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Tipos de discurso e interpretação do agir: o potencial de desenvolvimento das figuras de ação* * Artigo originalmente publicado em francês: Bulea, E. (2009). Types de discours et interprétation de l'agir: le potentiel développemental des "figures d'action". Estudos Linguísticos / Linguistics Studies, 3, Ediçoes Colibri/CLUNL Lisboa, pp. 135-152.

Discourse types and the interpretation of human activity: the developmental pontential of "action figures"

RESUMO

Este artigo enfoca o papel desempenhado pelo processo linguístico, especialmente pelos tipos de discurso, na interpretação da atividade humana, no contexto da prática profissional. Com base nos estudos de Saussure, a primeira parte do artigo apresenta a forma como as unidades semióticas e signos linguísticos foram conceituados na teoria desse autor, discutindo as implicações dessa conceitualização nos processos de significação humanos. Na segunda parte, são apresentados os resultados da análise empírica de entrevistas com enfermeiros sobre sua prática de enfermagem. Essa análise revela os diferentes tipos de figuras de ação mobilizadas por esses profissionais, bem como a relação dessas figuras com os tipos de discurso e outras escolhas linguísticas. A terceira parte discute o estatuto das figuras de ação: inicialmente, centra-se no papel dessas figuras no desenvolvimento, com base na produção de sentido sobre a atividade profissional; e, posteriormente, demonstra-se que as figuras de ação podem ser consideradas como macro-signos ou unidades semióticas.

Palavras-chaves:
Tipos de discurso; Figuras de ação; Unidades Semióticas; Desenvolvimento; Atividade Profissional

ABSTRACT

This paper focuses on the role played by linguistic process, especially by discourse types, in the interpretation of human activity, in the context of professional practice. Based on Saussure's real work, the first part presents the way semiotic units and linguistic signs have been conceptualized in his theory, discussing the implications of this conceptualization for human significant process. The second part presents the results of empirical analysis of interviews with nurses concerning their nursing practice. It brings out the different action figures put forward by the nurses, as well as the dependence of these figures on the discourse types and others linguistic choices. The third part discusses the status of action figures: a first approach focuses on their role in development, based on the production of meaning about professional activity; and a second approach demonstrates that action figures may be considered as macro-signs, or semiotic units.

Key-words:
Discourse types; Action figures; Semiotic units; Development; Professional activity

Abordaremos neste artigo a problemática do papel desempenhado pelos tipos de discurso (ver Bronckart, 1997______. 1997. Atividade de Linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sóciodiscursivo. São Paulo: Educ, 2003.) na interpretação do agir sob o ângulo dos efeitos de desenvolvimento que eles podem suscitar nas pessoas (ver Clot et al., 2001CLOT, Yves; FAÏTA, Daniel; FERNANDEZ, Gabriel & SCHELLER, Livia. 2001. Entretiens en autoconfrontation croisée: une méthode en clinique de l'activité. Education permanente 146, pp. 17-25. ; Vermersch, 1994VERMERSCH, Pierre. 1994. L'entretien d'explicitation en formation initiale et en formation continue. Paris: ESF.). Entretanto, e como já sublinhou Bronckart (2007)______. 2007. Un retour nécessaire sur la question du développement. Albi: Colloque Vygotski et les recherches en éducation et en didactiques des disciplines (conférence)., esses efeitos de desenvolvimento não são nem imediatamente consecutivos ao processo interpretativo, nem mecanicamente gerados por estes. Desse modo, tentaremos entender certos aspectos do "mecanismo" em virtude daquilo que os viabiliza ao examinar em que a pluralidade dos tipos de discurso mobilizados no processo interpretativo constitui uma forma de produção e de reorganização de significações atribuídas ao agir.

De acordo com a perspectiva adotada, a primeira parte deste artigo mostrará alguns elementos da teoria do signo elaborada por Saussure, que constitui, a nosso ver, uma abordagem exemplar dos fenômenos de significação em geral, promovendo um quadro fecundo de análise da natureza e das propriedades das unidades semióticas diversas. Na segunda parte, apresentaremos os resultados de uma pesquisa empírica sobre o trabalho de enfermeiras, em que examinaremos especificamente as propriedades discursivas das figuras de ação que as enfermeiras constroem por meio de entrevistas para dar conta de sua atividade de enfermagem.

