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Categorias Sintáticas Vazias e Retração de Acento em Português Brasileiro

Empty Categories and Stress Retraction in Brazilian Portuguese

Resumos

Este artigo trata da interface fonologia-sintaxe no que diz respeito às regras rítmicas, mais precisamente do papel que as categorias vazias têm na aplicação de regras rítmicas (cf. Lightfoot 1976, Postal & Pullum 1978, Andrews 1978, Jaeggli 1980, Freidin & Lasnik 1981). São examinadas sentenças em que há a possibilidade de um encontro acentual do tipo [V cv Adv], em que V é um verbo com acento final, cv é uma categoria vazia e Adv é um advérbio com acento na primeira sílaba. Defendemos que o encontro acentual com esta configuração sintática pode ser resolvido via retração do primeiro acento para a sílaba anterior se a categoria vazia é um vestígio de movimento, mas não se é um pronome nulo (pro).

vestígio; pronome nulo; encontro acentual; ritmo


This paper deals with the interface phonology-syntax by discussing the role of empty categories in the application of rhythmic rules (see among others Lightfoot 1976, Postal & Pullum 1978, Andrews 1978, Jaeggli 1980, Freidin & Lasnik 1981). I examine configurations of potential stress clash of the sort [V ec Adv], where V is a verb with stress on its final syllable, ec is an empty category, and Adv is an adverb with stress on its first syllable. I argue that the stress clash in such environment can be resolved by retraction of the first stress if ec is a trace of movement, but not if it is a null pronoun (pro).

trace; null pronoun; stress clash; rhythmic rules


CATEGORIAS SINTÁTICAS VAZIAS E RETRAÇÃO DE ACENTO EM PORTUGUÊS BRASILEIRO* * Este trabalho é resultado de pesquisas realizadas dentro do projeto "Pesquisas em Sintaxe Minimalista", coordenado por Jairo M. Nunes. Agradeço a ele, a Charlotte Galves, Filomena Sândalo e Ester M. Scarpa os comentários e discussões. Versões anteriores foram apresentadas no II Congresso Internacional da ABRALIN (2001) e no Workshop on Empty Categories and Ellipsis (2001). Os mal-entendidos que permanecem são, é claro, meus.

(Empty Categories and Stress Retraction in Brazilian Portuguese)

Raquel SANTOS

(USP/UNICAMP)

ABSTRACT: This paper deals with the interface phonology-syntax by discussing the role of empty categories in the application of rhythmic rules (see among others Lightfoot 1976, Postal & Pullum 1978, Andrews 1978, Jaeggli 1980, Freidin & Lasnik 1981). I examine configurations of potential stress clash of the sort [V ec Adv], where V is a verb with stress on its final syllable, ec is an empty category, and Adv is an adverb with stress on its first syllable. I argue that the stress clash in such environment can be resolved by retraction of the first stress if ec is a trace of movement, but not if it is a null pronoun (pro).

KEY-WORDS: trace, null pronoun, stress clash, rhythmic rules.

RESUMO: Este artigo trata da interface fonologia-sintaxe no que diz respeito às regras rítmicas, mais precisamente do papel que as categorias vazias têm na aplicação de regras rítmicas (cf. Lightfoot 1976, Postal & Pullum 1978, Andrews 1978, Jaeggli 1980, Freidin & Lasnik 1981). São examinadas sentenças em que há a possibilidade de um encontro acentual do tipo [V cv Adv], em que V é um verbo com acento final, cv é uma categoria vazia e Adv é um advérbio com acento na primeira sílaba. Defendemos que o encontro acentual com esta configuração sintática pode ser resolvido via retração do primeiro acento para a sílaba anterior se a categoria vazia é um vestígio de movimento, mas não se é um pronome nulo (pro).

PALAVRAS-CHAVE: vestígio, pronome nulo, encontro acentual, ritmo.

1. Introdução

Este trabalho trata da relação entre sintaxe e fonologia no que diz respeito a regras rítmicas. Nosso objetivo é mostrar que categorias sintáticas foneticamente não realizadas podem interferir na organização rítmica dos enunciados; mais precisamente, que um pronome foneticamente nulo (pro) pode impedir a retração de acento nos casos de encontro acentual entre verbo e advérbio. Por exemplo, em (1a) é possível que o encontro acentual seja desfeito movendo-se o primeiro dos dois acentos para a sílaba anterior, enquanto que em (1b) esse movimento de acento não é possível:1 1 Há várias maneiras de se resolver um encontro acentual: inserir uma pausa, mudar o tom da sílaba, enfraquecer/ apagar um acento, mover um dos acentos do encontro, além da possibilidade de se manter o encontro (cf. Nespor & Vogel 1986). Neste trabalho, estaremos enfocando apenas o movimento do primeiro acento para a sílaba precedente. Para muitos falantes o contraste entre as sentenças com e sem retração do acento não é tão claro. No entanto, é possível perceber uma clara direcionalidade nos julgamentos: pode haver falantes que não estão certos de que a retração do acento em (1a), por exemplo, seja possível, mas não parece haver falantes que tenham julgamento oposto ao reportado em (1), ou seja, que aceitam retração de acento em sentenças como (1b), mas não em sentenças como (1a). Os julgamentos reportados neste trabalho se referem a um inquérito feito a três informantes que, ouvindo as sentenças com o encontro acentual desfeito, diziam se as mesmas eram aceitáveis ou não. ,2 2 Quando não estivermos construindo as grades métricas para os exemplos, usaremos as letras em forma maiúscula para indicar a localização do acento. Uma vez que o asterisco indica agramaticalidade sintática, estaremos usando o # para indicar a agramaticalidade prosódica de um enunciado.

