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ENUNCIAÇÕES DO FEMINISMO DECOLONIAL A PARTIR DAS CATEGORIAS FUNDAMENTAIS RANGANATHIANAS1 1 Artigo produzido, a partir de pesquisa de pós-graduação desenvolvida pela autora Marília Winkler de Morais, junto ao PPGCI UFSCar, com financiamento Fapesp (20/06971-1) e a partir de pesquisa em desenvolvimento pela autora Luciana de Souza Gracioso, via Bolsa de Produtividade em Pesquisa (PQ - 2 317568/2021-3): Indexação decolonial enquanto tecnologia emancipatória: uma possível proposição.

Facets enuncements of decolonial feminism from the fundamental ranganathian categories

RESUMO

Objetivo:

identificar os conceitos que compõe as enunciações feministas decoloniais, no sentido de reconhecê-las e melhor compreendê-las dentro do contexto em que são produzidas, significadas e acionadas na proposição de políticas e condutas de vida em sociedade. A justificativa para o desenvolvimento do estudo é, inicialmente, por se reconhecer e defender o feminismo como um movimento genuíno de justiça social que tem, como prerrogativa, a defesa de todas as pessoas humanas, independentemente de seu gênero; também por buscar defender que as enunciações e ações do feminismo decolonial, alargam as fronteiras e aprofundam as questões de base da própria decolonialidade, e por fim, por propor, de modo introdutório, um quadro conceitual feminista decolonial que potencialize o reconhecimento da complexidade e das urgências evidenciadas pelo movimento e que merecem compor as agendas dos estudos informacionais, uma vez que as causas pelas quais se lutam no escopo desta plataforma, dizem respeito, antes de mais nada, a defesa dos direitos humanos.

Método:

o estudo segue em um percurso metodológico ancorado nas Categorias Fundamentais propostas por S. Ranganathan: Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo (PMEST), como base de sustentação para a composição de uma apresentação introdutória dos conceitos e expressões que compõem as enunciações feministas decoloniais.

Resultado:

se constatou, mais uma vez, que a proposta biblioteconômica Ranganathiana viabiliza a compreensão de domínios do conhecimento para além se suas estruturas linguísticas.

Conclusões:

No que se refere ao feminismo decolonial foi possível reconhecer, pelas enunciações deste movimento, o quanto ele se sustenta enquanto Espaço (no sentido Ranganathiano) profícuo para um pensar e um agir social e que, por isso, tem muito a agregar a todas as Ciências incluindo, a da Informação.

Palavras-chave:
Justiça Social; Gênero; Feminismo decolonial; Decolonialidade; PMEST; S; Ranganathan

ABSTRACT

Objective:

aims to identify the concepts that make up the decolonial feminist enunciations, in order to recognize them and better understand them within the context in which they are produced, signified and activated in the proposition of policies and conducts of life in society. The justification for developing this study is, initially, to recognize and defend feminism as a genuine social justice movement that has, as its prerogative, the defense of all human beings, regardless of their gender; Finally, by proposing, in an introductory way, a decolonial feminist conceptual framework that strengthens the recognition of the complexity and urgencies evidenced by the movement and that deserve to be part of the agendas of informational studies, since the causes that are fought for in the scope of this platform concern, first of all, the defense of human rights.

Methods:

For this, the study will follow a methodological path anchored in the Fundamental Categories proposed by S. Ranganathan: Personality, Matter, Energy, Space and Time (PMEST), as a basis for the composition of an introductory presentation of the concepts and expressions that compose the decolonial feminist enunciations.

Results:

it was found, once again, that the Ranganathian library proposal enables the understanding of domains of knowledge beyond their linguistic structures.

Conclusions:

with regard to decolonial feminism, it was possible to recognize from the enunciations of this movement, how much it sustains itself as a Space (in the Ranganathian sense) fruitful for thinking and social action and that, therefore, has a lot to add to all the Sciences including, the one of the Information.

Keywords:
Social Justice; Gender; Decolonial Feminism; Decoloniality; PMEST; S; Ranganathan

1 INTRODUÇÃO

Equipamentos de Educação e Cultura como Bibliotecas, Museus, Arquivos públicos, dentre outras unidades de informação, cumprem um papel decisivo para a construção, manutenção e perpetuação de narrativas, discursos e relações de produção de saberes. No entanto, é um desafio constante para a tais unidades, estabelecer mecanismos que viabilizem políticas de seleção, análise e representação dos artefatos culturais (sejam estes conteúdos de livros, objetos museológicos, documentos históricos, códigos de programação, por exemplo) sem impregná-los de juízos de valores pré-concebidos. Assim, o compromisso mais recente da área tem sido o de corroborar com as reflexões, as críticas e as pautas que emanam de um pensamento e uma ação decolonial, em todas as perspectivas que envolvam a produção e a circulação da informação.

Nesse sentido, é propósito geral deste trabalho, reconhecer e trazer mais a superfície dos estudos informacionais, os elementos, os fenômenos e os eventos que compõe o feminismo, em especial, o decolonial, por se considerar tal movimento decisivo na proposição de pautas e agendas direcionadas a ações e mobilizações narrativas e discursivas contra hegemônicas e especialmente antissexistas. A partir de uma compreensão mais ampliada sobre o movimento, pelo campo da Ciência informação, presume-se ser possível promover produtos e serviços informacionais mais coerentes e condizentes com as demandas e configurações sociais latino-americanas, de modo geral.