Na terceira parte, discutiremos o estatuto dessas figuras de ação sob dois ângulos complementares: primeiramente, examinaremos especialmente as dimensões de desenvolvimento potencial (ver Bronckart, 2007______. 2007. Un retour nécessaire sur la question du développement. Albi: Colloque Vygotski et les recherches en éducation et en didactiques des disciplines (conférence).;Bulea, 2007______. 2007. Le rôle de l'activité langagière dans l'analyse des pratiques à visée formative. Thèse de doctorat. Université de Genève.); explicitando, em seguida, as razões pelas quais estas figuras podem ser consideradas como entidades significantes em si mesmas, bem como seu entendimento, sua estruturação e sua organização, diferentemente daquelas que caracterizam as unidades semióticas do tamanho da palavra.

Um retorno à teoria saussuriana do signo

Seja por meio de suas próprias anotações ou em suas aulas, Saussure sustentou que as línguas e os signos são dois fenômenos eminentemente distintos e mutáveis, que evoluem permanentemente no tempo e se diversificam no espaço, e que apresentam assim um caráter ao mesmo tempo dinâmico e sociohistórico. Tomando como base essa posição, documentada pelo estudo empírico de uma série de línguas naturais, o percurso teórico de Saussure foi o de conceitualizar o que, na própria estrutura das unidades linguísticas, tornam esta dinâmica não somente possível, mas necessariamente presente e perpetuamente ativa; dito de outra maneira, de dar conta das propriedades que explicam que a mudança permanente das línguas e dos signos não é da ordem da degeneração (em relação a uma língua originária e/ou ideal), nem da ordem da "falha" (em relação a organização do mundo ou a do pensamento humano), mas revela, ao contrário, a "via semiológica" (Curso de linguística geral, 1916, p. 111, doravante CLG1 1 Como lembra Jean-Paul Bronckart, o Curso de linguística geral (CLG, 1916) comporta um conjunto de anotações problemáticas devido às condições de sua redação. Sem "banir" esta obra, nós exploraremos, no entanto o corpus saussuriano "original", tal como ele encontra-se atualmente transcrito e disponível. Trata-se de anotações diversas de Saussure, cujo manuscrito Sobre a essência dupla da linguagem, descoberto em 1996 e publicado nos Escritos de Linguística Geral (ELG, 2002), assim como um conjunto de anotações dos alunos, tendo utilizado ou não para a confecção do CLG (ver Engler, 1989; Constantin, 2005). ; ver também Bulea, 2006BULEA, Ecaterina. 2006. La nature dynamique des faits langagiers, ou de la " vie " chez Ferdinand de Saussure. Cahiers Ferdinand de Saussure 59, pp. 5-19., para um comentário da noção de "via"), ou da própria essência dos signos. As análises do autor relativas a esta essência comportam dois vértices, que se alimentam de suas reflexões epistemológicas visando, por um lado, clarificar as relações entre a linguística e a semiologia, assim como entre a semiologia e as outras ciências humanas então em constituição (de maneira especial, a psicologia e a sociologia); e, por outro lado, identificar as propriedades irredutíveis dos fatos linguageiros, propriedades que justifiquem a autonomia da linguística dentro do conjunto das ciências humanas.

Rigorosamente ligada à problemática do estatuto da semiologia, o primeiro vértice diz respeito aos traços definidores da natureza dos signos em geral, sejam eles linguageiros ou não. Segundo Saussure, os signos formam um domínio circunscrito no qual eles revelam os fenômenos psico-sociais, constituindo, desta maneira, "uma ordem dos fatos psicológicos (de psicologia social) que podem ser estudados como um só conjunto de fatos" (Saussure, Cours III, em Constantin, p. 218). Dentro deste quadro, a comparação dos sistemas linguísticos com outros sistemas de signos (escrita, sinais marítimos, sinais militares, etc.) levaram Saussure a identificar um conjunto de propriedades que todas as entidades relevantes da "ordem semiológica" compartilham, ou que se dirigem à "essência semiológica" de forma geral. Trata-se especificamente:

  • do caráter necessariamente duplo (ou de dupla face) das unidades semiológicas, sem o qual não existem unidades dignas deste nome;