Este trabalho se organiza da seguinte maneira. Nas duas primeiras seções definimos o que entendemos por choque acentual dentro da proposta da fonologia prosódica por nós adotada e apresentamos alguns estudos em fonologia que discutem a influência de categorias sintáticas foneticamente vazias, detalhando o problema a ser discutido neste trabalho. A seção 3 trata da discussão sintática sobre as categorias vazias. Na seção 4 analisamos nossos dados, envolvendo categorias sintáticas vazias e aplicação de regras rítmicas. Finalmente, na seção 5 resumimos nossas observações e apontamos algumas questões que passam a merecer atenção, tanto por teorias fonológicas quanto por teorias sintáticas.

2. Choque de acento

Pesquisas em fonologia prosódica discutem uma série de fenômenos fonológicos que levam em conta – direta ou indiretamente – a estrutura sintática dos enunciados. Alguns dos processos mais conhecidos são, por exemplo, o Raddoppiamento Sintattico e a Espirantização Intervocálica em italiano, o Flapping em inglês americano (Nespor & Vogel 1986), o Foco em japonês e algumas línguas bantu (Truckenbrodt 1995) e a Liaison em francês (Postal & Pullum 1978, Nespor & Vogel 1986). Frota (1995) e Abousalah (1997) argumentam que a resolução do encontro acentual em português europeu e brasileiro, respectivamente, também é sensível às estruturas sintáticas. Neste trabalho, pretendemos demonstrar que categorias sintáticas foneticamente não realizadas também podem ser consideradas para a computação prosódica.

Antes disso, no entanto, cumpre explicitarmos o que significa acento e choque de acordo com uma proposta prosódica. O acento é uma propriedade relacional (isto é, só é possível dizer que um determinado segmento é acentuado se o comparamos a outros que não o são). Assim, a acentuação é analisada numa relação entre sílabas acentuadas e não-acentuadas, numa relação de proeminências. Outra característica fonológica da acentuação é que se pode falar de graus de acentuação ou de proeminência: acento frasal – aquele que normalmente carrega o foco, é atribuído a uma sentença; acento primário – o acento de palavra; acento secundário – acento acessório ou dependente do acento primário para sua atribuição, podem ocorrer vários por palavra. Segundo Nespor & Vogel (1986), as informações prosódicas estão organizadas em sete níveis ou domínios hierárquicos: sílaba (s), pé (S), palavra fonológica (w), grupo clítico (C), frase fonológica (f), frase entonacional (I) e enunciado (U). Os níveis acima da palavra fonológica (esta incluída) seriam construídos a partir de noções não-fonológicas, ou seja, levando em conta informações de outros componentes da gramática (morfologia, sintaxe, semântica). A palavra fonológica e o grupo clítico fariam uso de noções morfo-fonológicas; a frase fonológica usa de noções sintáticas; a frase entonacional usa de informações sintáticas e semânticas; e o enunciado usa de informações semântico-discursivas.

Ao linearizarmos sentenças, pode acontecer de dois acentos ficarem contíguos, caracterizando o que chamamos de choque acentual. Esses encontros de acento são evitados nas línguas devido a princípios que requerem que entre duas posições acentuadas deva haver uma – e somente uma – posição não-acentuada (Princípio de Alternância Rítmica – Selkirk 1984; Regra Rítmica – Takezawa 1981). De acordo com Nespor & Vogel, as línguas diferem no quão tolerantes são a esses choques de acento. Essa tolerância estaria relacionada ao nível prosódico em que esses acentos estariam se chocando. Segundo Frota (1995) e Abousalh (1997), o português (europeu e brasileiro) é sensível ao encontro acentual dentro do nível ö, que na sua formação leva em conta informações sintáticas.

Nespor & Vogel (1986: 168; 173) propõem que a formação de ö obedece às seguintes instruções:3 3 As autoras assumem a Teoria de Princípios e Parâmetros na versão de Chomsky (1981).

I. f domain: The domain of f consists of a C which contains a lexical head (X) and all Cs on its nonrecursive side up to the C that contains another head outside the maximal projection of X.

II. f construction: Join into an n-ary branching f all Cs included in a string delimited by the definition of the domain of f.

III. f reestructuring (optional): a nonbranching f which is the first complement of X on its recursive side is joined into the f that contains X.

De acordo com essa definição de ö, a sentença em (2a) deve ser mapeada como em (2b):

Com a reestruturação de f em (2b) os dois acentos contíguos passam a estar dentro do mesmo f, e assim o encontro pode ser desfeito com a mudança do primeiro acento para a sílaba imediatamente anterior em C, como pode ser visto em (3):

No entanto, o que podemos observar é que nem sempre o encontro de acentos pode ser desfeito, como observamos em (4):

A retração de acento em (4a) é opcional; no entanto, a retração em (4b) causa estranhamento. A opcionalidade do movimento do acento em (4a) – bem como em outros exemplos de encontro acentual – se deve ao fato de que o encontro pode ser resolvido de outras maneiras, como já dito. A questão é por que o movimento de acento é possível em (4a) mas não em (4b)? Nossa hipótese é que (4b) não pode ter seu encontro acentual desfeito através da retração de acento porque, apesar de superficialmente o verbo e o advérbio estarem contíguos, estruturalmente há uma posição preenchida – por um pronome foneticamente nulo (pro) – entre eles.