O feminismo, enquanto categoria aberta, tem recebido a atenção de pesquisadoras e pesquisadores brasileiros da Ciência da informação2 2 A partir de levantamento bibliográfico realizado na Base da dados Brapci, com a palavra-chave “Feminismo” em todos os campos de busca, foram recuperados 66 textos (dados atualizados em 25/01/2023). . No entanto, frente ao escopo conceitual deste estudo, daremos ênfase apenas neste momento introdutório, a dois trabalhos que consideramos mais direcionados a apresentar os elementos epistemológicos, metodológicos e conceituais do feminismo para a área. Carlos Almeida em 2021ALMEIDA, Carlos Candido. Epistemologias feministas e ciência da informação: notas introdutórias. Informação & Informação, Londrina, v. 26, n. 4, p. 48-75, 2021., desenvolveu um ensaio importante e partiu do problema de descrever o feminismo dentro de uma corrente coesa. Para tanto precisou, como sinalizado em seu estudo, analisar os conceitos básicos que teceram tal construção e considerou ser importante ao movimento ser combativo ao relativismo que por vezes pode se confundir em algumas de suas ações. O ensaio dá conta de apresentar outras problematizações que compõe a plataforma feministas e pondera, em caráter conclusivo, que a Ciência da informação precisaria avançar em investigações voltadas a compreender as reivindicações e as desobediências proposta pelo movimento. Scartassini e Barros (2021SCARTASSINI, Verônica Barbosa; BARROS, Thiago Henrique Bragato. Feminismo e ciência da informação: uma abordagem a partir da análise do discurso. Informação & Informação, v. 26, n. 3, p. 450-477, 2021.) também acenam, em caráter conclusivo do estudo desenvolvido, para a necessidade de um investimento maior de pesquisa sobre o assunto. No estudo que publicaram em 2021 constatam, a partir da Análise do Discurso desenvolvida em artigos em Ciência da Informação sobre o feminismo, que as pesquisas da área ainda não aprofundam as discussões quanto a construção de definições conceituais sobre o tema.

Assim, seguimos convencidas da necessidade de investimentos em pesquisas que possam, em uma via dupla, ampliar as possibilidades de pensamento crítico para a Ciência da Informação sobre o feminismo e, ao mesmo tempo, beneficiar o próprio movimento feminista a partir do desenvolvimento de pesquisas informacionais que qualifiquem, validem e promovam visibilidade aos propósitos feministas.

Há que se considerar que pesquisas relevantes sobre a pluralidade feminista têm sido construídas por pesquisadoras e pesquisadores do campo e as pautas do feminismo decolonial estão sendo apresentadas em diferentes perspectivas, no entanto, sem necessariamente atribuí-las tal nomeação. Nesse processo é fundamental destacar o protagonismo com que o Selo Editorial Nyota3 3 Catálogo Nyota: obras disponíveis integralmente com acesso aberto: https://www.nyota.com.br/catalogo tem lançado suas coletâneas, nos últimos cinco anos. Sob este Selo concentram-se atualmente o maior número de pesquisas relacionadas ao feminismo de modo contextualizado as questões e problematizações dos estudos informacionais no Brasil. Tais estudos têm sido produzidos por diferentes pessoas autoras dentre as quais destacamos: Cláudia Mortari, Danielle Barroso, Elizângela Gomes, Erinaldo Dias Valério, Franciéle Carneiro Garcês Silva, Graziela dos Santos Lima, Luisa Tombini Wittmann e Nathalia Lima Romeiro, dentre outras.

Dentre as principais obras que contemplam capítulos e estudos que versam, em alguma perspectiva, sobre os feminismos, destacamos os títulos: Informação, diálogo e ações para enfrentamento à violência contra meninas e mulheres (ROMEIRO, 2022ROMEIRO, Nathália Lima (Org.). Informação, diálogo e ações para enfrentamento à violência contra meninas e mulheres. Florianópolis, SC: Rocha Gráfica e Editora, 2022. (Selo Nyota). 440 p.); #Vamosfazerumescandalo: folksonomia e ativismo digital (ROMEIRO, 2021); Bibliotecári@s negr@s: Perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação (SILVA, 2021SILVA, Franciéle Carneiro Garcês (Org.). Bibliotecári@s negr@s: Perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis, SC: Rocha Gráfica e Editora; Selo Nyota, 2021. 370 p.); O protagonismo da mulher na biblioteconomia e ciência da informação: celebrando a contribuição intelectual e profissional de mulheres latino-americanas (SILVA, ROMEIRO, 2020); Narrativas Insurgentes: decolonizando conhecimentos e entrelaçando mundos (MORTARI; WITTMANN, 2020aMORTARI, Claudia ; WITTMANN, Luisa Tombini (Org.). Diálogos sensíveis: produção e circulação de saberes diversos. Florianópolis, SC: Rocha Gráfica e Editora, 2020a. (Selo Nyota). 606 p.); Diálogos sensíveis: produção e circulação de saberes diversos. (MORTARI; WITTMANN, 2020bMORTARI, Claudia; WITTMANN, Luisa Tombini (Org.). Narrativas Insurgentes: decolonizando conhecimentos e entrelaçando mundos. Florianópolis, SC: Rocha Gráfica e Editora, 2020b. (Selo Nyota, Coleção AYA, v. 1).392 p.); Bibliotecári@s Negr@s: informação, educação, empoderamento e mediações. (SILVA; LIMA, 2019); Epistemologias Negras: Relações raciais na Biblioteconomia (BARROSO; GOMES; VALÉRIO; SILVA; LIMA, 2019BARROSO, Danielle, GOMES, Elisângela, VALÉRIO, Erinaldo Dias, SILVA, Franciéle Carneiro Garcês, LIMA, Graziela dos Santos (Org.). Epistemologias Negras: Relações raciais na Biblioteconomia. Florianópolis, SC: Rocha Gráfica e Editora, 2019. (Selo Nyota). 312 p.); O protagonismo da mulher na Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia e Ciência da Informação. (SILVA; ROMEIRO, 2019; Mulheres negras na Biblioteconomia (SILVA, 2019); Bibliotecári@s Negr@s: ação, pesquisa e atuação política (SILVA; LIMA, 2018).