  • de sua natureza integralmente psíquica ou não substancial;

  • e enfim de seu caráter diferencial ou "negativo"; essas duas últimas propriedades constituem outro "nó" da ruptura saussuriana em consideração às concepções representativas do signo (o famoso aliquid stat pro aliquo2 2 No Tratado do Signo, escrito pelo português João de São Tomás em 1637, a formulação aliquid stat pro aliquo, surge assim definida: "aquilo que representa à potência cognitiva alguma coisa diferente de si". O signo é: "aquilo" (aliquid) "que esta por" (stat pro) "aquele outro" (aliquo), ao que J. De S. Tomás acrescenta "à potência cognitiva". Disponível em <http://semioticacc.wordpress.com/2008/11/19/semiotica-objecto-sujeito-e-pratica/> Consulta em: 18 jan. 2013 [Nota das tradutoras]. ).

Ao generalizar o tipo de análise ilustrada pelo exemplo a seguir, embora sobre os sinais marítimos, Saussure sublinha que não são as características físicas (que, a propósito, os objetos possuem) que são tratadas pela constituição dos signos, mas a relação psíquica que se constrói em relação a estes objetos através de sua diferenciação dos outros objetos tendo uma função similar; relação psíquica que lhes confere uma "segunda existência", propriamente semiológica.

Quando uma bandeira, entre muitas outras, ondula no mastro [ ], ela tem duas existências: a primeira é de ser um pedaço de pano vermelha ou azul, a segunda é ser um signo ou um objeto, que se entende dotado de um sentido para aqueles que o percebem. Observemos as três características eminentes desta segunda existência:

1º Ela só ocorre em virtude do pensamento que se liga a ela.

2º Tudo que representa, para o espírito, o sinal marítimo de uma bandeira vermelha ou azul procede, não do que ele é, não do que se decidiu associar a ele, mas exclusivamente destas duas coisas: 1) de sua diferença com relação aos outros signos que figuram no mesmo momento, 2) de sua diferença com relação aos signos que poderiam ter sido içados em seu lugar, e em lugar dos signos que a acompanham. Fora esses dois elementos negativos, ao se perguntar onde reside a existência positiva do signo, vese, imediatamente, que ele não possui nenhuma e que esses [ ] (Escritos de Linguística Geral, 2002, p.54, doravante ELG)3 3 Do original em português: SAUSSURE, Ferdinand. Escritos de Lingüistica Geral. Editora Cultrix, Sao Paulo, 2004, p. 52 [Nota das Tradutoras]. .

Considerando as unidades linguísticas de uma perspectiva semiológica, Saussure insistiu sobre o fato de que sua dualidade não resulta da associação entre um elemento físico e um elemento psíquico, e não consiste nem em uma relação entre palavras e coisas, nem em uma relação entre sons e ideias. O autor refuta a concepção "nomenclaturista" que fundou o convencionalismo tradicional e afirma que o caráter semiológico das "palavras" reside em uma dualidade interna à "ordem espiritual", os dois compostos de unidades de língua sendo de natureza psíquica: "nosso ponto de vista constante será de dizer que não somente a significação, mas também o signo é um fato de consciência pura" (ELG, 2002, p.19). Proveniente de um trabalho psicológico que se debruça ao mesmo tempo sobre o vértice acústico e sobre o das "ideias", os signos linguageiros se constituem de início um tanto que ordem psíquica específica, um tanto que "lugar" de organização de processos de diferenciação-associação, que engendram, pela sua simultaneidade, entidades de dupla face ou "complexas". A constituição dos signos reside assim na co-determinação ou na limitação mútua das duas faces que eles comportam - faces qualificadas inicialmente de "formas" e "significações", em seguida de "significantes" e "significados"-, delimitação que tem lugar mesmo no seu "acoplamento" (ELG, p.20). Em decorrência disso, as entidades "globais" que neles resultam não são senão produtos temporários e frágeis, tributários de quatro termos e três relações perpetuamente ativas: as relações diferenciais das formas entre elas; as relações diferenciais das significações entre elas; enfim as relações associativas (ou do acoplamento) entre formas e significações.