3. Influência de Categorias Sintáticas Vazias em Processos Fonológicos

As propostas de que outros componentes gramaticais podem estar influenciando fenômenos fonológicos não são novas. Kaisse (1985) defende que algumas regras fonológicas dependem exclusivamente de relações sintáticas (mais especificamente do que se entende como relação de m-comando segundo a teoria da Regência e Ligação) entre os itens lexicais. Já Selkirk (1984) e Nespor & Vogel (1986) tentam relacionar os diferentes componentes da gramática propondo que as regras fonológicas ocorrem em domínios prosódicos formados através da interação da fonologia com os diferentes componentes (morfologia, sintaxe, semântica). Segundo as autoras, esta relação vai se dar indiretamente: a prosódia vai usar informações dos outros componentes para construir seus domínios prosódicos. Uma vez construídos os domínios, a fonologia não tem mais acesso aos outros componentes.4 4 Há estudos, por outro lado, que mostram que a ordenação de sintagmas sintáticos pode ser sensível a informações fonológicas (cf. Frota 1995, Zubizarreta 1998, Frascarelli 1999, Keller & Alexopodou 1999 – este último numa visão da teoria da Optimalidade). No que diz respeito especificamente à sintaxe, Nespor & Vogel afirmam haver duas hipóteses que consideram o acesso da fonologia.

Na versão forte, todos os elementos foneticamente vazios (vestígio de NP, PRO, vestígio-Wh, etc) teriam o mesmo status que itens lexicais com realização fonética e bloqueariam adjacência; já na versão mais fraca, apenas os elementos marcados por Caso seriam capazes de bloquear certas operações fonológicas.

Um dos fenômenos prosódicos mais conhecidos que leva em conta as categorias vazias é a contração do inglês ("wanna-contraction") 5 5 Ver Lightfoot (1976), Andrews (1978), Chomsky & Lasnik (1978), Postal & Pullum (1978), Jaeggli (1980), Freidin & Lasnik (1981) e Aoun, Honstein, Lightfoot & Weinberg (1987), entre outros. . Muitas das análises desse fenômeno vão defender que a contração pode ou não ocorrer dependendo da categoria sintática vazia que intervém entre want e to, como pode ser observado nos exemplos (5), (6) e (7):

As propostas de análise são reformuladas à medida que mudanças no quadro teórico redefinem as propriedades das categorias vazias. Por exemplo, Jaegli (1980), que assume o quadro teórico de Chomsky (1982) em que PRO difere de vestígio-Wh por não ter Caso, propõe que é esse traço que é relevante para o fenômeno. Nesta análise, a contração em (5) é permitida porque PRO não tem traço de Caso, enquanto que em (6) e (7) a contração é bloqueada porque vestígio-Wh e vestígio de NP, respectivamente, têm esse traço.

Uma vez no quadro do Programa Minimalista, as restrições sobre "wanna-contraction" não podem mais ser descritas exatamente nesses termos. Para Chomsky (1995), PRO é marcado com Caso nulo, enquanto que vestígio deixa de existir como primitivo teórico e passa a ser analisado como uma cópia do elemento movido (marcado com outros tipos de Caso). Já para Hornstein (1999), PRO controlado também deve ser tratado como um vestígio do elemento que o controla. Em ambas as análises, perde-se a distinção que Jaeggli fazia para explicar "wanna –contraction".

No caso da retração de acento, Nespor & Vogel (1986:55) argumentam que construções envolvendo vestígio-Wh constituem um contra-exemplo para a versão forte da influência da sintaxe na fonologia, pois a retração pode (cf. (8) (9) e (10)) ou não (cf. (11)) ocorrer quando o vestígio-Wh está entre os itens lexicais em encontro acentual. A proposta das autoras é que os choques acentuais acima podem ou não ser desfeitos levando-se em conta apenas informações sobre o contorno entonacional das sentenças

Como mencionado na introdução, a retração do acento no português brasileiro parece ser sensível à presença de categorias vazias. Reconsideremos as sentenças em (12), repetidas abaixo:

O mapeamento prosódico no domínio de ö para ambas as sentenças de (12) é o que se segue:6 6 Chamamos a atenção para o fato de que Nespor & Vogel não fazem distinção entre complementos e adjuntos em seu algoritmo. As sentenças (8) a (11) na verdade indicam que os adjuntos também podem ser reestruturados num mesmo f (para um tratamento diferente da questão, cf. Selkirk 1984). Qualquer que seja o estatuto gramatical dos advérbios (adjuntos ou complementos larsonianos), isso não afeta nossas conclusões, pois o mesmo tipo de advérbio foi usado em estruturas com pro e vestígio. ,7 7 Utilizamos em nosso trabalho sempre uma mesma classe de advérbios para criar os ambientes necessários ao contraste entre pro e vestígio. Um interessante tópico para pesquisa sugerido por Filomena Sândalo, que foge ao alcance desta pesquisa, seria verificar (independentemente da questão das categorias vazias) se diferentes classes de advérbios se comportam da mesma maneira em relação à retração de acento.

