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TERRITORIALIZAÇÃO DO CAFÉ NO CAPARAÓ CAPIXABA

TERRITORIALIZACIÓN DEL CAFÉ EN EL CAPARAÓ CAPIXABA

Resumo

O Brasil apresenta diversas regiões moldadas pela inserção da economia cafeeira. Esta conformação evidencia a cadeia produtiva do café como um elemento estruturante do território. Como objetivo, este artigo buscou caracterizar a territorialização da cadeia produtiva do café na região do Caparaó Capixaba. Para isto, a pesquisa apresentou caráter qualitativo, exploratório, descritivo e cunho etnográfico, contando com três etapas: bibliográfica, campo e entrevistas. A pesquisa de campo teve duração de novembro de 2020 a janeiro de 2021. Já as entrevistas, realizadas de forma online, ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2021. Os sujeitos da pesquisa foram 15 produtores de café no recorte geográfico do estudo, os municípios de Iúna e Irupi, no Caparaó Capixaba. Como resultados, é evidente a formação da territorialidade do Caparaó a partir da história da região em consonância com a cultura do café. Assim, acrescenta ao debate apontamentos sobre produção, consumo e comercialização do café da região. Os fatores basilares de análise foram apoderamento do espaço pelos produtores, ressignificação das práticas e do território por meio do trabalho, reforço da identidade local, formação da paisagem do café e, consequentemente, diferenciação produtiva por meio do foco em cafés especiais. Por fim, possibilita visibilizar o protagonismo dos cafeicultores em uma região negligenciada nas últimas décadas pela baixa produtividade em parâmetros quantitativos, mas que ostenta expressivos resultados na produção agroecológica, familiar e padrão especial.

Palavras-chave:
Apoderamento; Identidade; Trabalho; Paisagem; Cafeicultura

Resumen

Brasil tiene varias regiones moldeadas por la inserción de la economía cafetalera. Esta conformación destaca la cadena productiva del café como elemento estructurador del territorio. Este artículo busca caracterizar la territorialización de la cadena productiva del café en la región de Caparaó Capixaba. Para eso, la investigación tiene un carácter cualitativo, exploratorio, descriptivo y etnográfico, con tres etapas: bibliográfica, trabajo de campo y entrevistas. La investigación de campo tuvo una duración de noviembre de 2020 a enero de 2021. Las entrevistas, realizadas en línea, se realizaron entre septiembre y noviembre de 2021. Los sujetos de la investigación fueron 15 productores de café del área geográfica de estudio, los municipios de Iúna e Irupi, en Caparaó Capixaba. Como resultado, la formación de la territorialidad de Caparaó es evidente a partir de la historia en línea de la región con la cultura del café. Así, sume al debate notas sobre la producción, consumo y comercialización del café en la región. Los factores básicos de análisis fueron la apropiación del espacio por parte de los productores, la redefinición de prácticas y territorio a través del trabajo, el reforzamiento de la identidad local, la formación del paisaje cafetero y, en consecuencia, la diferenciación productiva a través de su enfoque en cafés especiales. Finalmente, permite visualizar el protagonismo de los caficultores en una región que ha sido desatendida en las últimas décadas por su baja productividad en parámetros cuantitativos, pero que ostenta expresivos resultados en la producción agroecológica, familiar y especial.

Palabras-clave:
Empoderamiento; Identidad; Trabajo; Paisaje; Cultivo de café

Abstract

Brazil has several regions shaped by the insertion of the coffee economy, an arrangement that highlights the coffee production chain as a structuring element of the territory. This article aims to characterize the territorialization of the coffee production chain in the Caparaó Capixaba region. The qualitative, exploratory, descriptive, and ethnographic research is divided into three stages: bibliographic, fieldwork and interviews. The field research lasted from November 2020 to January 2021. The interviews, conducted online, occurred between September and November 2021. The respondents were 15 coffee producers in the municipalities of Iúna and Irupi, in Caparaó Capixaba, Brazil. Consequently, the formation of Caparaó territoriality from the region's historic coffee culture is evident. Thus, the study increases the understanding of the production, consumption, and commercialization of the region's coffee. Some essential factors considered are the appropriation of space by producers, resignification of practices and territory through work, reinforcement of local identity, formation of the coffee landscape and subsequent productive differentiation through the focus on specialty coffees. Finally, visibility is given to coffee growers' protagonism in a region neglected in recent decades due to low quantitative productivity but which boasts expressive results in agroecological, family and specialty coffee production.

Keywords:
Appropriation; Identity; Work; Landscape Coffee Production

INTRODUÇÃO

O café apresenta importância histórica, cultural e econômica conquistada pela sua produção, comercialização e consumo. No Brasil, a cafeicultura desfruta de prestígio internacional (ANDRADE et al., 2015ANDRADE, H. C. C. de; ALCÂNTARA, V. de C.; ALDANO, A. P. de M.; SANTOS, A. C. dos. Atribuição de sentidos e agregação de valor: insumos para o turismo rural em regiões cafeicultoras. Revista Brasileira de Ecoturismo, v. 8, n. 2, 2015. Available in: https://periodicos.unifesp.br/index.php/ecoturismo/article/view/6441. Access: 1 Apr. 2022.
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), trazendo ao país o título de maior produtor mundial desde meados do século XVIII (FIGUEIREDO; ALVES, 2022FIGUEIREDO, M. G. D.; ALVES, C. D. C. Análise de preços do café no mercado internacional. Revista de Política Agrícola, v.1, n.1, p. 55, 2022.). Isso reflete também no consumo, sendo considerado o segundo maior consumidor (ICO, 2021ICO. International Coffee Organization. World Coffee Consumption. 2021. Available in: http://www.ico.org/prices/new-consumption-table.pdf . Access: 22 Nov. 2021.
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), com 15% de toda produção mundial (EMI, 2019EMI, Euromonitor International Brasil. Café no Brasil: estabilidade no pós-crise. 27° ENCAFÉ -Encontro Nacional do Café, 2019. Available in: http://consorciopesquisacafe.com.br/arquivos/consorcio/consumo/Cafe_no_Brasil_Estabilidade_no_Pos_Crise.pdf. Acesso em: 27 de agosto de 2021.
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). A alta produtividade e as constantes melhorias na qualidade sensorial da bebida reforçam o café como um importante símbolo cultural brasileiro (CASCUDO, 2004CASCUDO, L. da C. História da Alimentação no Brasil. São Paulo: Global Editora, 2004, 411p.). De acordo com Ianni (2004)IANNI, O. Origens agrárias do Estado Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 2004, 256 p., o café se instalou no país como uma organização econômica, correspondendo a uma cultura comercial, direcionada pela demanda e interesse internacionais. No entanto, o aumento da produção interna e a concorrência externa demandaram novos investimentos em tecnologias e alterações nas dinâmicas tradicionais de produção (PEREIRA, BARTHOLO; GUIMARÃES, 2004PEREIRA, S. P.; BARTHOLO, G. F.; GUIMARÃES, P. T. G. Cafés especiais: iniciativas brasileiras e tendências de consumo. Belo Horizonte: Epamig, 2004. 80 p.). A partir disso, é evidente a existência de uma cultura cafeeira motivada pela produção, consumo e paisagens associadas aos territórios rurais e urbanos envolvidos na cadeia produtiva e comercial do produto (ARGOLLO FERRÃO, 2004ARGOLLO FERRÃO, A. M. de. Arquitetura do café. Campinas [SP]: Editora da Unicamp; São Paulo [SP]: IMESP, 2004, 296p.).

