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Participação e co-gestão: novas formas, de administração

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Joel Souza Dutra

Motta, Fernando C. Prestes. Participação e co-gestão - novas formas, de administração. São Paulo, Brasiliense, 1982.

Fernando C. Prestes Motta, neste livro, aborda com muita felicidade um tema atual, o participacionismo. A partir de uma análise da co-gestão na Alemanha e nos demais países europeus, procura buscar a essência desta prática participacionista, discutindo-a não só no âmbito da organização, mas principalmente no contexto político-social, averiguando-a como limite fronteiriço do capitalismo e como preparação para prática autogestionária.

Este livro seguramente fornece novas perspectivas para análise das propostas de participacionismo entre nós. Começamos a discutir hoje a participação dos trabalhadores em decisões as mais corriqueiras, do dia-a-dia das empresas, e podemos perceber os vários matizes que esta questão assume em função dos grupos que a discutem. Há uma gama enorme de interesses em torno do assunto. Vemos, de um lado, os empresários mais vanguardistas defendendo a participação do trabalhador através de comissões de fábrica, porém sem a interferência do sindicato, procurando, desta forma, quebrar-lhe a hegemonia na empresa e adquirir maior facilidade para cooptação do trabalhador. Vêem, entretanto, com desconfiança a participação do trabalhador, pois sempre há a possibilidade de uma aliança entre as comissões e seu sindicato, o que poderia ocasionar a dilatação do âmbito de atuação imposto a estas comissões.

Em outro lado, temos os sindicatos que vêem na comissão uma forma de abordar e pressionar os empresários com maior facilidade, amedrontam-se, por sua vez, com a possibilidade de um sindicalismo paralelo ou com sua incapacidade para administrar um sindicato extremamente descentralizado.

Em outro lado, temos o governo que considera a participação dos trabalhadores uma forma de avaliar o sistema judiciário e as pressões sociais.

Em outro lado, temos os trabalhadores que vêem a comissão como uma forma mais imediata e efetiva de representação de seus interesses, uma vez que os sindicatos atuam a nível de empresa somente em períodos de crise.

Em outro lado, ainda, temos os profissionais de recursos humanos que pensam a comissão de fábrica como uma forma de conquista de espaço dentro de suas organizações, pois são elementos naturais de articulação entre a direção da empresa e os trabalhadores.

Como vemos, o participacionismo nas empresas é assunto que abre campo a muitas paixões, sendo a co-gestão alemã a grande inspiradora de argumentos de todos os lados. Daí a oportunidade da obra de Motta.

Fernando Motta principia seu livro analisando as formas de participação, participação "que surge como meio por excelência do trato do conflito social (...) inerente às formações sociais antagônicas", em função "da impossibilidade de administrar o conflito apenas através da coação física", e da percepção de "que esse conflito pode ser canalizado para aumento da produtividade através de uma melhora no nível de satisfação dos trabalhadores". Em seguida, disseca a co-gestão alemã, recuperando sua origem; analisando a distribuição de papéis entre os sindicatos, conselhos, empresários e governo; averiguando-a como etapa para a autogestão; analisando o ideário co-gestionário alemão; e examinando as instituições que compõem a co-gestão alemã. Finalmente, Motta passa por todos os países europeus analisando, também, o posicionamento da igreja sobre a participação do trabalhador nas decisões da empresa, desde as colocações do Papa Leão XIII.

A leitura desta obra de Motta é indispensável a quantos queiram inteirar-se do participacionismo como uma nova forma de administração, e a quantos estejam preocupados em pensar o participacionismo entre nós.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1983
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