Se somente informações fonológicas devessem ser computadas nos mapeamentos prosódicos de (13), as duas sentenças de (12) deveriam ter comportamento semelhante em relação a retração de acento, o que não ocorre. Se, no entanto, atentarmos para diferenças sintáticas entre as sentenças de (12), observamos que a estrutura (13b), correspondente a (12b), deve ter entre o verbo e o advérbio uma categoria sintática foneticamente vazia ocupando a posição de objeto (um objeto nulo), o que não ocorre com a estrutura (13a), correspondente a (12a), que envolve um verbo intransitivo (ou um verbo transitivo "usado intransitivamente"). Portanto, é plausível tomar o objeto nulo da estrutura correspondente a (12b) como o responsável por impossibilitar a retração de acento. Explorando essa hipótese, investigaremos nas próximas seções o comportamento de dois tipos de "objetos nulos", pro e vestígio, em relação ao bloqueio de retração de acento.

4. Objeto nulo, pro e vestígio

Raposo (1986) propôs para o português europeu que o objeto nulo é um vestígio deixado pelo movimento para a posição de COMP de um operador nulo co-indexado ao tópico nulo do discurso. O autor defende que o objeto nulo seja um vestígio com base no fato de que sentenças contendo objetos nulos dentro de ilhas são inaceitáveis, como ilustrado em (14), com uma oração relativa, e (15), com uma oração subjetiva:

O fato de construções com objeto nulo em PE serem sensíveis a configurações de ilha indica que a categoria vazia na posição de objeto é resultado de movimento. Se essa analise pudesse ser estendida ao português brasileiro, uma sentença como (12a) deveria ser analisada como em (16):

Galves (1989), entretanto, demonstra que os efeitos de ilha apontados por Raposo não se aplicam ao português brasileiro. Nessa língua, as sentenças (14) e (15) são plenamente aceitáveis. Galves propõe então que o objeto nulo em português brasileiro é um pro gerado na base e ligado a um sujeito externo, não precisando de um operador nulo para ser licenciado.8 8 Para diferentes análises da ausência de efeitos de ilha em construções com objeto nulo em PB, ver, entre outros, Kato (1993), Cyrino (1994) e Ferreira (2000). Assumindo que essa análise está essencialmente corretas, a representação da sentença (12a) em PB deve ser como em (17), e não como em (16):

Com base na inaceitabilidade de (12b), podemos então concluir que em PB a categoria vazia pro bloqueia retração de acento:

No entanto, nada podemos concluir a respeito dos vestígios, se se comportam ou não da mesma maneira que pro. Uma maneira para testar se a resolução de acento leva em conta ou não o tipo de categorias vazias na posição de objeto é criar contextos em que as duas categorias em questão – pro e vestígio – possam ser claramente identificadas. Novamente, ilhas fornecem o contexto ideal para o teste.

Consideremos, por exemplo, construções envolvendo expressões focalizadas em início de sentença. Se o foco for gerado na base e houver um pro preenchendo a posição relevante no interior das ilhas, as sentenças devem ser boas, porque não envolvem movimento. Por outro lado, se o foco for resultado de movimento, quando o foco é extraído de ilhas, o esperado é que as sentenças sejam inaceitáveis. Vejamos:

Todas as sentenças acima são inaceitáveis, o que indica que os elementos focalizados foram movidos de dentro das ilhas. O foco foi extraído de uma oração adverbial em (19a), de uma oração relativa em (19b), de uma oração completiva nominal em (19c) e de uma oração em posição de sujeito em (19d).

Uma vez que é possível confirmar que o foco envolve movimento e que, portanto, a categoria vazia relevante é um vestígio, podemos agora examinar sentenças que envolvem foco, mas não contém ilhas, pois as categorias vazias relevantes em posição de objeto também corresponderão a vestígios:

Em (20a) e (20b) temos duas sentenças simples, em que os elementos focalizados são complemento de verbo. Nas sentenças (20c) e (20d), os elementos focalizados são extraídos de dentro de orações encaixadas, mas que não se constituem ilhas. Todas as sentenças são sintaticamente aceitáveis, o que indica que o movimento "longo" de elementos focalizados é permitido, desde que não extraído de ilhas.

Construções envolvendo tópicos em PB, por outro lado, são insensíveis a ilhas, conforme ilustrado abaixo (cf. Galves 1989, Kato 1993, Cyrino 1994 e Ferreira 2000, entre outros, para discussão relevante):

Em (21a), (21b) e (21c) temos uma oração adverbial, uma relativa e uma completiva nominal, respectivamente. Mesmo assim, as sentenças acima são aceitáveis, o que indica que, ao menos nos casos em que há ilhas envolvidas, não há movimento de constituintes para fora das mesmas10 10 A possibilidade em italiano de um clítico resumptivo poder ser associado a um tópico, mas não a um foco (cf. Cinque 1990), é mais um indício de que o tópico pode ser gerado na base enquanto que o foco é resultado de movimento (Cinque 1990). Evidência adicional para essa análise se encontra em Rizzi (1997), que observa que as construções com tópico não provocam nenhum efeito de " weak cross-over", ao contrário das construções com foco. . O que ocorre nestes casos é que o tópico é gerado na base, e temos um pro preenchendo a posição de objeto (cf. Galves 1989, Kato 1993, Cyrino 1994, Ferreira 2000 entre outros):

No entanto, nada em princípio impede que construções com tópico também possam ser resultado de movimento, caso não haja ilhas envolvidas. Sentenças como (23) e (24) são, portanto, estruturalmente ambíguas: podem envolver pro ou vestígio, como representado em (a) e (b):

Uma vez encontrado ambientes em que possamos claramente definir quais as categorias sintáticas foneticamente vazias que estão em jogo, podemos identificar se pro e vestígios têm comportamento semelhante na organização rítmica dos enunciados.

