Acessibilidade / Reportar erro

Corrente do Brasil: estrutura térmica entre 19º e 25ºS e circulação geostrófica

Brazil current: thermal structure between 19º-25ºS and geostrophic circulation

Resumos

Para obter informações sobre a variação espacial da estrutura térmica e localizar a Corrente do Brasil, ao norte e ao sul dos bancos submarinos localizados a 20º30'S realizou-se, em abril de 1982, um levantamento oceanográfico nessa região. Dados de sensoriamento remoto foram também obtidos durante os trabalhos experimentais para um delineamento sinótico da estrutura térmica de superfície. Observou-se, ao longo da maioria das secções, um "thermostad" de 23ºC na termoclina principal. Ao longo das secções com intenso sinal baroclfnico, tal como na secção ao largo de Cabo Frio, o "thermostad" atenua-se e finalmente desaparece nas proximidades da costa, de forma semelhante ao desaparecimento da água de 18ºC na parede norte da Corrente do Golfo. A estrutura da corrente e o transporte de volume, relativos à superfície isobárica de 500 dbar, foram obtidos usando-se os dados hidrográficos e também as medidas com XBX as quais foram realizadas com espaçamentos muito menores do que o das estações hidrográficas. A comparação desses resultados, para o conjunto de observações conduzidas ao largo de Cabo Frio, indica que detalhes da corrente geostrófica não são delineados quando da utilização dos dados hidrográficos; os correspondentes valores do transporte de volume diferem em aproximadamente 17% (33 e 2,8 Sv, calculados com dados hidrográficos'e de XBX respectivamente). O balanço do transporte de volume, através de todas as secções entre 19 e 22º5, indica que a Corrente do Brasil flui através da passagem entre os bancos localizados mais próximos da costa. O transporte de volume resultante (2,9 Sv) é muito próximo do valor obtido através da secção ao largo de Cabo Frio, onde supõe-se que a extensão transversal da Corrente do Brasil foi delimitada pelo conjunto de observações.

Circulação da água; Corrente do Brasil; Estrutura térmica; Diagramas T/S; Correntes geostróficas; Cabo Frio; Bancos de Abrolhos


In April 1982, an oceanographie investigation was conducted off the Brazilian coast in order to obtain the spatial characteristics of the thermal structure and to locate the Brazil Current flow both north and south of the seamount chain at 20º30'S. Dining the survey, remote sensing satellite data were also obtained on several occasions to assist in the delineation of the surface thermal structure. A 23ºC thermostad was observed along most sections. Along sections with stronger baroclinic signatures, such as the one in Cabo Frio, the thermostad seems to be pinched off somewhat similar to the pinching off the 18ºC water in the Gulf Stream North wall. The current structure and volume transports, relative to the 500 dbar isobaric surface, were calculated using both hydrographie station data and the closely spaced XBT measurements. A comparison of these results, for the data observed along the section of Cabo Frio, indicates that some details of the geostrophic currents are lost when the hydrographie data are used; the corresponding volume transports agree within 17% (33 Sv using hydrographie data against 2.8 Sv using XBT data). A volume transport budget, obtained through the transport computation along all sections between 19º and 22ºS, indicates that the Brazil Current appears to flow through the passage between the most inshore banks and not to the east. The net volume transport (2.9 Sv) is in close agreement with the Cabo Frio section volume transport, where the total flow of the Brazil Current was supposedly bracketed by the station sampling.

Water circulation; Brazil Current; Thermal structure; T/S diagrams; Geostrophic currents; Cabo Frio; Bancos de Abrolhos


ARTIGOS

Corrente do Brasil: estrutura térmica entre 19º e 25ºS e circulação geostrófica

Brazil current: thermal structure between 19º-25ºS and geostrophic circulation

Sérgio Romano Signorini* (* ) Greenhorne & O'Mara Inc.- Greenbelt, Maiyïand, 20770, U.S.J.V ; Luiz Bruner de Miranda** (** ) Instituto Oceanográfico da USP (Bolsista do CNPq) ; David L. Evans*** (*** ) Office of Naval Research, Arlington, Virginia, U.S.A. ; Merritt R. Stevenson**** (**** ) Instituto de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos. ; H. M. Inostroza V.**** (**** ) Instituto de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos.

Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (Caixa Postal 9075, 01051 São Paulo, SP)

RESUMO

Para obter informações sobre a variação espacial da estrutura térmica e localizar a Corrente do Brasil, ao norte e ao sul dos bancos submarinos localizados a 20º30'S realizou-se, em abril de 1982, um levantamento oceanográfico nessa região. Dados de sensoriamento remoto foram também obtidos durante os trabalhos experimentais para um delineamento sinótico da estrutura térmica de superfície.

Observou-se, ao longo da maioria das secções, um "thermostad" de 23ºC na termoclina principal. Ao longo das secções com intenso sinal baroclfnico, tal como na secção ao largo de Cabo Frio, o "thermostad" atenua-se e finalmente desaparece nas proximidades da costa, de forma semelhante ao desaparecimento da água de 18ºC na parede norte da Corrente do Golfo.

