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Seleção de isolados de estreptomicetos para controle de Ralstonia solanacearum em tomateiro

Selection of streptomycetes isolates for the control of Ralstonia solanacearum in tomato plants

Resumos

Em condições tropicais, a murcha-bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum, tem provocado danos severos à cultura do tomate (Lycopersicon esculentum Mill.), principalmente em condições de temperaturas acima de 25°C, com umidade relativa elevada. Neste contexto, o controle biológico pode representar uma alternativa viável. Este trabalho teve como objetivo selecionar isolados de estreptomicetos para o controle de R. solanacearum em tomateiro. Entre os isolados avaliados verificaram-se diferenças na inibição do patógeno in vitro, tanto em relação à faixa de pH avaliada, quanto ao tempo de observação. Constataram-se, também, variações no estabelecimento dos isolados de estreptomicetos na rizosfera das plântulas e nas mudas preparadas para transplante, e os isolados SP164, SF232, SAc326 e SG384 apresentaram as densidades populacionais mais elevadas. O experimento conduzido em canteiros com solo infestado com R. solanacearum mostrou que as plantas tratadas com o isolado SG384 apresentaram melhor nível de controle, 48 dias após a semeadura, período no qual todas as testemunhas haviam morrido.

Lycopersicon esculentum; controle biológico; inoculação; rizosfera


The bacterial wilt caused by Ralstonia solanacearum causes high damages in tomato (Lycopersicon esculentum Mill.) culture, mainly under temperature above 25ºC and high relative humidity. Because conventional methods of control have shown low efficiency, biological control is a promising alternative. This work aimed to select isolates of streptomycetes for R. solanacearum control in tomato. Differences were found among the isolates in the in vitro inhibition of the pathogen either in time or pH range. The streptomycetes isolates grew differently in the rhizosphere of seedlings and plantlets of tomato. The isolates SP164, SF232, SAc326 and SG384 showed the highest population densities. In the experiment conducted in soil infested with R. solanacearum, plants treated with the isolate SG384 presented best control level 48 days after sowing, period after which all control plants were dead.

Lycopersicon esculentum; biological control; inoculation; rhizosphere


Seleção de isolados de estreptomicetos para controle de Ralstonia solanacearum em tomateiro(1 (1 ) Aceito para publicação em 14 de maio de 2002. Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor apresentada à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. (2 ) Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido, Caixa Postal 23, CEP 56300-000 Petrolina, PE. E-mail: gava@cpatsa.embrapa.br (3 ) Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro(CNPAB), Estação Experimental de Itaguaí, BR 465-RJ, km 47, CEP 23851-970 Seropédica, RJ. E-mail: mcarmo@pesagro.rj.gov.br (4 ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa Agrobiologia (CNPAB), Caixa Postal 74505, CEP 23851970 Seropédica, RJ. E-mail: mcpneves@cnpab.embrapa.br ) Embrapa-CNPAB, In memorian. )

