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A prática do ensino na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto: um registro da mídia impressa (1946)

Pratical de la educación de la Escuela de Enfermería Alfredo Pinto: un registro en los medios imprimió(1946)

Pratical of education in the Escola de Enfermagem Alfredo Pinto: a register in the media printed (1946)

Resumos

Estudo histórico social tem por objetivo analisar o conteúdo de reportagem sobre o ensino na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (1946). O referencial teórico tem por base a linguagem da palavra e da imagem. Metodologia - A organização dos dados da reportagem foi analisada com base em 13 subtítulos e 14 imagens fotográficas, das quais recortamos quatro com critério metodologico. Resultados: o estudo apontou para: 1) o cumprimento dos requisitos básicos, preconizados pelo Ministério da Educação e Saúde para o ensino de enfermagem e; 2) a contribuição da EEAP para o ensino da enfermagem, que além da formação profissional, remunerava seus alunos e a garantia de inclusão no mercado de trabalho.

História da Enfermagem; Ensino e Reportagem


Estudios históricos sociales tiene el objetivo analizar el contenido del reportaje de la enseñanza de la Escuela de Enfermería Alfredo Pinto (1946). El referencial teórico tiene para la base la lengua de la palabra y de la imagen. Metodología - la organización de los datos del reportaje fue analizada en base de 13 subtítulos y 14 imágenes fotográficas del sub-título y, de las cuales cortamos cuatro con el criterio de la metodología. Resultados: el estudio señaló en dirección a: 1) el cumplimiento de los requisitos básicos, preconizado por el Ministerio de la Educación y Salud para la enseñanza de la enfermería y; 2) la contribución de la EEAP para la enseñanza de la enfermería, de que más allá de la formación profesional, remuneró sus pupilas y la garantía de la inclusión en el mercado del trabajo.

historia de la enfermería; enseñanza y reportaje


Social historical study has for objective to analyze the news article content on education in the Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (1946). The theoretical referencial has for base the language of the word and the image. Methodology - the organization of the data of the news article was analyzed on the basis of 13 subs-heading and 14 photographic images, of which we cut four with methodology criterion. Results: the study it pointed stops: 1) the fulfilment of the basic requirements, praised for the Ministry of the Education and Health for the education of nursing e; 2) the contribution of the EEAP for the education of the nursing, that beyond the professional formation, remunerated its pupils and the guarantee of inclusion in the work market.

history of the nursing; education and news article


A prática do ensino na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto: um registro da mídia impressa (1946)

Pratical de la educación de la Escuela de Enfermería Alfredo Pinto: un registro en los medios imprimió (1946)

Pratical of education in the Escola de Enfermagem Alfredo Pinto: a register in the media printed (1946)

Fernando PortoI; Almerinda MoreiraII; Osnir Claudiano da Silva JúniorIII; Dieckson Baptista OliveiraIV

IEnfermeiro, Professor Mestre em Enfermagem do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da EEAP/UNIRIO, Pesquisador do LAPHE

IIEnfermeira, Professora Doutora em Enfermagem do Departamento de Enfermagem Medico-Cirúrgica da EEAP/UNRIO, Pesquisadora do LAPHE

IIIEnfermeiro, Professor Doutor em Enfermagem do Departamento Enfermagem Fundamental da EEAP/UNIRIO, Pesquisador do LAPHE

IVEnfermeiro, Mestrando EEAN/UFRJ, Membro do LAPHE. Email do autor:ramosporto@openlink.com.br

RESUMO

Estudo histórico social tem por objetivo analisar o conteúdo de reportagem sobre o ensino na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (1946). O referencial teórico tem por base a linguagem da palavra e da imagem. Metodologia - A organização dos dados da reportagem foi analisada com base em 13 subtítulos e 14 imagens fotográficas, das quais recortamos quatro com critério metodologico. Resultados: o estudo apontou para: 1) o cumprimento dos requisitos básicos, preconizados pelo Ministério da Educação e Saúde para o ensino de enfermagem e; 2) a contribuição da EEAP para o ensino da enfermagem, que além da formação profissional, remunerava seus alunos e a garantia de inclusão no mercado de trabalho.

