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Editorial

Mitos e Gurus, ou de Como Confundir a Mocidade “Respeitai o homem que já leu um livro” (ditado árabe) “Temei o homem que só leu um livro” (desconhecido)

Nada mais fácil do que ser aclamado por um grupo de jovens - basta que se lhe diga o que todo jovem quer e gosta de ouvir. Não será isso, entretanto, proselitismo irresponsável, necessidade de aclamação pessoal? É, contudo, tarefa mais fácil e atraente do que a penosa missão de educar de fato, pois esta exige não apenas um compromisso diletante com a verdade, mas igualmente a coragem de dizer não quando é preciso.

Uma aparência cuidadosamente descuidada, um par de sandálias (símbolo da humildade e de pobreza - às vezes do espírito também), uma permanente atitude de questionar e contestar (apanágio do “cientista”) e uma cansada indiferença em suportar os que ainda não aderiram ao seu “discurso” e à sua lógica, são os ingredientes do artista, que tem platéia nova a cada ano, mas quase nunca uma platéia fixa, uma vez que os verdadeiros grandes homens são como os grandes livros e as grandes montanhas - melhor observados ao longe.

Programas extraordinários são anunciados, todos vestidos com a roupagem” da integração curricular”, “do contexto social”, “da ação comunitária”, “do olhar atento do corte epistemológico” e outros adornos que tornam alguns já legendários. Muitos, entretanto, não resistiriam a simples interrogações como a quantos alunos é oferecido o programa, qual a qualificação docente dos que os desenvolvem etc. Já verificamos, inúmeras vezes, que alguns alunos egressos desses programas fabulosos nunca haviam palpado um fígado, ou ficavam deslumbrados com a ausculta de um sopro tubário!! - mas a informação sobre os aspectos sociológicos, econômicos e políticos da Medicina e da Saúde (às vezes com nítida dose tendenciosa) estavam presentes, só que a desequilibrar a balança.

Os “trabalhos científicos” produzidos na área de Medicina Social, Comunitária etc. avolumam-se a cada hora, semelhantemente ao que acontece na área de Educação. Nesse sentido vale a pena recordar Broudy (Presidente da Associação Americana de Pesquisas Educacionais) que destacou: “das 70.000 pesquisas educacionais que descansa m em uma ou outra estante, apenas 70 poderiam ser consideradas significativas”.

Convençamo-nos de que o médico é, fundamentalmente, um perito em assuntos biológicos, um psicólogo de bom-senso e que deve assumir papel de educador e, acima de tudo, aprender a respeitar a vida e a morte do ser humano. Este é o médico que todos querem para suas mães e seus filhos. Se não pudermos prover os futuros médicos de todos os créditos das outras “ciências” tão anunciadas como indispensáveis, que seja pelo menos um “técnico” competente. Ainda é melhor um médico que identifique com segurança um câncer de pulmão numa fase que permita um razoável prolongamento da vida e, quiçá, a cura do paciente, do que outro que trate desse mesmo enfermo como padecedor de gripe mas com elevada compreensão sociológica de seus problemas.

Alertar a mocidade para que avalie sempre com muita prudência os mitos e gurus da sociedade moderna é educativo. Muitos propagandistas de mitos e inúmeros gurus almejam, simplesmente, a aclamação pessoal por plenários que são facilmente convulsionáveis.

Igualmente educativo é ensinou aos moços a distinguir os que contribuem para o desenvolvimento e para melhores dias da sociedade, dos que se utilizam da esperteza (em benefício próprio) esta, obscuro santuário dos incompetentes.

Fernando Bevilacqua
Diretor Executivo ABEM

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 1979
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