Nós somos sempre reconduzidos aos quatro termos irredutíveis e às três relações irredutíveis entre eles, que formam um todo único para o espírito : (um signo/sua significação) = (um signo/ e um outro signo) e, além disso = (uma significação/ uma outra significação) [...] Mas, na realidade, não há, na língua, nenhuma determinação, nem da ideia e nem de forma ; não há outra determinação além da determinação da ideia pela forma e da forma pela ideia [...] É isso que chamamos de QUATÉRNION FINAL e, considerando os quatro termos em suas relações : a tripla relação irredutível4 4 Do original em português p. 39 e 40 [Nota das Tradutoras]. . (ELG, 2002; p. 39)

Contrariamente à concepção tradicional, esta concepção "quatérnion final'' do signo mostra que as unidades semiológico-linguísticas são as entidades que comportam um de seus ingredientes constitutivos, o mecanismo diferencial-associativo que os engendra; o que implica que os signos (e, portanto os fenômenos de significação) têm um caráter eminentemente processual; o que explica (ao menos em parte) que a dinâmica sociohistórica seja nela uma dimensão interna, literalmente constitutiva de sua essência.

O caráter mais especificamente linguístico, o segundo momento da reflexão saussuriana, diz respeito às propriedades irredutíveis dos signos linguísticos, ou seja, às características que estes últimos apresentam necessariamente e que os distinguem dos outros signos ou sistemas semiológicos. Trata-se de propriedades que não anulam, evidentemente, os precedentes, mas que os prolongam, os especificam ou os especializam pelo domínio da linguagem, e até mesmo, de alguma maneira, os radicalizam. Este segundo conjunto de propriedades pode ser resumido como segue.

Além do caráter imotivado, residente na independência da face "expressão" em relação às propriedades do conteúdo que é associado a ele (propriedade que os convencionalistas fortemente colocaram em evidência desde a Antiguidade), os signos linguísticos apresentam um caráter radicalmente arbitrário, ou o grau arbitrário máximo. As unidades de língua não têm nenhum embasamento exterior à linguagem, o que implica que sua constituição não é de maneira alguma predeterminada pelas estruturas extra-linguageiras, sendo assim independente também da organização dos objetos no mundo e de uma (hipotética) organização pré-linguística do pensamento. Isto implica igualmente que os processos de diferenciação-associação das línguas funcionam livremente e criam da mesma forma as unidades cuja configuração, significado e conteúdo são eminentemente sociais; unidades que constituem, desta maneira, os valores correlativos socialmente instituídos.

Em virtude desta arbitrariedade radical e do mecanismo "quatérnion final" evocado, os signos linguísticos se delimitam reciprocamente no e pelo sistema da língua; processo que lhes confere antes de tudo o estatuto de "termos" estritamente falado , ou seja, das unidades circunscritas, discretas, capazes de "suportar" as operações.

Enfim, e ao contrario de tais signos icônicos ou unidades semiológicas mobilizando capacidades visuais, unidades que revelam, segundo Saussure, a "multiespacialidade" (ver as notas Item, in ELG, p.109-119), os signos linguísticos apresentam um caráter linear. Pelo seu componente acústico, estes últimos se organizam necessariamente de maneira sucessiva; e esta propriedade, que Saussure chama também "consecutividade" (ver as notas sobre os anagramas, in Starobinski, 1971STAROBINSKI, Jean. 1971. Les mots sous les mots. Les anagrammes de Ferdinand de Saussure. Paris: Gallimard.), ou ainda "uniespacialidade" (ELG, p.109-119) tem incidências notáveis não somente sobre o agenciamento dos signos entre eles, mas também sobre sua estruturação interna, cuja sustentação está obrigatoriamente na ordem dos fonemas e daqueles seus sub-componentes morfológicos de uma unidade5 5 Por exemplo, se podemos identificar em francês uma sub-unidade como re, não podemos, no entanto, dizer fazer-re ou ler-re, mas unicamente refazer ou reler; dito de outra forma, a ordem linear intervém na estruturação dos signos da mesma ordem que os próprios componentes (ver as análises detalhadas que Saussure propõe em Cours I, em Komatsu & Wolf, 1996). .