É possível constatar também que já há um conjunto de pesquisas multidisciplinares4 4 Em levantamento desenvolvido junto a Base de Dados de Teses e Dissertações, atualizado em 25 de janeiro de 2023, foram localizados 29 registros de pesquisas desenvolvidas relacionadas ao “feminismo decolonial” nomeadamente. Em levantamento feito junto ao Portal de Periódicos Capes, foram localizados 248 artigos revisados por pares. sendo desenvolvidas em âmbito nacional e latino americano sobre o feminismo decolonial nomeadamente, demonstrando uma preocupação em situar as pautas do feminismo no escopo das causas que de fato, afetam as pessoas do Sul global. No entanto, ao buscarmos pela mesma expressão, em Base de dados específica da área de Ciência da informação5 5 Em levantamento desenvolvido junto a Base de dados Brapci, atualizado em 25 de janeiro de 2023, foi localizado apenas o estudo de Alonso-Arbiol e Bobowik (2020). Quando o levantamento foi feito em base de dados internacional da área - Information Science & Technology Abstracts (ISTA), obteve-se o retorno de um artigo, que, por não se tratar de pesquisa conceitual, não foi analisado no presente estudo. O estudo identificado foi: AHMED, Tanveer.Towards a decolonial feminist fashion design reading list. Art Libraries Journal. v. 47, n. 1, p.9-13. 2022. , recuperamos apenas o estudo de Itiziar Alonso-Arbiol e Bobowik (2020) no qual as autoras sinalizam, em caráter conclusivo, que para ocorrência de um empoderamento coletivo efetivo, seria importante recorrer as críticas propostas pelo Feminismo decolonial.

Esse movimento de produzir conteúdo sobre os feminismos e de torná-lo público, de modo pulsante e dinâmico, especialmente para o campo da Biblioteconomia e Ciência da informação, nos parece absolutamente alinhado a aquilo que bell hooks indicou, como estratégia para ensinar o mundo sobre o feminismo. “(...) é isso o que precisamos fazer para compartilhar o feminismo, para fazer o movimento chegar à mente e ao coração de todo o mundo” (bell hooks, 2021, p. 15).

Assim, diante das urgências elencadas pela pauta feminista decolonial, somada a ainda fase de construção da compreensão deste movimento na seara dos estudos informacionais, é que seguimos na tentativa de construção de um estudo preliminar sobre esse movimento. Frente ao contexto brevemente anunciado, sinalizamos que é objetivo deste estudo, evidenciar, em alguma perspectiva, que o feminismo precisa ser pensado de modo indissociável da decolonialidade. Para tanto, o trabalho se voltará a identificar as enunciações feministas decoloniais, no sentido de reconhecê-las e melhor compreendê-las dentro do contexto em que são produzidas, significadas e acionadas na proposição de políticas e condutas de vida em sociedade.

A justificativa para o desenvolvimento do estudo é, inicialmente, por se reconhecer e defender o feminismo como um movimento genuíno de justiça social e que tem como prerrogativa a defesa de todas as pessoas humanas, independentemente de seu gênero. Também por buscar defender que as enunciações e ações do feminismo decolonial, alargam as fronteiras e aprofundam as questões de base da própria decolonialidade, e por fim, por propor, de modo introdutório, um quadro conceitual feminista decolonial que viabilize o reconhecimento da complexidade e das urgências evidenciadas pelo movimento e que precisam compor as agendas de estudos informacionais, uma vez que as causas pelas quais se lutam, no escopo desta plataforma, dizem respeito, antes de mais nada, a defesa dos direitos humanos.

Para isto, o estudo segue em um percurso metodológico ancorado nas Categorias Fundamentais6 6 Em estudos anteriores, as Categorias Fundamentais de Ranganathan foram acionadas para reconhecimento das enunciações relacionadas a Decolonialidade (2022), ao Pensamento afrodiaspórico (2021) e ao Feminismo decolonial introdutório (no prelo). propostas por S. Ranganathan: Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo (PMEST), como base de sustentação para a composição de uma apresentação introdutória dos conceitos e expressões que compõem essas enunciações. Como recurso para estabelecer um recorte sobre o assunto, a obra de base para a identificação das enunciações será o livro “Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais, organizado por Heloísa Buarque de Holanda (2020), por reunir um conjunto de textos produzidos por autoras revolucionárias em relação ao assunto. Optamos por utilizar enunciação para representar as expressões identificadas na literatura do feminismo decolonial, a partir do entendimento proposto por Émile Benveniste (1989BENVENISTE, Émile. O aparelho formal da enunciação. In: BENVENISTE, Émile. Problemas de Lingüística Geral II. São Paulo: Pontes, 1989. p. 81-92.). A enunciação é então, o ato de dizer, de enunciar um enunciado (dito) e o sentido do que se irá enunciar se dá a partir do modo como essas instâncias de mediação entre a linguagem e a fala, se articulam. Neste sentido, nos parece ser apropriado, pensarmos o feminismo decolonial a partir de suas enunciações.

2 PRECISAMOS DE UM FEMINISMO DECOLONIAL?

No Brasil e na América Latina, a violação colonial perpetrada pelos senhores brancos contra as mulheres negras e indígenas e a miscigenação daí resultante está na origem de todas as construções de nossa identidade nacional, estruturando o decantado mito da democracia racial latino-americana, que no Brasil chegou até as últimas consequências. Essa violência sexual colonial é, também, o “cimento” de todas as hierarquias de gênero e raça presentes em nossas sociedades [...]. (CARNEIRO, 2011CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.. p.1).

A luta feminista, em geral, é contra qualquer forma de dominação e exercício de pretenso poder de pessoas contra pessoas e a pauta colocada de modo ainda mais especifico, pelo feminismo decolonial, se dá, principalmente, contra a construção da dominação do patriarcado sustentado pelos mecanismos e recursos utilizados como estratégias de colonização. A compreensão sobre a configuração e o alcance de um “feminismo visionário radical”, como diz bell hooks (2021), se faz necessária, pois ainda fazemos parte de um “patriarcado capitalista de supremacia branca” (hooks, 2021, p. 165) e, portanto, não podemos nos ater apenas a problematizar questões de gênero de modo isolado.