Carlos Alberto Tuão Gava(2 (1 ) Aceito para publicação em 14 de maio de 2002. Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor apresentada à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. (2 ) Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido, Caixa Postal 23, CEP 56300-000 Petrolina, PE. E-mail: gava@cpatsa.embrapa.br (3 ) Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro(CNPAB), Estação Experimental de Itaguaí, BR 465-RJ, km 47, CEP 23851-970 Seropédica, RJ. E-mail: mcarmo@pesagro.rj.gov.br (4 ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa Agrobiologia (CNPAB), Caixa Postal 74505, CEP 23851970 Seropédica, RJ. E-mail: mcpneves@cnpab.embrapa.br ) Embrapa-CNPAB, In memorian. ), João Carlos Pereira(† (1 ) Aceito para publicação em 14 de maio de 2002. Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor apresentada à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. (2 ) Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido, Caixa Postal 23, CEP 56300-000 Petrolina, PE. E-mail: gava@cpatsa.embrapa.br (3 ) Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro(CNPAB), Estação Experimental de Itaguaí, BR 465-RJ, km 47, CEP 23851-970 Seropédica, RJ. E-mail: mcarmo@pesagro.rj.gov.br (4 ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa Agrobiologia (CNPAB), Caixa Postal 74505, CEP 23851970 Seropédica, RJ. E-mail: mcpneves@cnpab.embrapa.br ) Embrapa-CNPAB, In memorian. ), Maria do Carmo Fernandes(3 (1 ) Aceito para publicação em 14 de maio de 2002. Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor apresentada à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. (2 ) Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido, Caixa Postal 23, CEP 56300-000 Petrolina, PE. E-mail: gava@cpatsa.embrapa.br (3 ) Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro(CNPAB), Estação Experimental de Itaguaí, BR 465-RJ, km 47, CEP 23851-970 Seropédica, RJ. E-mail: mcarmo@pesagro.rj.gov.br (4 ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa Agrobiologia (CNPAB), Caixa Postal 74505, CEP 23851970 Seropédica, RJ. E-mail: mcpneves@cnpab.embrapa.br ) Embrapa-CNPAB, In memorian. ) e Maria Cristina Prata Neves(4 (1 ) Aceito para publicação em 14 de maio de 2002. Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor apresentada à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. (2 ) Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido, Caixa Postal 23, CEP 56300-000 Petrolina, PE. E-mail: gava@cpatsa.embrapa.br (3 ) Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro(CNPAB), Estação Experimental de Itaguaí, BR 465-RJ, km 47, CEP 23851-970 Seropédica, RJ. E-mail: mcarmo@pesagro.rj.gov.br (4 ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa Agrobiologia (CNPAB), Caixa Postal 74505, CEP 23851970 Seropédica, RJ. E-mail: mcpneves@cnpab.embrapa.br ) Embrapa-CNPAB, In memorian. )

Resumo ¾ Em condições tropicais, a murcha-bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum, tem provocado danos severos à cultura do tomate (Lycopersicon esculentum Mill.), principalmente em condições de temperaturas acima de 25°C, com umidade relativa elevada. Neste contexto, o controle biológico pode representar uma alternativa viável. Este trabalho teve como objetivo selecionar isolados de estreptomicetos para o controle de R. solanacearum em tomateiro. Entre os isolados avaliados verificaram-se diferenças na inibição do patógeno in vitro, tanto em relação à faixa de pH avaliada, quanto ao tempo de observação. Constataram-se, também, variações no estabelecimento dos isolados de estreptomicetos na rizosfera das plântulas e nas mudas preparadas para transplante, e os isolados SP164, SF232, SAc326 e SG384 apresentaram as densidades populacionais mais elevadas. O experimento conduzido em canteiros com solo infestado com R. solanacearum mostrou que as plantas tratadas com o isolado SG384 apresentaram melhor nível de controle, 48 dias após a semeadura, período no qual todas as testemunhas haviam morrido.

Termos para indexação: Lycopersicon esculentum, controle biológico, inoculação, rizosfera.

Selection of streptomycetes isolates for the control of Ralstonia solanacearum in tomato plants

Abstract ¾ The bacterial wilt caused by Ralstonia solanacearum causes high damages in tomato (Lycopersicon esculentum Mill.) culture, mainly under temperature above 25oC and high relative humidity. Because conventional methods of control have shown low efficiency, biological control is a promising alternative. This work aimed to select isolates of streptomycetes for R. solanacearum control in tomato. Differences were found among the isolates in the in vitro inhibition of the pathogen either in time or pH range. The streptomycetes isolates grew differently in the rhizosphere of seedlings and plantlets of tomato. The isolates SP164, SF232, SAc326 and SG384 showed the highest population densities. In the experiment conducted in soil infested with R. solanacearum, plants treated with the isolate SG384 presented best control level 48 days after sowing, period after which all control plants were dead.

Index terms: Lycopersicon esculentum, biological control, inoculation, rhizosphere.