A difusão de novas técnicas produtivas e o aprimoramento dos hábitos relacionados ao consumo da bebida, associados em sua maioria a novas “ondas de consumo” (GUIMARÃES; DE CASTRO JÚNIOR; ANDRADE, 2016GUIMARÃES, E. R.; DE CASTRO JÚNIOR, L. G.; ANDRADE, H. C. C. A terceira onda do café em Minas Gerais. Organizações Rurais & Agroindustriais, v. 18, n. 3, p. 214-227, 2016. Available in: https://www.redalyc.org/pdf/878/87849440002.pdf Access: 1 Nov. 2020.
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) evidenciam a valorização dos atributos de qualidade e vínculo com a origem dos alimentos. Atualmente, o maior custo de produção e, consequentemente, maior valor final para o consumidor, não reprime o crescimento do consumo de café de qualidade no mercado interno. Isso ocorre devido à maior percepção de qualidade da bebida, sensibilização para o consumo ambiental e socialmente sustentável (ANDRADE et al., 2015ANDRADE, H. C. C. de; ALCÂNTARA, V. de C.; ALDANO, A. P. de M.; SANTOS, A. C. dos. Atribuição de sentidos e agregação de valor: insumos para o turismo rural em regiões cafeicultoras. Revista Brasileira de Ecoturismo, v. 8, n. 2, 2015. Available in: https://periodicos.unifesp.br/index.php/ecoturismo/article/view/6441. Access: 1 Apr. 2022.
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). Ademais, reflete a proximidade com a origem de produção e as famílias produtoras, reconhecendo a diversidade de regiões produtivas de café de qualidade no país.

A região do Caparaó é uma das 33 regiões produtoras reconhecidas pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, 2021BSCA. Associação Brasileira de Cafés Especiais. Regiões. 2021. Available in: https://brazilcoffeenation.com.br/region/list. Access: 25 Nov. 2021.
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) no país. Localizada nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, apresenta como justificativa para escolha nesta pesquisa seu atual destaque na produção de cafés especiais, resultante do trabalho da agricultura familiar (SANTOS, 2013SANTOS, E. M. B. Parque Nacional do Caparaó: histórias de um lugar. Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña (HALAC) revista de la Solcha, v. 3, n. 1, p. 117-143, 2013. Available in: https://www.halacsolcha.org/index.php/halac/article/view/171. Access: 4 Nov. 2020.
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; SIMÃO et al., 2017SIMÃO, J. B. P.; PELUZIO, T. M. de O.; ZACARIAS, A. J.; PEREIRA, I. M.; SALUCI, J. C. G.; OLIVEIRA, M. J. V. de; GUIDINELLE, R. B. (orgs.). Cafeicultura do Caparaó: Resultados de Pesquisas. Alegre, ES: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, 2017, 232 p.; MASSINI; VALE, 2018MASSINI, V. S.; VALE, C. C. do; FONSECA FILHO, R. E. Uma visão da gestão da oferta do Turismo de Natureza no Parque Nacional do Caparaó (ES/MG). Caderno Virtual de Turismo, v. 21, n. 3, p. 17-32, 2021. Available in: http://dx.doi.org/10.18472/cvt.21n3.2021.1838. Access: 06 Apr. 2021.
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, TAVARES, 2022TAVARES, B. C. O protagonismo das comunidades produtoras de café no desenvolvimento turístico do Caparaó Capixaba. Dissertação (Mestrado em Turismo) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2022, 135f. Available in: http://www.ppgtur.uff.br/images/documentos/Beatriz_Tavares_Dissertacao.pdf. Access: 23 Oct. 2022.
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; TAVARES; ARGOLLO FERRÃO, 2022TAVARES, B. C.; ARGOLLO FERRÃO, A. M. de. Apontamentos sobre a Arquitetura de cafés especiais no Caparaó Capixaba. GEOgraphia, v. 24, n. 52, 2022. Available in: https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2022.v24i52.a50112. Access: 20 Oct. 2022.
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). A região é também reconhecida em concursos de qualidade, como o Coffee of the Year (COY) (SIC, 2021SIC. Coffee of the Year 2021. Semana Internacional do Café, Minas Gerais: Café Editora, 2021. Disponível: https://semanainternacionaldocafe.com.br/br/coffee-of-the-year-2021/ . Access: 15 Apr. de 2022.
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), e por processos de patrimonialização, como a Indicação Geográfica do Café do Caparaó (INPI, 2021INPI. Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Brasil). Resolução da Denominação de Origem “Caparaó” para café de 02 de fevereiro de 2021. Available in: https://www.gov.br/inpi/pt-br/central-de-conteudo/noticias/inpi-concede-denominacao-de-origem-para-cafe-do-caparao. Access: 02 Feb. 2021.
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).

A construção de territórios cafeeiros é resultante, portanto, do apoderamento do espaço em regiões rurais para a produção agrícola direcionada ao café que transformou ou vêm transformando as paisagens em todo país (ARGOLLO FERRÃO, 2004ARGOLLO FERRÃO, A. M. de. Arquitetura do café. Campinas [SP]: Editora da Unicamp; São Paulo [SP]: IMESP, 2004, 296p., 2016ARGOLLO FERRÃO, A. M. de. Sistemas territoriais integrados e a paisagem rural no Brasil. Identidades: território, proyecto, patrimonio, 2016, n. 6, p. 176-209.; MONTES, 2016MONTES, L. F. D. Território cafeeiro: transformações da paisagem e configuração de um habitat urbano-rural no Departamento de Risaralda, Colômbia. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Presidente Prudente, 2016, 196f. Available in: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/148680. Accesso: 12 Aug. 2022.
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). Desta forma, o presente trabalho apresenta como objetivo caracterizar a territorialização da cadeia produtiva do café na região do Caparaó Capixaba.