Ao enfatizar uma ética de mutualidade e interdependência, o pensamento feminista nos oferece um caminho para acabar com a dominação enquanto, simultaneamente, mudamos o impacto da iniquidade. Em um universo em que a mutualidade é norma, pode haver momentos em que tudo está desigual, mas a consequência dessa iniquidade não será a subordinação, a colonização nem a desumanização. (bell hooks, 2021, p. 166).

O projeto decolonial nos oferece um pensamento crítico para questionarmos e apreendermos as especificidades de nossa história, política e sociedade. Se valendo dessa perspectiva, o feminismo decolonial vai além e oferece outros elementos para entendermos de forma mais intricada os entrelaçamentos de raça, sexo, sexualidade, classe e geopolítica (CURIEL, 2020CURIEL, Ochy. Construindo metodologias feministas a partir do feminismo decolonial. In.: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (Org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2020. p. 121-138.). Nesta linha de pensamento, Yudorkys Espinosa Miñoso (2013, p. 8), considera o feminismo decolonial como “[...] um movimento em pleno crescimento e maturação que se proclama revisionista da teoria e da proposta política do feminismo ocidental branco e burguês [...]”, salientando que as contribuições do feminismo decolonial acerca da revisão dos fundamentos feministas também se ampliam para a revisão dos conceitos que conhecemos como teoria decolonial. Como propõe Pamela Abbot e Claire Wallace (2005), trata-se de um feminismo que considera as relações de poder enquanto produto da colonização uma vez que tais relações, ainda vigoram em sociedade colonizadas, em função da colonialidade. A manutenção e perpetuação dessa estrutura e desse sistema de colonialidade afeta, diretamente, mulheres localizadas nas ditas periferias globais vítimas de processos de colonização e períodos de escravização de pessoas. Deste lugar, e a partir destas condições, as reivindicações para a construção de uma agenda feminista decolonial, se justificam.

Inclusive, cabe indicar que a adjetivação do feminismo como decolonial proposta neste estudo, é passível de críticas, uma vez que muitas das reivindicações que hoje estão sendo classificadas como constitutivas do feminismo decolonial, já eram alavancadas pelo feminismo negro, por exemplo. Tanto María Lugones (2014LUGONES, María. Rumo a um feminismo decolonial. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v.22, n.2, p.320, 2014.), Yuderskys Espinosa Miñoso, Diana Gómez Correal e Karina Ochoa (2014) compreendem que o feminismos decolonial, ou, de terceiro mundo, possui heranças do feminismo negro e ao mesmo tempo desenvolve sua própria linha de pensamento entrelaçando o legado do feminismo indígena e afrodescendentes.

Mas nos coube compreender, como explica Françoise Vérges (2020VÉRGE, Françoise. Um feminismo decolonial. São Paulo: Ubu, 2020.), que o feminismo decolonial não seria uma nova onda, e sim, seria uma continuação e uma complementação das lutas já existentes, incluindo de modo mais pontual às causas feministas, a busca pela emancipação das mulheres do Sul Global. Para tanto, é necessário assumir e fazer a crítica as às limitações dos movimentos anteriores que não alcançavam as urgências sociais de regiões e países vítimas de processos colonizadores, que vivenciam, de modo muito mais intensificado, as opressões decorrentes do patriarcado, do capitalismo e do racismo. Assim, reconhecemos que estas distinções e categorizações sobre os movimentos e momentos feministas são importantes, desde que não sejam excludentes e que, em um processo dialético, possam permitir-se revisar e transformar.

O auxílio das narrativas feministas decoloniais é fundamental justamente por fornecer uma visão muito mais precisa da realidade latino-americana, pois não são raras as vezes em que até mesmo quem teoriza contra violência acaba reproduzindo discursos equivocados. A antropóloga e feminista argentina RitaSegato (2012SEGATO, Rita Laura. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial. E-cadernos CES, n. 18, p. 1-27, 2012.) diz que ainda existe uma ferida colonial na identidade do povo brasileiro que é a tentativa de apagamento da ideia de racismo e das várias formas de violência contra as mulheres. O feminismo decolonial nos auxilia a entender essa violência pregressa e a nos afastar dos discursos da classe dominante que usufrui, super explora e depois descarta os sujeitos subalternizados.

Susana Castro (2022CASTRO, Susana. O que é o feminismo decolonial. Revista Cult, São Paulo, v. 27, n. 321, p. 44-48, out. 2022. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/dossie-o-que-e-o-feminismo-decolonial/. Acesso em: 20 de janeiro de 2023.
https://revistacult.uol.com.br/home/doss...
) considera imprescindível, ao se propor pensar o feminismo latino-americano, que os fenômenos colonizadores que configuram forçadamente a formação social dos países latinos, sejam levados em consideração e diz ser fundamental que neste movimento sejam priorizadas ações combativas ao imaginário construído e perpetuado de superioridade entre raças, por exemplo. Por isso, pensar o feminismo negro, interseccional, e decolonial, se torna decisivo para a construção de uma compreensão contextualizada das causas feministas (CASTRO, 2022CASTRO, Susana. O que é o feminismo decolonial. Revista Cult, São Paulo, v. 27, n. 321, p. 44-48, out. 2022. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/dossie-o-que-e-o-feminismo-decolonial/. Acesso em: 20 de janeiro de 2023.
https://revistacult.uol.com.br/home/doss...
). Angela Davis (2017DAVIS, Angela. Mulheres, cultura e política. São Paulo: Boitempo 2017.) também nos acena para que dediquemos olhares atentos as às falsas investidas travestidas de políticas para o desenvolvimento da equidade de gênero em relação a diretos sociais, econômicos e trabalhistas, por exemplo, pois quando estes investimentos se estabelecem em países que forma foram colonizados, geralmente acabaram promovendo e reforçando a desigualdade e a exploração de mulheres, em diferentes instâncias.