A estrutura da corrente e o transporte de volume, relativos à superfície isobárica de 500 dbar, foram obtidos usando-se os dados hidrográficos e também as medidas com XBX as quais foram realizadas com espaçamentos muito menores do que o das estações hidrográficas. A comparação desses resultados, para o conjunto de observações conduzidas ao largo de Cabo Frio, indica que detalhes da corrente geostrófica não são delineados quando da utilização dos dados hidrográficos; os correspondentes valores do transporte de volume diferem em aproximadamente 17% (33 e 2,8 Sv, calculados com dados hidrográficos'e de XBX respectivamente).

O balanço do transporte de volume, através de todas as secções entre 19 e 22º5, indica que a Corrente do Brasil flui através da passagem entre os bancos localizados mais próximos da costa. O transporte de volume resultante (2,9 Sv) é muito próximo do valor obtido através da secção ao largo de Cabo Frio, onde supõe-se que a extensão transversal da Corrente do Brasil foi delimitada pelo conjunto de observações.

Descritores: Circulação da água, Corrente do Brasil, Estrutura térmica, Diagramas T/S, Correntes geostróficas, Cabo Frio: RJ, Bancos de Abrolhos: BA.

ABSTRACT

In April 1982, an oceanographie investigation was conducted off the Brazilian coast in order to obtain the spatial characteristics of the thermal structure and to locate the Brazil Current flow both north and south of the seamount chain at 20º30'S. Dining the survey, remote sensing satellite data were also obtained on several occasions to assist in the delineation of the surface thermal structure. A 23ºC thermostad was observed along most sections. Along sections with stronger baroclinic signatures, such as the one in Cabo Frio, the thermostad seems to be pinched off somewhat similar to the pinching off the 18ºC water in the Gulf Stream North wall. The current structure and volume transports, relative to the 500 dbar isobaric surface, were calculated using both hydrographie station data and the closely spaced XBT measurements. A comparison of these results, for the data observed along the section of Cabo Frio, indicates that some details of the geostrophic currents are lost when the hydrographie data are used; the corresponding volume transports agree within 17% (33 Sv using hydrographie data against 2.8 Sv using XBT data). A volume transport budget, obtained through the transport computation along all sections between 19º and 22ºS, indicates that the Brazil Current appears to flow through the passage between the most inshore banks and not to the east. The net volume transport (2.9 Sv) is in close agreement with the Cabo Frio section volume transport, where the total flow of the Brazil Current was supposedly bracketed by the station sampling.

Descriptors: Water circulation, Brazil Current, Thermal structure, T/S diagrams, Geostrophic currents, Cabo Frio: RJ, Bancos de Abrolhos: BA.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Agradecimentos

Os autores desejam agradecer às seguintes instituições que, em conjunto, completaram a contrapartida brasileira para a realização dos trabalhos experimentais do Projeto TRANSCOBRA: Instituto Oceanográfico da USP, Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE/CNPq) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Ao Dr. Henry Stommel, do Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI), pelo incentivo recebido e empréstimo do Sistema Explendable Bathythermograph (XBT). Desejamos também agradecer a valiosa colaboração de José Carlos Moreira do INPE/CNPq, pelo desenvolvimento do programa para a composição digital das imagens pelo Sistema General Electric Image-100.

Finalmente, agradecemos aos Centros de Computação da Escola Politécnica (CGE) e do Instituto de Física (SEMA), pela utilização de seus respectivos computadores.

(Recebido em 22-03-85; aceito em 20-10-89)