Introdução

A murcha-bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum, provoca danos à cultura do tomate (Lycopersicon esculentum Mill.), principalmente nas condições de temperatura acima de 25°C, em solos úmidos e que tenham pH abaixo de 7,0 (Lopes & Santos, 1994). As medidas de controle normalmente recomendadas para fitobacterioses referem-se às tentativas de impedir a infestação das bactérias nos campos de cultivo ou de modificar o seu ambiente, tornando-o inóspito ao patógeno (Galli, 1980).

Várias tentativas de controle têm sido feitas para a redução do potencial de inóculo de R. solanacearum em campos de cultivo. O controle químico não tem mostrado efeitos satisfatórios, visto que este patógeno apresenta distribuição cosmopolita, e é autóctone na maioria das áreas cultivadas (Agrios, 1974). O controle pela prática de rotação de culturas tem apresentado efeito reduzido, devido à capacidade de R. solanacearum de sobreviver tanto em hospedeiros alternativos como no solo, por longos períodos (Moura et al., 1998). A seleção de cultivares resistentes à murcha-bacteriana tem apresentado resultados melhores, porém inconsistentes. Tem-se observado que os insucessos desta prática se devem à grande diversidade genética do patógeno associada com as influências das condições ambientais. O controle biológico pela introdução de microrganismos antagônicos a R. solanacearum, incluindo-se estirpes avirulentas, pode não resultar no controle do fitopatógeno. Por outro lado, a utilização de isolados de estreptomicetos tem apresentado resultados mais promissores (El-Abyad et al., 1993).

As populações de actinomicetos são componentes importantes da comunidade microbiana da rizosfera, visto que podem influenciar o desenvolvimento das plantas e proteger as raízes contra patógenos. Actinomicetos em geral, e estreptomicetos em particular, têm sido avaliados como agentes de controle biológico, principalmente por serem reconhecidamente capazes de interagir com as plantas superiores ou mesmo com outras populações microbianas, mediante a produção de antibióticos (Gava et al., 1999; Pereira et al., 1999a, 1999b; Pereira, 2000; Pereira et al., 2000). Tem-se observado que algumas espécies de estreptomicetos apresentam capacidade de proteção, em diferentes plantas, a diversos patógenos oriundos do solo, tanto em experimentos em condições controladas quanto no campo (El-Abyad et al., 1993; Yuan & Crawford, 1995; Moura et al., 1998).

Neste trabalho foi avaliada a influência da inoculação de isolados de estreptomicetos sobre Ralstonia solanacearum, visando ao controle biológico da murcha-bacteriana em tomateiro.

Material e Métodos

Sementes de tomate da variedade Santa Cruz Kada foram submetidas à inoculação dos isolados de estreptomicetos: SA63 (Streptomyces ansochromogenes), SB122 (Streptomyces baarnensis), SP164 (Streptomyces pneumonicus), SF232 (Streptomyces flavovirens), SAc326 (Streptomyces achromogenes) e SG384 (Streptomyces griseus), pertencentes à coleção de culturas bacterianas da Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia e que apresentaram antagonismo in vitro a Ralstonia solanacearum (Gava et al., 1999).

As inoculações foram feitas mediante suspensões de esporos em solução salina (NaCl 0,85%) contendo Tween 20 a 0,05%. Estas suspensões foram obtidas a partir de placas de Petri com colônias dos isolados crescidas previamente por cinco a sete dias em meio de cultura descrito por Waksman (1961), e raspadas com auxílio de uma espátula. Em seguida, os esporos foram lavados em solução salina e armazenados em solução de glicerol 10% a -25°C (Wellington & Williams, 1978).

A avaliação da faixa de pH ideal tanto para crescimento dos estreptomicetos como para a inibição de R. solanacearum foi feita em placas de Petri contendo o meio Waksman ajustado para os valores de pH 4,5; 5,3; 5,7; 6,5; 7,0; 7,5 e 8,0, incubadas por cinco dias em temperatura de 30ºC. Como padrões utilizaram-se os resultados obtidos em meio de cultura com pH 7.