Claudia de Lima Costa (2020) é uma das pesquisadoras que resgata o pensamento de Maria Lugones para levantar uma problemática em relação ao conceito de colonialidade de poder defendido por Aníbal Quijano (2000QUIJANO, Aníbal. Coloniality of power, ethnocentrism, and Latin America. Nepantla: Views from South, v. 1, n. 3, p. 533-580, 2000.) para quem a dominação de gênero estaria subordinada a à hierarquização racial construída como forma de dominação social. Costa (2020) nos ajuda a compreender a proposta de Lugones, que por sua vez critica o entendimento de Quijano sobre gênero, que estaria ainda, subscrito a um determinismo biológico (COSTA, 2020, p. 325). Em seu texto “Colonialidad y género”, publicado em 2008, María Lugones se coloca no lugar da crítica ao feminismo hegemônico em função do mesmo ignorar a interseção de raça, classe, sexualidade, gênero. A autora busca em seu texto

[…] compreender a indiferença preocupante que os homens demonstram em relação à violência que é sistematicamente infligida às mulheres de cor, ou seja, às mulheres não brancas que são vítimas da colonialidade do poder e, inseparavelmente, da colonialidade do gênero. (LUGONES, 2008, p. 73, tradução nossa).7 7 [...] entender la preocupante indiferencia que los hombres muestran hacia las violencias que sistemáticamente se infringen sobre las mujeres de color, es decir, mujeres no blancas víctimas de la colonialidad del poder e, inseparablemente, de la colonialidad del género (LUGONES, 2008, p. 73).

Ainda que indiretamente, a teoria decolonial delineada no bojo das ações do grupo Modernidade/Colonialidade também serve para nos fazer questionar o alcance de um movimento majoritariamente masculino, mesmo estando situado no lado do subalterno. Mas é preciso introduzir os elementos da colonialidade sim, sobretudo do sistema moderno colonial de gênero, como nos diz Lugones e outras pensadoras do feminismo decolonial (descolonial ou pós-colonial) em especial, Françoise Vergès que em seu texto “Um feminismo Decolonial” de 2019, inclui, nos eixos das problematizações a serem resolvidas pela agenda feminista, o capitalismo.

Letícia Azevedo Januário (2022JANUÁRIO, Letícia Azevedo. O ser mulher cientista em uma Universidade Portuguesa. 2022. 267 f. Tese (Doutorado em Ciência, Tecnologia e Sociedade) - Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2022.) nos ajuda a reconhecer as autoras e as principais linhas de investigação dentro do escopo dos feminismos que estamos tratando neste estudo: feminismo pós-colonial asiático - por Chandra Mohanty, Gayatri Spivak, Rey Chow, Kumari Jayawardena, Mrinalini Sinha, Trinh T. Minh-ha, Uma Narayan, You-Me Park, Rajeswari Sunder Rajan, Haleh Afshar. teoria pós-colonial africana - por Bibi Bakare-Yusuf, Abena Busia, Oyèrónké Oyěwùmí, Pumla Dineo Nqola, Patricia McFadden, Amina Mama; teoria da chicana - por Glória Anzaldúa, Cynthia E. Orozco, Michelle Habell-Pallan, Alma Garcia; feminismo indígena - por Julieta Paredes, Paula Gunn Allen, Lorena Cabnal, Elizabeth Cook-Lynn, Lee Maracle, Cheryl Suzack, Shari Huhndorf; feminismo latino-americano - por Breny Mendoza, Maria Lugones, Yuderskys Espinosa Miñoso, Diana Gómez Correal, Karina Uchoa Muñoz, Ochy Curriel, Rita Laura Segato, dentre outras. (Adaptado de AZEVEDO JANUÁRIO, 2022JANUÁRIO, Letícia Azevedo. O ser mulher cientista em uma Universidade Portuguesa. 2022. 267 f. Tese (Doutorado em Ciência, Tecnologia e Sociedade) - Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2022., p. 84).

A sistematização feita pela autora, nos dá uma dimensão prévia, dos desafios que se colocam para a delimitação dos contornos que compõem os feminismos plurais e interseccionais. E mesmo reconhecendo a importância de cada reivindicação, este estudo seguirá na tentativa de contextualizar as questões que giram em torno do feminismo decolonial que, como indica Heloisa Buarque de Hollanda (2020HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (Org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2020. p. 321-341.), contesta à colonialidade do saber, propondo, para tanto, uma crítica necessária e radical as às abordagens feministas eurocêntricas e, nesse sentido, os eventos promovidos pelos processos colonizadores embutidos de violências e construção social de pré-conceitos, passam a ser colocados como ponto de partida determinante para aprofundamento e expansão das discussões. “No campo da produção do conhecimento, a interpelação das epistemologias heteronormativas e coloniais entram como agenda feminista prioritária [...]”, diz a autora. (HOLLANDA, 2020HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (Org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2020. p. 321-341., p. 12).

Assim, longe do intuito de propor uma compreensão unívoca sobre o feminismo decolonial, almejou-se, a partir das autoras feministas chamadas neste texto, demonstrar a complexidade de fenômenos que atravessam o movimento e, diante disto, é que desenvolvemos o exercício de acionar as Categorias Fundamentais propostas por S. Ranganathan e delas, reconhecer e dar maior visibilidade às principais enunciações que são produzidas, articuladas e mobilizadas em diferentes fronteiras do movimento. Tal categorização inicial, que será apresentada a seguir, nos permite reconhecer o quão desafiador é, aos sistemas de representação da informação, a depender dos recursos metodológicos em que se estruturam, construir linguagens controladas sobre determinado domínio, que demandam por posturas, rupturas e revoluções.

3 AS FACETAS DO FEMINISMO DECOLONIAL A PARTIR DAS CATEGORIAS FUNDAMENTAIS RANGANATHIANAS

Entendemos o feminismo decolonial enquanto proposta de investigações feitas a partir do coletivo “[...] de processos comunitários, de intelectuais orgânicas das comunidades e organizações, de ativistas comprometidas com processos de luta, resistência e ação [...]”, conforme defendido por Ochy Curiel (2020CURIEL, Ochy. Construindo metodologias feministas a partir do feminismo decolonial. In.: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (Org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2020. p. 121-138., p. 136). E é esta abordagem plural e não excludente, compromissada com o exercício de revisar os pilares que fundamentam nossa sociedade, tanto nos aspectos políticos e sociais, quanto no âmbito da produção de conhecimento, que tanto interessa para a Biblioteconomia e Ciência da Informação.