A estrutura deste artigo segue, na sequência desta Introdução, para o Referencial Teórico, com os principais conceitos abordados, e o Referencial Metodológico, com a descrição das técnicas, procedimentos metodológicos e o percurso metodológico aplicado neste estudo. Posteriormente, na seção de Resultados e Discussões, são expostos e analisados os dados obtidos na pesquisa a partir das categorias analíticas territoriais selecionadas. O artigo é finalizado nas Considerações Finais, onde são ponderados o alcance do objetivo, as contribuições e o potencial de expansão da pesquisa.

REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO

Esta pesquisa demandou a reunião de conceitos basilares da Geografia como identidade, espaço, território, lugar e paisagem, bem como suas influências diretas na vida e produção agrícola no ambiente rural.

O conceito de identidade é uma característica que está presente nos demais, logo, foi escolhido como ênfase e início dos apontamentos deste referencial teórico. Diversos autores trazem contribuições ao conceito da identidade, o destacando como complexo, fluido e plural, dotado de parcialidade social e política (BATISTA, 2005BATISTA, C. M. Memória e identidade: Aspectos relevantes para o desenvolvimento do Turismo Cultural. Caderno Virtual de Turismo, vol. 5, núm. 3, 2005, pp. 27-33.; ALAOUI; ABAKOUY, 2017ALAOUI, Y.; ABAKOUY, M. L’identité: de la sociologie aux sciences sociales. BARATARIA -Revista Castellano-Manchega de Ciencias Sociales, n. 22, pp. 201-213, 2017. Available in: http://dx.doi.org/10.20932/barataria.v0i22.310. Access: 02 Dec. 2021.
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; REQUIER-DESJARDINS, 2021REQUIER-DESJARDINS, D. Territoires - Identités - Patrimoine: une approche économique?. Développement Durable & Territoires, v. 11, n. 2, 2021. Available in: http://dx.doi.org/10.4000/developpementdurable.17448. Access: 27 Dec. 2021.
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). López (2018)LÓPEZ, J. J. R. La apropiación simbólica del territorio. Una tradición actualizada desde la nueva geografía cultural. Revista Geográfica Venezolana, v. 59, n. 2, pp. 434-447, 2018. Available in: https://www.redalyc.org/journal/3477/347760473010/html/. Access: 11 Dec. 2022.
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enfatiza que as identidades não são representações imóveis, mas processos culturais dotados de movimento. Portanto, pode ser compreendida como a percepção dos indivíduos sobre si mesmos e os demais em uma sociedade (BRADLEY, 1996BRADLEY, H. Fractured identities. Cambridge: Polity Press, 1996, 331 p.). Não corresponde diretamente ao ser, mas ao estar, representar ou assumir, desempenhando o papel de representação desenvolvida em relação ao outro por meio de uma construção social (ALAOUI; ABAKOUY, 2017ALAOUI, Y.; ABAKOUY, M. L’identité: de la sociologie aux sciences sociales. BARATARIA -Revista Castellano-Manchega de Ciencias Sociales, n. 22, pp. 201-213, 2017. Available in: http://dx.doi.org/10.20932/barataria.v0i22.310. Access: 02 Dec. 2021.
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; REQUIER-DESJARDINS, 2021REQUIER-DESJARDINS, D. Territoires - Identités - Patrimoine: une approche économique?. Développement Durable & Territoires, v. 11, n. 2, 2021. Available in: http://dx.doi.org/10.4000/developpementdurable.17448. Access: 27 Dec. 2021.
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).

Os conceitos de espaço e território, apesar de próximos e interdependentes, apresentam diferentes significados. O primeiro é inicial, anterior e inerente à parcela terrena, já o segundo, é resultante da projeção das ações humanas sobre o espaço, materializando o trabalho e o apoderamento (RAFFESTIN, 1993RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993, 136f.; HAESBAERT, 2007HAESBAERT, R. Território e multiterritorialidade: um debate. Revista GEOgraphia. Niterói, v. 9, n.17, pp. 19-46, 2007. Available in: https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/13531/8731. Access: 03 Nov. 2020.
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). A partir das perspectivas política, cultural, econômica e simbólica, a manifestação das relações de poder exerce o controle dos indivíduos sobre o espaço, seus recursos e demais elementos integrantes de comunidades por meio do apoderamento.

A contiguidade entre os indivíduos considera, portanto, esses fatores para exemplificar a intensidade e a proximidade dos envolvidos no apoderamento do território (BRENNAN; ALTER, 2013BRENNAN, J. C.; ALTER, T. R. (Orgs.). Theory, practice and community development. New York: Routledge, p. 78-97, 2013.). O conceito de apoderamento abrange ainda uma competência social de controle sobre os recursos, promovendo enraizamento e reforço da identidade de uma comunidade (RÍOS, 2020RÍOS, M. A. G. Territorialidades en la ciudad-región Eje Cafetero, Colombia. Territorios, n. 42, pp. 1-24, 2020. Available in: http://www.scielo.org.co/pdf/terri/n42/2215-7484-terri-42-6.pdf. Access: 27 Dec. 2021.
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).

A presença da atuação humana reforça as diferentes manifestações simbólicas possíveis no espaço geográfico, dentre elas, as afetividades, responsáveis por reforçar sentimentos de identidade e pertencimento (TUAN, 1990TUAN, Y. F. Topophilia: A study of environmental perceptions, attitudes and values. Columbia University Press, 1990, 260f.). A associação das identidades com o território promove a manifestação de características dos grupos sociais que se apoderam, habitam e usufruem do mesmo historicamente, mas ainda assim são passíveis de transformações e múltiplas interpretações (ZAGO, 2016ZAGO, O. S. Espacio, territorio y territorialidad: una aproximación teórica a la frontera. Revista Mexicana de Ciencias Políticas y Sociales, Universidad Nacional Autónoma de México, Nueva Época, Año LXI, n. 228, septiembre-diciembre, 2016, pp. 27-56. Available in: https://www.redalyc.org/pdf/421/42149082003.pdf. Access: 18 Jun. 2021.
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; VALENCIA-GALVEZ, 2017VALENCIA-GALVEZ, L. Territorio, espacio social e identidad comunitaria. Una mirada antropológica. Revista Inclusiones, v. 4, SI, p. 27-36, 2017. Available in: https://revistainclusiones.org/index.php/inclu/article/view/642. Access: 18 Jun. 2021.
https://revistainclusiones.org/index.php...
; LÓPEZ, 2018LÓPEZ, J. J. R. La apropiación simbólica del territorio. Una tradición actualizada desde la nueva geografía cultural. Revista Geográfica Venezolana, v. 59, n. 2, pp. 434-447, 2018. Available in: https://www.redalyc.org/journal/3477/347760473010/html/. Access: 11 Dec. 2022.
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). O geógrafo Yi-Fu Tuan agrega evidenciando os diversos modos de se relacionar com o espaço pelos indivíduos, ressaltando o pertencimento por meio de características étnicas, territoriais e culturais, que estão inseridos nas tradições, memórias e conhecimentos de uma localidade. Assim, o conceito de lugar emerge de forma complexa, dotado de signos e símbolos construídos pelos sentidos e pela experiência humana com o espaço, possibilitando conhecer seu mundo de maneiras ativas e passivas, aproximando-se das dinâmicas contemporâneas de produção, consumo e apropriação, além de permeadas pela cultura, pelas relações sociais e pela paisagem (TUAN, 1977TUAN, Y. F. Space and Place: The Perspective of Experience. Minneapolis, MN: University of Minnesota Press, 1977., 1990TUAN, Y. F. Topophilia: A study of environmental perceptions, attitudes and values. Columbia University Press, 1990, 260f., 2018TUAN, Y. F. Lugar: Uma perspectiva experiencial. Geograficidade, v. 8, n. 1, p. 4-15, 2018. Available in: https://doi.org/10.22409/geograficidade2018.81.a27150. Access: 18 Jun. 2021
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).