5. Pro, vestígio e retração de acento

Conforme apresentado, as sentenças com ilha envolvendo foco não podem ser checadas quanto à possibilidade do primeiro acento ser movido para a resolução do encontro acentual porque as sentenças não são aceitáveis do ponto de vista sintático. No entanto, uma vez que foi possível confirmar que o foco envolve movimento, podemos agora checar a retração de acento em sentenças simples que envolvam foco:11 11 Lembramos que a resolução do encontro acentual é opcional, qualquer que seja a estratégia utilizada (retração de acento, pausa, tons, alongamento de sílaba, etc).

Como é possível observar em (25) a (29), a retração do primeiro acento é permitida, o que nos permite concluir que a categoria vestígio não é "enxergada" como intervindo entre os dois acentos.

No que se refere ao tópico, as sentenças com ilha são aceitáveis, o que, como vimos, significa que o tópico está sendo gerado na base e há um pro preenchendo a posição dentro da ilha. Vejamos agora a possibilidade de retração de acento. Para tanto, comparemos as sentenças com ilhas – portanto, com um pro – com sentenças sem ilha – podendo, portanto ser resultado de movimento:12 12 Usaremos o símbolo "$" para indicar os níveis de inaceitabilidade prosódica (analogamente a "?" para a sintaxe)

As sentenças com ilha, embora aceitáveis na sintaxe, são sempre consideradas degradadas quando envolvem retração do acento, ao contrário das sentenças simples, que não envolvem ilhas.13 13 Conforme apontado por Charlotte Galves e Filomena Sândalo (c.p.), numa sentença como em (i) é possível fazer retração de acento. (i) essa música, o João chamou a atenção depois que cantou hoje Isso indica que a categoria pro é "enxergada" pelas regras fonológicas responsáveis pela resolução de encontros acentuais. No caso de sentenças simples envolvendo tópico, como já dissemos, o mesmo pode ser resultado ou de pro ou de movimento. Neste caso, a resolução de acento será possível, uma vez que há a possibilidade de a construção ser resultado de movimento.

6. Contrastes Adicionais

Ferreira (2000:98) propõe que o pronome nulo que ocupa a posição de objeto em português brasileiro não tem traço de Caso e, como tal, pode ocorrer como complemento de verbos que não atribuem Caso acusativo. Em (33) e (34), por exemplo, os verbos cuidar e lembrar não são suficientes para checar o Caso do objeto e requerem a presença da preposição de. No entanto, tanto as sentenças (35) – com a preposição – , quanto (36) – sem a preposição-, são aceitáveis:

De acordo com a análise de Ferreira, sentenças como (35a) e (35b) seriam resultado de movimento, enquanto que em (36a) e (36b) o elemento topicalizado é gerado na posição de tópico, e há um pro preenchendo a posição de complemento do verbo, como representado abaixo:

Para o contraste apontado por Ferreira, podemos observar que há uma degradação na aceitabilidade da retração de acento nos casos em que pro intervém entre o verbo e advérbio (39b) e (40b):

Apesar de o contraste ser sutil, os exemplos acima indicam que mesmo para as sentenças simples sem intervenção de ilhas, pro é levado em conta e influencia – impedindo – a resolução do encontro acentual, enquanto vestígios são invisíveis para a regra de retração de acento.14 14 Conforme apontado por Charlotte Galves (c.p.), talvez a retração de acento pudesse ser influenciada pelo contorno entonacional. Nas sentenças (i) e (ii) abaixo temos tópico mais foco contrastivo no advérbio e foco neutro, respectivamente, e em ambas o acento pode ser retraído:

7. Considerações Finais

Como nos foi possível observar, as categorias vazias pro e vestígio comportam-se de maneira diferente em relação a regras prosódicas. Embora superficialmente possamos ter o encontro acentual entre cortou e ontem tanto em (41a) quanto em (42a), por exemplo, pro é "enxergado" pela regra de retração de acento em (41b), impedindo sua aplicação, mas o vestígio em (42b) é desconsiderado e a retração de acento pode ocorrer.