A partir desta perspectiva é que será possível repensar nossas práticas e relações com as tecnologias informacionais, priorizando as questões Latino-Americanas no compromisso de construir novos arranjos que façam sentido para nós e que promovam movimentos emancipatórios em relação ao acesso e ao uso da informação. E por falar na necessidade de se rever os sistemas/processos/serviços/produtos da área, é preciso considerar aquelas/es que os fazem. Como clamar por sistemas flexíveis à pluralidade sem debater a bagagem de quem os constrói? A decolonialidade também é sobre isso: o poderoso lugar de enunciação. E lugares de enunciação não faltaram para Ranganathan.

Shiyali Ranganathan (1892-1972), em essência, buscou ao longo de sua trajetória acadêmica e profissional desenvolver e aplicar teorias, métodos, rotinas, leis que pudessem validar de modo equitativo todos os saberes produzidos, registrados e disponibilizados nos diferentes equipamentos de cultura. Dentre muitas de suas construções para se desenvolver práticas representacionais e classificatórias sociais e não coloniais, Ranganathan desenvolveu Sistemas de Classificação Bibliográfica (dentre eles o Colon Classification -1933 -) e elaborou uma proposta de categorização universal, que permitisse às/aos agentes classificadores dos conhecimentos registrados, alcançar suas múltiplas possibilidades de categorização. Para tanto, o bibliotecário indiano elaborou as seguintes Categorias Fundamentais: Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo (PMEST). A partir da categorização proposta, Luzia Costa, em 2008COSTA, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuição da teoria literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. --2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, Marília, 2008., sugere uma ampliação de sua configuração, com base na Teoria Literária, uma vez que ela potencializa a identificação, o reconhecimento e a percepção de aspectos conotativos às facetas categorizadas, e que nos parecem essenciais para melhor categorização dos lugares de enunciação do feminismo decolonial.

Na Classificação Facetada, a partir da análise de um assunto complexo, é possível fragmentá-lo em suas partes constituintes mais simples, as facetas, até que se esgotem as possíveis divisões. As facetas consistem, então, classes reunidas por um mesmo princípio de divisão, sendo que “[...] dentro de cada faceta os termos que as constituem são suscetíveis a novos agrupamentos, pela aplicação de outras características divisionais, dando origem a subfacetas [...]” (LIMA, 2002, p. 190). Essa fragmentação é feita com base no PMEST que podem ser consideradas como “[...] categorias genéricas e, como tais, passíveis de se manifestarem de diversas formas [...]” (COSTA, 2008COSTA, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuição da teoria literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. --2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, Marília, 2008., p. 78). Ademais, Costa (2008COSTA, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuição da teoria literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. --2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, Marília, 2008.) ainda aborda o fato de que as categorias se expressam por meio de conceitos amplos, o que deixa margem para possíveis expansões e adaptações conceituais conforme seu uso.

Ranganathan não desenvolve sua obra a partir do lugar de enunciação de um homem indiano simplesmente. Devemo-nos atentar para os cuidados de generalização e o perigo de uma história única, como alerta Chimamanda Adichie (2019), isto é, como se todos os indianos agissem e pensassem como Ranganathan. O que o bibliotecário indiano faz é conscientemente se apropriar de sua cultura, dos elementos sagrados, das escrituras, das divindades e utilizar essa bagagem na elaboração de seus conhecimentos. Sua cultura não apenas influencia suas produções, como também as modelam por completo, haja vista que o “[...] léxico ranganathaniano é povoado por alusões ao misticismo védico e ao hinduísmo.” (SALDANHA, 2019SALDANHA, Gustavo Silva. Sem e cem teorias críticas em ciência da informação Autorretrato da teoria social e o método da crítica nos estudos informacionais, uma bibliografia benjaminiana aberta. In: BEZERRA, Arthur Coelho, et al. iKrítika: estudos críticos em informação. Rio de Janeiro: Garamond, 2019., p. 198). Certamente suas ações posicionariam Ranganathan como expoente pós-colonial não fosse o desencontro cronológico. Isso porque, embora já circulassem as obras do tunisiano Albert Memmi (Retrato do colonizado precedido de retrato do colonizador, 1947), e dos martinicanos Aimé Cesárie (Discursos sobre o colonialismo, 1950) e Franz Fanon (Os condenados da terra, 1968), foi a obra do palestino Edward Said “Orientalismo: o oriente como invenção do Ocidente”, de 1978, que consolidou o movimento pós-colonial. Ranganathan faleceu em 1972, seis anos antes desse marco.

Além da prioridade em demarcar sua identidade cultural, Ranganathan sempre defendeu a importância política de transformar a biblioteca como centro dos movimentos populares. Seu contato com o mundo ocidental não se resumiu a aceitar passivamente os ensinamentos ingleses sobre como os sistemas de biblioteca deveriam ser; não se resumiu a voltar para sua terra e tão simplesmente adotar um produto estrangeiro. Ranganathan teve a autonomia de ler os sistemas e identificar neles os elementos que não faziam sentido para sua realidade. É a partir de e para o seu local de enunciação que o autor empenhou seus esforços, expressões de um sujeito consciente de seu papel na história, um sujeito sócio-histórico-cultural. A produção do bibliotecário atesta sua perspectiva decolonial, uma vez que prioriza seu lócus enunciativo e evidencia a importância da conexão entre lugar e pensamento na elaboração de um conhecimento contra-hegemônico. Nesse caminhar, interpretamos a Classificação Facetada e as Categorias Fundamentais PMEST de Ranganathan como uma inciativa formulada por um indivíduo que também ocupou o lugar de sujeito subalterno no contexto da colonização, uma vez que o pano de fundo do desenvolvimento de sua proposta foi o processo de Independência indiana, marcado pela desobediência civil do movimento liderado por Mahatma Gandhi.