Para diferentes autores, as paisagens são realidades complexas e dinâmicas resultantes da interação de elementos naturais e culturais do espaço geográfico (BERQUE, 1994BERQUE, A. Cinq propositions pour une théorie du paysage. Seyssel: Champ Vallon, 1994, 421p.; COSGROVE, 2004COSGROVE, D. A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORRÊA, R.L.; ROSENDAHL, Z. (Org.) Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004, pp. 92-123.; CAUQUELIN, 2004CAUQUELIN, A. L'invention du paysage. Presses universitaires de France, 2004, 192 p.). Manifestam elementos do espaço, território e lugar refletidos nas experiências e nos próprios indivíduos, marcadas por memórias, histórias e cultura (TUAN, 1990TUAN, Y. F. Topophilia: A study of environmental perceptions, attitudes and values. Columbia University Press, 1990, 260f.; ANDREOTTI, 2013ANDREOTTI, G. Paisagem Cultural. Curitiba: Editora UFPR, 2013, 224p.). Assim, “não reside nem somente no objeto, nem somente no sujeito, mas na interação complexa dos dois” (BERQUE, 1994, p. 5BERQUE, A. Cinq propositions pour une théorie du paysage. Seyssel: Champ Vallon, 1994, 421p.), configurando o produto social da relação dos indivíduos com o meio. Desta forma, como manifestação do espaço, reflexo da realidade e das ações humanas, a paisagem marca e é marcada pela cultura (BERQUE, 1994BERQUE, A. Cinq propositions pour une théorie du paysage. Seyssel: Champ Vallon, 1994, 421p.).

O processo de compreensão da paisagem pelo olhar e memória dos indivíduos demanda a combinação da materialidade com a subjetividade humana, onde Kozel (2012)KOZEL, S. Geopoética das paisagens: olhar, sentir e ouvir a “natureza”. Caderno de Geografia, v. 22, n. 37, pp. 65-78, 2012. Available in: http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/view/3418/3866. Acesso em: 06 de dezembro de 2021.
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reforça a importância do sensível para a acepção deste conjunto. Isso pode ser justificado a partir de Besse (2014, p. 47)BESSE, J-M. O gosto do mundo: exercícios de paisagem. Editora UERJ: Rio de Janeiro, 2014, 234p. visto que a paisagem “é primeiramente vivenciada e depois, talvez, falada, a palavra buscando, sobretudo aqui, prolongar a vida, ou melhor, o vivo que faz da paisagem uma experiência”. Kozel (2012)KOZEL, S. Geopoética das paisagens: olhar, sentir e ouvir a “natureza”. Caderno de Geografia, v. 22, n. 37, pp. 65-78, 2012. Available in: http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/view/3418/3866. Acesso em: 06 de dezembro de 2021.
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concorda com Tuan (1990)TUAN, Y. F. Topophilia: A study of environmental perceptions, attitudes and values. Columbia University Press, 1990, 260f. sobre a importância dos sentidos humanos na imersão e percepção da paisagem, pela presença de elementos visuais, sonoros, olfativos e táteis.

Destacados os conceitos geográficos basilares e norteadores desta investigação, salienta-se que esta pesquisa apresenta caráter qualitativo, exploratório, descritivo e cunho etnográfico (GEERTZ, 1989GEERTZ, C. A interpretação das culturas. LTC: Rio de Janeiro, 1989, 212 p.; GIL, 1999GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999, 201 p.; MAGNANI, 2002MAGNANI, J. G. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 49, p. 11-29, 2002. Available in: https://doi.org/10.1590/S0102-69092002000200002. Access: 12 Mar. 2021.
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) com produtores do Café do Caparaó.

Para identificar o recorte geográfico do estudo, o mapa (Figura 1) apresenta os dezesseis municípios, divididos entre os estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, além do Parque Nacional do Caparaó, Unidade de Conservação (UC) de grande relevância para a biodiversidade regional. Desse modo, a região apresenta forte envolvimento com a preservação ambiental, a vivência rural, a gastronomia regional e a cultura do café. Escolhida para esta pesquisa devido ao recente registro da Indicação Geográfica (IG) do produto na modalidade Denominação de Origem (DO), no ano de 2021.

Figura 1
Mapa da região do Caparaó, Brasil.

A área territorial total da região delimitada no mapa é de 4.754,63 km2. Foram selecionados como recorte espacial para este estudo os municípios de Iúna e Irupi, representando a porção capixaba do Caparaó. Juntos, esses municípios somam 645,329 km2, cerca de 13,6% da área total do Caparaó. A definição deste limite geográfico ocorreu devido ao tamanho necessário para o sentimento de pertencimento e identificação pessoal que, segundo Tuan (1990, p. 116)TUAN, Y. F. Topophilia: A study of environmental perceptions, attitudes and values. Columbia University Press, 1990, 260f. deve ser “reduzido às necessidades biológicas do homem e às capacidades limitadas dos sentidos”.

A pesquisa foi dividida em três etapas: pesquisa bibliográfica, imersão em campo e realização de entrevistas online. A primeira etapa ocorreu entre os meses de outubro e dezembro de 2020, reunindo a revisão e sistematização da literatura existente sobre o tema. A segunda etapa, caracterizada pela pesquisa de campo, iniciou em novembro de 2020 e encerrou em janeiro de 2021. Em relação às técnicas, ressaltam-se as observações participante e externa, utilizadas para compreender a realidade do grupo pesquisado com a integração na das atividades produtivas com as dinâmicas sociais locais. Já a terceira etapa, caracterizada pelas entrevistas online, ocorreu entre os meses de setembro e novembro de 2021. Entre os critérios utilizados para selecionar os entrevistados, destaca-se principalmente o envolvimento com a agricultura familiar, o reconhecimento da produção de café de qualidade, bem como a inserção em um dos dois municípios. Sendo assim, 13 produtores de Iúna e 2 produtores de Irupi compuseram a amostra de 15 indivíduos para as entrevistas. Todos são naturais da região e tem como foco do trabalho a produção de café, ocasionalmente trabalhando com outros produtos para diversificação da renda. Fatores adicionais como gênero e idade não foram utilizados, no entanto, apresentaram ampla distribuição entre os participantes.

