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O Convidado Ilustre: Observações sobre Participação e Prática Docente em Bancas Examinadoras

RESUMO

Objetivo:

pensata de natureza provocativa que procura promover reflexão e debate acerca da participação docente em bancas examinadoras de dissertações e teses em programas de pós-graduação em administração.

Provocações:

argumenta-se que os convidados mais performam uma espécie de espetáculo acadêmico durante as bancas do que analisam propriamente as dissertações e teses, e que isso é prejudicial à formação de pesquisadores.

Conclusões:

a formação do pesquisador deve ser o centro das atenções. É um equívoco que particularidades, idiossincrasias e vaidades obscureçam a realização de exames. A participação de docentes em bancas examinadoras é uma expressão significativa da prática docente e pode representar importante contribuição para a formação de pesquisadores. É preciso que ela não seja tomada como algo dado, tampouco perpetuada como um espetáculo onde se reúnem convidados ilustres.

Palavras-chave:
bancas examinadoras; pós-graduação; prática docente; formação de pesquisadores

ABSTRACT

Objective:

a thought-provoking essay that seeks to promote reflection and debate about faculty participation in boards examining dissertations and theses in graduate administration programs.

Provocations:

it is argued that the guests perform a kind of academic spectacle during the examinations rather than analyze the dissertations and theses themselves and that this is detrimental to researchers’ training.

Conclusions:

such training of researchers should be the center of attention, and particularities, idiosyncrasies, and vanities should not overshadow the performance of examinations. As the participation of professors in examining boards is a significant expression of teaching practice and can make an important contribution to researchers’ training, it cannot be taken for granted, nor does it need to be perpetuated as a spectacle by distinguished guests.

Keywords:
examining boards; graduate studies; teaching practice; training of researchers

INTRODUÇÃO

Um dos momentos mais particulares da trajetória de formação de pesquisadores por meio de programas de pós-graduação stricto sensu em administração corresponde à realização dos exames de defesa de dissertações e teses. Nesta pensata, busco provocar reflexão e debate acerca da participação docente em bancas que são constituídas para a condução desses exames.

Não parto de uma questão de pesquisa específica, tampouco de uma lacuna presente em alguma teoria ou literatura que esteja relacionada à realização de bancas de defesa, até porque uma busca em bases bibliográficas revela dúvidas sobre a existência de tal literatura. De outra maneira, a pensata é baseada em minha jornada como professor universitário, particularmente como membro do corpo docente permanente de um programa de pós-graduação brasileiro que possui curso de mestrado e doutorado em administração. Embora possa sugerir um lugar de fala que se aproxime de uma espécie de autoetnografia, não é esse o caso. Trata-se de observações que refletem a minha experiência de participação como membro de bancas de exames de dissertação e exames de tese de doutorado na instituição em que trabalho, assim como em outras instituições em que tive oportunidade de participar como membro convidado.

Apresento o argumento de que os convidados para bancas examinadoras de dissertações e teses se tornaram apenas convidados ilustres que participam dos exames, mas pouco examinam o trabalho sob análise. É como se tais examinadores participassem de um espetáculo acadêmico composto por eles e seus pares, por um candidato a um título de mestre ou doutor, e por uma plateia. Mais que isso, é como se tais convidados ganhassem centralidade em relação ao próprio candidato ao título, cujo trabalho está sendo examinado. Essa condição parece ser estranha e prejudicial ao processo de análise e construção do conhecimento, assim como parece ser prejudicial aos candidatos examinados, pois pouco contribui para ampliar e aprofundar a formação que recebem, até porque não são passivos nesse processo. As observações a seguir procuram consubstanciar o argumento aqui apresentado, e é bem possível que sejam compartilhadas por colegas docentes que atuam no campo da administração.