Descritores: História da Enfermagem; Ensino e Reportagem

RESUMEN

Estudios históricos sociales tiene el objetivo analizar el contenido del reportaje de la enseñanza de la Escuela de Enfermería Alfredo Pinto (1946). El referencial teórico tiene para la base la lengua de la palabra y de la imagen. Metodología - la organización de los datos del reportaje fue analizada en base de 13 subtítulos y 14 imágenes fotográficas del sub-título y, de las cuales cortamos cuatro con el criterio de la metodología. Resultados: el estudio señaló en dirección a: 1) el cumplimiento de los requisitos básicos, preconizado por el Ministerio de la Educación y Salud para la enseñanza de la enfermería y; 2) la contribución de la EEAP para la enseñanza de la enfermería, de que más allá de la formación profesional, remuneró sus pupilas y la garantía de la inclusión en el mercado del trabajo.

Descriptores: historia de la enfermería;enseñanza y reportaje

ABSTRACT

Social historical study has for objective to analyze the news article content on education in the Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (1946). The theoretical referencial has for base the language of the word and the image. Methodology - the organization of the data of the news article was analyzed on the basis of 13 subs-heading and 14 photographic images, of which we cut four with methodology criterion. Results: the study it pointed stops: 1) the fulfilment of the basic requirements, praised for the Ministry of the Education and Health for the education of nursing e; 2) the contribution of the EEAP for the education of the nursing, that beyond the professional formation, remunerated its pupils and the guarantee of inclusion in the work market.

Descriptors: history of the nursing; education and news article

1 Considerações Iniciais

O Laboratório de Pesquisa de História da Enfermagem (LAPHE) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), fundado no ano de 2000, vem tentando resgatar a memória desta instituição, bem como contribuir para o preenchimento das lacunas da história da profissão.

Desta forma, seus pesquisadores, bolsistas e voluntários, vêm privilegiando o levantamento de fontes e dados em seus arquivos, estejam eles em meio à poeira e quinquilharias, em arquivos mortos, guardados em armários ou estantes, onde estão também vários documentos, como: livros de atas, jornais, revistas, fotografias, documentação de docentes e discentes, dentre outros, ainda por serem organizados e catalogados.

Nesse conjunto diversificado de fontes, destacamos um exemplar do periódico intitulado Revista do Serviço Público (1946), que contém uma reportagem referente à Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP).

Este estudo tem como objeto de análise a mencionada reportagem e por objetivo analisar algumas características do ensino na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto à época (1946).

Essa reportagem foi privilegiada dado o papel relevante que teve em termos de propagação na mídia impressa, proporcionando ao ensino de enfermagem visibilidade perante a sociedade e, ainda, por a julgarmos de fundamental importância para a formação dos enfermeiros.

2 Suporte teórico-metodológico

A reportagem veiculada na mídia escrita proporciona visibilidade social(1), na medida em que opera a ampliação da notícia de poucas linhas, aprofundando o fato no espaço e no tempo, com conteúdo informativo, realizado numa abordagem estilística. Em outras palavras, a reportagem não fixa o aqui, o já, o acontecer e sim a amplitude dos acontecimentos através da contemplação de fatos ocorridos, através de precedentes históricos, com dados já interpretados(2).

Existem três gêneros de reportagem: a) a dissertativa, que tem por objetivo expor ou explanar idéias; b) a narrativa, que é composta de um universo simbólico com características e funções especificas e se classifica como ficcional ou jornalística e; c) a descritiva, que caracteriza e identifica o objeto da reportagem, considerando que estabelece uma ordem global, com base em regras convencionais(2).

O conteúdo da reportagem analisada foi considerado, primeiro, como linguagem escrita, aquela sem marcação de planejamento e de execução, por possuir períodos mais longos e complexos. Em outros momentos, a mesma reportagem foi analisada como linguagem falada, texto que vem marcado por pausas, em que se alternam os papéis do falante e do ouvinte e os períodos são mais curtos e simples(3).

A linguagem escrita e a falada, quando unidas, perfazem a linguagem da palavra(4). Cabe também registrar que, quando acompanhada de fotografias, como acontece no presente caso, a linguagem da palavra passa a ter também o registro da linguagem da imagem.