Estas reflexões/conceitualizações saussurianas são decisivas por vários motivos; mas nos deteremos aqui, sobretudo, ao fato de que as propriedades das unidades semióticas colocadas em evidência por Saussure não implicam a priori nenhuma restrição, nenhuma limitação relativa ao "tamanho" destas unidades. Dentro do domínio da linguagem, os processos de diferenciação-associação parecem assim poder dizer algo sobre as unidades cuja significação e amplitude são diferentes e variadas, unidades que envolvem desde prefixos, sufixos ou raízes das palavras, às palavras compostas, às colocações, ou às estruturas sintagmáticas ainda mais complexas. A propósito, como bem marcou De Mauro, o próprio Saussure tende, de forma às vezes hesitante, a considerar como "signo":

Toda união de um significante e de um significado, desde as unidades mínimas (que Frei depois chamou de monemas: am-ei, fal-ou, etc.) até as unidades complexas, que Saussure chama sintagmas (cachorro; ele fala; por aqui por favor; hoje à noite, a lua sonha com mais preguiça, etc.). (DE MAURO, 1975DE MAURO, Tullio. 1975. Introduction. In. Ferdinand de Saussure. Cours de linguistique générale. Paris: Payot, pp. I-XVIII., p. I-XVIII)

"Por aqui, por favor"; "a lua sonha com mais preguiça"... é possível ir "mais longe" no entedimento sintagmático? Sob quais condições? A seguir, abordaremos esta problemática baseados na análise de um conjunto de dados empíricos.

2. As figuras de ação nas entrevistas sobre o trabalho do enfermeiro

2.1. Considerações métodológicas

Os dados sob análise resultam de entrevistas com enfermeiras, dentre as quais três exercem seu trabalho em clínica geral e outras três em uma unidade de cirurgia digestiva (ver o Quadro 1 a seguir). Elas tratam da realização de tarefas relacionadas à medicina (verificação de presão, de pulsação, etc. em clínica geral e curativo abdominal pós-operatório em cirurgia) e foram coletadas antes (entrevista pré) e depois (entrevista pós) da realização dessas tarefas.

Quadro 1
Esquema dos dados empíricos

A metodologia de análise explora o modelo de arquitetura textual elaborado dentro do quadro do interacionismo sociodiscursivo (ver Bronckart, 1997BRONCKART, Jean-Paul. 1997. Activité langagière, textes et discours. Pour un interactionisme socio-discursif. Paris: Delachaux et Niestlé.) e parte de uma abordagem verdadeiramente textualdiscursiva. Por um lado, tomaremos como ponto de partida o texto (neste caso, a entrevista) enquanto unidade comunicativa englobante e articulada às formas da atividade humana; texto que trata de examinar as propriedades segundo uma perpectiva "descendente", ou seja, indo desta unidade até as unidades de nível inferior: segmentos temáticos e tipos de discurso que as organizam → relações predicativas e mecanismos de coesão → unidades mínimas de ordem da palavra. Por outro lado, como já mencionamos, será dada atenção especial a estas modalidades de organização enunciativa que são os tipos de discurso, ao examinar seu papel no processo interpretativo do agir mobilizado pelas entrevistas.

Como lembra Bronckart (1997)______. 1997. Atividade de Linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sóciodiscursivo. São Paulo: Educ, 2003., os tipos de discurso são formas linguísticas atestáveis nos (gêneros de) textos em geral, formas que, de um lado, são sustentadas pelas operações psicológicas que explicitam as relações existentes entre as coordenadas e as instâncias que organizam o conteúdo temático do texto, e as coordenadas e as instâncias do mundo dentro do qual se manifesta o agir linguageiro; formas que, por outro lado, mobilizam cada uma um sub-conjunto de unidades linguísticas, de tal maneira que estas são estruturadas e funcionam dentro de uma dada língua natural. A partir disso, o que nos interessa em particular é "o que acontece" quando estes tipos de discurso organizam um conteúdo temático da ordem do agir; ou ainda, as condições de " acoplamento " entre as formas de organização enunciativa (mobilizadas nas produções linguageiras em geral) e o tema específico do agir (mobilizado nas entrevistas).

