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A inteligência brasileira

RESENHAS

Afrânio Mendes Catanl

Professor da Faculdade do Educação da USP

A INTELIGÊNCIA BRASILEIRA

REGINALDO MORAES, RICARDO ANTUNES E VERA B. FERRANTE (ORGANIZADORES), São Paulo, Brasiliense, 1986,305 págs.

O presente volume é composto de treze ensaios, originalmente conferências pronunciadas entre 1982 e 1984 no Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação da UNESP (campus de Araraquara). As conferências, proferidas por professores e pesquisadores de universidades e centros de pesquisa renomados, têm por finalidade resgatar d conjunto da produção teórica brasileira em vários domínios das ciências sociais, dando ênfase principalmente a alguns pensadores de destaque e a instituições que desempenharam papel fundamental na vida social, política e cultural do país.

Acredito que a citação dos textos, bem como de seus autores, ilustre melhor o que procurei enfatizar no parágrafo anterior. Nesse sentido, Fernando A. Novais escreveu "Caio Prado Jr. na historiografia brasileira"; Marilena Chauí dedicou-se ao estudo de Plínio Salgado e o pensamento conservador nos anos 30; Elide Rugai Bastos escreveu sobre "Gilberto Freyre e a questão nacional"; Raquel Pereira C. Gandini estudou os limites da pedagogia liberai de Anísio Teixeira; Bento Prado Jr. falou sobre João Cruz Costa e a história das idéias no Brasil; Gabriel Cohn escreveu "Padrões e dilemas; o pensamento de Florestan Fernandes", enquanto Francisco de Oliveira e Edgard de Assis Carvalho falam, respectivamente, sobre "Celso Furtado e o pensamento econômico brasileiro" e sobre "Darcy Ribeiro e a antropologia no Brasil". Estes oito textos compõem, por assim dizer, a primeira parte da coletânea, constituída por ensaios que procuram explorar a trajetória e o impacto de alguns intelectuais nas ciências sociais brasileira.

Na segunda parte encontram-se quatro estudos dedicados a instituições, a saber: "Revista Brasiliense: sua época, seu programa, seus colaboradores, suas campanhas", de Heitor Ferreira Lima; "Contribuições para uma história da esquerda brasileira", de Marco Aurélio Garcia; "Teoria e ideologia na perspectiva do ISEB", de Caio Navarro de Toledo e "Forças Armadas: pensamento e ação política", de Eliézer R. de Oliveira. Finalmente, na terceira parte, há apenas o ensaio de Carlos Guilherme Mota, intitulado "As ciências sociais na América Latina - proposta de periodização (1945-1983)".

Em se tratando de coletânea (isto é, de uma seleção), muitas objeções podem ser levantadas, ausências e lacunas certamente foram e serão cobradas dos organizadores. Evidentemente, poderia se indagar a ausência de trabalhos sobre teatro, cinema, música, imprensa, televisão, minorias étnicas e sexuais etc.; ou se questionar por que Roberto Campos, Delfim Netto ou Mário Henrique Simonsen, por exemplo, não foram estudados; ou ainda, estranhar algumas das escolhas realizadas. Todos esses questionamentos talvez sejam procedentes. Entretanto, vale a pena lembrar nesta oportunidade a epígrafe que Karl Popper utilizou em sua Autobiografia Intelectual, qual seja, "o que excluir e o que incluir? Esse é o problema". Adaptando-a para o caso da presente coletânea, certamente teríamos que levar em conta as dificuldades enfrentadas pelos organizadores para conseguir deslocar até o campus de Araraquara docentes e pesquisadores para proferir as conferências; recusas e impossibilidades alegadas pelos convidados foram corriqueiras; as desistências de última hora aconteceram e, resta lembrar, nem todos os participantes devolveram os textos para serem publicados.

Assim, pelo simples fato de chegar às livrarias, este A Inteligência Brasileira contribui decisivamente no sentido de levar adiante um projeto intelectual que ainda caminha a passos lentos entre nós, qual seja, o de pensar criticamente o Brasil em sua totalidade.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1988
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