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Imagens da prática profissional em academias de ginástica na cidade do Rio de Janeiro

Professional practices: ]images in a gym and fitness center in the city of Rio de Janeiro

Imágenes de la práctica profesional en gimnasios de la ciudad de Rio de Janeiro

Resumos

O objetivo deste estudo é fornecer subsídios aos cursos de educação física, aproximando a formação profissional do campo de atuação em academias de ginástica. Através da análise de discurso, descrevemos e interpretamos a maneira como o profissional apresenta a si mesmo e a sua prática às outras pessoas, os meios pelos quais dirige e regula a impressão que formam a seu respeito e as atividades que pode ou não realizar. Os resultados confirmam que a prática do profissional de ginástica em academia vive momentos de tensão e impasse, o que implica a urgência de reformular a formação para essa prática nos cursos de graduação e de pós-graduação em educação física

Educação física; academia de ginástica; mercado de trabalho; formação profissional


This study aims helping the physical education courses making the physical education major, closer to the work practice at the gyms. Beyond the analyses of the speech, we take into consideration the way the professional introduce him/herself and his/ her experience to people, the means to deal with the impression toward him/herself and the activities which might or might not be accomplished. We come to a conclusion that those professionals of gymnastic practices have been through tense times and impasse, what implies the need to reformulate undergraduate physical education courses oriented to education of teachers

Physical education; gymnastic academy; work field; major


El objetivo de este estudio es ofrecer subsidios a las carreras de Educación Física, aproximando la formación profesional del campo de actuación en gimnasios. A través del análisis de discurso, analizamos la manera como el profesional se presenta a sí mismo y a su práctica a otras personas, los medios por los cuales dirige y regula la impresión que dejan a su respecto y las actividades que puede o no realizar. Concluimos que la práctica del profesional de gimnasia en el gimnasio vive momentos de tensión e indefinición, e proponemos una nueva perspectiva de formación que regula esa práctica en nivel superior

Educación física; gimnasio de gimnasia; mercado de trabajo; formación profesional


ARTIGOS ORIGINAIS

Imagens da prática profissional em academias de ginástica na cidade do Rio de Janeiro* * O presente trabalho não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua realização.

Professional practices: images in a gym and fitness center in the city of Rio de Janeiro

Imágenes de la práctica profesional en gimnasios de la ciudad de Rio de Janeiro

Carlos Alberto de Andrade Coelho Filho, DR.I; Sebastião Josué Votre, DRII

IDoutor em psicologia social - Uerj. Professor adjunto da Faculdade de Educação Física - Universidade Federal de Juiz de Fora (Minas Gerais - Brasil) E-mail: carlos.coelho@ufjf.edu.br

IIDoutor em letras - PUCRJ. Livre-docente em linguística - UFRJ Professor titular da UFRJ (aposentado) e da Universidade Gama Filho (Rio de Janeiro - Brasil) E-mail: sebastianovotre@yahoo.com

Endereço para correspondência Endereço para correspondência : Carlos Alberto de Andrade Coelho Filho R. Ricardo Schaller, 285 Bairro São Pedro Juiz de Fora-MG CEP 36035-750

RESUMO

O objetivo deste estudo é fornecer subsídios aos cursos de educação física, aproximando a formação profissional do campo de atuação em academias de ginástica. Através da análise de discurso, descrevemos e interpretamos a maneira como o profissional apresenta a si mesmo e a sua prática às outras pessoas, os meios pelos quais dirige e regula a impressão que formam a seu respeito e as atividades que pode ou não realizar. Os resultados confirmam que a prática do profissional de ginástica em academia vive momentos de tensão e impasse, o que implica a urgência de reformular a formação para essa prática nos cursos de graduação e de pós-graduação em educação física.

Palavras-chave: Educação física; academia de ginástica; mercado de trabalho; formação profissional.

ABSTRACT

This study aims helping the physical education courses making the physical education major, closer to the work practice at the gyms. Beyond the analyses of the speech, we take into consideration the way the professional introduce him/herself and his/ her experience to people, the means to deal with the impression toward him/herself and the activities which might or might not be accomplished. We come to a conclusion that those professionals of gymnastic practices have been through tense times and impasse, what implies the need to reformulate undergraduate physical education courses oriented to education of teachers.

Key words: Physical education; gymnastic academy; work field; major.

RESUMEN

El objetivo de este estudio es ofrecer subsidios a las carreras de Educación Física, aproximando la formación profesional del campo de actuación en gimnasios. A través del análisis de discurso, analizamos la manera como el profesional se presenta a sí mismo y a su práctica a otras personas, los medios por los cuales dirige y regula la impresión que dejan a su respecto y las actividades que puede o no realizar. Concluimos que la práctica del profesional de gimnasia en el gimnasio vive momentos de tensión e indefinición, e proponemos una nueva perspectiva de formación que regula esa práctica en nivel superior.

Palabras claves: Educación física; gimnasio de gimnasia; mercado de trabajo; formación profesional.

INTRODUÇÃO

Como espaços da cultura corporal, as academias de ginástica consolidaram-se no contexto do lazer. Para atuar nessas instituições, há uma demanda crescente de profissionais formados em nível de graduação e de pós-graduação em educação física.

Esses cursos, além contribuírem com o desenvolvimento das competências necessárias à prática do profissional de educação física, devem favorecer a elaboração de pensamento crítico sobre si mesmo e sobre o mercado de trabalho.

