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1981-2014: os cem números da revista novos estudos

Nesta edição de novembro de 2014 estamos celebrando, com grande alegria, o centésimo número da revista Novos Estudos. Foram, até o momento, 33 anos de trabalho ininterrupto e de esforço pródigo de muitos editores e autores. Nesse sentido podemos nos congratular de que a "petição de fé" de Rodrigo Naves em 1991, quando, no número 30, a revista completava seus primeiros dez anos de duração - a de não poupar esforços para manter vivo o projeto editorial da Novos Estudos em um país em que tudo é demasiadamente volátil -, tenha produzido resultados.

Foram muitos os editores que se empenharam sucessivamente para garantir a qualidade e a regularidade da publicação: Perseu Abramo, Juarez Brandão Lopes, Francisco de Oliveira, Rodrigo Naves, Alvaro Comin, Omar Ribeiro Thomaz, Antônio Flávio Pierucci, Flávio Moura e Joaquim Toledo. Cada um deles contribuiu a seu modo para que hoje pudéssemos celebrar nosso centésimo número. Também fizeram sua parte os pesquisadores do Cebrap, que emprestam sua energia intelectual à revista, garantindo sua vitalidade, seriedade e profundidade de análise e reflexão crítica. É preciso reconhecer, ainda, que essa longevidade se deveu também, em grande parte, à generosa contribuição da Fundação Carlos Chagas, que desde 2005 tem apoiado integralmente o projeto editorial da Novos Estudos, permitindo que a revista enriquecesse, sob a batuta de Flávio Moura, a linguagem visual de seu projeto gráfico.

Quando considerada em seu conjunto, pode-se ter uma boa perspectiva do valor da coleção e de sua transformação ao longo destas últimas décadas. Quanto a seu valor, Novos Estudos fala por si. Definindo-se como um periódico voltado para a cultura e a reflexão crítica, manteve-se sintonizada com as grandes questões do momento nas áreas de política, economia, literatura, ciências humanas e artes e, desde os primeiros números, serviu de veículo para a divulgação de ideias de grandes pensadores e intelectuais brasileiros e estrangeiros. Sem poder enumerá-los todos nesta curta introdução, poderíamos mencionar, a título de exemplo, a colaboração internacional de Raúl Prebisch nos anos 1980, debatendo candentes questões sobre o modelo econômico da América Latina; o dossiê de Jürgen Habermas de 1987, que marcou época; o dossiê sobre globalização de 1997, que apresentou ao público brasileiro autores como Arif Dirlik, Arjun Appadurai e Jean Comaroff; os trabalhos de Fréderic Jameson e Perry Anderson sobre modernidade e pós-modernismo; a contribuição de Adam Przeworski na década de 2000 sobre as relações entre instituições e desenvolvimento; e o dossiê sobre segurança pública de 2008, com uma contribuição inédita de Loïc Wacquant.

Embora a revista tenha sempre se transformado ao longo das décadas, adaptando sua linguagem e as linhas editorias segundo o perfil e a preferência dos sucessivos editores, e ao contexto social e político do momento, parece-nos que, ainda assim, é possível assinalar três momentos distintos em sua existência, que podem ser diferenciados pelas mudanças no seu projeto gráfico. O primeiro deles vai de sua fundação, em 1981, até 1989. Nos primeiros dezessete números a revista tinha um estilo, quando comparado a seu formato atual, aparentemente mais artesanal. Com cadernos grampeados de mais ou menos setenta páginas, a publicação já nasce com a convicção da importância da ilustração como linguagem editorial de amplo alcance. Capa de Elifas Andreato no primeiro número, ilustrações de Rubens Grilo, Mário Cafiero, fotos, artigos acompanhados de diversas ilustrações e títulos inseridos segundo a imaginação com variedade de tamanhos e diversidade de fontes tipográficas. Tomados em seu conjunto, fica bastante nítido que esses números são um espelho do modo como os editores e pesquisadores do Cebrap percebiam a conjuntura e as questões mais candentes a ser discutidas. O número de setembro de 1987, que traz o dossiê Habermas, se apresenta, a meu ver, como um marcador importante de mudança na trajetória da revista. Sempre buscando o estreito equilíbrio entre o conhecimento acadêmico, o debate político e a linguagem mais jornalística dos cadernos de cultura dos jornais diários, Novos Estudos se repagina, cresce em número de páginas, ganhando um formato mais próximo de um livro, de modo a adaptar-se, segundo seu editor de então, Rodrigo Naves, às necessidades de sua comercialização. A partir desse ano o projeto gráfico se consolida em um padrão que permanece relativamente estável até o presente. Por dezesseis anos o artista Carlos Fajardo ilustrou, com suas cores e seu estilo geométrico, as capas de todas as edições. A partir de 2003, com a chegada de Flávio Moura como novo editor, pode-se perceber a passagem para um terceiro momento. O número 70, de dezembro de 2004, pode ser considerado uma boa amostra dessa nova fase. Com apoio do Banco Itaú, a revista enriqueceu seus recursos gráficos introduzindo ensaios visuais de diferentes artistas. Nas palavras de seu editor, a nova disposição gráfica tornou as páginas mais arejadas, valorizou o formato das resenhas e refinou o diálogo dos artigos com as artes visuais. Além disso, o número 70 trouxe um índice remissivo completo das mais de cinco centenas de autores brasileiros e estrangeiros que até então haviam colaborado com a revista.

Outros desafios se apresentam no momento em que a Novos Estudos chega a seu centésimo número. O campo das revistas científicas multiplicou aos milhares suas publicações, padronizou suas exigências e definiu parâmetros mais estritos de avaliação da qualidade. Manter a personalidade editorisal da Novos Estudos, cujo projeto se demarcou pelo desejo de manter o difícil equilíbrio entre a complexidade do conhecimento sério e a leveza de uma linguagem agradável e mais acessível, exigirá de nós novas habilidades. Parece-nos que, quando visto em perspectiva, o número 100 baliza o período "clássico" da história da Novos Estudos, no qual cada volume é concebido e apresentado como uma unidade material relativamente autônoma e consagrado pela linguagem visual que o personaliza. Quisemos marcar esse momento convidando Carlos Fajardo, que tanto contribuiu para a identidade visual da revista, para ilustrar este centésimo número; aos pesquisadores e colaboradores do Cebrap, propusemos que contribuíssem oferecendo-nos sua percepção analítica das questões mais candentes da atualidade.

É preciso ter em conta, no entanto, que, em uma época de hiperconectividade, o formato atual da revista não parece mais ser suficiente para manter sua identidade e atrair novos leitores. O desafio a enfrentar será o de avançar na direção de um projeto editorial que leve em conta a diversidade de plataformas e linguagens nas quais circulam hoje o conhecimento e a informação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov 2014
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