A interpretação das entrevistas ocorreu por meio da sistematização dos discursos transcritos e das anotações realizadas no momento das entrevistas com apoio do software de análise de pesquisas qualitativas NVivo. Posteriormente submetidos à análise de conteúdo, conforme as proposições de Bardin (1977)BARDIN, L. Análise de conteúdo. Presses Universitaires de France, 1977, 141p..

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A territorialização da produção cafeeira segue ao encontro da compreensão dos aspectos gerais de sua implantação no Brasil (ARGOLLO FERRÃO, 2004ARGOLLO FERRÃO, A. M. de. Arquitetura do café. Campinas [SP]: Editora da Unicamp; São Paulo [SP]: IMESP, 2004, 296p.; IANNI, 2004IANNI, O. Origens agrárias do Estado Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 2004, 256 p.; PEREIRA; BARTHOLO; GUIMARÃES, 2004PEREIRA, S. P.; BARTHOLO, G. F.; GUIMARÃES, P. T. G. Cafés especiais: iniciativas brasileiras e tendências de consumo. Belo Horizonte: Epamig, 2004. 80 p.). A região do Caparaó é composta por poucos e pequenos centros urbanos, com ocupação do seu espaço majoritariamente pelo ambiente rural, com destaque a produção cafeeira familiar (MASSINI; VALE, 2018MASSINI, V. S.; VALE, C. C. do; FONSECA FILHO, R. E. Uma visão da gestão da oferta do Turismo de Natureza no Parque Nacional do Caparaó (ES/MG). Caderno Virtual de Turismo, v. 21, n. 3, p. 17-32, 2021. Available in: http://dx.doi.org/10.18472/cvt.21n3.2021.1838. Access: 06 Apr. 2021.
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). Seu povoamento foi tardio, contando com imigrantes europeus e descendentes a partir do final do século XIX (SANTOS, 2013SANTOS, E. M. B. Parque Nacional do Caparaó: histórias de um lugar. Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña (HALAC) revista de la Solcha, v. 3, n. 1, p. 117-143, 2013. Available in: https://www.halacsolcha.org/index.php/halac/article/view/171. Access: 4 Nov. 2020.
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). O contexto da agricultura familiar representativo na produção cafeeira da região distancia-se do resultante do perfil de commodity ao apresentar diversas possibilidades de colheita, beneficiamento e torra.

As características fisiográficas específicas da região são o relevo montanhoso que inviabiliza a mecanização, o clima frio e o solo rico em matéria orgânica, bem como fatores humanos e culturais da agricultura familiar que preconizam a sucessão familiar e a produção de qualidade (INPI, 2021INPI. Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Brasil). Resolução da Denominação de Origem “Caparaó” para café de 02 de fevereiro de 2021. Available in: https://www.gov.br/inpi/pt-br/central-de-conteudo/noticias/inpi-concede-denominacao-de-origem-para-cafe-do-caparao. Access: 02 Feb. 2021.
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). Assim, torna-se reconhecida pela adequação a produções agrícolas que demandam processos manuais específicos, como a colheita seletiva, as peneiras manuais, seleção de defeitos e impurezas por catação, preferência por secagem natural em terreiros convencionais ou suspensos, despolpamento manual de microlotes e técnicas de fermentação (SIMÃO et al., 2017SIMÃO, J. B. P.; PELUZIO, T. M. de O.; ZACARIAS, A. J.; PEREIRA, I. M.; SALUCI, J. C. G.; OLIVEIRA, M. J. V. de; GUIDINELLE, R. B. (orgs.). Cafeicultura do Caparaó: Resultados de Pesquisas. Alegre, ES: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, 2017, 232 p.; INPI, 2021INPI. Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Brasil). Resolução da Denominação de Origem “Caparaó” para café de 02 de fevereiro de 2021. Available in: https://www.gov.br/inpi/pt-br/central-de-conteudo/noticias/inpi-concede-denominacao-de-origem-para-cafe-do-caparao. Access: 02 Feb. 2021.
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).

O patrimônio natural da região, representado pela Mata Atlântica nativa preservada pela UC, é complementado pela diversidade do patrimônio cultural presente, formado pelas ruralidades estruturadas, identidades consolidadas e sentimento de afeto e pertencimento ao local (TUAN, 1990TUAN, Y. F. Topophilia: A study of environmental perceptions, attitudes and values. Columbia University Press, 1990, 260f.), como a gastronomia local e o café com reconhecimento de origem.

As relações entre a Geografia e as manifestações do território na cadeia produtiva do café na região do Caparaó Capixaba permitiram reconhecer a existência de diferentes dinâmicas de interação com o território e com a produção pelos produtores. As impressões obtidas na imersão em campo e a realização das entrevistas foram fundamentais para compreender a relação do pertencimento e do empoderamento presentes nas tradições, nas memórias e no cotidiano produtivo.

Os resultados foram analisados com fundamentação nas categorias analíticas territoriais desenvolvidas a partir de Argollo Ferrão (2004)ARGOLLO FERRÃO, A. M. de. Arquitetura do café. Campinas [SP]: Editora da Unicamp; São Paulo [SP]: IMESP, 2004, 296p., conforme apresentado na Figura 2:

Figura 2
Diagrama de categorias analíticas.

Com base nestas categorias, as principais informações coletadas nesta pesquisam estão reunidas e consolidadas no quadro a seguir (Quadro 1).

Quadro 1
Componentes Territoriais Cafeeiros do Caparaó Capixaba.

Com relação à categoria apoderamento, foi possível evidenciar o envolvimento dos produtores entrevistados com seu território por meio de sua inserção e exploração com a produção agrícola. Para analisar a territorialização de uma cadeia produtiva e de suas práticas, é importante reconhecer as práticas de apoderamento conduzidas pelos indivíduos em um espaço a partir das perspectivas política, cultural e simbólica (RAFFESTIN, 1993RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993, 136f.).