Com a evolução do segmento das academias de ginástica e o consequente aumento da concorrência, exigiu-se do profissional de ginástica que se preocupe cada vez mais com a autoimagem pública, delineada em termos de atributos profissionais aprovados (Coelho Filho, 2007). Pode-se perguntar, contudo, se esses atributos aprovados não desempenham o papel da ideologia quando da formação do pensamento do profissional de ginástica e da reflexão crítica sobre as instituições e o mercado de trabalho (Coelho Filho, 2005). Qual é a proporção do componente crítico nesses profissionais? Qual é o interesse deles nesse tópico? Justifica-se, portanto, a preocupação de autores como Toledo e Pires, sobretudo se trocarmos refletir por discutir:

Talvez como profissionais tenhamos de refletir mais profundamente sobre a concepção de educação física, de ginástica, de academia e de ginástica de academia que temos e que está no mercado (Toledo; Pires, 2008, p. 53).

Mascarenhas et al. (2007), após analisarem as características e as tendências da acumulação flexível que caracterizam o mercado do fitness, destacam a transformação dos serviços de lazer em mercadorias:

O lazer tem ocupado lugar de relevo na sociedade contemporânea. Todavia, bem distintas das práticas sociais de recreação e divertimento presentes em época anterior, as experiências de lazer atuais estão cada vez mais subordinadas à forma de mercadoria (p. 237).

Com foco na embalagem da mercadoria, a flexibilidade marca as academias, centradas no cliente:

A academia funciona em uma dinâmica caracterizada pela flexibilidade, pela diversificação de sua produção, pelo "foco no cliente" e, consequentemente, pela mudança do perfil do professor que nela trabalha (Furtado, 2007, p. 311).

Hansen e Vaz (2004), analisando uma grande academia, constataram um culto à máquina, sintetizado na fala da professora Flávia: "Aqui não faz diferença se sou eu que tô [sic] aqui ou se é qualquer um outro que tá aqui trabalhando, entendeu! Eles dão muito valor pro maquinário lá em cima, pras pessoas, e pra equipe não" (p. 140).

No mesmo diapasão, registram-se os achados no estudo de mascarenhas et al. (2007) sobre a padronização nas grandes academias, de Toledo e Pires (2008) sobre sistemas certificados e inalteráveis, bem como de Palma et al. (2007) sobre o sacrifício a que se submetem os professores dessas academias para preencher os requisitos do padrão estético.

Entendemos, com Toledo e Pires, que há um espaço para crescimento humano nas academias:

Talvez a academia possa cada vez mais ser um espaço das possibilidades, um local em que a diversidade humana tem espaço, em que as especificidades culturais não são descartadas como coisas sem importância, assim como quase tudo aquilo que não é globalizado e não está na moda. Talvez possa ser um espaço de encontro, alegria e prazer pela prática da atividade física, em que a palavra saúde não seja necessariamente associada à doença, e a ginástica, portanto, à sua cura, mas, sim, à promoção do bem-estar e da autonomia do indivíduo (Toledo; Pires, 2008, p. 54).

Para alcançar essa utopia, cabe ao professor de educação física avaliar criticamente em que "ordem do discurso" (Foucault, 1996) pretende ou tem possibilidade de entrar, em que contexto ou contextos atuar, e até quando. O presente trabalho, com características de estudo de caso, oferece uma análise desse campo de ação profissional para fornecer subsídios aos cursos de formação em educação física, aproximando-os da atuação em academias de ginástica. Levamos em consideração a maneira como o profissional apresenta a si mesmo e a sua prática às outras pessoas, os meios pelos quais dirige e regula a impressão que formam a seu respeito e as atividades que pode ou não realizar.

CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO

Este estudo é descritivo e exploratório e tem suporte na etnometodologia (Coulon, 1995a; Coulon, 1995b), como método próprio e singular que cada pessoa desenvolve para se auto-organizar. Nos dados transparecem nossa experiência e a dos entrevistados, no meio profissional da ginástica em grande academia na cidade do Rio de Janeiro.

No quadro da etnometodologia, a realidade social é criada pelos atores, não é um dado preexistente. A noção de membro mostra que os sujeitos, pela linguagem que utilizam, por aceitarem e fazerem valer, em suas ações, as evidências do mundo em que vivem, naturalizam os elementos problemáticos. Tornar-se membro implica um domínio progressivo da linguagem institucional comum. Os membros conhecem o implícito de suas condutas e aceitam as rotinas inscritas nessas práticas sociais.

A pequena amostra do estudo é composta de quatro profissionais que atuam em três academias nos bairros de Jacarepaguá, Grajaú e Barra da Tijuca, selecionadas por serem consideradas grandes academias, com perfil empresarial consolidado e por seus profissionais interagirem profissionalmente com o primeiro autor. Os dados foram gravados e transcritos, para outros estudos, de modo que a análise aqui desenvolvida se apoia em estudos já divulgados1 1 . Os textos que servem de base para os dados aqui analisados foram publicados, conforme se atesta a seguir: COELHO FILHO, C. A. de A. Fruto maduro? Caindo do pé? In: TORRES, M.; SANTOS, R. F. dos (orgs.).Lições de educação física 1. Rio de Janeiro: UniverCidade Editora, p. 165-202, 2005. COELHO FILHO, C. A. de A. As boas relações do profissional de ginástica em academia: a face num estudo de caso. In: TORRES, M.; SANTOS, R. F. dos (orgs.). Lições de educação física 2. Rio de Janeiro: UniverCidade Editora, p. 91-104, 2007. .

Apresentamos, a seguir, de forma sucinta, essas academias, em que atuam os entrevistados Paula, Bruno, João e Davi2 2 . Nomes fictícios. . A academia do Grajaú aparece regularmente na mídia, com seus profissionais opinando sobre ginástica e musculação. Está localizada em uma rua tranquila do bairro. O prédio foi construído especificamente para a academia. A academia da Barra da Tijuca abriu suas portas como "moderno centro de fitness". Com equipamentos de última geração em todos os setores, conta com três piscinas, três salas para ginástica, uma de lutas e outra de musculação. Os amplos banheiros e vestiários possuem um SPA com sauna e hidromassagem. A lancheteria, com mesas e cadeiras à sua frente, é bastante agradável. Possui ainda videolocadora, boutique, casa de tortas, loja de complementos alimentares e cabeleireiro. A academia de Jacarepaguá, resultante de transformação de uma ampla residência, é tradicional no bairro.