As imagens fotográficas da reportagem, como linguagens, são representações simbólicas da realidade, pois revelam espaço e tempo a quem as vêem, implicando em um retorno ao passado(5).

Desta forma, o conteúdo da reportagem é composto da linguagem da palavra e da imagem, que decodificam a realidade como efeito da comunicação e ao serem analisadas mostram seus aspectos convergentes e divergentes(4).

Destacamos aqui como características da linguagem da palavra a de ser simbólica como representação convencional, unidimensional, basicamente digital1 1 Digitais são aqueles códigos constituídos de signos distintos, separados, discretos, como, por exemplo, o sistema decimal de numeração[4:75]. , fechada e abstrata e ainda possuindo menor carga polissêmica2 2 Polissemia é quando um significante tem mais de um significado possível, considerado, então, como fenômeno polissêmico[4:47]. que a linguagem da imagem, que é icônica, não considerada puramente convencional, possibilitando representação por semelhança, bidimensional, analógica3 3 Analógicos são aqueles códigos em que há uma continuidade entre os signos, ou seja, a informação não salta, como numa linha tracejada ou pontilhada, mas flui, à semelhança de uma linha continua. É o que observamos em uma fotografia - o mundo real - não tendo espaços vazios[4:75-6]. , aberta e concreta, por não representar como, por exemplo, a mulher e sim uma mulher(4).

O resultado da análise no que se refere à linguagem da palavra e a da imagem são apresentadas, concomitantemente. Assim sendo, a partir das afinidades entre as imagens, catorze imagens fotográficas foram organizadas em três grupos, denominados: Práticas de Ensino em Enfermagem, com nove imagens; Ensino em Enfermagem, Momento de Descontração, com quatro fotografias, e; Arquitetura Escolar, com uma fotografia.

Como amostra, selecionamos quatro fotografias, consideradas de maior relevância para o presente estudo, que foram numeradas como figuras de um a quatro e inseridas no texto.

3 A Reportagem e seu contexto

A matéria foi publicada no segundo trimestre de 1946. À época o panorama sócio-político era o da gestão do presidente Dutra, na qual se deram os debates da nova Constituição, que deveria substituir a Constituição outorgada pelo Estado Novo (1937). No que se refere ao ensino, o pesquisador Rômulo P. de Oliveira, ao examinar os Anais da Assembléia Constituinte, conclui que os princípios educacionais, a serem discutidos e votados em plenário, o seriam na representação de dois grupos antagônicos: os católicos e os pioneiros da Escola Nova(6). Hilsdorf(6) tinha razão ao relatar que o ensino aparece como regenerador de costumes, forma de contenção social e construtor do progresso social democrático. Contudo, estudos realizados nos anos 40 apontam para a perspectiva desenvolvimentista, ou seja, aquela que propõe o ensino como um fator dinamizador da economia e qualificadora da mão-de-obra.

No contexto da História da Enfermagem, um fato importante foi o sancionamento do Decreto 8.772, de 22/1/46, que criara a carreira de Auxiliar de Enfermagem no Quadro Permanente do Ministério da Educação e Saúde. O preparo desse pessoal, em curso regular, já vinha ocorrendo desde 1941, na Escola Anna Nery (EAN), como solução emergencial, o que levantava grandes polêmicas, sobre a relação que deveria existir entre a enfermeira diplomada e a auxiliar(7). Neste sentido, a Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas (ABED) encaminhara um memorial, em 1946, ao presidente da República solicitando "reconhecimento da profissão e separação da carreira de enfermeira e a de auxiliar de enfermagem"(7).

Cabe ainda destacar que, em 1946, já existiam algumas instituições de ensino de enfermagem, tais como: Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha (1916), Escola de Enfermagem Anna Nery (1923), Escola de Enfermagem Luiza de Marillac (1939), Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (1942) e Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense (1944), dentre outras(8).Cabe esclarecer que o mesmo repórter, Adalberto Mário Ribeiro, em 1943, havia realizado uma matéria sobre a Escola Anna Nery, conforme ele menciona na reportagem em apreço no presente estudo. Tendo em vista o exposto, e considerando os propósitos inerentes a uma Revista do Serviço Público, podemos supor que tais documentários se inseriam numa propaganda do governo, ao tempo em que consistiam também em uma estratégia de dar visibilidade à escola e a profissão, uma vez que a reportagem relata com minúcias a operacionalização do ensino de enfermagem, apontando para sua qualidade no Serviço Público.