A atividade antagônica dos isolados foi avaliada conforme Pereira et al. (1999a), e as colônias de estreptomicetos foram cobertas com 10 mL do meio NB (Difco), liquefeito à temperatura em torno de 40°C, ao qual se acrescentou previamente uma suspensão contendo células de R. solanacearum com densidade aproximada de 105 células/mL de meio de cultura. A presença ou ausência dos halos de inibição foi avaliada em 24 e 72 horas de incubação.

Para avaliar a colonização da rizosfera do tomateiro pelos estreptomicetos, utilizaram-se sementes desinfestadas segundo Babadoost et al. (1996). A semeadura foi feita em substrato contendo uma mistura de areia, vermiculita, solo e vermicomposto, em proporções iguais, esterilizado em autoclave a 121°C por 30 minutos, distribuído em recipientes de 25 g. Os isolados de estreptomicetos foram inoculados de forma a se obter a densidade aproximada de 104 UFC (Unidades Formadoras de Colônias)/g de substrato. Após alcançarem o primeiro folíolo definitivo, as plântulas foram transferidas para vasos contendo 200 g do mesmo substrato, e colhidas 15 dias após.

O material rizosférico, substrato que permaneceu aderido às raízes após agitação manual (Cheng et al., 1996; Gava et al., 1999), foi extraído da agitação das raízes, em agitador orbital a 150 rpm por 15 minutos, em erlenmeyers de 250 mL contendo 90 mL de solução salina (NaCl, 0,85%) e 10 mL de solução extratora contendo polietileno glicol 2,5% e deoxicolato de sódio 0,1% (Herron & Wellington, 1990). As suspensões obtidas sofreram diluições decimais seriadas, e 100 mL das diluições 10-3, 10-4 e 10-5 foram transferidos para placas de Petri contendo meio Waksman e espalhados superficialmente com auxílio de uma alça de Drigalski. Após cinco dias de incubação a 30°C, fez-se a contagem do número de UFC.

Para avaliar o controle da murcha-bacteriana por estreptomicetos em tomateiro cultivado em canteiros, infestados por R. solanacearum, as sementes de tomate foram semeadas em bandejas de plástico contendo substrato esterilizado constituído de uma mistura de areia e vermiculita (1:1). Com o desenvolvimento máximo do primeiro folíolo, as mudas foram transferidas para recipientes de plástico (copos descartáveis de 30 mL) contendo 200 g de substrato esterilizado composto em proporções iguais por uma mistura de areia, vermicomposto e horizonte superficial de um solo Podzólico Vermelho-Amarelo, série Itaguaí. Os substratos previamente autoclavados a 120oC por 30 min receberam suspensões de estreptomicetos, de modo a apresentar 104 UFC dos isolados/g de substrato. Utilizou-se também um tratamento-controle, sem inoculação de estreptomicetos. Quinze dias após, as mudas foram transplantadas para canteiros infestados por R. solanacearum (mantidos pela Pesagro-RJ, Estação Experimental de Seropédica), em um delineamento experimental de blocos ao acaso, com 15 mudas por tratamento, distribuídas aleatoriamente nos três canteiros.

As plantas irrigadas diariamente foram observadas quanto à exibição de sinais de murcha-bacteriana. Após o terceiro dia consecutivo de exibição de sintomas, as plantas foram colhidas, procedendo-se ao teste de exsudação, para confirmação da doença. Aos 48 dias, as plantas remanescentes foram colhidas e avaliadas quanto à infecção do patógeno, pelo teste de exsudação bacteriana em gota, ao microscópio (Galli, 1980; Lopes & Santos, 1994).

Resultados e Discussão

A influência do pH do meio, no crescimento dos estreptomicetos e na ação antagônica sobre Ralstonia solanacearum é apresentada na Tabela 1. Observa-se que os estreptomicetos cresceram em uma ampla faixa de pH, variando de 4,5 a 8,0, e os isolados SA63, SP232 e SG384 cresceram nas condições mais ácidas, em valores de pH de 4,5, 5,3 e 4,5, respectivamente.