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS INFORMAÇÕES

Analisamos primeiro o discurso de Paula por considerá-lo mais crítico, proporcionando a abertura de canais de inferência e interpretação que foram retomados nos discursos dos demais entrevistados.

Paula ressente-se do fato de ser prescindível ao praticante "emancipado" das grandes academias, e que pode obter informações e se autoinstruir sem necessidade de um professor3 3 . Considerando as questões ideológicas que as noções de professor e profissional trazem no âmbito teórico, optamos por utilizar os termos "professor", "aula" e "aluno" em itálico, na sequência do trabalho (salvo nas transcrições dos depoimentos que aparecem entre aspas ou em recuo). Vale destacar, contudo, a utilização do termo "profissional", sobretudo quando este sugerir o sentido de prática de um determinado ofício remunerado (no caso, a prática profissional da educação física nas academias de ginástica). Ou seja, nas academias de ginástica, professores e profissionais de educação física - respectivamente, licenciados (possuidores de licenciatura plena) e bacharéis - são profissionais, porque praticam um determinado ofício e são pagos para isso. .

Com a ampliação do mercado, com os grandes centros de fitness, os alunos perderam a relação com o professor, "esse lado afetivo que não tem mais nenhum, acabou totalmente". Paula explica essa mudança: "Os alunos, com a ampliação, acho que eles ganharam mais conhecimento". Os praticantes adquirem informações nos meios de comunicação, estão mais esclarecidos, o que justifica a oferta de aulas em turmas abertas.

Quando a turma é aberta, você está começando a aula, eles vão e anunciam a aula. "Aula de

step

, nove e vinte, professor B", então nesse momento pode entrar na sala quem quiser (Furtado, 2007, p. 311-312).

Paula tira vantagem da tecnicidade. "De vez em quando a gente vai espionar outras aulas. A gente tem uma hora liberada da academia para ir em qualquer academia que a gente quiser espionar". Essa estratégia atua como uma forma de controle da concorrência e um modo de homogeneizar as ofertas dos serviços nas academias de ginástica (Coelho Filho, 1997).

Segundo o depoimento de Paula, os profissionais veem-se obrigados a seguir um padrão de aula, o que favorece a instabilidade no emprego. "Qualquer um sabe dar aula de ginástica. Do jeito que as academias querem, qualquer um. Por isso que eu estou falando: o empresário agora está bem, porque eu vou embora, ele bota outrinho". A padronização das atividades possibilita ao empresário substituir o profissional com facilidade. É fato que "num programa em que as aulas são iguais é muito fácil substituir professores" (Toledo; Pires, 2008, p. 51).

Paula destaca que o corpo musculoso e o sexo do profissional é que são valorizados: "Continuam todos aqueles marombeiros, aqueles caras cheios de marra para dar aula". Como os praticantes dominam os exercícios ministrados nas aulas de ginástica padronizada, o profissional vê-se na obrigação de apresentar mais do que o conhecimento técnico específico da modalidade. Deve apresentar as qualificações de animador.

A fim de penetrar no universo de um indivíduo ou de um grupo, o discurso de Paula (a nos guiarmos por Moscovici, 1978) entra em uma série de relacionamentos e de articulações com outros discursos que aí circulam, dos quais toma propriedades e aos quais acrescenta as suas.

Paula afirma que "gostaria de ser vista não como objeto; porque muitas vezes você está dando aula, o aluno não quer saber se você está bem, se você está mal. Ele quer que a aula seja super boa, super animada, e que você esteja sempre sorrindo para ele". Essa é a expectativa das grandes academias atuais, estabelecendo uma espécie de zona de ambiguidade4 4 . "Será que as pessoas não estabelecem uma zona de ambiguidade, metade representação metade sonho, embora orientada para a ação, justificando as táticas individuais, de tal modo que os interessados creiam e não creiam no que dizem, mas fazem como se cressem, enquanto inclinam os vaticínios de acordo com seus gostos, sentimentos ou interesses?" (Lefebvre, 1991, p. 93). na organização interna das representações dos sujeitos.

As novidades e os rodízios devem atrair os praticantes. O animador na frente da turma é útil. Essa prática é construída com base nas representações de empresários e usuários. O que tem importância nesse mercado de imagens5 5 . Para Lefebvre (1991), o ato de consumir é um ato imaginário - portanto, fictício - tanto quanto um ato real, sendo o próprio "real" dividido em pressões e apropriações. são a representação do consumidor e o ato de consumir transformado em lucro. Nessa perspectiva, a representação social engendra a prática.

Paula aponta para aula e aluno, o que remete para professor. É representação social que o profissional de ginástica em academia deve ser um professor de educação física. Verifica-se o conflito no mecanismo de transferência das atitudes típicas do educador em contexto de pequena academia para a realidade predominantemente não educacional da grande academia, dado que os interesses da clientela são de cultura corporal imediata e não de um processo mediato.

Quando Paula se representa desvalorizada como sujeito, o núcleo central da representação mostra que ela está dando aula, e aula tem a força do vínculo, ao passo que em uma sessão de ginástica há enfraquecimento do vínculo, com busca de satisfação do cliente6 6 . Aula pressupõe ensino-aprendizagem, ao passo que sessão está vinculada a um espaço de tempo no qual se realiza um trabalho ou parte dele. O tipo de intervenção depende do contexto, do olhar. . À semelhança do que foi constatado por Coelho Filho e Votre (1997), na voz de Ana, "você não pode faltar cada vez que você fica menstruada, e você não pode faltar cada vez que você tem cólica" (p. 171). E o cliente não quer saber.