A Revista do Serviço Público era um órgão de interesse da administração, sendo editada com periodicidade mensal, regulamentada pelo Decreto Lei n. 1.870 de 14 de dezembro de 1939, editada pelo Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), no tamanho de 300 x 234 mm.

O exemplar em apreço apresenta na sua capa a indicação de que se refere ao ano IX, volume II, número 03, de junho de 1946, dentre outros elementos de identificação comercial.

Na contra-capa da revista encontramos: o endereço de sua sede - Palácio da Fazenda, 60 e 70 andar, na cidade do Rio de Janeiro; o nome do diretor, José Saldanha da Gama e Silva, o diretor geral e os diretores de divisão e de serviço; e a informação de que era permitida a transcrição de qualquer matéria publicada, desde que indicada à procedência. Outra informação na contra-capa é a do valor da assinatura anual - cinqüenta cruzeiros - para o país e de cem cruzeiros para o exterior; o preço unitário era de cinco cruzeiros.

O sumário encontra-se dividido em três partes - Editorial, Colaboração e Documentário. O papel das páginas que servem de suporte aos registros noticiosos e reportagens, devido ao tempo, estão amareladas e várias páginas estão rabiscadas ou rasgadas.

Na parte denominada "Documentário", encontramos a reportagem intitulada "A Escola de Enfermagem Alfredo Pinto", assinada pelo jornalista Adalberto Mario Ribeiro – responsável pela seção de reportagem -, com um total de dezesseis páginas.

Nestas páginas, constam alguns elementos de marcação textual, com treze subtítulos e catorze imagens fotográficas em preto e branco.

A reportagem se inicia, ainda na apresentação ao leitor, relatando as dificuldades que o jornalista encontrou para localizar a instituição situada na Avenida Pasteur, número 292. Informa tratar-se da ex-Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras do Hospital Nacional de Alienados, mantida pelo Serviço Nacional de Doenças Mentais e pouco conhecida pela sociedade. Esclarece que, devido ao fato de haver sido criada pelo Decreto 791, de 27 de setembro de 1890, pelo Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, trata-se da escola oficial de enfermagem mais antiga do país.

Na linguagem da palavra, cita o autor que, ao procurar a instituição, encontrou fechado o casarão do antigo hospício, porém, não desanimou e prosseguiu pela calçada em direção à Praia Vermelha, quando se deparou com uma casa velha, recuada da rua, tendo à sua frente um gradil, em continuação ao hospício, e à sua porta um garoto sujo chupando um picolé, ao qual questionou: "- Você sabe onde tem por aí uma escola? - Aqui tem uma, responde, e D. Maria está lá dentro com as moças"(9:76).

O repórter, ao finalmente encontrar a sede da EEAP, marca o texto com a palavra respiração aspada que, em nosso entendimento, é de satisfação. Assim, ele relata não haver placa ou tabuleta com o nome da instituição, o que o faz pensar que o motivo para tanto era o de ser uma casa feia, esburacada, velha; e observa: "... Que diferença da Escola Ana Néri, lá bem defronte, do outro lado da enseada de Botafogo! (referindo-se ao antigo internato da EEAN). E, no entanto, as duas escolas se acham subordinadas ao mesmo Ministério da Educação"(9:76). Um dado interessante é de que não foram encontradas fotografias referentes à fachada da EEAP à época.

Contudo, sem se dar conta, ele registra sua percepção no texto, bem como fotografa a fachada da EEAP, provavelmente, como um documento comprobatório de suas palavras, sendo considerado até o momento, como o único referente à entrada da instituição, à época, após a sua saída do Hospital Psiquiátrico no Engenho de Dentro, conforme apresentamos a seguir, acrescentando que a imagem pertence ao grupo fotográfico arquitetura escolar.

