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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO RECÉM-NATO UM CASO DE OSTEOGÊNESE IMPERFECTA, FORMA CONGÊNITA RECESSIVA

1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que são inúmeras as conquistas alcançadas nos últimos anos no campo da enfermagem.

Assim, é desejo das autoras contribuir para a literatura científica apresentando um caso de enfermagem, orientado pela Metodologia Assistencial, visando atender às necessidades básicas de um recém-nato portador de Osteogênese Im-perfecta, Forma Congênita Recessiva.

Na unidade neo-natal do Hospital Central do IASERJ até então nenhum caso de Asteogênese Imperfecta, Forma Congênita havia sido registrado.

Por ser considerado o recém-nato totalmente dependente das ações de enfermagem e neste caso, seu diagnóstico e prognóstico agravados pelas limitações psicológicas e psicossociais decorrentes desta patologia, sentiu-se a necessidade de formular um plano global de assistência não somente visando o atendimento e evolução do recém-nato, como também orientando o comportamento materno, da família e dos participantes do seu ambiente, com vistas a aceitação do mesmo.

Em face da complexidade do caso a equipe de enfermagem, trabalhando paralelamente à equipe médica, deve estar preparada tecnicamente ter conhecimentos especializados e ainda criar um ambiente de trabalho que leve a participação consciente de todos os membros da equipe.

2. LITERATURA

2.1 — Considerações sobre a Patologia

Segundo Fairbank (5)FAIEBANK, H. A. T. Osteogenesis imperfecta and osteogenesis imperfecta cystica. J. Bone Joint Surg. 30-B, 164-172, 1948. e Carakushansky (3)CARAKUSHANSKY, Gerson. Importância genética em Pediatria - Medicina de hoje, 1: (40) 356-360, 1968., dentre as várias doenças com o componente genético, vem merecendo especial atenção a Asteogênese Imperfecta, Forma Congênita Recessiva pela grave repercussão que dela pode advir para o recém-nato e sua família.

Clinicamente esta patologia apresenta-se sob duas formas distintas.

  • — Osteogênese Imperfecta, Forma Dominante.

  • — Osteogênese Impercta, Forma Congênita Recessiva (o caso estudado pelas autoras).

Estudos recentes de Carakushanky (3)CARAKUSHANSKY, Gerson. Importância genética em Pediatria - Medicina de hoje, 1: (40) 356-360, 1968., comprova ser esta patologia caracterizada por síndromes disfórmicas, também conhecidas como mal formativas, sendo o maior número de casos detectados em crianças cujos pais sejam possíveis portadores de genes recessivos.

De acordo com King (8)KING, J. D. And BOBECHKO, W. P. Osteogenesis impercecta. J. Bone Yort Surg. 53-13, 72-96, 1971. e Bobechko (8)KING, J. D. And BOBECHKO, W. P. Osteogenesis impercecta. J. Bone Yort Surg. 53-13, 72-96, 1971. o diagnóstico médico de exames radiológicos, ainda na cavidade intra-uterina, é confirmado logo após o nascimento do recém-nato que se apresenta com as seguintes características ao exame físico

  • — nanismo do tipo de membros curtos

  • — cabeça relativamente grande, fontanelas largas

  • — hipotonia muscular

  • — globo ocular proeminente, nariz pequeno com afundamento da ponta nasal.

Segundo estes autores, é bastante difícil quase impossível, a confirmação definitiva do diagnóstico só pelo exame físico. A análise dos resultados radiológicos torna-se também imprescindível, sendo estas as principais características radiológicas.

  • — Estrutura dos ossos dos membros aparecem curtos e grossos.

  • — Fraturas múltiplas e formação de calos em todos os pontos do esquelto extra-craneano, mais acentuada nas extremidades e costelas.

  • — A má consolidação das fraturas e o amolecimento anormal dos ossos malácios resultam no grande arqueamento dos membros. O diâmetro vertical dos corpos das vértebras diminui.

  • — Ossificação retardada dos ossos parietais.

  • — Corpos das vértebras achatadas e deformadas.

  • — Fraturas múltiplas são vistas nas costelas e nos ossos tubulares encurtados e grossos. Com alterações marcantes nas extremidades inferiores.

A terapêutica ae restringe à administração de antibioticos para impedir a instalação de processos infecciosos, em virtude da suscetibilidade do recém-nato a infecções. Admitem Menshk, Vererb, Konst, que na maioria dos casos o recém-nato nasce morto, ou quando resiste, consegue viver apenas alguns dias ou mesmo meses. A morte, quando ocorre é devida a hemorrogia intracraneana, lesões ou infecções. Um paciente muito raro, poderá sobreviver, possivelmente até a idade adulta, e apresentar uma figura de extrema deformidade do esqueleto e nanismo.