Com a ampliação do mercado de ginástica, os empresários ganharam porque dispõem de grande oferta de profissionais. O importante é que esses profissionais conquistem muitos praticantes; no momento em que não conseguirem mais alcançar esse objetivo, serão substituídos. Como diz Paula, "se encher a sala, está bom; quando não encher mais, tchau, arruma outro ali na esquina".

Segundo Paula, para o praticante pouco importa se o profissional corrige seus movimentos, se acompanha o número de repetições dos movimentos executados, se cria um trabalho corporal mais elaborado. Na academia onde ela trabalha, os profissionais criaram a cartilha do professor: "A cartilha do professor, a gente fala tudo ao contrário. A gente fala assim: o aluno fazendo errado finge que não vê; perdeu as contas, não esquenta a cabeça, fala que está no 30, entendeu?". Ao trabalhar assim, o que acontece esporadicamente na academia em que atua, Paula afirma que o praticante não percebe a diferença para uma aula normal, por vezes gostando até mais da que foi na cartilha.

Paula pretende parar de trabalhar com ginástica em academia: "A minha avaliação é essa, que eu quero sair desse ramo de ginástica. Não quero mais. Porque eu vejo que não tem onde você crescer dentro da área de ginástica". Coerente com o que constataram Palma et al. (2007), ela vislumbra a aposentadoria precoce.

Com base no discurso de Paula, postulamos que o núcleo central dessa representação se encontra próximo ao dever ser do professor de educação física, com os elementos periféricos situados na relação que o grupo - de praticantes e proprietários das academias - mantém com esse objeto.

Concentremo-nos agora em Bruno, que também se vê desvalorizado como sujeito: "Eu não queria ser visto como recreador, como aquele cara que vai lá para frente só fazer palhaçada, fazer piada, todo mundo acha engraçado. Sinceramente". Cobrava-se de Bruno, na academia do Grajaú7 7 . Bruno trabalhava na academia do Grajaú e na de Jacarepaguá. Atualmente, ele trabalha só na de Jacarepaguá, pois foi demitido da do Grajaú. , um comportamento que não correspondia às suas características. Segundo seu depoimento, para manter ou conquistar espaço ele agia contra a sua maneira de ser: "Teve até uma época que eu me violentava. Lá no Grajaú era assim"8 8 . Vale notar que, antes de ser demitido, Bruno foi induzido pela coordenação da academia do Grajaú a trocar seus dias de trabalho de segundas, quartas e sextas para terças e quintas. Na ocasião da entrevista, ele ainda não havia sido demitido e trabalhava às terças e quintas. .

O colega de Bruno, que trabalhava às terças e quintas na academia do Grajaú, era o profissional que estava servindo como modelo de ação ideal: "Ele era o engraçado, era o palhaço. A aula dele, nada de mais, mas era o engraçado. Aí, todo mundo vinha cobrar isso. E eu, segunda, quarta e sexta de uma academia de nome, aquela cobrança, né?". Para Bruno, a aula do seu colega, do ponto de vista técnico, é tão boa quanto a sua, e ele comprova tal fato, quando diz: "A aula, ninguém nunca criticou a aula, nem assim: 'pô, a aula do Fulano é muito melhor que a tua'. Eu sabia que não era por aí. O negócio era o comportamento mesmo". Portanto, Bruno mostra que o comportamento profissional comprometido em proporcionar um ambiente alegre não exclui a possibilidade de uma prática competente do ponto de vista técnico.

O discurso de Bruno compartilha representações com o de Paula quando se refere ao praticante emancipado e à "cartilha do professor": "Eu acho que oba-oba é super legal, mais na aula de aeróbica do que num trabalho localizado; o professor não precisa ficar preocupado com o movimento em si, e sim com o alto astral da aula". O fato de o profissional não se preocupar em atender aos praticantes individualmente indica a autonomia desses e a pertinência da prática padronizada. Numa academia de nome, como a do Grajaú, existe "aquela cobrança". Não basta ao profissional de ginástica a autoridade do conhecimento técnico específico da modalidade; para ser admirado, ele precisa comunicar com animação.

A despeito dos constrangimentos que Bruno revela em sua representação quanto ao dever ser do professor de educação física, ele sente-se bem no mercado de profissionais de ginástica no Rio de Janeiro: "Eu me sinto um privilegiado. Eu acho que, em termos assim de hora-aula, o lado financeiro, eu vejo pela turma que eu me formei. Quase ninguém trabalha com educação física, e eu vejo isso em outros amigos".

Assim, Bruno sente-se "um privilegiado" porque pode trabalhar na profissão escolhida, em contraste com muitos dos seus colegas que não encontraram essa possibilidade. Entretanto, mesmo estando ocioso às terças e quintas pela manhã, quando surgem oportunidades para trabalhar nesses horários, em outras academias, as propostas salariais são consideradas muito baixas: "Toda vez que pinta uma proposta para terça e quinta de manhã, é de rir. É uma hora-aula cômica, sem chances, eu não vou me sujeitar a isso, não vou mesmo".

Para Bruno, é difícil conviver com a cobrança:

Então, às vezes a interferência que eu ainda sinto é da clientela esperando um comportamento. [...] Antigamente, no primeiro ano de academia, que já são três anos, no primeiro ano eu me violentava

9 9 . O princípio explicativo proposto por Flament (citado por SÁ, 1996, p. 93) para dar conta do processo geral de transformação das representações é apresentado de uma forma aparentemente simples. Tudo se passa de tal sorte que cada indivíduo envolvido no processo possa dizer: "Nas circunstâncias, eu faço alguma coisa não habitual, mas eu tenho boas razões para isso". As boas razões indicam que as circunstâncias podem provocar práticas ilegítimas, contrárias às prescrições das representações sociais. Diferentemente de Paula, Bruno não avaliou como deveria, ou seja, como empresário.