2.2. As figuras de ação

São precisamente os produtos interpretativos visando o agir (-referente) e mobilizando os tipos de discurso que nós qualificamos de figuras de ação (ver também Bulea, 2007______. 2007. Le rôle de l'activité langagière dans l'analyse des pratiques à visée formative. Thèse de doctorat. Université de Genève. ; Bronckart & Bulea, 2006BRONCKART, Jean-Paul & BULEA, Ecaterina. 2006. La dynamique de l'agir dans la dynamique des discours. In. Jean-Marie Barbier & Marc Durand (Eds.). Sujet, activité, environnement: approches transverses. Paris: PUF, pp. 105-134.; Bulea & Fristalon, 2004BULEA, Ecaterina & FRISLATON, Isabelle. 2004. Agir, agentivité et temporalité dans des entretiens sur le travail infirmier. In. Jean-Paul Bronckart & Groupe LAF (Eds.). Agir et discours en situation de travail. Cahiers de la Section des Sciences de l'Education (Genève) 103, pp.11-144.). A seguir, examinaremos algumas de suas características principais.

2.2.1. A ação ocorrência

(1) N: então eu vou fazer / bem ela teve uma:: colecistectomia mas foi uma intervenção delicada / então é por isso que ela tem dores ãã... importantes no pós-operatório / ela tem uma transver- sim um transver nas costas/ [PESQ : hum hum] preciso que eu olhe os primeiros cura- / primeiros curativos pós-operatórios / em quarenta e oito horas bem / eu não sei o que tem abaixo ãã / pode ser os suturas grampos ou fios / você vê // (...) senão ela tem uma lame / ondulada sobre a bolsa [PESQ : hum hum] // não precisa mobilizá-la por ora eu chamei o chefe da clínica [PESQ : certo] então o que eu faço eu desinfeto só recoloco uma bolsa adequada / e depois aham / ela tem um dreno de Kehr / que / que fica sob observação em todo caso durante dez doze dias / porque depois tem que controlá-los pelo dreno / no nível das vias biliares (Entrevista pré - Nathalie STT1, Tema : Desenvolvimento - Realização)6 6 A apresentação de cada figura comportará um exemplo, transcrito segundo as seguintes convenções: as iniciais N, A, J, etc. = nomes (fictícios) dos enfermeiros; [PESQ entre conchetes] = intervenções breves das pesquisadoras; / // /// = pausas de duração variável; no:::n = som alongado; transver- = palavra inacabada; xxx = segmento inaudível. Nós explicamos ao fim de cada extrato (entre parênteses) a entrevista da qual provem, assim como o sub-tema que é abordado (realização do cuidado, outras possibilidades de realização, caracterização do cuidado, etc.).

A figura de ação ocorrência constitui uma apreensão do agir-referente na medida em que sua organização linguageira se caracteriza por um forte grau de contextualização. Sua construção repousa sobre a identificação de um conjunto de ingredientes do agir apreendido em suas dimensões particulares, específicas (tal enfermeira, tal paciente, tal situação, etc.), ou na medida em que eles são espaço-temporalmente acessíveis ao actante.

Do ponto de vista de sua organização discursiva, esta figura aparece quase exclusivamente nos segmentos de discurso interativo, que englobam frequentemente passagens de discurso relatado. O conteúdo temático mobilizado é organizado em relação direta com os parâmetros físicos e actanciais da situação da entrevista, o eixo de referência temporal sendo, principalmente, o desta mesma situação. Em referência a este eixo, observamos um número importante de marcações (de anterioridade: ela teve; de posterioridade: eu vou fazer; de simultaneidade: eu não sei), onde a alternância é bastante frequente e rápida. Além disso, constatamos a criação de eixos de referência locais, voltando particularmente à situação de cuidado, os processos (codificados pelos verbos no presente com valor psicológico: eu desinfeto, eu recoloco) sendo apreendidos como incluídos dentro da duração representada por este tipo de eixo.

Do ponto de vista das marcas de agentividade, a enfermeira é designada quase exclusivamente por eu, o que assinala sua forte implicação, ou seu estatuto de ator. Os pacientes são identificados por seus nomes, ou designados pelos pronomes pessoais de terceira pessoa (ele, ela, lo), unidades cujo funciomaneto é geralmente dêitico.