Pelo ponto de vista das comunidades, o poder é presente e necessário, mas muitas vezes descentralizado e disperso, demandando a coordenação de objetivos para promoção da autonomia, autossuficiência e participação (BRENNAN; ALTER, 2013BRENNAN, J. C.; ALTER, T. R. (Orgs.). Theory, practice and community development. New York: Routledge, p. 78-97, 2013.; RÍOS, 2020RÍOS, M. A. G. Territorialidades en la ciudad-región Eje Cafetero, Colombia. Territorios, n. 42, pp. 1-24, 2020. Available in: http://www.scielo.org.co/pdf/terri/n42/2215-7484-terri-42-6.pdf. Access: 27 Dec. 2021.
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). Essas práticas necessitam de renovação constante para manutenção de relações sociais coesas nas comunidades (RÍOS, 2020RÍOS, M. A. G. Territorialidades en la ciudad-región Eje Cafetero, Colombia. Territorios, n. 42, pp. 1-24, 2020. Available in: http://www.scielo.org.co/pdf/terri/n42/2215-7484-terri-42-6.pdf. Access: 27 Dec. 2021.
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). Desse modo, a pesquisa exemplifica o apoderamento do território, inicialmente, por meio da busca de terras para exploração agrícola e os direcionou à produção cafeeira no Caparaó. Atualmente, o processo de apoderamento é constante e ocorre à medida que reforçam sua identidade por meio da inserção na produção de café. As ações de apropriação coletiva relacionadas aos recursos naturais locais e ao caráter identitário dos residentes serão parcialmente abordadas neste primeiro tópico de análise dos resultados.

A inserção foi o primeiro elemento comum identificado entre os entrevistados. A conexão com a região e o envolvimento com a cafeicultura estavam presentes em todos os casos, independente das vivências, da idade, do gênero e da quantidade de gerações presentes na produção cafeeira. Essa manifestação é enfatizada pelos produtores ao evidenciares o caráter familiar e geracionais das propriedades de Iúna e Irupi. Algumas das famílias têm sua presença entrelaçada à história do apoderamento da região, ocupação vigente há mais de cinco gerações, desde o final do século XIX, estabelecendo vínculo com o território antes da popularização do plantio de café no Caparaó. Casos mais recentes estão relacionados a produções cafeeiras em três gerações da família no período de incentivo do governo capixaba ao plantio em meados do século XX. Suas manifestações apresentam características destes grupos sociais que se apoderaram e vem habitando e usufruindo do espaço historicamente, ainda que possam ser transformadas e ajustadas ao longo do tempo (ZAGO, 2016ZAGO, O. S. Espacio, territorio y territorialidad: una aproximación teórica a la frontera. Revista Mexicana de Ciencias Políticas y Sociales, Universidad Nacional Autónoma de México, Nueva Época, Año LXI, n. 228, septiembre-diciembre, 2016, pp. 27-56. Available in: https://www.redalyc.org/pdf/421/42149082003.pdf. Access: 18 Jun. 2021.
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; VALENCIA-GALVEZ, 2017VALENCIA-GALVEZ, L. Territorio, espacio social e identidad comunitaria. Una mirada antropológica. Revista Inclusiones, v. 4, SI, p. 27-36, 2017. Available in: https://revistainclusiones.org/index.php/inclu/article/view/642. Access: 18 Jun. 2021.
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; LÓPEZ, 2018LÓPEZ, J. J. R. La apropiación simbólica del territorio. Una tradición actualizada desde la nueva geografía cultural. Revista Geográfica Venezolana, v. 59, n. 2, pp. 434-447, 2018. Available in: https://www.redalyc.org/journal/3477/347760473010/html/. Access: 11 Dec. 2022.
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).

O envolvimento com a produção cafeeira, seja ele direto ou indireto, é desigual entre os entrevistados. Alguns produtores apresentam trajetória comercial recente, com criação de marca de cafés especiais torrados em decorrência da pandemia. Em adição, os produtores mais jovens apresentam atuação na especialização da produção com a qualificação profissional e acadêmica em áreas relacionadas ao ambiente rural, como a Agronomia, a Engenharia e a Administração. Outros produtores possuem menor produção e focam na comercialização de café verde para cooperativas ou composição de lote de outros produtores da região. Ainda assim, todos demonstram o envolvimento e o afeto com a atividade como um processo natural, visto que “a vontade de produzir café vem do berço” e é “de sangue”.

Em seguida, o evidente sentimento de pertencimento é visível na realidade de todos, explorando relatos que expressam afeição, apego e idealização pelo território, na maioria das vezes, relacionados a lembranças familiares e memórias afetivas em torno da lavoura e do processo produtivo do café. A sucessão familiar está inserida neste contexto a partir das escolhas realizadas pelas gerações seguintes, que espelham o afeto e o pertencimento ao lugar (TUAN, 1990TUAN, Y. F. Topophilia: A study of environmental perceptions, attitudes and values. Columbia University Press, 1990, 260f.). Os homens optavam, em sua maioria, pela manutenção das tradições familiares na agricultura em detrimento da profissionalização acadêmica em profissões popularizadas. Situação diferente quando analisada pela perspectiva feminina, visto que as mulheres mais novas destas famílias têm sua inserção no mercado de trabalho principalmente em áreas alheias à cafeicultura.

As diferenças produtivas foram outro elemento considerado. A singularidade do produto da região é enaltecida, em primeiro lugar, pela característica familiar das propriedades, dotadas de afeto, dedicação e respeito pelo biodiversidade. Além disso, características referentes ao terroir que diferenciam além das inúmeras regiões brasileiras, também particularidades dos territórios mineiro e capixaba. O trabalho, ainda que árduo devido às características naturais da região e da cafeicultura, é enaltecido orgulhosamente pelos produtores como um dos atributos de qualidade do produto. A dificuldade de acesso, o relevo montanhoso e a impossibilidade da mecanização dos processos impossibilitam a produção equiparada em quantidade com regiões planas e mecanizadas, como é o caso do Sul de Minas, no entanto, agrega qualidade ao produto por demandar a colheita manual e, muitas vezes, seletiva. Esses aspectos naturais refletem nos fatores humanos ao influenciar o aperfeiçoamento de técnicas de produção e beneficiamento do produto, adaptando as tradições locais com a aquisição de conhecimento técnico-científico.

A associação destas particularidades torna o café do Caparaó diverso em aromas e sabores, mas também em trabalho e histórias, agregando valor simbólico para o mercado consumidor deste produto por meio da percepção de qualidade objetiva e subjetiva. Esses atributos promovem a atratividade do produto e da região por meio do movimento direct trade, enfatizando narrativas, valores e processos que empoderam os produtores e suas afetividades.

Em seguida, as categorias identidade e trabalho foram analisadas em conjunto devido à importante inter-relação entre estas no contexto dos territórios cafeeiros. As manifestações da identidade, ainda que diversas e impermanentes (LÓPEZ, 2018LÓPEZ, J. J. R. La apropiación simbólica del territorio. Una tradición actualizada desde la nueva geografía cultural. Revista Geográfica Venezolana, v. 59, n. 2, pp. 434-447, 2018. Available in: https://www.redalyc.org/journal/3477/347760473010/html/. Access: 11 Dec. 2022.
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), se relacionam com o território, a memória e as atividades produtivas para aproximar ou diferenciar os indivíduos.