, me violentava porque eu pensava: "estou formando o meu público ainda, eu tenho mais é que". Agora não, porque mal ou bem, já tem aquele público que toda terça e quinta vai lá e faz, está prestigiando. Então, eu acho que eu já tenho o meu valor.

A academia do Grajaú, que concorre com as maiores do mercado, tem uma administração mais "profissional" e menos "pessoal". Ela dispõe de instalações e material de trabalho mais sofisticados.

Bruno lida a seu modo com a cobrança da "clientela esperando um comportamento". Ele afirma que o fato de estar atendendo a uma clientela que se identifica com seu "modo de ser" é suficiente para manter o emprego. Ele não sabia, entretanto, que seria despedido, provavelmente por não se enquadrar no padrão profissional.

Na grande academia, como a do Grajaú, a qualidade do trabalho do profissional de ginástica é avaliada pela aceitação do grande público. Bruno não é antipático, ele é brincalhão, ele é simpático com todo mundo, mas, como diz, "hora da aula é a hora da aula". Bruno afasta-se da heteroimagem profissional e perde o emprego. Ele não compreende que o profissional que "faz a diferença", que enche a sala, é justamente o que na hora da aula, além de competente tecnicamente, é brincalhão e simpático com todo mundo.

Para Bruno, o que interfere negativamente na avaliação de sua prática na academia do Grajaú é a insatisfação da clientela e sua incompatibilidade com o estilo de animador, que tanto clientes quanto proprietários das grandes academias esperam do profissional de ginástica.

Bruno indica, em poucas palavras, como vê a realidade do mercado. Ele está em uma posição de conflito, pois não se enquadrou nas tendências e exigências das grandes academias. Perguntado sobre o que sugerir aos graduandos e pós-graduandos, respondeu: "Se tivesse a resposta, eu acho que eu estaria muito melhor. Então, é uma coisa que eu me questiono. [...] mesmo já tendo dez anos de experiência, se eu pudesse voltar, eu não sei o que é que eu mudaria, não sei". Embora contraditório em relação ao que disse antes, quando se considerou um privilegiado, aos 31 anos de idade, sua vontade é tentar montar um negócio, que nem vislumbra qual é. Segundo a interpretação de Bruno, o professor de educação física que atualmente quer entrar nessa área tem de ser "o farofeiro, o fanfarrão, aquele que é engraçado pra caramba". Pois, "nas grandes academias, a preferência é por esse professor". Há certa ironia e desprezo de Bruno por esse perfil. Ora, "farofeiro" e "fanfarrão" parecem uma caricatura de animador.

Da mesma forma que Paula, Bruno credita o culto ao corpo nas academias de ginástica à informação, com ênfase para a que é veiculada nos meios de comunicação. As pessoas estão cada dia mais conscientes da importância dos exercícios físicos para a melhoria da qualidade de vida e da aparência corporal.

Há coincidência entre os discursos de Paula e de Bruno quanto ao dever ser do profissional de ginástica em academia; entretanto, não há coincidência no mundo das práticas, porque, diferentemente de Paula, Bruno não soube adaptar-se ao contexto imediato, o que redundou na perda do emprego.

Também João, assim como ocorreu com Paula e Bruno, é desvalorizado como profissional. Sobressai no seu discurso a voz do professor de educação física, em contraste com o contexto imediato:

Enquanto professor de ginástica, eu gostaria de ser visto com mais respeito, tanto pelos alunos quanto pelo empresário.

Você está dando aula, um entra, um sai, nego fala durante a aula, quer mudar o exercício, não está nem preocupado em saber por que aquele exercício está sendo desenvolvido.

Segundo João, o empresário aproveita-se da necessidade do profissional em trabalhar, ganhar seu sustento, e o explora: "Tem academias que têm carteira assinada, têm umas que dão só uma parte do seu salário na carteira, outras nem têm carteira assinada". A questão, portanto, recai na relação de maior oferta do que de procura de profissionais.

Como Paula, João destaca a autonomia crescente dos praticantes no que tange aos exercícios utilizados nas aulas de ginástica e musculação:

Tanto na ginástica como na musculação, a gente vê que tem uma autodidática muito grande por parte dos alunos.

Essa autonomia provoca o sentimento de rebeldia do praticante, que diz: "não gostei daquele, vou mudar por minha conta".

Outro desafio é a rotatividade do aluno dentro da academia. "Você sabe que isso aqui é um comércio, e a gente vê que a rotatividade dentro da academia é grande". Para ele, o departamento médico e a avaliação funcional deveriam não só liberar o aluno para a prática, mas também orientar para a importância do trabalho adequadamente prescrito. Vale observar, nesse ponto, que o professor de ginástica também deveria assumir essa postura de orientar, corrigir, contudo, "parece que na grande academia não faz parte do script do profissional corrigir" (Coelho Filho, 2007, p. 98).

João concorda que algo está melhorando, "a exposição do trabalho na mídia, muita informação para o leigo, que favorece ele a já chegar com uma boa base". Com essa base, o usuário procura o serviço "na fase do ano que mais precisa mostrar o corpo, né, verão, férias", e é orientado às suas necessidades.

João é taxativo contra a animação: "Qualquer pessoa bota um boné na cabeça e sai gritando dentro da sala de aula, e acha que está dando uma aula legal". Ele é duro contra o que considera trivial: "O que a gente vê muito aí é um professor que bota uma música legal e fica lá na frente quicando". Em outro momento da entrevista, o professor é ainda mais duro: "Não se preocupa com a parte pedagógica. A parte didática de você comandar a aula de forma que o aluno aprenda e execute".