2.2 — Metodologia da Assistência de Enfermagem

A idéia da implantação da Metodologia Científica, na assistência de enfermagem tem levado as enfermeiras (os) a adotar uma atitude mais consciente sobre a necessidade do planejamento das ações de enfermagem, visando principalmente a recuperação do paciente, mas também dirigindo suas atenções para a família e comunidade.

Assim é que para Horta, "a enfermagem é a ciência e a arte de assistir o ser humano (indivíduo, família, comunidade) no atendimento de suas necessidades básicas, de torná-lo independente desta assistência quando possível pelo ensino do auto cuidado, de recuperar, manter e promover a saúde em colaboração com outros profissionais."

LAMBERTSEN (9)LAMBERTSEM, E. C. Nursing Team Organizatnon and Functioning. Teacher College. New York, 1953. conceitua a enfermagem como: "um processo dinâmico, terapêutico e educativo em satisfazer as necessidades de saúde da sociedade. Sua função distinta refere-se às respostas fisiológicas e psico sociais à saúde que podem ou fazem resultar em um estado de dependência, e outro para satisfazer necessidades que estão, normalmente dentro do potencial do indivíduo ou família. Em um relacionamento terapêutico e educativo o enfermeiro assiste o indivíduo e/ou família em alcançar seu potencial de auto direção da saúde"

Ainda posicionando a Enfermagem podemos definí-la como uma ciência que leva ao ser humano, o conhecimento necessário para a preservação da sua saúde e da família, assegurando assim a perpetuação da espécie.

A aplicação do Processo de Enfermagem visa a sistematização das ações de Enfermagem com o intuito de melhorar e aprimorar o rendimento da equipe profissional e preservar a saúde (Homem, Família, Comunidade), através da observação científica e planejada das suas necessidades, tornando possível a avaliação constante e os possíveis reajustes das ações de Enfermagem.

São componentes do Processo de Enfermagem:

  • — Histórico de Enfermagem

  • — Diagnóstico de Engermagem

  • — Plano Assistencial

  • — Plano Diário de Enfermagem

  • — Evolução

  • — Avaliação

  • — Prognóstico

O levantamento dos problemas do cliente (histórico de Enfermagem) conduz à definição do grau de sua dependência da assistência de enfermagem.

O planejamento do atendimento das necessidades do cliente é realizado em face do Diagnóstico formado (estabelecido) e concomitante à elaboração da Prescrição, Plano Diário e Plano de Alta.

A prescrição é obviamente um instrumento de trabalho que especifica os cuidados a serem prestados a um paciente, podemos ainda dizer que é o plano assistencial, uma previsão de atividades convenientemente estruturado que deve ser cumprido em função do objetivo previsto: Assistência Integral ao Paciente.

A exequibilidade do plano exige por parte da enfermeira (o); supervisão, orientação, controle e execução.

A flexibilidade de sua elaboração permite que se processem as mudanças ocorridas e verificadas nas evolução do cliente.

O sistema de Avaliação do Plano servirá como ponto de referência para que a enfermeira (o) possa determinar de que forma é possível introduzir os reajustes capazes de beneficiar o cliente, família, comunidade.

A avaliação é um processo dinâmico e contínuo ,não só em torno da assistência que está sendo prestada, mas também em atividades executadas pela equipe através das quais conseguiremos resultados favoráveis na assistência integral ao paciente.

3. METODOLOGIA

3.1 — Histórico de Enfermagem da Mãe

Identificação:

Cliente com 27 anos, casada, branca católica, professora, veio de casa acompanhada do marido.

Diagnóstico médico: Trabalho de Prto, Gesta II para I.

Queixas:

Refere, metrossistoles espaçadas. Preocupada por ter deixado sua filha de 4 anos em casa com febre, ser RH negativo e também porque foi informado que o bebê está (sentado).

Histórico obsiétrico atual:

última menstruação a 12/3/77.

Fez pré-natal em clínica particular. Cônjuge com saúde, 29 anos. Informa movimentos fetais à partir do 4.° mês de gestação.

Exame físico:

Aspecto geral bom.

Altura: 1,60 — Peso 59 k e 400 g.

P.A. máx. 110 mm.

Respiração: 35 movimentos respiratório por minutos.

Pulso: 88 Bat./min.

Apresenta mucosas coradas, varizes nos membros inferiores, usa meias elásticas, tensa, porém ajustada quanto a situação ao ambiente. Usa prótese dentária, não tem problemas quanto à alimentação, mas prefere peixe e recusa o leite.

Ao toque, apresentou colo permeável a 1 cm, bordos finos, bolsa das águas formadas e tensa, apresentação pelvi-podálica, alta, batimentos cardio-fetais, presentes 144 m/m localizados no quadrante inferior esquerdo.

Impressões do entrevistador sobre a cliente:

Está ansiosa, perguntando se o parto será normal ou cesariana, pois deseja ficar pouco tempo na Maternidade.

