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POLÍTICA INDUSTRIAL: TRANSFORMAÇÃO ESTRUTURAL PELA VIA DA INOVAÇÃO

Política industrial é um termo eivado de significados históricos e simbólicos. À semelhança do futebol, desperta várias paixões. Mas diferentemente do futebol, o termo pode ser polissêmico. Futebol se joga com onze, o campo tem dimensões definidas, a partida dura dois tempos de 45 minutos e assim por diante. Já o termo política industrial não é tão unívoco. É sinônimo de substituição de exportações? De lei do similar nacional? De promoção de “campeões nacionais”, seja lá o que isso signifique? De adensamento de cadeias produtivas? De “bolsa empresário”? Ou de indução à transformação da estrutura industrial rumo a patamares elevados de produtividade, valor agregado, competitividade internacional e inovação?

Os textos aqui reunidos neste oportuno e necessário dossiê sobre política industrial não ficam em cima do muro. Assumem a última formulação, que associa política industrial à inovação e à transformação da estrutura produtiva, como a estratégia para o desenvolvimento industrial brasileiro contemporâneo. Retomando o início do parágrafo: a discussão sobre indústria e desenvolvimento industrial é crucial. Crucial para a criação de valor, sem o qual não há distribuição. Crucial para irradiar progresso técnico na economia. Para gerar empregos mais qualificados. Há uma miríade de atributos.

Competitividade é a chave. Não adianta olhar para trás, o que interessa são os fatores que direcionam a competitividade e a produtividade daqui para a frente. Ou seja, a transformação da indústria pela inovação e pelo aumento da produtividade. E isso conta com fortíssimas políticas públicas no Canadá, nos EUA, na Europa, na China, em todos os países que têm veleidades de impulsionar sua indústria.

O texto “Avanços, equívocos e instabilidade das políticas de inovação no Brasil” faz breve retrospecto e avaliação das políticas de inovação, e elas são recentes. A política pública brasileira nem sempre foi muito coerente, ora flertando com inovação, ora tendo recaídas mais tradicionais. Já o texto “O Brasil e a nova onda de manufatura avançada” aborda tema crucial que vem sendo discutido com grande ênfase no exterior, mas parece muito inerte no Brasil: a transformação da manufatura pela integração de máquinas, internet das coisas, aprendizagem de máquina/inteligência artificial, big data, fotônica, eletrônica híbrida, nano e biotecnologia/bioprocessos. Esse processo recebe o nome da manufatura avançada nos eua e, com foco menos em bio e em componentes eletrônicos, de indústria 4.0 na Alemanha. A China também tem seu programa, ambicioso. Esses programas são analisados no texto, e questões são colocadas para a elaboração de políticas públicas no Brasil - políticas públicas ambiciosas ousadas pululam no mundo.

Mas nem só de grande empresa vive a transformação do sistema produtivo. Há poucos mais de dez anos o Brasil está assistindo a um saudável movimento de criação de empresas de base tecnológica, que aqui chamaremos de startups. Esse movimento já gerou algumas empresas muito interessantes e pode contribuir bastante para melhorar a qualidade da produção nacional. Esse panorama é discutido no texto “Inovação e empreendedorismo: políticas públicas e ações privadas”.

A discussão colocada pelos textos pode levar a inúmeros desdobramentos. Um, mais direto, de pensar a estrutura produtiva e políticas industriais mais contemporâneas. Outro seria discutir as repercussões éticas, morais e societais dessas transformações, particularmente aquelas capitaneadas pela aprendizagem de máquina/inteligência artificial em associação com big data. Grandes desafios exigem elaborações à altura. O dossiê busca dar sua contribuição.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Nov 2017
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