As bactérias são sensíveis às concentrações mais elevadas de H+ no ambiente (Drozdowicz, 1991). Entretanto, em solos ácidos do cerrado brasileiro, tem-se observado que as densidades médias das populações dos actinomicetos variam de 1,7x104 a 50,1x104 UFC/g de solo seco (Pereira et al., 1999b). A ocorrência de actinomicetos ácido-tolerantes e acidofílicos pode estar relacionada com as condições ambientais nos solos dos quais foram isolados. Assim, estas características estariam na dependência da presença de nichos ecológicos, onde ocorrem reduções acentuadas de pH, principalmente em face das atividades metabólicas das populações na comunidade microbiana (Drozdowicz, 1991).

Em 72 horas de incubação, os estreptomicetos produziram metabólitos capazes de inibir o crescimento de R. solanacearum in vitro em pH que variou de 4,5 (isolado SG384) a 8,0 (isolados SA63, SB122 e SAc326), e o isolado SP164 apresentou ação antagônica somente em pH 6,5 e 7,5. Além disso, houve diferenças nos tamanhos dos halos de inibição com a variação do pH. A ação antagônica dos isolados de estreptomicetos e a variação no tamanho dos halos de inibição, provavelmente estão associadas às alterações qualitativas e/ou quantitativas dos metabólitos antibióticos produzidos, resultantes das influências diferenciadas do pH do meio de cultura.

A intensidade de inibição do crescimento de R. solanacearum por metabólitos produzidos pelos isolados de estreptomicetos em pH 7,0 foi variável. Em 24 horas de incubação a presença dos isolados SA63, SAc326 e SG384 resultou em halos de inibição do crescimento do fitopatógeno com diâmetros superiores a 30 mm, e nos isolados SA63 e SG384, a intensidade deste efeito também foi observada em 72 horas de incubação. No período de 24 horas, os isolados SB122, SP164 e SF232 inibiram moderadamente o crescimento de R. solanacearum (halos inferiores a 30 mm), e em 72 horas o isolado SB122 continuou apresentando antagonismo na mesma intensidade, enquanto os isolados SP164 e SF232 passaram a apresentar inibição fraca ao crescimento do fitopatógeno (halos com diâmetros inferiores a 6 mm).

As variações em relação aos diâmetros dos halos de inibição em pH 7,0 podem estar associadas com a produção de diferentes metabólitos inibidores pelos isolados de estreptomicetos. A ação dos antibióticos sobre a célula bacteriana pode estar relacionada com interferências na estrutura e função da parede ou da membrana celular, ou com a inibição de um processo metabólico interno (Tavares, 1982). As variações nos halos de inibição também podem estar relacionadas com as diferenças nas difusões dos metabólitos inibidores do crescimento de R. solanacearum em meio de cultura, como foi constatado anteriormente por Crawford et al. (1993).

Além disso, observou-se, a partir das 48 horas, a presença de colônias de bactérias dentro dos halos de inibição, o que evidencia a resistência das células de R. solanacearum aos metabólitos produzidos. Isto provavelmente ocorreu devido às concentrações destes metabólitos no meio de cultura, que inibiu mas não foi capaz de impedir o crescimento de todas as células nas populações de R. solanacearum. A resistência adquirida geralmente resulta em modificações das características fisiológicas e/ou metabólicas quando se observam as células das quais se originaram (Lovato et al., 1991; Pereira et al., 1991). Desta forma, houve uma seleção de células com resistência natural aos metabólitos produzidos, que podem apresentar crescimento mais lento que as demais (Pereira, 1983).

Têm-se observado que a capacidade de produzir antibióticos in vitro é comum entre os microrganismos isolados dos solos (Drozdowicz, 1991). Entretanto, nem sempre há boa correlação entre os resultados in vitro e in vivo, o que pode colocar em dúvida o papel ecológico dos metabólitos produzidos (Williams, 1982; Williams & Vickers, 1986). Desta forma, o aparecimento de colônias de R. solanacearum resistentes aos metabólitos produzidos pelos isolados de estreptomicetos, conforme observado em placas, pode trazer como conseqüência prática a variabilidade no controle da murcha-bacteriana no tomateiro.