Desta forma, a fachada arquitetônica da EEAP, representada na linguagem da imagem, faz parte do cenário da paisagem da Praia Vermelha, até os dias de hoje, mesmo com o novo prédio erguido e inaugurado, em 1966 (Foto 1). Com razão, Leite (10), relata que quando a imagem fotográfica se faz presente, ela saiu da representação imaginária, passando para uma representação concreta, conforme estamos aqui tentando provar, com a fachada da EEAP em fato concreto.

Essa imagem é considerada, para o repórter, provavelmente, como um documento de comprovação do seu relato, mas para o presente estudo ela é muito mais que um documento comprobatório, ou seja, é um registro de imagem fotográfica(11).

Após a reportagem ser apresentada da forma descritivonarrativa, encontramos um subtítulo denominado "Dama da Lâmpada", que faz um resgate histórico da profissão de enfermagem, mais especificamente, da vida de Florence Nightingale, até o momento em que o repórter menciona o nome da Diretora da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, Maria de Castro Pamphiro, destacando ser ela discípula de Clara Louise Kienninger, ex-Diretora da EEAN e, em seguida fazer uma retrospectiva da história da EEAP, oferecendo datas e nomes que fazem parte da construção da memória institucional.

Em outro subtítulo da reportagem - "Escola de Enfermagem Alfredo Pinto" - o conteúdo traz a matriz predominante do gênero narrativo como linguagem da palavra e da imagem, com três fotografias pertencentes ao grupo práticas do ensino em enfermagem, sobre as aulas práticas, e uma do grupo do ensino em enfermagem, momento de descontração, referente às alunas no pátio antes de uma aula.

Assim, essa parte se inicia com o anúncio ao leitor de que o mesmo iria ouvir a Diretora da EEAP, Sra. Maria de Castro Pamphiro que, além de diretora da EEAP era, simultaneamente, membro do Conselho Fiscal da Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas (ABED – Diretoria Nacional, gestão 1945/49), e vice-presidente do Núcleo do Distrito Federal (então na cidade do Rio de Janeiro) da mesma entidade(12).

Antes de começar a entrevista, o jornalista observara que diversas alunas, ao entrarem no gabinete da direção, deixavam sobre a mesa um pequeno cartão. Ao perguntar sobre o fato à diretora, ela esclarece que segunda-feira era o dia da semana em que alunas e alunos deveriam informar a direção as atividades por eles desenvolvidas durante a semana, tais como aulas, conferências, trabalhos práticos, dentre outros. Ao perguntar se todas as escolas se utilizavam deste instrumento a diretora respondeu que "não, pois aquele era de sua criação"(9), destacando que na EEAn tinha um parecido, mas que aquele era muito mais minucioso.

Neste momento, pode-se observar o grau de controle da instituição sobre o corpo discente, pois, conforme destacou a diretora, o citado cartão era mais específico que da EEAN, escola de sua formação.

No decorrer da entrevista, o repórter faz diversas outras perguntas, inclusive sobre sua estada de um ano e meio nos Estados Unidos, com financiamento concedido pela Fundação Rockefeller, e a Senhora Pamphiro revela ainda ter passado por Toronto e Filadélfia, onde teve a oportunidade de se >aperfeiçoar nos serviços de saúde pública e de enfermagem escolar, o que outro estudo ratifica(8).

Na reportagem, Maria de Castro Pamphiro relata que, a EEAP, apesar de muito antiga, achava-se apenas há três anos sendo dirigida por uma enfermeira, ressentindo-se a instituição das direções anteriores, exercidas por médicos psiquiatras, embora, destacava ela, por ali já tivessem passado nomes de relevo na especialidade. A diretora mencionada na historiografia de enfermagem atual como aquela que abriu novos horizontes à escola, sendo sua preocupação maior a busca da equiparação da EEAP ao padrão oficial de escola de enfermagem, como várias outras escolas existentes no país haviam logrado(8).

A reportagem menciona que a escola vinha atraindo muita(o)s jovens para a profissionalização de enfermagem, sendo muitas(o) parentes de médicos. A matrícula era limitada a quarenta vagas para alunos internos, com remuneração de cem cruzeiros, oferecida pelo governo federal. Após o curso os mesmos eram aceitos como profissionais nos serviços hospitalares e sanitários, ressaltando que, naquele momento, encontravam-se na escola alunos de vários estados, dentre eles, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Sul, atendendo ao Decreto n.10.472/42, que aprovara o regulamento da EEAP(8).