Seu discurso é outro, como coordenador da academia do Grajaú: "Às vezes eu preciso de uma pessoa para substituir um profissional, é uma dificuldade para você manter um padrão". Ele procura elevar o nível como coordenador em vista da competição no mercado; no entanto, como professor, gostaria de ser visto com mais respeito.

Da análise da fala dos três entrevistados até aqui sumarizada, conclui-se que na academia, como na empresa em geral, não existe uma atitude homogênea, não há consenso entre patrão e empregado, e sim vozes em conflito ou tendências que convivem ou precisam conviver. Com base nos discursos de Paula, Bruno e João, constata-se que uma competência profissional valorizada no mercado das grandes academias de ginástica do Rio de Janeiro é a animação.

Davi, diferentemente dos profissionais que comentamos, sente-se valorizado como sujeito. Além de profissional de ginástica na academia da Barra da Tijuca, ele é um dos proprietários dessa instituição. Para ele, o comportamento profissional comprometido em proporcionar um ambiente agradável não exclui a prática competente do ponto de vista técnico.

Davi é assertivo: "A gente faz um trabalho consciente". Ele considera-se um profissional que, com sua prática, contribui para melhorar a qualidade de vida e a saúde dos seus alunos: "A gente tem que pensar na ginástica localizada, como na musculação, como qualquer outra atividade física, qualidade de vida e saúde".

O entrevistado afirma que, trabalhando de forma consciente, é agente de mudança da representação social do professor de educação física, "aquele cara que era fortão, bonitão, que ficava o dia todo de short e camiseta". Sua consciência de participação na mudança é explícita: "Tenho até orgulho de dizer que eu também fui responsável em apagar um pouco essa imagem". Para ele, a imagem daquele profissional que se impunha mais pela aparência e menos por conhecimentos foi modificando-se a partir de uma ação, inferimos, mais compromissada com o discurso da educação física, um discurso "mais voltado para parte de saúde, para parte até médica, fisioterápica, e outros parâmetros que envolvem a ginástica". Davi está avaliando sua própria prática e imagem, contrárias às de Paula, Bruno e João.

Nesse sentido, não podemos deixar de considerar, ainda hoje, a influência de praticantes (fisiculturistas, por exemplo) que, "por apresentarem um desenvolvimento muscular maximizado, e uma sapiência decorrente de anos de treinamento e do eventual uso de esteroides anabolizantes, acabam disputando a autoridade com os professores com formação universitária" (Hansen; Vaz, 2006, p. 139). E, assim,

o aprendiz convivendo com seu "mestre", é por ele introduzido no campo e aprende quais tipos de roupa deve usar, quais exercícios deve realizar - não raro desprezando as séries oficiais de exercícios que os professores de Educação Física indicam -, e também que tipos de anabolizantes, suplementos alimentares e dietas deve tomar para "crescer" (Sabino; Luz, 2007, p. 63).

Davi é pragmático: "O cara que quer abrir uma academia para ganhar dinheiro, de repente emprega um cara que é bonitinho, porque ele é animadinho e tal, para fazer sucesso, e faz sucesso, quer dizer, o nome da educação física vai ficar lá em baixo". A ação desse profissional, com o sucesso vinculado à aparência superficial e à animação, prejudica a imagem do professor de educação física. A sociedade reconhece no profissional de ginástica em academia um professor de educação física.

No discurso de Paula, o profissional de ginástica em academia de grande porte perdeu, em parte, o status de professor. Resgata-se na prática esse status, como o faz Davi, ou se aprimora também a prática do animador cultural. Essas possibilidades, como nos disse Costa (1992), devem realizar-se segundo uma práxis (ação-reflexão). É a ideia da pesquisa associada ao ensino de ginástica/educação física em academia.

Davi mostra como é a sua prática: "Fazendo um trabalho buscando sempre um resultado. E você sabe que para buscar um resultado às vezes a gente é..., tem que fazer uma coisa mais forte, não é qualquer um que pode acompanhar". Logo, o que vai caracterizar o seu trabalho é o treinamento de intensidade forte e o fato de avaliar as possibilidades de o praticante se submeter a esse treinamento10 10 . O sucesso pedagógico exige do professor a capacidade de articular habilidades de diagnóstico (conhecimento sobre os alunos e suas características), adaptando o comportamento à especificidade da situação educativa e às necessidades dos alunos. O professor de ginástica em academia deve conhecer o conjunto de princípios e estratégias de organização do ambiente; os objetivos que devem presidir ao ensino; como os alunos assimilam o conteúdo, bem como as suas dificuldades e limitações; os recursos pedagógicos adequados a um objetivo específico e as estratégias apropriadas para se alcançarem determinados objetivos. Os praticantes sob orientação desse profissional são indivíduos complexos em sua formação e capacidade, e únicos em muitos aspectos; portanto, por meio da avaliação pode-se selecionar o programa adequado a cada um (Coelho Filho, 1997). .

Confirma-se, pois, a representação de Paula quanto ao dever ser do profissional de ginástica, bem como a justificativa para a crítica que faz aos colegas de trabalho da academia do Grajaú. Para ela, seus colegas não percebem que é perfeitamente possível desenvolver um trabalho mais forte, desde que o aluno seja orientado, educado para esse objetivo.

Davi aponta o caminho que construiu no processo de profissionalização: "A gente tem que ter os parâmetros de colocar um aluno pouco condicionado para fazer um trabalho estrutural antes, na musculação, natação, o que seja, para depois ser encaminhado para ginástica localizada, e é isso".