Assumindo que essa descrição dos fatos esteja correta, uma pergunta que surge é por que pro e vestígio recebem tratamento diferente. Se vestígios forem cópias apagadas, como defendido por Chomsky (1995), a invisibilidade de vestígios descrita acima nos leva a concluir que o apagamento de cópias se dá antes que o acento seja computado. Essa conclusão é compatível com a proposta de Nunes (1995, 1999), de acordo com a qual cópias são apagadas no componente fonológico para permitir que a estrutura sintática seja linearizada de acordo com o Axioma de Correspondência Linear de Kayne (1994). Posto de forma resumida, Nunes (1995, 1999) argumenta que se cópias são em certo sentido um mesmo elemento, já que fazem parte de uma cadeia, uma estrutura como (43a), por exemplo, não pode ser linearizada pois o verbo was deveria preceder e ser precedido por John. A operação de Redução de Cadeias então apaga a cópia mais baixa de (43a), permitindo que a estrutura seja linearizada como em (43b):

Ou seja, de acordo com essa proposta, teríamos a seguinte ordenação de operações no componente fonológico: Redução de Cadeias (= apagamento de cópias) >> Linearizar. A distinção entre pro e vestígios no que diz respeito à retração de acento pode agora ser explicada se o Parsing Prosódico ocorrer depois de Linearizar: "vestígios" são eliminados por Redução de Cadeias antes do Parsing Prosódico e não interferem com a regra de retração de acento; por outro lado, pro, enquanto item lexical que ocupa um posição sintática, é linearizado e está presente no momento em que ocorre o Parsing Prosódico, bloqueando retração de acento.15 15 No entanto, pro tem traços formais que devem ser eliminados no componente fonológico, caso contrário a derivação não convergirá. Essa eliminação deve ocorrer depois do Parsing Prosódico, caso contrário pro não seria computado para a retração de acento. Nunes (1995) propõe que esses traços são eliminados pela operação FF-Elimination, que ocorre depois de Linearizar. Como vimos, como o Parsing Prosódico deve ocorrer depois de Linearizar e deve levar em conta pro, esses fatos indicam que a ordenação das operações é: Redução de Cadeias >> Linearizar >> Parsing Prosódico >> FF-Elimination. ,16 16 Uma pergunta que se coloca é se o fenômeno da resolução do encontro acentual pode ser relacionado com o fenômeno do wanna-contraction.Uma possibilidade de análise seria considerar o fenômeno como um processo morfológico, que ocorreria antes do LCA (Chomsky 1995) e antes de Redução de Cadeias (Nunes 1999). De acordo com Chomsky (1995) e Nunes (1999), o LCA não se aplica internamente a palavras. No caso do wanna-contraction, o PRO que intervém entre as duas palavras seria reanalisado morfologicamente, não sendo visto pelo Linearização. A ordenação das regras seria, então: Spell-Out>> Morfologia>> Redução de Cadeias>> Linearizar Analisado desta maneira, a razão porque PRO não é enxergado pelo Parsing Prosódico se deve ao fato de que foi reanalisado morfologicamente e tornado invisível para a linearização, enquanto que pro está presente na estrutura e pode bloquear a retração.

Independentemente da maneira como analisarmos as categorias sintáticas pro e vestígio, outras questões teóricas, desta vez fonológicas, se colocam. Apesar da proposta de Nespor & Vogel não admitir a possibilidade de a fonologia enxergar categorias vazias, nossos dados parecem indicar que essa visibilidade é possível. Neste caso, a questão é saber o que fonologia enxerga, uma vez que pro não tem traços fonológicos. Uma possibilidade é que a fonologia enxergando os traços formais17 17 Conforme nota 15, a operação FF-Elimination, que visaria a apagar os traços formais de modo que a derivação convirja, ocorre depois do Parsing Prosódico. Tal fato significa que os traços formais ainda são visíveis para a fonologia quando o Parsing Prosódico ocorre. (e talvez semânticos) de pro.

Outra questão é como explicar que a fonologia é capaz de mapear prosodicamente elementos foneticamente nulos. Uma possível resposta seria dizer que a fonologia tem acesso direto a informações de outros componentes – o que iria de encontro à afirmação de Nespor & Vogel de que o acesso da fonologia é sempre indireto. Segundo as autoras, o mapeamento prosódico cria os constituintes prosódicos a partir de constituintes de outros componentes (morfológico, sintático, semântico), e é sobre estes constituintes prosódicos que as operações fonológicas incidem. Uma vez criado o constituinte prosódico, não há mais menção aos constituintes dos outros componentes da gramática que o geraram, nem às suas propriedades enquanto constituintes de outros componentes.18 18 Por exemplo, no caso no nível da palavra fonológica. Esta pode ser menor, maior ou igual à palavra lexical. Para criar a palavra fonológica, o Parsing Prosódico leva em conta informações morfológicas (raiz, morfemas); mas uma vez que a palavra fonológica é criada, todas as operações que a tem como domínio só levam a sua extensão, ignorando outras informações lexicais que a palavra lexical poderia carregar.

Outra possível análise seria redefinir as formas de mapeamento prosódico. De acordo com Nespor & Vogel, todos os elementos de um determinado nível devem ser exaustivamente mapeados e não é possível que um elemento seja considerado em um nível e não o seja em outros (condições de Exaustividade e Strict Layer Hypothesis). De acordo com nossos dados, pro é enxergado para a retração de acento, que ocorre no nível de f. Seguindo as condições propostas por Nespor & Vogel, teríamos que postular que pro recebe uma "batida" – forte ou fraca – em todos os níveis da grade métrica – e neste caso, cabe então apontar até que nível ele seria considerado independente – w C ou f, e se ele permitiria a reestruturação de f. Uma outra possibilidade a ser considerada é que o parsing prosódico mapeia os espaços vindos da sintaxe. pro funcionaria como um afixo ao verbo, e ocuparia um espaço não preenchido pela fonologia, mas que não permitiria a reestruturação prosódica19 19 Agradeço a Filomena Sândalo ter me apontado esta possibilidade. .

