mostra a caracterização físico-química da tilápia.

Os valores médios da composição química da matéria-prima estão mostrados na Tabela 6. Os resultados foram próximos aos encontrados por YANAR, CELIK e AKAMCA30 para a tilápia (Oreochromis niloticus) que apresentou 76,87% de umidade, 18,23% de proteína, 2,64% de lipídios e 1,09% de cinza. Estes resultados também estão próximos aos encontrados por SALES e SALES20 que encontraram para a tilápia valores de umidade 75%, 18,5% de proteína, 3,60% de lipídios e 2,4% de cinzas.

CONTRERAS-GUZMÁN6 relata que a fração de cinzas em peixes de água doce apresenta variações em quantidades que vão de 0,90 a 3,39%. Este valor é compatível ao valor de cinzas encontrado na tilápia. Com relação aos minerais, a carne de pescado é considerada uma fonte valiosa de cálcio e fósforo particularmente, apresentando também quantidades razoáveis de sódio, potássio, manganês, cobre, cobalto, zinco, ferro e iodo.

OGAWA e MAIA16 citam que o músculo do pescado pode conter de 60 a 85% de umidade, aproximadamente 20% de proteína, de 1 a 2% de cinza, de 0,3 a 1,0% de carboidrato e de 0,6 a 36% de lipídios. Este último componente apresenta uma maior variação em função do tipo de músculo corporal em uma mesma espécie (por exemplo, em atum a carne dorsal apresenta teores de 1 a 2% de lipídeos, enquanto que a carne abdominal pode alcançar até 20%), sexo, idade, época do ano, habitat e dieta entre outros fatores.

Segundo PIGOTT e TUCKER17, uma forma de definir a classificação de peixes gordos está baseada na seguinte relação: menor que 2% de conteúdo de lipídeos, é um pescado de baixo conteúdo de gordura; entre 2 e 5%, é um pescado moderado em conteúdo de gordura; e maiores que 5%, é considerado um pescado com alto conteúdo de gordura. Os resultados classificam a tilápia tailandesa como um pescado com moderado teor de gordura.

A atividade de água encontrada foi de 0,983, que foi inferior ao valor encontrado por SOUZA et al.28 para tilápia do Nilo, sendo portanto classificado como um alimento com alto teor de umidade10.

4 Conclusões

  • os exemplares de tilápia tailandesa apresentaram, em sua composição, moderados teores de lipídios e elevados teores de proteínas, sendo assim caracterizado como um pescado com teor intermediário de gordura e de alto valor protéico;

  • A faixa de peso não influenciou o rendimento do filé;

  • O rendimento com e sem pele do filé foram inferiores aos encontrados na literatura; e

  • Os resíduos obtidos foram em média de 55,85%, sendo importante o seu aproveitamento na produção de ração, ensilados, etc.

Agradecimentos

À UNICAMP, FAPESP, CNPq e Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

Recebido para publicação em 27/9/2006

Aceito para publicação em 18/7/2007 (001869)

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    A quem a correspondência deve ser enviada
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Out 2007
    • Data do Fascículo
      Set 2007

    Histórico

    • Recebido
      27 Set 2006
    • Aceito
      18 Jul 2007
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