OBSERVAÇÕES SOBRE PARTICIPAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE EM BANCAS EXAMINADORAS

Inexistem antecedentes teóricos ou literatura sobre esse tema. Existe literatura a respeito de produção acadêmica, o que inclui dissertações de mestrado e teses de doutorado, mas é uma literatura basicamente voltada para aspectos de produção ou produtivismo acadêmico e não contempla a reflexão e o debate sobre a realização de exames de avaliação em cursos stricto sensu. Não é de todo conveniente especular, mas talvez seja por questões de falta de interesse, por tabu a respeito do assunto, por receio, por ser considerado algo pouco relevante para discussão, ou até mesmo porque se tome como algo dado - o chamado take for granted. Tanto a Academy of Management - em tese, a maior instituição existente para discussões acadêmicas em administração - quanto a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD), que promove um dos maiores eventos acadêmicos em administração em todo o mundo, possuem divisões temáticas específicas voltadas para o tratamento de questões relacionadas à educação em administração. No caso da primeira, trata-se da Management Education and Development (MED), e no caso da segunda consiste na Divisão de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EPQ). Aparentemente, nenhuma das duas tem contemplado trabalhos e discussões sobre a realização de exames e participação docente em bancas que são constituídas para sua realização. Não menos importante, um levantamento em periódicos que tratam de educação em administração, como, por exemplo, Journal of International Education in Business, Journal of Management and Business Education, Journal of Management Education, e Journal of Education for Business, que são publicados fora do Brasil, ou a RAEP - Administração: Ensino e Pesquisa, publicada em nosso país, permite verificar que o assunto tratado nesta pensata não está presente nos artigos por eles publicados. Raras são as oportunidades em que se verifica alguma discussão sobre o tema, como se depreende dos trabalhos de Leauby e Atkinson (1989Leauby, B. A., & Atkinson, M. (1989) The effects of written comments on student performance. Journal of Education for Business, 64(6), 271-274. https://doi.org/10.1080/08832323.1989.10117372
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), O’Mahony et al. (2013O'Mahony, B., Verezub, E., Dalrymple, J., & Bertone, S. (2013). An evaluation of research students' writing support intervention. Journal of International Education in Business, 6(1), 22-34. https://doi.org/10.1108/18363261311314935
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), e Cruz et al. (2019Cruz, A., Girotto, M., & Amortegui, L. S. (2019). Assessing students competencies and learning in master thesis projects: towards an integrated evaluation approach. Journal of Management and Business Education, 2(1), 8-16. https://doi.org/10.35564/jmbe.2019.0002
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).

A pós-graduação em administração experimentou uma grande expansão no Brasil ao longo das duas décadas mais recentes (Cirani et al., 2012Cirani, C. B. S., Silva, H. H. M., & Campanario, M. A. (2012). A evolução do ensino da pós-graduação em Administração no Brasil. RAC - Revista de Administração Contemporânea, 16(6), 765-783. https://doi.org/10.1590/S1415-65552012000600002
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; Ikeda et al., 2005Ikeda, A. A., Campomar, M. C., & Veludo-de-Oliveira, T. M. (2005). A pós-graduação em administração no Brasil: Definições e esclarecimentos. Revista Gestão e Planejamento, 6(12), 33-41. https://revistas.unifacs.br/index.php/rgb/article/view/215
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). Uma visita ao website da ANPAD permite constatar dezenas de programas que oferecem cursos de mestrado e doutorado. A ANPAD disponibiliza a informação de que possui a filiação de 109 programas de pós-graduação em administração e contabilidade. A grande maioria, no entanto, corresponde a programas de pós-graduação em administração. O aumento no número de programas leva, naturalmente, a um aumento no número de defesas de dissertações e teses realizadas a cada ano. Para cada defesa, como é de praxe, é necessária a formação de uma banca de examinadores composta por docentes internos e externos ao programa de pós-graduação. Com a expansão no número de defesas em diferentes programas, com diferentes linhas de pesquisa, em diferentes instituições de ensino e pesquisa, ter clareza sobre o contexto das bancas parece ser um desafio. É possível até mesmo questionar para que servem as defesas. Há diferença entre a banca de qualificação e a banca de defesa final? A banca de qualificação é mais rigorosa e caracteriza um momento de proposições para a construção da pesquisa e correção no rumo dos trabalhos de campo a serem desenvolvidos? A banca final é um momento de exame, como formalmente aparenta, ou é um momento de celebração? Em outras palavras, existe um momento de realização de exame e outro de festa e espetáculo? Qual é o papel do membro da banca, a princípio convidado como examinador, perante todas essas possibilidades?