Vale esclarecer que o fato de a EEAP contar com alunos de outros estados da federação em seu corpo discente, deviase à divulgação realizada pelo Departamento Nacional de Saúde na gestão de Barros Barreto.

O regimento da Escola determinava o cumprimento de carga horária diária de 10 horas, com intervalo de café, almoço, merenda e jantar. O currículo compreendia aulas teóricas e práticas e estágios em cenários como o Instituto de Neuro-Sífilis, serviços do Departamento Nacional da Criança, o Hospital São Francisco de Assis e instituições do Serviço Nacional de Doenças Mentais. Em suas palavras, a diretora registra ser um dos maiores interesses da instituição, o de difundir no país ensinamentos de enfermagem em psiquiatria, que a escola facultava como especialização para os enfermeiros já diplomados.

Dentre as quatro imagens apresentadas nas páginas da entrevista com a diretora da EEAP, destacamos duas fotografias: a primeira, referente à linguagem da imagem possui foco parcial interno da narrativa, sendo os fatos narrados a partir do ponto de vista do ator na imagem, cujo narrador sabe mais do que aquele que aparece na fotografia(3).

A imagem a seguir (foto 2) pertence ao grupo das práticas do ensino de enfermagem e aponta, em sua análise, para uma técnica desenvolvida por um discente de enfermagem, aquele que participa da ação e também sofre suas conseqüências.

A imagem da aula é referente à revisão da técnica de curativo abdominal; o cenário é típico de uma sala de demonstração de técnicas de enfermagem. Com seus olhares voltados para o estudante de enfermagem, do sexo masculino, os demais observam, á beira do leito, a execução da técnica em um manequim– o discente tem à sua frente uma bandeja com frascos e instrumentos necessários à realização do curativo.

Ao fundo, dispostos de forma circular, os alunos, uniformemente vestidos, observam a execução da tarefa, porém, os olhares de duas alunas, a primeira e a terceira da direita para esquerda, encontram-se deslocados para a câmera e não para a demonstração que está sendo realizada. O espaço físico é pouco visível, mas destaca-se a parte superior de um biombo, também utensílio, ao fundo da imagem fotográfica – o mesmo aparece em outra imagem fotográfica em ângulo diferente. O ângulo mencionado refere-se à segunda imagem, pertencente ao grupo das práticas do ensino de enfermagem, que possibilita visualizar de forma mais ampla e discreta, sob a ótica do espaço na linguagem de focalização parcial externa da narrativa.

Esta focalização refere-se a uma visão em plano médio, na qual podemos perceber as ações das pessoas envolvidas narradas com objetividade, o que oferece possibilidade de leitura, quanto aos alunos desenvolvendo uma atividade na sala de demonstração de técnicas de enfermagem(3).

A imagem fotográfica (foto3) registra a posição dos discentes, dispostos em forma de L, vestidos uniformemente e, no centro da imagem, é possível visualizar três pessoas, Enfermeiras e Professoras, com roupas diferenciadas das demais, que se encontram ao fundo. Outro detalhe é que, ainda no conteúdo da imagem, destaca-se o quadro de uma mulher, no alto da parede, que sugere estar supervisionando a atividade, o que, em forma de representação imagética, indica o respeito e a lembrança mítica. No entanto, não foi possível até o momento identificar a mulher da foto.

Em outro momento da reportagem intitulado "Salas de Aulas", o texto passa a ser descritivo, prosseguindo com a linguagem da palavra e da imagem na mesma página. As imagens que acompanham o texto intitulado "Salas de Aula", perfazem o total de duas fotografias. Uma pertencente ao grupo das práticas de ensino da enfermagem, com alunas sendo pesadas por uma Enfermeira-Professora e, a outra, do grupo de ensino enfermagem, momento de descontração, com alunas encaminhado-se para o pavilhão de aulas, como descrito na legenda fotográfica.