Para Davi, a consciência do professor de educação física manifesta-se na preocupação em avaliar e respeitar a individualidade de cada praticante, fazendo com que aquele pouco condicionado passe por uma adaptação, por exemplo, na musculação, antes de ingressar em uma aula com nível de exigência maior do que poderia suportar, e necessária para alcançar determinado objetivo: "Aquele trabalhozinho que visa à saúde do aluno, não lesar o aluno".

Quando Davi explicita a qualidade de trabalho, ele refere-se a uma "turma mais antiga", que desenvolvia - e ainda desenvolve - um trabalho por ele chamado de "ginástica localizada mais original". O entrevistado atribui a sua posição de destaque no mercado de ginástica no Rio de Janeiro ao fato de, como aquela turma, continuar "querendo dar personalidade a essa ginástica localizada". Entre os quatro profissionais citados por Davi, três são proprietários de pequenas academias na zona Sul do Rio de Janeiro; o outro, que também era proprietário de pequena academia no mesmo local, se desfez do negócio e passou a trabalhar na academia da Barra da Tijuca com Davi.

Por um lado, Davi destaca, como exemplo de qualidade, a prática de profissionais de ginástica de pequenas academias. Por outro, avalia positivamente a qualidade do trabalho de musculação nas grandes academias: "Por incrível que pareça, eu acho que está melhorando. A gente vê aí um pessoal a nível de [sic] musculação...".

Outro fator apontado por Davi, que favorece a busca de qualidade profissional por parte das grandes academias, diz respeito ao praticante atual: "O aluno está tendo mais consciência de procurar o bom profissional e a boa academia, por isso que está melhorando o mercado".

Portanto, conclui-se que a prática do profissional de ginástica é fator de seleção no mercado. É a interdependência entre prática e representação. Entretanto, a representação de bom profissional para Paula, Bruno, João e Davi, não é necessariamente a mesma para os frequentadores de academia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática do profissional de ginástica em academia vive momentos de tensão e impasse, decorrentes em parte do conflito entre as pressões do mercado e as orientações que recebe nos cursos de graduação e pós-graduação. As transformações ocorridas nas práticas e nas representações com a ampliação do mercado de ginástica no Rio de Janeiro fazem com que Paula, Bruno e João não se representem como profissionais prototípicos. A escala de prestígio é baixa, mas o conservadorismo é forte, com marcas de vitimização profissional. O discurso de Davi mostra que é possível realizar "um trabalho de qualidade" na grande academia, mas deve ser modalizado pelo fato de ele ser proprietário.

Na academia de grande porte é o cliente que controla a qualidade do trabalho que mantém e atende à sua expectativa. Vale a satisfação do cliente, ou então, como diria Bruno, o professor "é carta fora do baralho".

A prática de Davi, mesmo modalizada, mostra que as faces de incentivador e educador não se excluem entre si. A complementaridade está nas mãos dos próprios profissionais de ginástica, que deveriam desenvolver uma reflexão - crítica e genealógica - sobre como adequar os interesses comerciais à qualidade do trabalho.

As duas tarefas, diria Foucault (1996), não são inteiramente separáveis; entretanto, podemos dizer que há, de um lado, as formas da rejeição, da exclusão, do reagrupamento ou da atribuição, em que se encontram Paula e seus dois colegas. De outro, em nível mais profundo, o surgimento dos discursos que, como vemos em Davi, antes ou depois de sua manifestação, são submetidos à seleção e ao controle.

A tarefa crítica, ao pôr em questão as instâncias do controle, consiste em analisar ao mesmo tempo as regularidades discursivas por meio das quais elas se formam, enquanto toda descrição genealógica deve levar em conta os limites que interferem nas formações reais. Entre o empreendimento crítico e o genealógico a diferença não é tanto de objeto ou de domínio, mas, sim, de delimitação.

A análise de discurso que empreendemos neste estudo, no sentido de Foucault, não desvenda a universalidade de um sentido; ela mostra, à luz do dia, o jogo da rarefação imposta, com um poder fundamental de afirmação.

Recebido: 24 maio 2009

Aprovado: 19 dez. 2009

Não houve conflito de interesses para a realização do mesmo.