Tendo em vista o imperativo de preenchimento da Plataforma Sucupira1 1 A Plataforma Sucupira é uma “ferramenta que coleta informações e funciona como base de referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG)” (Ministério da Educação, 2017). O seu nome “é uma homenagem ao professor Newton Sucupira, autor do parecer nº 977 de 1965 … que conceituou, formatou e institucionalizou a pós-graduação brasileira nos moldes dos dias de hoje” (Ministério da Educação, 2017). em função do processo de avaliação dos programas de pós-graduação no país, realizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e considerando a necessidade de indicar resultados da produção acadêmico-científica docente e também discente, o produtivismo (Alcadipani, 2011Alcadipani, R. (2011). Resistir ao produtivismo: Uma ode à perturbação acadêmica. Cadernos EBAPE, 9(4), 1174-1178. https://doi.org/10.1590/S1679-39512011000400015
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; Godoi & Xavier, 2012Godoi, C., & Xavier, W. (2012). Produtivismo e suas anomalias. Cadernos EBAPE.BR, 10(2), 456-465. https://doi.org/10.1177/0001839215585725
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; Machado & Bianchetti, 2011Machado, A., & Biachetti, L. (2011). (Des)Fetichização do produtivismo acadêmico: Desafios para o trabalhador-pesquisador. RAE-Revista de Administração de Empresas, 51(3), 244-254. https://doi.org/10.1590/S0034- 75902011000300005
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; Patrus et al., 2015Patrus, R., Dantas, D. C., & Shigaki, H. B. (2015). O produtivismo acadêmico e seus impactos na pós-graduação stricto sensu: Uma ameaça à solidariedade entre pares? Cadernos EBAPE.BR, 13(1), 1-18. https://doi.org/10.1590/1679-39518866
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; Silva, 2019Silva, A. B. da. (2019). Produtivismo acadêmico multinível: Mercadoria performativa na pós-graduação em administração. RAE-Revista de Administração de Empresas, 59(5), 341-352. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020190504
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) invadiu as defesas de dissertações e teses. De uma maneira ou de outra, a necessidade que os programas de pós-graduação têm de possuir publicações passou a moldar a participação docente nas bancas examinadoras. É como se a Sucupira tivesse se tornado uma espécie de terror, moldando a maneira de atuação docente ao longo dos exames, em função de suas demandas e exigências por pontuação. As dissertações, teses, e aquilo que apresentam em termos de resultados de pesquisa, deixaram de ser o centro da atenção. O mais importante é o que delas pode surgir: os artigos, os papers, os ensaios, os trabalhos - o leitor ou leitora pode ficar à vontade para chamar como quiser!

A consequência imediata do produtivismo gerado pelo terror da Sucupira é que tanto as dissertações quanto as teses de um curso de pós-graduação stricto sensu não tardaram a se tornar uma espécie de documento natimorto. Os docentes convidados para as bancas têm o hábito de fazer sugestões, entretanto quase sempre são sugestões voltadas para a publicação de artigos em periódicos. Tratam a dissertação e a tese como um documento a ser esquecido em algum arquivo ou base eletrônica de consulta remota. É como se a produção de artigos fosse a justificativa ou o sentido maior da elaboração da dissertação ou tese pelo pós-graduando. Há, inclusive, a instituição da tese em formato de artigo em programas de pós-graduação. Em importante artigo que se tornou referência para toda uma geração de pesquisadores, Freitas (2002Freitas, M. E. de. (2002). Viver a tese é preciso! Reflexões sobre as aventuras e desventuras da vida acadêmica. RAE - Revista de Administração de Empresas, 42(1), 88-93. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75902002000100009
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) fala que viver a tese é preciso. Hoje em dia, contudo, parece que o que é preciso mesmo é produzir artigos.

Em muitas situações, a redação da dissertação ou da tese torna-se uma experiência circunscrita a um propósito que não necessariamente condiz com aquilo que o pós-graduando tem no início de seu trabalho de pesquisa. Além do caráter imperativo e já institucionalizado da produção de artigos, é preciso quase que abdicar da autonomia intelectual. É possível observar uma desconfortável conformidade ao longo dos exames de defesa de dissertações e teses, em que é preciso contemporizar com os convidados para as bancas, sem contrariá-los. Olhando sob certa perspectiva, impera uma lógica de rede. Ninguém contraria ninguém; apenas se elogia. Por outro lado, e de modo paradoxal, convidados para as bancas praticamente não reconhecem autores brasileiros como referências relevantes ou pertinentes para citação. Durante as bancas, convidados citam vários autores e muito do que há fora do Brasil, mas quase não falam da produção de autores nacionais, tampouco das instituições que existem no país e que estão relacionadas aos temas dos trabalhos que estão sendo defendidos pelos pós-graduandos. Via de regra, quando citam ou falam a respeito de alguém conhecido, referem-se a eles mesmos e, às vezes, a quem os convidou para participar como examinadores na banca de defesa.