Mesmo similares, as realidades dos produtores apontam duas manifestações distintas do pertencimento - o comunitário e o regional, que não se sobrepõem, mas se diferenciam no discurso de cada entrevistado. Tanto em suas comunidades quanto em toda a região, a busca pela compreensão da própria identidade acompanha inclusive as expressões do patrimônio material e imaterial, no qual desejou-se compreender como estes refletem e são refletidos pela realidade da agricultura e do cotidiano dos produtores.

A partir do cotidiano e da percepção pessoal, vivenciados no período em campo e durante as entrevistas, foram percebidos o vínculo afetivo, o pertencimento e o trabalho na formação identitária dos produtores em relação ao café e a região do Caparaó. O reconhecimento da produção de qualidade e relevância no contexto cafeeiro da região apontam a importância do amor, do cuidado e da dedicação na qualidade do trabalho e na formação da identidade do cafeicultor do Caparaó.

A dedicação do núcleo familiar em torno da cadeia produtiva do café e da qualidade do produto conquistou importante espaço para o reconhecimento no mercado nacional e internacional. O sentimento de pertencimento e a afetividade relacionados ao trabalho e a região são enfatizados como frutos dessa identidade espelhada na atividade turística e percebida por todos que visitam a propriedade, conhecem a história e provam o café. Ao contar sua história, enfatiza que o sentimento de afeto pelo trabalho com a cafeicultura e com a produção de cafés especiais sobrepôs o investimento de tempo, energia e recursos necessários para a produção. Além disso, são ressaltados o carinho e respeito expressado pelas famílias em relação ao café, inspirando o trabalho e a manutenção do vínculo com a terra por meio das tradições familiares. Essa característica afetiva familiar é ressaltada pelo reforço da identidade dos agricultores, pelo reconhecimento coletivo da experiência e da autoridade dos que “nascem mexendo com café”, com sua “identidade moldada no café”.

Os produtores abordaram em diversos momentos informações sobre a rotina em seu cotidiano. Diferente do perfil de trabalho na cafeicultura convencional que ficou associada a colheita ocasional no período da safra e os períodos de ócio na entressafra, a produção de café de qualidade demanda envolvimento constante, com poucas pausas para descanso ou recreação, no entanto, reforçam que apesar de cansativo, o trabalho é prazeroso e recompensador. Ainda assim, foram relatadas em todos os casos diferenças nas atividades e na intensidade do trabalho conforme a sazonalidade do café, iniciando mais cedo e acabando mais tarde durante o período da colheita. A bienalidade1 1 A bienalidade é uma característica natural do cafeeiro que consiste na alternância produtiva bianual, possibilitando a recuperação da planta após florada e safra intensas (CONAB, 2021). do cafezal e as manifestações climáticas de cada ano influenciam na existência de uma safra única, que nesta região ocorre usualmente entre junho e setembro, ou de uma segunda safra, também denominada “colheita tardia”, resultado das chuvas posteriormente à colheita que induzem uma nova floração.

Outro ponto importante a ser destacado em relação à diferença do trabalho no cotidiano da produção cafeeira é a relação entre produção de café commodity e especial. Os produtores com ênfase na produção de cafés especiais relatam um cotidiano de intensos meses de trabalho divididos entre a lavoura, terreiros, estufas, secadores e torrefação. A colheita seletiva e exclusiva de grãos maduros aumenta a necessidade de mão de obra na lavoura no período produtivo, demandando a presença de todo núcleo familiar e, às vezes, de vizinhos ou conhecidos contratados. Em contrapartida, produtores de café commodity ou em transição para produção de cafés especiais relatam um processo mais simplificado de colheita com menor demanda humana, a derriça, que consiste na colheita manual ou parcialmente mecanizada que remove todos os frutos de uma mesma rama sem considerar seu grau de maturação.

A divisão sexual do trabalho também foi outra característica marcante no envolvimento da família com o trabalho. As mulheres destas comunidades estão envolvidas com diferentes atividades estratificadas ou não por recortes de gênero, como a colheita do café, o trabalho doméstico e externo, as atividades de cuidado, a recepção de visitantes, entre outras. Cada informante desta pesquisa ressaltou uma realidade diferente, ressaltando a presença feminina na agricultura, no ambiente doméstico e profissional. Por um lado, a divisão do trabalho é acompanhada pelo reconhecimento da figura feminina como trabalhadora do campo e produtora de café de qualidade por meio da seleção dos microlotes de melhor classificação para composição uma linha própria de cafés com identidade feminina. Por outro, a presença feminina no campo é mais flexível, existindo maior atuação nas áreas de gestão e hospitalidade, ou ainda, nas atividades domésticas ou trabalhos externos. Nestes casos, a presença das mulheres na lavoura é ocasional, associado à “ajuda” principalmente no período da colheita.

Em seguida, a categoria Paisagem objetivou apontar os elementos de formação e percepção da paisagem dos municípios analisados no contexto da produção cafeeira. O processo de compreensão da paisagem pelo olhar e memória dos indivíduos demanda a combinação da materialidade com a subjetividade humana, perpassada pelo sensível (KOZEL, 2012KOZEL, S. Geopoética das paisagens: olhar, sentir e ouvir a “natureza”. Caderno de Geografia, v. 22, n. 37, pp. 65-78, 2012. Available in: http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/view/3418/3866. Acesso em: 06 de dezembro de 2021.
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). No Brasil, a estruturação de paisagens culturais cafeeiras nas diferentes regiões produtoras do país, pode se apoiar nas particularidades produtivas locais, como trabalho familiar, geracional e histórico; reconhecimento internacional da cultura cafeeira local; capital social estratégico relacionada a uma instituição ou associação; relação entre tradição e tecnologia para promover um produto com qualidade e sustentabilidade.

A formação da paisagem considera a associação dos elementos ambientais e humanos que se manifestam no território analisado, relacionando as características promovidas pelo entorno do Parque Nacional do Caparaó com a interferência da agricultura e da cafeicultura no local. O cafezal é o elemento em evidência na formação das paisagens cafeeiras, atuando na construção dos imaginários de fazendas com desenhos e conformações típicas de corredores de árvores de baixo a médio porte em regiões montanhosas ou planas. No Caparaó, se destacam as paisagens formadas pela coexistência de plantios morro abaixo e em curva de nível, em altitude superior a 1100 metros. Os arruamentos presentes entre os talhões também caracterizam o cenário rural e possibilitam o escoamento dos frutos colhidos para os espaços de beneficiamento.