No substrato de produção de mudas, as densidades das populações de estreptomicetos apresentaram variações significativas (Tabela 2). As densidades médias variaram de 1,72x104 a 38,70x104 UFC/g de substrato seco, quando o substrato foi inoculado com os isolados SA63 e SP164, respectivamente. Estas densidades são similares às encontradas anteriormente, em condições ambientais diferenciadas (Gava et al., 1999; Pereira et al., 1999a, 1999b, 2000).

Na rizosfera do tomateiro, os números médios de UFC dos isolados/g de raiz seca também apresentaram variações significativas, e as densidades das populações oriundas de hifas foram superiores aos das populações provenientes de esporos. A única exceção foi o isolado SA63, que apresentou densidade de 1,58x103 UFC/g de raiz seca, tanto nas populações oriundas de hifas como nas de esporos. Efeitos diferenciados sobre as populações de actinomicetos originárias de hifas e esporos têm sido observados (Pereira et al., 1999b, 2000), geralmente associados aos fatores ambientais, que determinam modificações morfológicas nas estruturas das hifas e dos esporos. Desta forma, a relação hifas/esporos pode estar associada principalmente ao pH do solo (Gray & Williams, 1975), à disponibilidade de nutrientes no solo (Wellington et al., 1990) ou ao efeito rizosférico (Drozdowicz, 1991; Bolton Junior et al., 1993).

Densidades mais elevadas das populações oriundas de hifas evidenciam que a rizosfera do tomateiro proporcionou condições adequadas para o desenvolvimento das populações de estreptomicetos. A maior produção de células vegetativas seria uma conseqüência deste fato, considerando-se que os esporos são estruturas de resistência, e sua produção é predominante em condições ambientais desfavoráveis (Kalakoutskii & Agre, 1973; Vobis,1997).

A superioridade numérica das populações oriundas da fração hifas não resultou em incremento das populações de estreptomicetos na rizosfera do tomateiro, visto que, de modo geral, essas populações foram semelhantes às densidades das populações encontradas no substrato. As únicas exceções foram os isolados SA63 e SB122, cujas densidades foram inferiores.

A colonização rizosférica é determinada pela interação de uma série de fatores que variam de acordo com as plantas, os microrganismos e o ambiente. Têm-se observado densidades mais elevadas de estreptomicetos na rizosfera de milho, ervilha, algodão, rabanete, cenoura, tomate e pimentão (Yuan & Crawford, 1995; Gava et al., 1999). Por outro lado, na rizosfera da soja as populações de actinomicetos oriundas de hifas e de esporos não foram estimuladas (Pereira et al., 1999a).

Assim, é possível que a variação nas densidades dos estreptomicetos na rizosfera do tomate seja determinada pelo padrão de exsudatos radiculares, associado com as diferentes exigências nutricionais e com outros fatores de crescimento específicos, exigidos pelos isolados (Cheng et al., 1996).

As densidades das populações de estreptomicetos oriundas de hifas e esporos na rizosfera do tomateiro, no momento de transplante das plantas para o infectário, variaram de 1,6x104 a 1,9x106 UFC/g de raiz, densidades, estas, semelhantes às das populações de actinomicetos encontradas em diversas condições ambientais (Pereira et al., 1999a, 1999b, 2000).

Os primeiros sintomas de murcha-bacteriana surgiram 10 dias após o transplante para canteiros infestados com R. solanacearum (Figura 1). Inicialmente, as plantas sem inoculação e as que receberam inoculação dos isolados SP164, SF232 e SAc326 apresentaram sintomas da doença.


As plantas que receberam os isolados SA63 e SB122 começaram a apresentar os sintomas da murcha-bacteriana somente 18 dias após o transplante. A inoculação de SB122 resultou, aos 20 dias, em 13% das plantas com os sintomas da doença. No 25o dia, a freqüência média foi de 23%, evoluindo para 50% no 28o dia. Aos 48 dias após o transplante, a freqüência de infecção foi semelhante à dos demais tratamentos.