As observações até aqui relatadas sugerem que a defesa se tornou um espetáculo em que a banca é um palco para o qual os examinadores são convidados ilustres. É como se a Academia refletisse e se amalgamasse à sociedade do espetáculo (Debord, 1997Debord, G. (1997). A sociedade do espetáculo. Contraponto.). Mais vale para o convidado fazer uma piada ou um comentário engraçado do que solicitar ao candidato ou candidata explicações sobre uma escolha teórica ou decisão metodológica. Do mesmo modo, mais vale para o convidado falar quase que exaustivamente de sua formação acadêmica pessoal (mestrado, doutorado, etc.) do que tentar discutir os achados das pesquisas que resultaram nas dissertações e teses de cujas bancas participa.

Em meio às minhas observações desse processo, considero ser possível falar na existência de uma espécie de tipologia ou caracterização de convidados ilustres enquanto examinadores, conforme segue logo abaixo:

a. O examinador corretor

É aquele convidado ilustre que só fala em vender artigo. Ele trata a tese do candidato como uma fábrica de artigos que precisam ser vendidos ao mercado editorial. Em todos os momentos em que pode intervir ao longo da defesa, ele fala que o candidato deve pensar em “como vai vender a ideia do artigo”, ou seja, como vai fazer para convencer editores e revisores a comprarem o seu artigo.

b. O examinador humilde

É aquele convidado ilustre que não reconhece a sua própria autoridade acadêmica e assume uma falsa postura de humildade intelectual, postura esta aparentemente bem recebida em tempos de falas e comportamentos politicamente corretos. Em geral, é o convidado que ao longo da defesa faz comentários mais ou menos assim: “eu tenho uma sugestão para vocês [ele diz isso se referindo ao candidato e ao orientador/orientadora do candidato]; vejam aí se vocês concordam …; pensem sobre isso …”

c. O examinador diplomata

É aquele convidado ilustre que quer construir redes e não se indispor com o candidato, tampouco com o orientador do candidato examinado, pois quer evitar deixar de ser convidado para uma próxima banca. Ele assume que se tiver uma participação mais incisiva ao longo da realização da banca, fazendo várias perguntas e questionando o trabalho, ele deixará de ser convidado em uma próxima oportunidade e isso prejudicará a sua rede de contatos e lhe tirará a possibilidade de alimentar o seu Currículo Lattes com participação em bancas. Afinal, a participação em bancas, sobretudo de doutorado, é algo ilustre.

d. O examinador que faz terapia em grupo

É o convidado ilustre que ignora a dissertação ou tese que está sendo avaliada e resolve falar de suas experiências acadêmicas durante a realização da banca, e fala o tempo inteiro sobre o que ocorreu em relação aos artigos que submeteu para as revistas. Ele fala sobre as conversas com editores, o que disseram os revisores e sobre como ele respondeu aos revisores. Esse examinador acredita que o relato que ele faz servirá para o candidato no momento em que estiver submetendo seu artigo para revistas ou passando por um processo de análise de seus artigos em revistas.

e. O examinador que é dono dos autores, das teorias e dos métodos

É o convidado ilustre que julga que só ele, e tão somente ele, consegue explicar determinado autor; que apenas ele compreende determinada teoria; ou ainda, que mais ninguém sabe usar determinado recurso ou procedimento metodológico. Em outras palavras, é o convidado que, para si e perante os outros, definiu ser possuidor de um latifúndio sobre um autor, sobre uma teoria, ou sobre um procedimento metodológico, e que não tem a menor pretensão de compartilhar tal latifúndio com nenhum colega examinador presente na banca - inclusive o orientador, presidente da banca, e que o convidou -, muito menos com o aluno pós-graduando, candidato ao título de mestre ou doutor.