  • BERNARDI Jr., H. 1969. Estudo preliminar sobre um método estatístico para controle de dados oceanográficos. Anais hidrogr., Rio de Janeiro, 26(DH 3-26):165-174.
  • BUSCAGLIA, J. L. 1971. On the circulation of the Intermediate Water in the southwestern Atlantic Ocean. J. mar. Res., 29:245- 255.
  • DEACON, G. E. R. 1933. A general account of the hydrology of the South Atlantic Ocean. 'Discover' Repts, 7:171-238.
  • DEFANT, A. 1941. Die absolute Topographie des physikalischen Meeresniveaus und der Druckflächen, sowie die Wasserbewegungen im Raum des AÜantischen Ozean. Wiss. Ergebn. dt. atlant. Exped. 'Meteor', 6(2, Lief. 5):191-260.
  • EMERY, W. J. 1975. Dynamic height from temperature profiles. J. phys. Oceanogr., 5(2)369-375.
  • EMÍLSSON, I. 1961. The shelf and coastal waters off southern Brazil. Bolm Inst, oceanogr., S Paulo, 11(2):101-112.
  • EVANS, D. L. & SIGNORINI, S. R. 1985. Vertical structure of South Atlantic currents. Nature, Lond., 315(6014):48-50.
  • ______; ______ & MIRANDA, L. B. de. 1983. A note on the transport of Brazil Current J. phys. Oceanogr., 13(9):1732-1738.
  • FU, L. L. 1981. The general circulation and meridional heat transport of the Subtropical South Atlantic determined by inverse methods. J. phys. Oceanogr., 11(9):1171-1193.
  • FUGLISTER, F. C. 1960. Atlantic Ocean atlas of temperature and salinity profiles and data for the International Geophysical Year of 1957-1958. Woods Hole oceanogr. Instn Atlas Ser., (1).
  • KEYTE, F. K. 1965. On the formulas for correcting reversing thermometers. Deep-Sea Res., 12:163-172.
  • LaPOND, E. C. 1951. Processing oceanographie data. Publs U.S. hydrogr. Off, (614):1-114.
  • MIRANDA, L. B. de. 1982. Análise de massa de água da plataforma continental e da região oceânica adjacente: Cabo de São Tomé (RJ) a Ilha de São Sebastião (SP). Tese de livre-docênda. Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico. 123p. + figs.
  • ______ 1985. Forma da correlação T-S de massas de água das regiões costeiras e oceânica entre o Cabo de São Tomé (RJ) e a Ilha de São Sebastião (SP), Brasil. Bolm Inst. oceanogr, S Paulo, 33(2):105-119.
  • MIRANDA, L. B. de & CASTRO FILHO, B. M. de. 1979. Condições do movimento geostrófico das águas adjacentes a Cabo Frio (RJ). Bolm Inst. oceanogr, S Paulo, 28(2):79-93.
  • ______ & ______ 1982. Geostrophic flow conditions of the Brazil Current at 19şS. Ciencia Interamer, 22(1/2) :44-48.
  • NODC. 1964. Processing physical and chemical data from oceanographie stations. Part I. Coding and keypunching. Publication M-2, Part I, NODC, Manual Series. 113p.
  • REID, J. L.; NOWLIN, W. D. & PATZERT, W. P. 1977. On the characteristics and circulation of the southwestern Atlantic Ocean. J. phys. Oceanogr, 7(1):62-91.
  • SIGNORINI, S. R. 1976. Contribuição ao estudo da circulação e do transporte de volume da Corrente do Brasil entre o Cabo de São Tomé e a Baía de Guanabara. Bolm Inst. oceanogr, S Paulo, 25:157-220.
  • ______ 1978. On the circulation and the volume transport of the Brazil Current between the Cape of São Tomé and Guanabara Bay. Deep-Sea Res, 25:481-490.
  • SILVA, P. de C. M. da. 1973. A ressurgência em Cabo Frio (I). Publções Inst. Pesq. Marinha, (78):1-55.
  • STOMMEL, H. S. 1947. Note on use of the T-S correlation for dynamic height anomaly computations. J. mar. Res, 6(2):85-92.
  • ______ 1980. Asymmetry of interoceanic fresh-water and heat fluxes (ocean heat budget/climate/water balance). Proc. natn Acad Sci. U.S.A, 77(5)2377-2381.
  • SVERDRUP, H. U.; JOHNSON, M. W. & FLEMING, R. H. 1942. The ocean; their physics, chemistry, and general biology. Englewood Cliffs, Prentice-HalL 1087p.
  • THOMSEN, H. 1962. Masas de aguas características del Oceano Atlántico parte sudoeste. Publico Serv. hidrogr. nav, B. Aires, (H-632):1-27.
  • UNESCO. 1981a. Tenth report of the Joint Panel on Océanographie Tables and Standards. UNESCO tech. Pap. mar. Sci., (36):1-25.
  • ______ 1981b. International oceanographie tables. UNESCO tech. Pap. mar. Sci., (39): 1-111.
  • WRIGHT, W. R. 1970. Northward transport of Antarctic Bottom Water on the Western Atlantic Ocean. Deep-Sea Res, 17:367-371.
  • WÜST, G. 1935. Die Stratosphäre. Wiss. Ergbn. dt. atlant. Exped. 'Meteor', 6(1):109-288.
  • YASUI, M. 1955. On the rapid determination of the dynamic depth anomaly in the Kuroshio area. Rec. oceanogr. Wks Japan, 2(2):90- 95.
  • (*
    ) Greenhorne & O'Mara Inc.- Greenbelt, Maiyïand, 20770, U.S.J.V
  • (**
    ) Instituto Oceanográfico da USP (Bolsista do CNPq)
  • (***

    ) Office of Naval Research, Arlington, Virginia, U.S.A.
  • (****

    ) Instituto de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jun 2012
    • Data do Fascículo
      1989

    Histórico

    • Recebido
      22 Mar 1985
    • Aceito
      20 Out 1989
    Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo Praça do Oceanográfico, 191, 05508-120 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 3091 6513, Fax: (55 11) 3032 3092 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: amspires@usp.br