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Queima-de-alternária: nova doença foliar do mamoeiro no Brasil

COMUNICAÇÕES COMMUNICATIONS

Queima-de-alternária: nova doença foliar do mamoeiro no Brasil

Francisco Marto Pinto VianaI; Marlon Vagner Valentim MartinsII; Sueli Correa Marques de MelloIII; Peter Ward InglisIV; José Emilson CardosoV

IDoutor em Fitopatologia. Pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Rua Dra. Sara Mesquita, 2270, Planalto do Pici CEP 60511-110, Fortaleza-CE

IIDoutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza-CE, marlon.valentim@embrapa.br

IIIDoutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasilia, DF

IVDoutor em Genética e Biologia Molecular, bolsista CNPq/ Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasilia, DF, peterwinglis@gmail.com

VDoutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza-CE, jose-emilson.cardoso@embrapa.br

Autor correspondência Autor correspondência: Francisco Marto Pinto Viana ( marto.viana@embrapa.br)

A partir de novembro de 2009, na região litorânea do estado do Ceará, no município de Paraipaba, no Campo Experimental da Embrapa Agroindústria Tropical, verificou-se a ocorrência de sintomas atípicos em folhas de mamoeiro de dois pomares experimentais de mamoeiro dos dois grupos: 'Solo' e 'Formosa". Inicialmente, atribuiu-se os sintomas a ventos que, nessa época, estariam associados à elevadas temperaturas no intervalo entre 11:30 e 14:30 h ou à deficiência hídrica ou ainda à excesso de adubação nitrogenada, sendo todos esses fatores descartados em posteriores estudos.

Os sintomas se caracterizavam por queima nos ápices dos lóbulos foliares que secavam e depois ficavam crestados, podendo as lesões ocorrer também no pecíolo em forma de losangos bem definidos e escuros, sobre as quais se encontravam as frutificações do patógeno (Fig. 1A). Manchas no pecíolo eram mais comuns em folhas mais velhas que depois secavam e crestavam. Folhas sintomáticas envelheciam mais rápido. Nos anos de 2011 até 2013, em visitas a pomares comerciais na região de ocorrência (Litoral) confirmaram-se a disseminação da doença em pomares de forma endêmica. Afastada a possibilidade de razões abióticas para os sintomas observados, passou-se a verificar a hipótese de um microrganismo como agente causal. Para isso, coletaram-se folhas sintomáticas que foram conduzidas ao Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Agroindústria Tropical. Todas as observações microscópicas revelaram a associação constante de um fungo às lesões. Após o isolamento e crescimento do microrganismo em meio sintético (BDA), pôs-se em prática os postulados de Koch. Examinado o isolado de lesão de planta inoculada e comparado com a literatura micológica especializada verificou-se que se tratava do fungo Alternaria alternata (Fr.) Keissl., patógeno conhecido por já causar doença em frutos de mamão em pós-colheita (ELLIS, M.B. Dematiaceous hyphomycetes, 1971; Rotem, J. The genus Alternaria, 1994) (Fig.1B).





De maneira a confirmar a etiologia dessa nova forma de ataque do fungo às plantas de mamoeiro, foram efetuados testes moleculares. O DNA do fungo foi extraído (kit Qiagen DNAeasy), incluindo um passo de ruptura com mini bead beater. Através de PCR, amplificaram-se as regiões ITS1 e ITS2, bem como a região central 5.8S do rDNA do fungo a partir dos iniciadores ITS1 e ITS4 (White et al., Amplification and direct..., 1990). As duas fitas do produto de PCR foram sequenciadas (kit 3,1 Big Dye- Applied Biosystems) em sequenciador automático (Applied Biosystems 3730). Um alinhamento múltiplo foi efetuado com algumas sequências referenciais de A. alternata e fungos relacionados providas pelo Genbank, utilizando-se o programa MUSCLE (Edgar,R.C. Nucleic Acids Research 32:1792, 2004).

A análise filogenética foi realizada com o alinhamento das sequências selecionadas, usando inferência filogenética Bayesiana, com o programa MrBayes v. 3.1.2 (Ronquist & Huelsenbeck, Bioinformatics, 19:1572, 2003). Foi utilizada a configuração padrão do programa e o modelo utilizado na análise foi o HKY + I + G, descritos como o ideal, de acordo com o Critério de Informação de Akaike corrigido, usando jModelTest v 0.1 (Posada, Bioinformatics, 19:1572, 2008). A análise ocorreu ao longo de cinco milhões de gerações, com a amostragem das árvores a cada 1000 gerações, o que foi suficiente para o desvio padrão dos split frequencies cair abaixo de 0,005. Os primeiros 25% das árvores foram descartados antes do cálculo de árvore de consenso (o “burnin”). As árvores foram enraizadas usando a sequência de ITS de Bipolaris tetramera como grupo externo (Fig. 1C).

Pelos estudos efetuados, pode-se concluir que o isolado estudado é da espécie Alternaria alternata que, como na India (Joshi et al., Environment & Ecology, p.37-40, 2012), está incitando uma nova forma de doença no mamoeiro no Brasil.

Data de chegada: 01/09/2014.

Aceito para publicação em: 16/10/2014.

  • Autor correspondência:

    Francisco Marto Pinto Viana
    (
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Dez 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2014
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