Nesse caminhar, as justificativas para o uso da proposta de S. Ranganathan como base para categorização e análise dos conteúdos relacionados aos lugares de enunciação decoloniais são as de que, ao pensar estas Categorias PMEST, o filósofo indiano, que também ocupou o lugar do outro, da subalternidade nos processos de colonização, conseguiu visualizar uma possibilidade de organização do conhecimento, de leitura das narrativas produzidas pela humanidade, de modo transversal e plural. E a ampliação destas categorias, a partir da Teoria Literária proposta por Costa (2008COSTA, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuição da teoria literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. --2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, Marília, 2008.), nos permite contemplar elementos de ordem discursiva e subjetiva, que transpassam o pensar e o fazer do feminismo decolonial, uma vez que as enunciações do movimento poderão ser identificadas e compreendidas tanto por uma perspectiva denotativa como conotativa.

As categorias Ranganatianas expandidas à luz da teoria literária, que serão utilizadas como instrumento para identificação das facetas do feminismo decolonial são: Personalidade / Narrador - Agente, - Sujeito da ação - Personagens - Figuras mitológicas - Atores, Onomástico - Quem; Matéria / Objeto de uma ação ou manifestação - Item - Objeto simbólico Temáticos formais- Conceitual - O Quê; Energia/ Ação - Função - Método - Evento - Acontecimento, Temáticos - Causa e efeito - Conceitual - Como; Espaço / Ambiência - Lugar/Local - Conceitual - Topográfico - Onde; Tempo, Topográfico - Quando; Ponto de vista/ Temático não referencial - Por quê (COSTA, 2008COSTA, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuição da teoria literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. --2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, Marília, 2008., p. 101).

Para a elaboração do Quadro 01, a seguir, utilizou-se o mesmo percurso de raciocínio empregado por Costa (2008COSTA, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuição da teoria literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. --2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, Marília, 2008.), no qual o foco está no agrupamento da diversidade terminológica correspondente a cada categoria. Para a seleção desta diversidade terminológica, foi realizada a análise de conteúdo na obra “Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais”, com textos de notórias pensadoras e artistas feministas, organizados por Heloísa Buarque de Holanda (2020), sendo elas: Lélia González, María Lugones, Oyèrónké Oiewùmí, Yuderkys Espinosa Miñoso, Ochy Curiel, Susana de Castro, Suely Aldir Messeder, Marnia Lazreg, Julieta Paredes Carvajal, Luiza Bairros, Alba Margarita, Agnaga Barragán, Miriam Lang, Dunia Mokrani Xávez, Alejandra Santillana, Angela Figueiredo, María Elvira Díaz-Benítez, Maria da Graça Costa, Thula Rafaela de Oliveira Pires, Claudia de Lima Costa, Adriana Vaarejão, Rosana Paulino e Marcela Cantuária.

Após análise de conteúdo parcial dos textos que compõe o referido livro, foram extraídos, em caráter experimental, enunciados identificados como os relevantes para expressar cada uma das cinco categorias Ranganathianas ampliadas por Costa (2008COSTA, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuição da teoria literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. --2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, Marília, 2008.).

Quadro 01:
Feminismo decolonial a partir das cinco categorias Ranganathianas ampliadas por Costa (2008COSTA, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuição da teoria literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. --2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, Marília, 2008.)

As categorias PMEST permitiram elencar um conjunto de enunciados que compõem a estrutura das narrativas feministas decoloniais a partir de noções que se deslocam dos habituais sentidos denotativos. Pudemos constatar que as categorias conotativas são igualmente amplas, complexas e necessárias de reconhecimento e menção, quando da tentativa de estruturação do conjunto de enunciações que compõe o feminismo decolonial. Para além da identificação dos enunciados, pudemos constatar também, o quanto que a busca e a construção de metodologias que viabilizem outras formas de apresentação e construção de relação entre conceitos, representativos de diferentes domínios contra-hegemônicos, são necessários e reveladores. Ao mesmo tempo, é necessário reconhecer a incompletude quantitativa dos enunciados apresentados neste estudo experimental.

Por exemplo, movimentos importantes como o transfeminismo e o das mulheres do Movimento Sem Terra no Brasil acabaram não compondo as categorizações apresentadas, muito em função do recorte metodológico definido para o presente estudo, fato este que, por sua vez, reitera o quanto se faz necessário seguirmos na construção de agendas de pesquisas informacionais que se mantenham atentas e atuantes dentro da dinâmica complexa e viva dos eventos que vigoram e, ainda estão por vir, no bojo das ações e reivindicações do feminismo decolonial.

4 REFLEXÕES FINAIS

As Categorias Fundamentais de Ranganathan, ampliadas por Luzia Costa (2008COSTA, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuição da teoria literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. --2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, Marília, 2008.), viabilizaram alcançar o objetivo geral desta pesquisa, de identificação doe um conjunto de enunciações que sinalizassem sobre o contexto narrativo do feminismo decolonial. Esse exercício se mostrou necessário e importante, uma vez que permitiu um reconhecimento mais alargado e também subjetivo dos fenômenos e eventos que compõe o feminismo decolonial, favorecendo a localização de facetas que lhe são essenciais e indissociáveis do próprio pensamento decolonial.

A lista de descritores representativos do feminismo decolonial certamente é, na concretude da história, expressivamente maior. As personalidades envolvidas com o feminismo decolonial são numerosas. Dentro das limitações desta pesquisa, porém, é sumo que nutre e revigora, pois, as pessoas agentes da ação decolonial se organizam nas mais diversas configurações da Articulação Nacional de Agroecologia às domésticas, donas de casa, negras, brancas, mestiças, cholas, indígenas, madres, guerrilheiras, margaritas, evitas e beneditas. São personalidades distantes umas das outras no plano tempo-espacial, mas completamente fronteiriças pelo mesmo princípio de resistir e reexistir no mundo.