  • COELHO FILHO, C. A. de A. Competências básicas necessárias ao profissional de ginástica em academia. In: COSTA, V. L. de M. (org.). Formação profissional universitária em educação física Rio de Janeiro: UGF, p. 127-160, 1997.
  • ______. Fruto maduro? Caindo do pé? In: TORRES, M.; SANTOS, R. F. dos (orgs.). Lições de educação física 1 Rio de Janeiro, UniverCidade Editora, p. 165-202, 2005.
  • ______. As boas relações do profissional de ginástica em academia: a face num estudo de caso. In: TORRES, M.; SANTOS, R. F. dos (orgs.). Lições de educação física 2 Rio de Janeiro, UniverCidade Editora, p. 91-104, 2007.
  • COELHO FILHO, C. A. de A.; VOTRE, S. J. Representação profissional e social de gênero em ginástica de academia. In: VOTRE, S. J. (org.). A representação social da mulher na educação física e no esporte Rio de Janeiro: UGF, p. 159-172, 1997.
  • COSTA, V. L. de M. A andragogia e a formação universitária do profissional de educação física Tese (Livre-Docência em Educação Física) - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 1992.
  • COULON, A. Etnometodologia Petrópolis: Vozes, 1995a.
  • ______. Etnometodologia e educação Petrópolis: Vozes, 1995b.
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  • FURTADO, R. P. Novas tecnologias e novas formas de organização do trabalho do professor nas academias de ginástica. Pensar a Prática, Goiânia, v. 10, n. 2, p. 307-322, jul./dez. 2007.
  • HANSEN, R.; VAZ, A. F. Treino, culto e embelezamento do corpo: um estudo em academias de ginástica e musculação. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 1, p. 135-152, set. 2004.
  • ______. "Sarados" e "gostosas" entre alguns outros: aspectos da educação de corpos masculinos e femininos em academias de ginástica e musculação. Movimento, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 133-152, 2006.
  • LEFEBVRE, H. A vida cotidiana no mundo moderno São Paulo: ática, 1991.
  • MASCARENHAS, F. et al. Acumulação flexível, técnicas de inovação e grande indústria do fitness: o caso Curves Brasil. Pensar a Prática, Goiânia, v. 10, n. 2, p. 237-259, jul./dez. 2007.
  • MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise Rio de Janeiro: zahar, 1978.
  • PALMA, A. et al. Trabalho e saúde: o caso dos professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Cadernos IPUB, Rio de Janeiro, v. 13, p. 11-30, 2007.
  • SÁ, C. P. de. Núcleo central das representações sociais Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
  • SABINO, C.; LUZ, M. T. Ritos da forma. A construção da identidade fisiculturista em academias de musculação na cidade do Rio de Janeiro. Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 51-68, jan./jun. 2007.
  • TOLEDO, E.; PIRES, F. R. Sorria! marketing e consumo dos programas de ginástica de academia. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 29, n. 3, p. 41-56, maio 2008.
  • Endereço para correspondência
    :
    Carlos Alberto de Andrade Coelho Filho
    R. Ricardo Schaller, 285
    Bairro São Pedro
    Juiz de Fora-MG CEP 36035-750
  • *
    O presente trabalho não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua realização.
  • 1
    . Os textos que servem de base para os dados aqui analisados foram publicados, conforme se atesta a seguir:
    COELHO FILHO, C. A. de A. Fruto maduro? Caindo do pé? In: TORRES, M.; SANTOS, R. F. dos (orgs.).Lições de educação física 1. Rio de Janeiro: UniverCidade Editora, p. 165-202, 2005.
    COELHO FILHO, C. A. de A. As boas relações do profissional de ginástica em academia: a face num estudo de caso. In: TORRES, M.; SANTOS, R. F. dos (orgs.). Lições de educação física 2. Rio de Janeiro: UniverCidade Editora, p. 91-104, 2007.
  • 2
    . Nomes fictícios.
  • 3
    . Considerando as questões ideológicas que as noções de professor e profissional trazem no âmbito teórico, optamos por utilizar os termos "professor", "aula" e "aluno" em itálico, na sequência do trabalho (salvo nas transcrições dos depoimentos que aparecem entre aspas ou em recuo). Vale destacar, contudo, a utilização do termo "profissional", sobretudo quando este sugerir o sentido de prática de um determinado ofício remunerado (no caso, a prática profissional da educação física nas academias de ginástica). Ou seja, nas academias de ginástica, professores e profissionais de educação física - respectivamente, licenciados (possuidores de licenciatura plena) e bacharéis - são
    profissionais, porque praticam um determinado ofício e são pagos para isso.
  • 4
    . "Será que as pessoas não estabelecem uma zona de ambiguidade, metade representação metade sonho, embora orientada para a ação, justificando as táticas individuais, de tal modo que os interessados creiam e não creiam no que dizem, mas fazem como se cressem, enquanto inclinam os vaticínios de acordo com seus gostos, sentimentos ou interesses?" (Lefebvre, 1991, p. 93).
  • 5
    . Para Lefebvre (1991), o ato de consumir é um ato imaginário - portanto, fictício - tanto quanto um ato real, sendo o próprio "real" dividido em pressões e apropriações.
  • 6
    . Aula pressupõe ensino-aprendizagem, ao passo que sessão está vinculada a um espaço de tempo no qual se realiza um trabalho ou parte dele. O tipo de intervenção depende do contexto, do olhar.
  • 7
    . Bruno trabalhava na academia do Grajaú e na de Jacarepaguá. Atualmente, ele trabalha só na de Jacarepaguá, pois foi demitido da do Grajaú.
  • 8
    . Vale notar que, antes de ser demitido, Bruno foi induzido pela coordenação da academia do Grajaú a trocar seus dias de trabalho de segundas, quartas e sextas para terças e quintas. Na ocasião da entrevista, ele ainda não havia sido demitido e trabalhava às terças e quintas.
  • 9
    . O princípio explicativo proposto por Flament (citado por SÁ, 1996, p. 93) para dar conta do processo geral de transformação das representações é apresentado de uma forma aparentemente simples. Tudo se passa de tal sorte que cada indivíduo envolvido no processo possa dizer: "Nas circunstâncias, eu faço alguma coisa não habitual, mas eu tenho boas razões para isso". As boas razões indicam que as circunstâncias podem provocar práticas ilegítimas, contrárias às prescrições das representações sociais. Diferentemente de Paula, Bruno não avaliou como deveria, ou seja, como empresário.
  • 10
    . O sucesso pedagógico exige do professor a capacidade de articular habilidades de diagnóstico (conhecimento sobre os alunos e suas características), adaptando o comportamento à especificidade da situação educativa e às necessidades dos alunos. O professor de ginástica em academia deve conhecer o conjunto de princípios e estratégias de organização do ambiente; os objetivos que devem presidir ao ensino; como os alunos assimilam o conteúdo, bem como as suas dificuldades e limitações; os recursos pedagógicos adequados a um objetivo específico e as estratégias apropriadas para se alcançarem determinados objetivos. Os praticantes sob orientação desse profissional são indivíduos complexos em sua formação e capacidade, e únicos em muitos aspectos; portanto, por meio da avaliação pode-se selecionar o programa adequado a cada um (Coelho Filho, 1997).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Maio 2011
    • Data do Fascículo
      Maio 2010

    Histórico

    • Aceito
      19 Dez 2009
    • Recebido
      24 Maio 2009
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