Nas plantas submetidas à inoculação do isolado SG384, até o 20o dia após o transplante, a freqüência de infecção por R. solanacearum foi zero, e aos 48 dias, somente 36% apresentaram sintomas da murcha-bacteriana. A maior eficiência no controle da murchabacteriana apresentada por este isolado pode estar associada principalmente com a sua capacidade de crescer e inibir fortemente o crescimento do patógeno em uma faixa de pH mais ampla (Tabela 1), visto que as suas densidades no substrato de mudas e na rizosfera das plântulas de tomateiro não foram as mais elevadas (Tabela 2).

As variabilidades na freqüência das plantas infectadas demonstram que a inoculação dos estreptomicetos resultaram em um controle diferenciado da infecção das mudas de tomateiro pelo patógeno. A freqüência de infecção pode estar associada com a densidade inicial do inóculo dos isolados de estreptomicetos, ou com as relações entre os crescimentos do isolado utilizado e das raízes do tomateiro. Estes resultados também podem ser decorrentes da capacidade dos isolados de produzir metabólitos antibióticos a R. solanacearum. A maior ou menor capacidade de produzir estes metabólitos pode estar associada com as modificações no equilíbrio estabelecido entre as populações microbianas na rizosfera, decorrentes principalmente de alterações do pH, da umidade, da aeração, da temperatura e da disponibilidade de nutrientes orgânicos e inorgânicos, pelo efeito isolado ou do somatório de dois ou mais fatores (Madsen, 1995).

A produção de antibióticos no solo como mecanismo de antagonismo pode ter efeito limitado. Como geralmente são produtos do metabolismo secundário, sua produção pode ficar limitada a nichos onde ocorrem fontes de nutrientes adequadas, como, por exemplo, matéria orgânica parcialmente degradada. Estes antibióticos também poderão ser adsorvidos pelos colóides minerais e orgânicos do solo, limitando ainda mais sua atividade (Pereira, 1995). Além da produção de antibióticos, as populações de actinomicetos apresentam outros mecanismos de antagonismo, que podem envolver parasitismo, indução de autólise, produção de outras substâncias tóxicas ou inibidores voláteis e, ainda, inibidores de atividade enzimática (Cardoso, 1978).

Além do isolado SG384, que apresentou maior potencial no controle da murcha-bacteriana no tomateiro, as avaliações das ações destes fatores atuando isoladamente ou em conjunto tornam-se de importância fundamental e devem ser estendidas a outros isolados de actinomicetos que inicialmente apresentaram antagonismo in vitro, visto que também podem ser determinantes do grau de eficiência das populações de actinomicetos introduzidas para fins de controle biológico.

Conclusões

1. As inoculações dos isolados de estreptomicetos resultam em variações no controle da murcha-bacteriana em tomateiro.

2. Existem diferenças na inibição do crescimento de Ralstonia solanacearum in vitro, tanto em relação à faixa de pH quanto ao tempo de observação.

3. Na rizosfera das mudas de tomateiro preparadas para o transplante, as densidades das populações de estreptomicetos são variáveis, porém os isolados SP164, SF232, SAc326 e SG384 apresentam densidades populacionais mais elevadas.

4. Em canteiros com solo infestado com Ralstonia solanacearum, o isolado SG384 apresenta melhor nível de controle, com apenas 35% de plantas infectadas no 48o dia após o transplante; nos demais isolados, a porcentagem de infecção é superior a 80%.

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  • (1
    ) Aceito para publicação em 14 de maio de 2002.
    Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor apresentada à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ.
    (2
    ) Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido, Caixa Postal 23, CEP 56300-000 Petrolina, PE. E-mail:
    (3
    ) Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro(CNPAB), Estação Experimental de Itaguaí, BR 465-RJ, km 47, CEP 23851-970 Seropédica, RJ. E-mail:
    (4
    ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa Agrobiologia (CNPAB), Caixa Postal 74505, CEP 23851970 Seropédica, RJ. E-mail:
    ) Embrapa-CNPAB, In memorian.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Dez 2002
    • Data do Fascículo
      Out 2002

    Histórico

    • Aceito
      14 Maio 2002
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