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Desperdício de Know-How na Emprêsa

FORUM DE OPINIÕES

Desperdício de Know-How na Emprêsa

Prezado Senhor Redator-Chefe da Revista de Administração de Empresas

O número de setembro último da RAE traz, sob a rubrica Comentários, uma série de considerações, encabeçadas pelo título Desperdício de Know-How na Emprêsa. Se quisermos analisar o comentário do ponto de vista do conjunto de ciências, que são necessárias para a boa administração das emprêsas, veremos que uma boa parte das conclusões são falhas.

Assim, não é correto dizer que quase nada se faz para abrir canais dentro das emprêsas e repartições e mesmo nas universidades. Ao contrário, os canais de comunicação são múltiplos, entre os formais e os informais. A conclusão ou a afirmação de que cada emprêsa se apresenta como uma fortaleza medieval etc. não tem, pois, justificativa.

Afirma-se ser primeira premissa a estereotipia de funções, decorrente, mais, de uma hierarquia de mando. Parece-me que se confunde causa com efeito. Também se afirma que competência nada tem a ver com hierarquia. Pode ser verdade na emprêsa (pequena) familiar, mas chega um dia, no qual ou a emprêsa vai à falência ou ela equipara competência a hierarquia. Se no Brasil ainda não atingimos totalmente êsse ponto, bom caminho já está andado.

É correto afirmar que ao título de datilógrafo corresponde o grau hierárquico: seria inútil desperdiçar os talentos de um homem, combinação de capacidade e experiência, que pelos seus próprios méritos chegou a um cargo na diretoria, em que êle datilografe cartas ou, ao contrário, levar um homem, que está no comêço de sua carreira e nada mais sabe do que datilografar, a uma reunião de diretoria. A êsse respeito, convém lembrar o que PARKINW (castigat ridendo mores) diz sobre órgãos colegiados com mais de cinco membros e sua ineficiência. Convém ainda lembrar que, na maior parte, o trabalho é exe-cutado por mulheres, cujo interêsse pela função cai verticalmente, tão logo casem e/ou tenham filhos. Uma das conhecidas pesquisas da Harvard Business Review mostrou que só fazem carreira as mulheres divorciadas.

Não é também correto dizer que o fato de o datilógrafo poder ser um gênio não possa ser levado em consideração, salvo se a empresa for do tipo primitivo. Qualquer organização medianamente atualizada submete os candidatos a ensaios psicológicos, cuja validade seria temeridade negar. E encaminha-os a uma carreira, de acordo com sua vocação, seus interêsses, que só é interrompida pela impaciência. Claro -se é possível atender aos interêsses mais ràpidamente, mudando de emprêgo,.em um mercado em que os bons empregados ditam pràticamente posição e salário que querem ter, não quererão fazer a carreira dentro da emprêsa. Mas por mais que ela esteja disposta a pagar, àqueles especialistas, que sabem fazer o que a emprêsa necessita, mais haverá quem queira pagar, fora.

Afirma-se, ainda, que todas as potencialidades do datilógrafo poderiam ser usadas em vista da produtividade. O Princípio de Peter, dentro de sua jocosidade, tem o seu fundo de verdade e muito subordinado capaz torna-se mau chefe, quando promovido. Tanto isso é reconhecido, hoje em dia, que as grandes emprêsas norte-americanas promovem seus pesquisadores horizontal e não verticalmente, porque precisam de sua capacidade criadora, mas sabem que não seriam bons chefes. Contudo, a aplicação dessa possibilidade é limitada.

ERNST MUHR

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 1970
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