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Réplica

CARTA AO EDITOR

Réplica

Em resposta às questões levantadas pela Dra Maria Bernadete Fernandes Chedid sobre nosso trabalho: Pneumonia adquirida na comunidade em pacientes tratados ambulatorialmente: aspectos epidemiológicos, clínicos e radiológicos das pneumonias atípicas e não atípicas. J Pneumol 26(1) — jan/fev de 2000.

Questão no 1:

É possível a detecção de anticorpos da classe IgG para C. trachomatis no teste ELISA (enzyme linked immunosorbent assay) utilizado, já que é dirigido contra as três espécies (C. trachomatis, C. pneumoniae e C. psittaci).

Questão no 2:

Não podemos garantir que o aumento de três vezes no título sérico tenha sido somente pela espécie C. pneumoniae. Sabemos que o teste não é específico. Porém, seria muita coincidência que todos os pacientes tivessem quadro clínico e radiológico para pneumonia e infecção genital ativa, já que houve variação no título.

Questão no 3:

A questão de no 3 é igual à de no 2. Somente faremos a observação de que não fizemos pesquisa para S. pneumoniae que ainda é o primeiro agente mais freqüente como causa da PAC. Não sabemos a real incidência desse agente no Brasil; portanto, não podemos afastar a possibilidade de que esses pacientes tivessem pneumonia S. pneumoniae associada, ou como causa isolada, ou por outro agente não pesquisado, ou outro agente ainda não descrito na literatura. Lembramos que 30 a 50% da etiologia de PAC ainda é desconhecida.

Questão no 4:

Esta questão tem o mesmo teor das demais, ou seja, atribuir um resultado falso-positivo em função do teste utilizado. Tivemos a preocupação de testar os soros pareados dos pacientes numa mesma série, para diminuir a possibilidade de erros técnicos. O valor do ponto de corte clínico calculado foi designado para diminuir a possibilidade de resultado falso-positivo. Se pudéssemos ter a cultura do material, que é considerado padrão-ouro, realizada nos pacientes submetidos ao teste ELISA, poderíamos responder a todas essas questões(1). Pois, nem utilizando MIF (microimunofluorescência), que é específico para C. pneumoniae, estaremos livres de termos resultados falso-positivos(2).

O teste ELISA, em momento algum no estudo, é recomendado para pesquisa de C. pneumoniae. Ele foi utilizado para pesquisa de Chlamydia sp. Existem na literatura indicações desse tipo de teste para pesquisa de Chlamydia sp(3,4).

A referência de no 18, citada no estudo, e não a de no 21, como citado pela leitora, trata de um estudo realizado por Kerttula et al. Nesse, 162 pacientes foram avaliados. Eles se utilizaram dos testes fixação de complemento e ELISA para diagnóstico de Chlamydia sp. Os casos positivos eram confirmados por imunofluorescência. O agente etiológico foi identificado em 79 pacientes (49,4%). Entre os agentes identificados, Chlamydia sp esteve presente em 15 pacientes (10 dos quais não foram detectados pela fixação de complemento, mas foram pelo teste ELISA e confirmados por imunofluorescência — neste estudo também não houve determinação da espécie). Existe um outro estudo de Ladany et al.(5) mostrando a possibilidade de utilizar um teste ELISA para diagnóstico de C. pneumoniae. Eles descrevem o desenvolvimento e avaliação desse tipo de teste para diferenciar anticorpos da classe IgG de C. trachomatis de C. pneumoniae, eliminando a reatividade cruzada entre elas extraindo lipopolissacáride (LPS) comum com uma solução quelante e detergente. Como não foi esse o teste utilizado em nosso estudo, não foi colocado entre as referências. Diversos estudos utilizando do teste ELISA específico C. pneumoniae têm sido publicados, recentemente. Em correspondência com Dr. Grayston, ele nos conta dos resultados desapontadores com testes ELISA. Sabemos que MIF ainda é o mais específico para C. pneumoniae e, de forma bastante animadora, nos diz que estudos em pneumonia nunca são fáceis.

No Brasil, a pesquisa em etiologia de pneumonia adquirida na comunidade ainda caminha a passos muito lentos. Temos que lidar com várias limitações, por exemplo, testes específicos não disponíveis e, sempre, muito caros, inviabilizando qualquer projeto de pesquisa. Mas isso não significa que desistiremos desse projeto.

ROSALI TEIXEIRA ROCHA

ANNA CRISTINA VITAL

CLYSTENES ODYR S. SILVA

CARLOS ALBERTO DE CASTRO PEREIRA

JORGE NAKATANI

Universidade Federal de São Paulo (Unifesp-EPM)

REFERÊNCIAS

1. Campbell JF, Barnes RC, Kozarsky PE, Spika JS. Culture-confirmed pneumoniae due to Chlamydia pneumoniae. J Infect Dis 1991;164: 411-413.

2. Verkooyen RP, Hazenberg MA, Van Haaren GH, et al. Age-related interference with Chlamydia pneumoniae microimmunofluorescence serology due to circulating rheumatoid factor. J Clin Microbiol 1992;30: 1287-1290.

3. Ridgway GL, Taylor-Robinson D. Current problems in microbiology: Chlamydial infections: Which laboratory test? J Clin Pathol 1991;44: 1-5.

4. Theharne JD, Forsey T. Chlamydial serology. Br Med Bull 1983;39: 194-200.

5. Ladany S, Black CM, Farshy CE, Ossewaarde JM, Barnes RC. Enzyme immunoassay to determine exposure to Chlamydia pneumoniae (strain TWAR). J Clin Microbiol 1989;27:2778-2783.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jun 2003
  • Data do Fascículo
    Set 2000
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