São várias as questões que nossos dados colocam, tanto para a fonologia quanto para a sintaxe. Aqui apontamos para algumas direções de pesquisas, que ficam para o futuro.

E-mail: raquelss@usp.br

Recebido em julho de 2001

(i) só essas modificações foi surpreendente o João FAzer ONtem.

O fato de (i) ser uma sentença sintaticamente bem formada, independentemente da retração de acento indica que a oração infinitiva ocupa a posição de complemento de surpreendente e, portanto, não é uma ilha. O constituinte focalizado pode, portanto, mover-se para o início da sentença, deixando um vestígio em sua posição original. Vestígios, como veremos, não impedem a retração de acento, daí a aceitabilidade de (i).

Evidência adicional para esta análise está no par de exemplos (ii)-(iii):

(ii) só essas modificações foi recomendado que o João fizesse

(iii0 * só essas modificações que o João fizesse foi recomendado

A sentença (ii) é bem formada, indicando que o elemento focado foi movido de dentro do complemento de recomendar. Por outro lado, a sentença (iii) não é bem formada sintaticamente, indicando que, neste caso, a oração que o João fizesse está preenchendo a posição de sujeito da oração principal, constituindo-se, então, numa ilha para o elemento movido para foco.

No entanto, lembramos que o verbo "cantar" pode ser usado intransitivamente, e nesse caso nada estaria intervindo entre o verbo e o advérbio. Como previsto pela análise acima, se substituímos esse verbo por "lembrar, ouvir", que deveriam requerer pro, a retração fica menos aceitável. Este é exatamente o resultado que temos em (ii) e (iii):

(ii) essa música, o João chamou a atenção depois que lembrou __ hoje

(iii) essa música, o João chamou a atenção depois que ouviu __ hoje

(i) esse casaco, o João disse que VEStiu t HOje e não ontem

(ii) esse casaco, o João disse que VEStiu t HOje

Nas sentenças abaixo, por outro lado, temos foco neutro caindo no advérbio, e todas soam estranhas com retração de acento:

(iii) a. e o livro?

$$ a Maria VENdeu __ ONtem

b. e a tese?

$$ a aluna Mexeu __ ONtem

c. e o comprimido?

$$ o João disse que Tomou __ ONtem

d. e o casaco?

$$ o João disse que VEStiu __ ONtem

O que podemos deduzir disso é que, diferentemente do PE, tópicos nulos em PB são necessariamente gerados na base, e não por movimento. Se pudessem mover-se, as sentenças acima deveriam ser tão boas quanto as de (25) a (29).

Agradeço a Jairo Nunes a discussão sobre esses dados.

