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O estudante de enfermagem também precisa trabalhar

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O estudante de enfermagem também precisa trabalhar

Ione da Cunha Martins

A enfermagem é a profissão que escolhi. Dedico a ela parte do tempo que passo acordada. Acredito que ajudo tanto a evitar a doença como a aliviá-la e, dessa forma, tenho certeza de que faço parte de um grupo social importante para a população brasileira.

Quando passei no vestibular para uma universidade pública, não podia imaginar que os meus estudos se transformariam em algo desgastante e caro. Confesso que foi uma surpresa.

O curso que toma o meu dia, com deslocamentos da sala de aula para os campos de estágio implicam em gastos com transporte e alimentação; os livros são caros, as bibliotecas desatualizadas e/ou não dão conta da demanda, as xerox são rotineiras e os seus preços acompanham a inflação e nunca o salário. . . Ora, estudante não tem salário! Tem ainda os trabalhos "que precisam ser datilografados", diz a mestre, e aí quem não tem máquina de escrever ou não sabe datilografar já vai gastar mais um dinheirinho.

Tem ainda o chamado "choque da comadre" conhecido por todo estudante de enfermagem que é aquele que acontece no momento em que entramos no ciclo profissional. Depois de passarmos quase um ano e meio convivendo de igual para igual com estudantes de medicina, nutrição, odontologia e etc, ávidos por finalmente cuidar de alguém, chegamos no hospital e é um tal de bota a comadre, tira a comadre, limpa a comadre, guarda a comadre, entre outras "tarefas mecânicas". . .

Por tudo isso, e mais alguma coisa que não cabe aqui, agora, há muito colega que desiste e abandona o curso transformando-se naquilo que os professores começam a falar com certa freqüência: evasão.

Eu não desisti e nem pretendo, mas tenho pensado muito nisso tudo. Preocupo-me com a questão financeira e o escasso tempo que tenho para conseguir um emprego. Não que a questão das "tarefas mecânicas" não me preocupe, mas gosto o suficiente da profissão que escolhi para acreditar que um dia posso ajudar também a mudar isso! É uma pura questão de sobrevivência, de ganhar algum dinheiro para ajudar a me sustentar.

Por que será que o curso de enfermagem é o dia inteiro, só deixando livre para os alunos/a noite? Por que não poderia ser o estágio durante o dia e as aulas durante a noite para sobrar um período livre onde seria mais fácil conseguir um emprego? Por que não discutimos, alunos e professores, esta questão?

Penso não ser preciso falar da crise que afeta todos nós, brasileiros, mas entendo que precisamos ser criativos, corajosos e pensar coletivamente. Assim, uso este espaço que a REVISTA BRASILEIRA DE ENFERMAGEM garantiu (finalmente !) aos estudantes para lançar um desafio a todos nós: alunos, professores, pesquisadores, políticos, educadores, e quem mais quiser se juntar a nós - O ESTUDANTE DE ENFERMAGEM TAMBÉM PRECISA TRABALHAR, COMO EQUACIONAR ESTA QUESTÃO PARA NÃO AUMENTAR A EVASÃO?

Ione da Cunha Martins - S.P.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1991
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