A matéria é o fruto dos esforços de todas essas personalidades: a cultura, a consciência, o ativismo, a ruptura, a ecologia. Aquelas personalidades conscientes de sua identidade cumprem seu papel na transformação da história do povo colonizado, rumo a à uma nova realidade, rumo à construção de uma nova memória que não seja apenas de luta e dor, mas também de contentamento e harmonia.

O motor desse ideal de transformação é uma energia ancestral, uma energia que foi herdada: nas cosmogonias e tradições, nas lutas, assim como nas danças, nas línguas, nas crenças, que (nas quais) ecoam a complexa e potente redefinição identitária das pessoas subalternizadas. Devemos lançar o mesmo olhar para os exercícios de debater sobre as relações de raça, gênero e sexualidade, e de rever e ampliar a epistemologia das teorias feministas eurocentradas, pois são também as iniciativas que vão desencadear intervenções, transgressões e emancipações.

O palco dessa transformação é, sobretudo, a América Latina. O feminismo decolonial é um movimento que pensa a partir da nossa realidade colonial, que tem suas especificidades. Para além dos países latino-americanos, temos um universo de possibilidades que não se restringem às demarcações geográficas, mas indicam seu profundo alinhamento com os seres que as habitam: são os lugares tensos e criativos, o mundo Afrodiaspórico, a Améfrica Ladina, a Abya Yala.

Inexoravelmente, o tempo se conecta com as personalidades, com as matérias, energias e espaços. É um tempo de luta, desde o início do milênio, desde o período colonial. Mas também é um momento cultural, isto é, um momento em que muito se está sendo produzido fora da modernidade/colonialidade e que não está sendo incorporada a ela. Existem muitas histórias, práticas, formas de ser e estar no mundo, muitas narrativas latino-americanas para além dos processos destrutivos. Existe, na América Latina, um mundo más allá del Tercer Mundo, como nos diz Arturo Escobar.

REFERÊNCIAS

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  • VERGÈS, Françoise. Un féminisme décolonial. Éditions La Fabrique, 2020.
  • INFORMAÇÕES SOBRE A OBRA

    O tema discutido no presente estudo foi objeto de investigação da dissertação de mestrado: MORAIS, Marilia Winkler de. A decolonialidade e o feminismo decolonial revistos a partir das categorias PMEST de Ranganathan. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2021. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/16372/Disserta%c3%a7%c3%a3o_MariliaWinklerdeMorais_PPGCI.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 03 abr. 2023. (Bolsa Fapesp). O estudo foi desenvolvido como parte do projeto de pesquisa: “Indexação decolonial enquanto tecnologia emancipatória: uma possível proposição” coordenado por Luciana de Souza Gracioso (Bolsa PQ/2-CNPQ), Grupo de Pesquisa Pragma: estudos pragmáticos em Ciência da informação, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Departamento de Ciência da informação.
  • FINANCIAMENTO

    Fapesp - Bolsa de mestrado concedida. A decolonialidade e o feminismo decolonial revistos a partir das categorias PMEST de Ranganathan. Processo: 20/06971-1 CNPQ - Bolsa Produtividade concedida (PQ/2). Indexação decolonial enquanto tecnologia emancipatória: uma possível proposição. Processo: 317568/2021-3.
  • LICENÇA DE USO

    Os autores cedem à Encontros Bibli os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico.
  • PUBLISHER

    Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
  • 1
    Artigo produzido, a partir de pesquisa de pós-graduação desenvolvida pela autora Marília Winkler de Morais, junto ao PPGCI UFSCar, com financiamento Fapesp (20/06971-1) e a partir de pesquisa em desenvolvimento pela autora Luciana de Souza Gracioso, via Bolsa de Produtividade em Pesquisa (PQ - 2 317568/2021-3): Indexação decolonial enquanto tecnologia emancipatória: uma possível proposição.
  • 2
    A partir de levantamento bibliográfico realizado na Base da dados Brapci, com a palavra-chave “Feminismo” em todos os campos de busca, foram recuperados 66 textos (dados atualizados em 25/01/2023).
  • 3
    Catálogo Nyota: obras disponíveis integralmente com acesso aberto: https://www.nyota.com.br/catalogo
  • 4
    Em levantamento desenvolvido junto a Base de Dados de Teses e Dissertações, atualizado em 25 de janeiro de 2023, foram localizados 29 registros de pesquisas desenvolvidas relacionadas ao “feminismo decolonial” nomeadamente. Em levantamento feito junto ao Portal de Periódicos Capes, foram localizados 248 artigos revisados por pares.
  • 5
    Em levantamento desenvolvido junto a Base de dados Brapci, atualizado em 25 de janeiro de 2023, foi localizado apenas o estudo de Alonso-Arbiol e Bobowik (2020). Quando o levantamento foi feito em base de dados internacional da área - Information Science & Technology Abstracts (ISTA), obteve-se o retorno de um artigo, que, por não se tratar de pesquisa conceitual, não foi analisado no presente estudo. O estudo identificado foi: AHMED, Tanveer.Towards a decolonial feminist fashion design reading list. Art Libraries Journal. v. 47, n. 1, p.9-13. 2022.
  • 6
    Em estudos anteriores, as Categorias Fundamentais de Ranganathan foram acionadas para reconhecimento das enunciações relacionadas a Decolonialidade (2022), ao Pensamento afrodiaspórico (2021) e ao Feminismo decolonial introdutório (no prelo).
  • 7
    [...] entender la preocupante indiferencia que los hombres muestran hacia las violencias que sistemáticamente se infringen sobre las mujeres de color, es decir, mujeres no blancas víctimas de la colonialidad del poder e, inseparablemente, de la colonialidad del género (LUGONES, 2008, p. 73).

EDITORES

Franciéle Garcês, Natalia Duque Cardona, Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Genilson Geraldo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    01 Fev 2023
  • Aceito
    23 Mar 2023
  • Publicado
    05 Maio 2023
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