Neste momento do texto, a linguagem da palavra, descreve o interior da escola, ou seja, relata que, no térreo, funcionam duas salas de aula, uma para as aulas de dietética e outra para os discentes do quarto período. Já no primeiro andar, há duas salas de aula, uma para anatomia e história natural e outra destinada às aulas teóricas.

Contudo, cabe aqui destacar, que a fachada do prédio apresentada, anteriormente, nesse texto, não condiz com a descrição do parágrafo acima, ou seja, a imagem da entrada da EEAP nos aponta para somente um pavimento, mas acima o repórter menciona outro pavimento, deixando em aberto alguns questionamentos.

Assim, a reportagem menciona um espaço destinado para a demonstração das práticas de enfermagem, bem como descreve alguns utensílios, dentre eles, três manequins utilizados para o ensino prático da enfermagem. Neste espaço, o corpo discente aprende a lidar com os instrumentos do cuidar como, por exemplo, as bandejas, relatadas no total de vinte e seis tipos.

Ainda na linguagem da palavra, a reportagem registra como as disciplinas eram distribuídas no Curso de Enfermagem, em seis períodos, com no máximo cinco disciplinas para cada um, bem como as disciplinas do Curso de Especialização de Psiquiatria, para os Enfermeiros já diplomados, divididos em dois períodos, com duração de seis meses e, no máximo, quatro disciplinas de três em três meses.

Quanto à organização de distribuição e títulos das disciplinas citadas na reportagem, podemos afirmar que convergem para o que determina o Decreto n. 10.472/42, no seu artigo 2, referente ao Curso de Enfermagem, com vinte sete disciplinas, e no artigo 3 para o Curso de Especialização de Serviços Psiquiátricos para Enfermeiros Diplomados, com oito disciplinas(13).

Outro subtítulo da reportagem, "Corpo Docente da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto" apresenta nominalmente todo o corpo docente da instituição, entre médicos e enfermeiras, com duas imagens fotográficas dos discentes, sendo uma pertencente ao grupo do ensino da enfermagem, momentos de descontração, uma representação imagética do momento de intervalo das aulas e outra pertencente ao grupo das práticas do ensino de enfermagem, referente a uma aula de dietética.

Aqui, destacamos a imagem das discentes no intervalo das aulas, em semicírculo, vestidas diferentemente de uma enfermeira, notada no canto direito para o esquerdo. No centro da imagem com uma bola, instrumento para a descontração e também por considerarmos como atividade física, esporte.

Na imagem fotográfica 4, a pessoa com vestimenta diferente dos demais, localizada no canto direito da fotografia, apresenta-se alegre, sendo ela uma provável Enfermeira-Professora, pois se encontra trajada de branco (roupa e sapato), enquanto os alunos de uniformes em duas cores, na roupa, e sapatos escuros.

A relação nominal dos docentes do Curso de Enfermagem consiste de vinte e quatro "Drs", com sete professores para a formação de enfermeiros e sete enfermeiras diplomadas da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto e da Escola de Enfermagem Anna Nery, sendo elas: Adélia Pedroso Teobaldo, Maria Mercês Araúlo, Mercedes Ricardina dos Santos, Maria da Penha Machado Pollmann, Olimpia Avelar Lopes, Regina Meincke, Débora Martins Saião.

Apesar do registro do conteúdo da reportagem não mencionar o valor do pagamento mensal ou por hora/aula dos docentes, acreditamos ser relevante ao estudo aqui mencionar Decreto n.º 10.472/42, que garantia aos professores não comprometidos, ou seja, aqueles admitidos como extranumerários, o direito de receber o valor de 40$0 (quarenta cruzeiros) por hora aula dada ou de trabalho executado, não extrapolando nove horas por semana. Para os monitores honorários de 5$0 (cinco cruzeiros) por hora de trabalho, não excedendo a 100$0 (cem cruzeiros)(13).

Após o exposto acima, são apresentados aos leitores diversos subtítulos com textos descritivos de no máximo três parágrafos sem mais se fazerem acompanhar de imagens fotográficas, como se segue.

No subtítulo "Museu", o repórter relata um armário de miniaturas de peças empregadas na formação dos instrumentos de trabalho da enfermagem, confeccionadas pelo próprio corpo discente.