Demonstra confiança na equipe de enfermagem, e parece estar segura também da eficiência dos outros profissionais.

3.2 — Histórico de Enfermagem do Recém-Nato

Identificação:

Filho de J. M. V. P., nasceu no dia 13/12/77, às 10,40 h., de parto operatório cesariana, do sexo masculino, índice de avaliação de:

Apgar: 1.°' — 4 — 5.°' — 6 Aspiradas as vias aéreas superiores. Reanimado com 02 sob máscara Exame físico (realizado na unidade neo-natal)

Peso: 3.100 grs.

Comprimento: 47 cm

Perímetro cefálico: 36 cm

Perímetro torácico: 38 cm

Temperatura retal: 36, 4.° C

Pele: integra, porém cianosada

Crâneo ligeiramente achatado nas regiões parietais.

Fontanelas: hipotensa

Face: apresentando mandíbula assimétrica esquerda

Olhos: dificuldade em abrir o olho esquerdo

Ouvidos e nariz: pequenos, com pavilhões mal formados e de implantação baixa.

Boca: macroglossia discreta.

Pescoço: torcicolo congênito, com encurtamento à esquerda

Tórax: hemitorax esquerdo achatado

Membros superiores: direito com fraturas

Abdome: flácido

Pênis: mal formado

Testículo: na bolsa escrotal

Membros inferiores: direito e esquerdo, com fraturas

Reflexo de sucção: presente

Reflexo de preensão e moro: muito retardados

3.3 — Problemas e necessidades identificados no Recém-Nato


3.4 — Diagnóstico de Enfermagem do Recém-Nato

Dependência total para as necessidades:

Integridade óssea, física, higiene corporal, heamtológico, percepção sensorial.

Segurança emocional, termo regulador, nutrição hidratação oral, terapêutica, vestimentapsico-mecânica corporal.

3.5 — PLANO ASSISTENCIAL DE ENFERMAGEM


4. RESULTADOS

4.1 — Evolução de Enfermagem

De acordo com o Plano Assistencial e Plano de Cuidados elaborou-se a Evolução de Enfermagem.

O objetivo da assistência de enfermagem é o atendimento das necessidades humanas básicas visando a promoção da satisfação e bem-estar ao ser humano; assim, foram reações frente a assistência:

— as necessidades prioritárias abrangeram o equilíbrio da integridade óssea, a percepção sensorial dolorosa e a segurança emocional. Apesar do recém-nato ter sido imobilizado na posição horizontal para as mamadas e reação dolorosa persistia, porém de forma menos intensa. Ressalta-se que à manipulação delicada demonstrava dor.

Observa-se que no leito, o decúbito dorsal com membros inferiores elevados favorecia o seu conforto.

Quanto à segurança emocional houve sucesso na prescrição: reagia às carícias de forma positiva, demonstrando tranqüilidade.

A icterícia reduziu sensivelmente após às 24 horas de exposição à fototerapia.

O coto umbelical mumificou-se no terceiro dia de vida.

A alimentação foi aceita satisfatoriamente, observando-se sucção normal.

As eliminações urinárias processaram-se, com freqüência e cor desejáveis. As eliminações intestinais mantiveram freqüência, consistência, cor e odor normais.

Manteve estabilidade térmica e o peso durante a internação.

Gemia demonstrando irritação e dor durante o banho, apesar des movimentos suaves aplicados. Quanto à higiene oral não houve manifestação de dor, reagindo satisfatoriamente.

O recém-nato foi visitado pela mãe no segundo dia e pelo pai no terceiro dia.

A mãe foi orientada quanto aos cuidados a serem ministrados ao recém-nato, a domicílio, em prosseguimento a assistência de enfermagem. Manifestou apreensão e tristeza diante dos problemas do filho com atitude de aceitação pelo inevitável.

5. CONCLUSÃO

O recém-nato reagiu de forma positiva às ações planejadas de enfermagem.

À exceção do equilíbrio da percepção dolorosa, as demais necessidades afetadas foram atendidas.

O prognóstico do recém-nato previsto para o período posterior a alta hospitalar, estabelece a mudança da dependência total para parcial de enfermagem, a nível de supervisão: da integridade física, higiene corporal e alimentar e do desenvolvimento físico e mental.

É acrescido ao prognóstico a dependência materna da asistência de enfermagem a nível de orientação da saúde de supervisão dos cuidados a serem dispensados ao recém-nato.

Torna-se necessária a continuidade da assistência mediante a visita domiciliar.

  • RESENDE, L.B. e colaboradoras - Assistência de Enfrmagem ao recém-nato, um caso de osteogênese imperfecta, forma' congênita recessiva. Rev. Bras. Enf.; DF, 32 : 331- 337, 1979.
  • Tema Livre XXXI CBEn — Fortaleza — Ceará — 1979.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 1979
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