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  • *
    Este trabalho é resultado de pesquisas realizadas dentro do projeto "Pesquisas em Sintaxe Minimalista", coordenado por Jairo M. Nunes. Agradeço a ele, a Charlotte Galves, Filomena Sândalo e Ester M. Scarpa os comentários e discussões. Versões anteriores foram apresentadas no II Congresso Internacional da ABRALIN (2001) e no Workshop on Empty Categories and Ellipsis (2001). Os mal-entendidos que permanecem são, é claro, meus.
  • 1
    Há várias maneiras de se resolver um encontro acentual: inserir uma pausa, mudar o tom da sílaba, enfraquecer/ apagar um acento, mover um dos acentos do encontro, além da possibilidade de se manter o encontro (cf. Nespor & Vogel 1986). Neste trabalho, estaremos enfocando apenas o movimento do primeiro acento para a sílaba precedente. Para muitos falantes o contraste entre as sentenças com e sem retração do acento não é tão claro. No entanto, é possível perceber uma clara direcionalidade nos julgamentos: pode haver falantes que não estão certos de que a retração do acento em (1a), por exemplo, seja possível, mas não parece haver falantes que tenham julgamento oposto ao reportado em (1), ou seja, que aceitam retração de acento em sentenças como (1b), mas não em sentenças como (1a). Os julgamentos reportados neste trabalho se referem a um inquérito feito a três informantes que, ouvindo as sentenças com o encontro acentual desfeito, diziam se as mesmas eram aceitáveis ou não.
  • 2
    Quando não estivermos construindo as grades métricas para os exemplos, usaremos as letras em forma maiúscula para indicar a localização do acento. Uma vez que o asterisco indica agramaticalidade sintática, estaremos usando o # para indicar a agramaticalidade prosódica de um enunciado.
  • 3
    As autoras assumem a Teoria de Princípios e Parâmetros na versão de Chomsky (1981).
  • 4
    Há estudos, por outro lado, que mostram que a ordenação de sintagmas sintáticos pode ser sensível a informações fonológicas (cf. Frota 1995, Zubizarreta 1998, Frascarelli 1999, Keller & Alexopodou 1999 – este último numa visão da teoria da Optimalidade).
  • 5
    Ver Lightfoot (1976), Andrews (1978), Chomsky & Lasnik (1978), Postal & Pullum (1978), Jaeggli (1980), Freidin & Lasnik (1981) e Aoun, Honstein, Lightfoot & Weinberg (1987), entre outros.
  • 6
    Chamamos a atenção para o fato de que Nespor & Vogel não fazem distinção entre complementos e adjuntos em seu algoritmo. As sentenças (8) a (11) na verdade indicam que os adjuntos também podem ser reestruturados num mesmo f (para um tratamento diferente da questão, cf. Selkirk 1984). Qualquer que seja o estatuto gramatical dos advérbios (adjuntos ou complementos larsonianos), isso não afeta nossas conclusões, pois o mesmo tipo de advérbio foi usado em estruturas com
    pro e vestígio.
  • 7
    Utilizamos em nosso trabalho sempre uma mesma classe de advérbios para criar os ambientes necessários ao contraste entre
    pro e vestígio. Um interessante tópico para pesquisa sugerido por Filomena Sândalo, que foge ao alcance desta pesquisa, seria verificar (independentemente da questão das categorias vazias) se diferentes classes de advérbios se comportam da mesma maneira em relação à retração de acento.
  • 8
    Para diferentes análises da ausência de efeitos de ilha em construções com objeto nulo em PB, ver, entre outros, Kato (1993), Cyrino (1994) e Ferreira (2000).
  • 9
    Como me foi apontado por Charlotte Galves (c.p.), a retração de acento é aceitável em (i), em que aparentemente o constituinte entre colchetes em (19d) se segue ao adjetivo:
  • 10
    A possibilidade em italiano de um clítico resumptivo poder ser associado a um tópico, mas não a um foco (cf. Cinque 1990), é mais um indício de que o tópico pode ser gerado na base enquanto que o foco é resultado de movimento (Cinque 1990). Evidência adicional para essa análise se encontra em Rizzi (1997), que observa que as construções com tópico não provocam nenhum efeito de "
    weak cross-over", ao contrário das construções com foco.
  • 11
    Lembramos que a resolução do encontro acentual é opcional, qualquer que seja a estratégia utilizada (retração de acento, pausa, tons, alongamento de sílaba, etc).
  • 12
    Usaremos o símbolo "$" para indicar os níveis de inaceitabilidade prosódica (analogamente a "?" para a sintaxe)
  • 13
    Conforme apontado por Charlotte Galves e Filomena Sândalo (c.p.), numa sentença como em
    (i) é possível fazer retração de acento.
    (i) essa música, o João chamou a atenção depois que cantou hoje
  • 14
    Conforme apontado por Charlotte Galves (c.p.), talvez a retração de acento pudesse ser influenciada pelo contorno entonacional. Nas sentenças (i) e (ii) abaixo temos tópico mais foco contrastivo no advérbio e foco neutro, respectivamente, e em ambas o acento pode ser retraído:
  • 15
    No entanto,
    pro tem traços formais que devem ser eliminados no componente fonológico, caso contrário a derivação não convergirá. Essa eliminação deve ocorrer depois do
    Parsing Prosódico, caso contrário
    pro não seria computado para a retração de acento. Nunes (1995) propõe que esses traços são eliminados pela operação
    FF-Elimination, que ocorre depois de
    Linearizar. Como vimos, como o
    Parsing Prosódico deve ocorrer depois de Linearizar e deve levar em conta
    pro, esses fatos indicam que a ordenação das operações é: Redução de Cadeias >>
    Linearizar >> Parsing Prosódico >>
    FF-Elimination.
  • 16
    Uma pergunta que se coloca é se o fenômeno da resolução do encontro acentual pode ser relacionado com o fenômeno do
    wanna-contraction.Uma possibilidade de análise seria considerar o fenômeno como um processo morfológico, que ocorreria antes do LCA (Chomsky 1995) e antes de Redução de Cadeias (Nunes 1999). De acordo com Chomsky (1995) e Nunes (1999), o LCA não se aplica internamente a palavras. No caso do
    wanna-contraction, o PRO que intervém entre as duas palavras seria reanalisado morfologicamente, não sendo visto pelo Linearização. A ordenação das regras seria, então:
    Spell-Out>> Morfologia>> Redução de Cadeias>> Linearizar
    Analisado desta maneira, a razão porque PRO não é enxergado pelo
    Parsing Prosódico se deve ao fato de que foi reanalisado morfologicamente e tornado invisível para a linearização, enquanto que
    pro está presente na estrutura e pode bloquear a retração.
  • 17
    Conforme nota 15, a operação
    FF-Elimination, que visaria a apagar os traços formais de modo que a derivação convirja, ocorre depois do
    Parsing Prosódico. Tal fato significa que os traços formais ainda são visíveis para a fonologia quando o
    Parsing Prosódico ocorre.
  • 18
    Por exemplo, no caso no nível da palavra fonológica. Esta pode ser menor, maior ou igual à palavra lexical. Para criar a palavra fonológica, o
    Parsing Prosódico leva em conta informações morfológicas (raiz, morfemas); mas uma vez que a palavra fonológica é criada, todas as operações que a tem como domínio só levam a sua extensão, ignorando outras informações lexicais que a palavra lexical poderia carregar.
  • 19
    Agradeço a Filomena Sândalo ter me apontado esta possibilidade.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Out 2002
    • Data do Fascículo
      2002

    Histórico

    • Recebido
      Jul 2001
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