A consorciamento da agricultura com a mata nativa preservada pelo Parque Nacional do Caparaó possibilita também novas configurações para a paisagem cafeeira brasileira. Além da forma tradicional, o plantio a pleno sol, a produção de café nesta localidade pode ocorrer também em regiões sombreadas por árvores maiores, integradas parcial ou integralmente com a floresta nos Sistemas de Agrofloresta (SAF). Rios e cachoeiras também harmonizam com a cobertura florestal sobre as propriedades em diferentes comunidades dos municípios, influenciando a paisagem, o clima, a altitude elevada e a qualidade do produto.

Por outro lado, são sazonalmente agregados a paisagem elementos que expressam a vitalidade e produtividade do cafezal, como as flores e os frutos. Ademais, a paisagem pode ser influenciada pelos sentidos humanos para sua percepção e apreciação. A vivência da paisagem por meio da atuação dos sentidos reforça seu caráter experiencial (BESSE, 2014BESSE, J-M. O gosto do mundo: exercícios de paisagem. Editora UERJ: Rio de Janeiro, 2014, 234p.). Assim, constrói e é construída de forma subjetiva com a reunião dos afetos individuais e coletivos relacionados à apreciação dos alimentos produzidos no local (ANDREOTTI, 2013ANDREOTTI, G. Paisagem Cultural. Curitiba: Editora UFPR, 2013, 224p.). Atividades comuns deste ambiente podem explorar esses sentidos, como os aspectos visuais da planta (visão), seu aroma (olfato), os sons de jacus, abelhas e outros pássaros ou insetos (audição), os cafés colhidos no pé (tato) e ainda o sabor dos frutos frescos ou a infusão de suas flores (paladar).

As paisagens rurais existentes no local não podem ser interpretadas de maneiras diferentes pela visão por serem estáticas no presente momento, mas o elo afetivo entre a pessoa e o lugar torna as mesmas mais simbólicas ou mais banais. No caso do turismo, a visualização de uma paisagem repleta de plantações de café no entorno das montanhas e das matas ciliares pode significar pertencimento aos residentes e produtores locais, sensibilização aos turistas e pesquisadores ou até mero cenário aos visitantes menos interessados.

Já a audição é explorada por meio dos sons da natureza se misturam com possíveis sons de animais ou máquinas agrícolas, ou até mesmo predomine o silêncio sobre os demais. Outrossim, quando adicionado ao contexto a hospitalidade promovida pelo café, podem ser esperados também os sons proporcionados pela interação humana, como crianças correndo, conversas acontecendo, batidas de panela, grãos de café sendo moídos, entre outros.

Em concordância com Tuan (2018)TUAN, Y. F. Lugar: Uma perspectiva experiencial. Geograficidade, v. 8, n. 1, p. 4-15, 2018. Available in: https://doi.org/10.22409/geograficidade2018.81.a27150. Access: 18 Jun. 2021
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, os demais sentidos são reunidos como registro de sensações e estímulos externos, que são afetados pelo pensamento e manifestam-se de maneira particular. Estes reúnem principalmente as sensações mais utilizadas nas atividades de percepção para o meio profissional do café. O tato, além de expressar o contato com a terra, com o plantio e com a própria fruta, também é exemplificado pelos degustadores profissionais e baristas por meio da característica “corpo”, presente no sensorial da bebida e responsável pela sensação de contato tátil dentre a bebida e a boca e podendo ser descrita como aveludado, cremoso ou encorpado (PINHEIRO, 2019PINHEIRO, A. C. T. Perfil sensorial e repetibilidade de provadores de cafés especiais em Minas Gerais. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2019, 87f. Available in: http://www.sbicafe.ufv.br/bitstream/handle/123456789/12488/Tese_Aracy%20Camilla%20Tardim%20Pinheiro.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Access: 12 May 2021.
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).

Já o paladar corresponde a uma das principais sensações utilizadas em segmentos turísticos voltados para a gastronomia e alimentação, independente de seu produto destaque, bem como também seu foco rural ou urbano. Podendo ser destacado, no contexto atual da pesquisa, pelo contato com a natureza e a própria produção agrícola do receptivo turístico, bem como dos componentes agregados na experiência rural promovida em uma fazenda produtora de café, como a própria bebida em suas diversas formas e possibilidades, acompanhada de elementos atrativos da culinária regional como pães, bolos, biscoitos, doces e outros.

Por fim, é possível destacar o odor como elo afetivo mais característico da experiência em torno do café, responsável por evocar memórias gustativas ainda que de forma distante, exemplificando o componente aromático da bebida como destaque na apreciação entre consumidores e não consumidores, bem como é associada com a hospitalidade doméstica e a comensalidade nas práticas alimentares brasileiras (CASCUDO, 2004CASCUDO, L. da C. História da Alimentação no Brasil. São Paulo: Global Editora, 2004, 411p.).

CONCLUSÃO

O presente estudo intencionou dar visibilidade aos processos de territorialização da cadeia produtiva do café nos territórios cafeeiros a partir da realidade de cafeicultores familiares dos municípios de Iúna e Irupi, no Caparaó capixaba. Os questionamentos levantados foram respondidos atendendo ao recorte geográfico selecionado e protagonizando as vivências das comunidades e dos produtores sujeitos da pesquisa. A territorialidade do Caparaó vem sendo abordada na literatura recente sobre diferentes óticas, como a da Agronomia, da Ecologia e da Biologia. Assim, o estudo acrescenta ao debate apontamentos sobre a história de produção, consumo e comercialização do café da região, tendo como base fatores como apoderamento do espaço pelos produtores, ressignificação das práticas e do território por meio do trabalho, reforço da identidade local, formação da paisagem do café e consequentemente diferenciação produtiva por meio do foco em cafés especiais.

Os dados da pesquisa podem contribuir para o reconhecimento da cadeia produtiva do café como um elemento estruturante do território em regiões rurais moldadas historicamente pela inserção da economia cafeeira. Ademais, traz visibilidade a uma região negligenciada nas últimas décadas pela baixa produtividade em parâmetros quantitativos, mas que ostenta expressivos resultados na produção agroecológica, familiar e padrão especial. A compilação de discursos dos cafeicultores possibilita também evidenciar e popularizar seu protagonismo sobre a atividade e o território neste contexto. O estudo apresenta potencial de expansão tanto na própria região quanto em outros territórios do café invisibilizados pela produção monocultora e pela expansão do agronegócio.

NOTA

  • 1
    A bienalidade é uma característica natural do cafeeiro que consiste na alternância produtiva bianual, possibilitando a recuperação da planta após florada e safra intensas (CONAB, 2021).

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Editado por

Editores Responsáveis
Alexandra Maria Oliveira
Alexandre Queiroz Pereira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    01 Fev 2023
  • Aceito
    10 Fev 2023
  • Publicado
    30 Fev 2023
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