f. O examinador encantado

É o convidado recém-doutor, que está participando de uma banca examinadora pela primeira vez, e que em tudo enxerga a tese que defendeu há pouco tempo. Praticamente em todas as observações e comentários que faz ao longo da sua participação na banca, busca estabelecer algum tipo de relação com a tese que escreveu e elenca várias ilustrações e exemplos por meio da pesquisa que desenvolveu para sua tese.

g. O examinador comediante

Trata-se do convidado ilustre que se acha engraçado e que usa o tempo para tentar fazer os outros rirem. Usa de ironias, sarcasmos, deboches, tenta parecer descolado e inteligente. Normalmente é aquele convidado já sênior e que ninguém vai contrariar, por mais absurdas e sem graça que sejam as coisas que fala durante a defesa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diferentes posturas ou diferentes maneiras de se portar como examinador em bancas de dissertação ou tese podem ser mais ou menos frutíferas como práticas docentes que contemplam não só a avaliação, mas sobretudo a formação de pesquisadores. Certamente, cada uma dessas práticas terá como pano de fundo a formação e as experiências anteriores de cada convidado. O fato de pertencerem ou não ao programa de pós-graduação onde a defesa é realizada também é fator importante na definição da prática docente adotada.

O mais relevante, contudo, é que o compromisso do convidado seja no sentido de se engajar para oferecer uma contribuição para a formação dos pesquisadores. O momento da realização da banca é algo único, sui generis para quem procede a defesa, no caso o pesquisador em processo de formação. Toda a atenção deve ser voltada para o seu trabalho, para a construção de um debate em torno deste, em que se possam oferecer contribuições para o aperfeiçoamento da investigação como um todo, e não apenas ou especificamente para produtos ou subprodutos dela decorrentes.

A formação do pesquisador deve ser o centro das atenções e não a dinâmica em torno de processos institucionais de avaliação dos programas de pós-graduação. É um equívoco permitir que as particularidades, idiossincrasias e vaidades de convidados obscureçam trabalhos construídos com esforço e sob circunstâncias de forte redução do apoio às atividades de pós-graduação e pesquisa, como vivenciamos atualmente em nosso país. A participação de docentes em bancas examinadoras é uma expressão significativa da prática docente e pode representar importante contribuição para a formação de pesquisadores. É preciso que ela não seja tomada como algo dado, tampouco perpetuada como um espetáculo onde se reúnem convidados ilustres. Ela precisa ser debatida e aperfeiçoada!

REFERÊNCIAS

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  • 1
    A Plataforma Sucupira é uma “ferramenta que coleta informações e funciona como base de referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG)” (Ministério da Educação, 2017). O seu nome “é uma homenagem ao professor Newton Sucupira, autor do parecer nº 977 de 1965 … que conceituou, formatou e institucionalizou a pós-graduação brasileira nos moldes dos dias de hoje” (Ministério da Educação, 2017).
  • JEL Code:

    M1, I2, Y4.
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    O Relatório de Revisão por Pares está disponível neste link externo.
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    A RAC mantém a prática de submeter todos os documentos aprovados para publicação à verificação de plágio, mediante o emprego de ferramentas específicas, e.g.: iThenticate.
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  • Disponibilidade dos Dados

    A RAC incentiva o compartilhamento de dados mas, por observância a ditames éticos, não demanda a divulgação de qualquer meio de identificação de sujeitos de pesquisa, preservando a privacidade dos sujeitos de pesquisa. A prática de open data é viabilizar a reproducibilidade de resultados, e assegurar a irrestrita transparência dos resultados da pesquisa publicada, sem que seja demandada a identidade de sujeitos de pesquisa.

Editado por

Editor-chefe:

Marcelo de Souza Bispo (Universidade Federal da Paraíba, PPGA, Brasil)

Disponibilidade de dados

A RAC incentiva o compartilhamento de dados mas, por observância a ditames éticos, não demanda a divulgação de qualquer meio de identificação de sujeitos de pesquisa, preservando a privacidade dos sujeitos de pesquisa. A prática de open data é viabilizar a reproducibilidade de resultados, e assegurar a irrestrita transparência dos resultados da pesquisa publicada, sem que seja demandada a identidade de sujeitos de pesquisa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    26 Mar 2022
  • Revisado
    07 Mar 2023
  • Aceito
    13 Mar 2023
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