No subtítulo "Alunos formados", um dado de grande relevância é oferecido sobre o quantitativo de formados até aquela data, num total de oitocentos. Entre moças e rapazes, o percentual era de oitenta especializados em enfermagem para os doentes mentais que, segundo a reportagem, era conhecido como sendo uma nova versão do antigo Curso de Visitadora Social, considerado como uma extensão do curso de enfermagem, sendo a terceira série, conforme preconizava o Decreto 17.805/1927.

No subtítulo "A vida dos alunos na Escola" descreve o cotidiano dos alunos, relatando que o café da manhã ocorre às seis horas e em seguido partem para diversos hospitais, como, por exemplo, o Instituto Fernandes Figueiras para estágio em dietética infantil e assistência pediátrica. Outro sub-título é "Excursões" o texto apresenta ao leitor as excursões realizadas pelos alunos a diversos hospitais, museus, escolas, que se faziam seguir de relatórios elaborados pelos discentes, além das festas, como, a de Natal e Ano Novo, com a participação dos familiares dos alunos e, quando possível, de alguns doentes.

No subtítulo "Biblioteca" o texto aponta para duzentos e sessenta volumes de obras sobre enfermagem em prosa ou em verso. outro sub-título, "Sala de Costura", relata possuírem duas máquinas que, após a sua aquisição, passaram a abastecer de roupa a sala de demonstração em enfermagem, e por último "Arquivo Escolar", a reportagem registra a preocupação pela recuperação dos documentos, desde a criação da escola, relativos à vida escolar dos antigos alunos.

4 Considerações Finais

Ao analisar, no conteúdo da reportagem, o ensino na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (1946), tivemos a oportunidade de entrar em contato, de forma mais íntima, com o espaço da instituição, através da narração e descrição da linguagem da palavra e da imagem, oferecidas pelo repórter.

Cabe destacar que, apesar da EEAP estar sediada à época em uma casa sem placa ou tabuleta com o nome da instItuição e em má estado de conservação, ela atendia aos seguintes requisitos exigidos pelo Ministério da Educação e Saúde(14): fornecer o ensino teórico e prático de enfermagem; acomodações indispensáveis para residência do corpo discente; ambientes para recreação e vida social meio para o repouso em serviço, o que foi amplamente descrito, narrado e retratado no conteúdo da reportagem.

O garimpo exaustivo em novas fontes de pesquisa vem se mostrando frutífero na recomposição da trajetória da EEAP. A pérola encontrada nessa reportagem, que é a foto da fachada da Escola, confirmou o que já conhecíamos por meio de depoimentos.

Outro ponto evidenciado pela análise da reportagem, é o fato de que a EEAP já atraia à época muitos jovens para a profissionalização de enfermagem e um dos atrativos para a matrícula era a remuneração, oferecida pelo governo federal, bem como a possibilidade de após o término do curso, os alunos serem recebidos como profissionais nos serviços hospitalares e sanitários.

Deste modo, o presente estudo contribui para demonstrar o papel desempenhado pela EEAP, de iniciadora da profissionalização da enfermagem no Brasil e de precursora do ensino de enfermagem no país(15).

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Data de Recebimento: 02/09/2003

Data de Aprovação: 20/03/2004

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  • 15. Moreira A, Porto F, Oguisso T. Registros noticiosos da escola profissional de enfermeiros e enfermeiras na revista "Brazil-Medico", 1890-1920. Revista Escola de Enfermagem da USP, Săo Paulo, maio 2003; 36 (4): 402-7.
  • 1
    Digitais são aqueles códigos constituídos de signos distintos, separados, discretos, como, por exemplo, o sistema decimal de numeração[4:75].
  • 2
    Polissemia é quando um significante tem mais de um significado possível, considerado, então, como fenômeno polissêmico[4:47].
  • 3
    Analógicos são aqueles códigos em que há uma continuidade entre os signos, ou seja, a informação não salta, como numa linha tracejada ou pontilhada, mas flui, à semelhança de uma linha continua. É o que observamos em uma fotografia - o mundo real - não tendo espaços vazios[4:75-6].
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Jul 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2003

    Histórico

    • Aceito
      20 Mar 2004
    • Recebido
      02 Set 2003
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