Novas realidades mundiais

Chegamos ao segundo semestre de 2022 e a Revista Bioética segue seu caminho comemorando 30 anos de história com muitas homenagens e trazendo reflexões, renovação e atualização. Assim, buscamos esperanças para o futuro pós-pandemia num cenário de novas realidades mundiais.

Desde seu estabelecimento como disciplina e campo do conhecimento, entre o final dos anos 1960 e o começo da década de 1970, a bioética tem evoluído em muitos contextos, difundindo-se em diversas áreas científicas e acadêmicas, em especial nas ciências biológicas e da saúde. Além disso, como está intrinsecamente ligada à ética e à filosofia, no caminhar da construção e aplicação do conhecimento, a bioética oferece referências para avançar nas complexas discussões sociais e humanas pós-modernas ¹.

Diante disso, a perspectiva de futuro da revista é motivar essas discussões, considerando a relevância da tecnologia e da inovação, que avançam com todas as áreas de conhecimento e seus processos, sem esquecer que ainda persistem as contradições da miséria e desigualdade entre os povos.

Nesta edição, a revista traz a discussão de temas que revelam muito dos estudos sobre produção científica, com destaque para o acesso a medicamentos de pessoas portadoras de doenças raras, na visão de ensaios clínicos e eficácia das drogas. Na linha dos cuidados, a revisão sobre atenção à saúde dos pacientes com HIV traz nova perspectiva para contribuir de forma complementar sobre as estratégias e planejamento, além de nova abordagem sobre o papel das equipes de saúde envolvidas na prestação de cuidados e decisões compartilhadas no final da vida.

Em outra esfera, a autonomia dos adolescentes perante desafios nos traz a pauta dos direitos humanos em uma visão bioética. Além disso, também vemos que a sociedade evolui nos temas recorrentes que envolvem o luto devido ao óbito fetal, que permeiam a discussão em uma visão antropológica, jurídica e médica.

Ainda neste exemplar, ressaltamos o posicionamento do Conselho Federal de Medicina brasileiro em relação à reprodução assistida, tendo em vista resoluções publicadas ao longo do tempo, com atualizações científicas, éticas e bioéticas. Essas discussões são complementadas por artigo que aborda considerações bioéticas em diversas situações, como na inseminação artificial homóloga post mortem, além de outros temas de interesse sobre testes genéticos.

A realidade do ensino da medicina no Brasil tem sido tema de diversas instâncias. As escolas médicas necessitam discutir o aprimoramento do ensino da ética, bioética e humanidades, visando a um maior envolvimento dos estudantes, que devem ser orientados de acordo com padrões de educação comprometidos com princípios éticos e bioéticos ². Isso tem acontecido também em outros cursos de formação, como enfermagem, ante a nova realidade da segurança do paciente, biossegurança, ética e educação em saúde.

Ainda são abordados temas como diretivas antecipadas da vontade, num processo de deliberação compartilhada com o paciente, sob uma visão mais ampla e digna. Na atividade médico-pericial, relacionada ao servidor público, saúde e adoecimento, é essencial valorizar o trabalho prestado à sociedade para avançarmos na construção de caminhos. Assim, destacam-se a atuação do médico perito e as normas deontológicas, com foco nos diversos segmentos da ética, da técnica, da ciência e do equilíbrio, a fim de enfrentar os dilemas éticos em questão.

Há também outros temas de relevância nesta edição, como a valorização dos direitos humanos envolvendo adolescentes em situação de saúde transformadora da qualidade de vida e novos caminhos a serem encontrados. Destaca-se a importância dos direitos humanos, no conceito da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em paralelo às leis que regulamentam o Sistema Único de Saúde, com intuito de identificar valores humanitários nas bases da saúde pública no Brasil.

As bases legais existentes no país apresentam conceitos sobre a representação e importância da saúde pública, com foco na atividade multidisciplinar relacionada a avaliações das vulnerabilidades físicas, sociais, psicológicas e incapacitantes, levando-se em consideração as políticas de saúde.

Após essas considerações, salientamos que a Revista Bioética, em mais um exemplar, publica artigos atuais e de relevância, remetendo-nos a uma busca contínua por mais conhecimento e reflexões. Vale destacar também o valor da formação médica, o qual vai além de quaisquer interesses comerciais ou pecuniários, de modo que a relação do profissional médico e seu paciente deve ser baseada no conceito de confiança. Esse objetivo é consequência de uma formação médica com eixo de humanidades, ética e bioética, que trata o fenômeno vida com dignidade e respeito ³.

Nesse sentido, citamos a abordagem de Albert Schweitzer, prêmio Nobel da Paz em 1952, em artigo escrito em 1936, no qual menciona que o mais alto princípio ético é “a reverência pela vida” ⁴.

Certamente, mais uma vez, a revista disponibiliza, mediante produções científicas de autores responsáveis e comprometidos, material atualizado que despertará discussões sobre os diversos temas abordados, ajudando na construção para o futuro que nos espera.

Que tenham todos uma ótima leitura!

Referências

• ¹
  Nunes CRR, Nunes AP. Bioética. Rev Bras Enferm [Internet]. 2004 [acesso 2 set 2022];57(5):615-6. Disponível: https://bit.ly/3C56buD
  » https://bit.ly/3C56buD
• ²
  Garcia CAS Jr. Humanidades: ensino de “nova” dimensão ética na educação médica. Rev. bioét. (Impr.) [Internet]. 2020 [acesso 2 set 2022];28(3):479-85. DOI: 10.1590/1983-80422020283410
  » https://doi.org/10.1590/1983-80422020283410
• ³
  Molina A. Um outro mundo é possível. São Paulo: Giostri; 2021. p. 174.
• ⁴
  Costa J Jr. A mística do cuidado em Albert Schweitzer. Estudos de Religião [Internet]. 2017 [acesso 2 set 2022];31(1):77-95. Disponível: https://bit.ly/3V22MFO
  » https://bit.ly/3V22MFO

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  28 Nov 2022
• Data do Fascículo
  Jul-Sep 2022