Enfim, esta figura caracteriza-se por um número importante de relações predicativas indiretas, das quais aproximadamente 70% são modalizações pragmáticas. Ela comporta igualmente diversas modalizações externas às relações predicativas, sendo a maioria modalizações deônticas (é preciso que eu olhe).

2.2.2. A ação evento passado

(2) N: (...) a última vez, por exemplo, você vê eu tinha que remover os pontos de um paciente / e:: // ele tinha acúmulo de / de fluido seroso no nível da cicatriz eu tinha a cicatriz que estava aberta // o início da cicatriz / tinha uma mediana/ era o início da cicatriz que está aberta / você vê [PESQ : no momento onde você fez o curativo] onde eu tinha tirado os pontos e depois você sabe eu comecei a apertar os botões, pois assim fluia / e ã:: assim está aberta você vê / neste caso exatamente você chama o operador e então você lhe pergunta o que ele quer / o que ele quer fazer (Entrevista pré - Nathalie STT6, Tema: Desenvolvimento - possíveis)

A ação evento passado propõe uma tomada retrospectiva do agir, contanto que este último possa ser evocado sempre sobre o ângulo da singularidade, mas sem relação de contingência com a situação de seu modo de ser linguageiro. Trata-se da delimitação e da extração (do passado) de uma unidade praxeológica, identificada, saliente e ilustrativa do agir, esta figura testemunha uma contextualização manifesta, mas fragmentária e seletiva.

Do ponto de vista de sua organização discursiva, a ação evento passado aparece nos segmentos de relato interativo, os processos evocados sendo tomados como referência de um eixo temporal situado acima da situação de entrevista, e cuja origem é marcada (a última vez). Se o conteúdo é assim colocado à parte dos parâmetros da situação de entrevista, o actante fica, pelo contrário, implicado no evento narrado, esta implicação sendo marcada, como na figura precedente, pela presença massiva do pronome eu. Mas contrariamente à ação ocorrência, o destinatário do agir é designado pelo termo genérico "paciente", que assume a função de fonte de série isotópica, o pronome de terceira pessoa (ele) funcionando, neste caso, como ligação anafórica.

A coesão verbal é assegurada por mecanismos específicos do relato. Os mais frequentes são as localizações isocrônicas, realizadas em françês pelas formas verbais de passado composto e imperfeito, que tendem a reproduzir a ordem dos fatos narrados. Mas é a função de constraste assegurada por estas mesmas formas verbais que parece particularmente investida por esta figura, já que os processos propostos em um plano-anterior e codificado no passado composto coincidem com as ações (acionalidade) da enfermeira, diferentemente dos processos colocados num plano-passado e codificados no imperfeito que diz respeito ao paciente, à situação, ou a outros protagonistas do métier.

A ação evento passado se caracteriza enfim por uma sobreposição entre propriedades discursivas e recursos linguísticos próprios do relato interativo de um lado, e estruturação dos fatos narrados relevantes do esquema narrativo prototípico (situação inicial, complicação, resolução, avaliação) do outro. E é esta característica que sustenta seu estatuto de "evento" aos olhos da experiência passada comum do actante.

2.2.3. A ação experiência

(3) N: normalmente quando eu faço os curativos, eu explico o que eu estou fazendo / eu lhes pergunto se eles querem ver a cicatriz muitas vezes eles dizem não [PESQ : hum] você sabe os primeiros dias / sobretudo quando são intervenções maiores // e então ãã se ela está infectada ou não...que /e depois você lhes dá informações / você lhes diz o que você está fazendo que você desinfeta a máquina / ãã / depois tu lhes explica a sequência / porque são uns pacientes que geralmente voltam para casa [PESQ : hum hum] e você marca um horário / para vir tirar os fios (Entrevista pós - Nathalie STT3, Tema: Desenvolvimento - Realização)

A figura de ação experiência constitui uma tomada do agir sob o ângulo da cristalização pessoal de múltiplas ocorrências do agir vivido: ela propõe uma espécie de balanço do estado atual da experiência do actante em relação à determinada tarefa, repousando sobre a sedimentação e sobre a de-singularização (ou a descontextualização) de práticas repetidas desta tarefa. Não estando mais ligada a um contexto singular, a ação experiência apreende particularmente os constituintes estáveis e incontornáveis do agir, suas variantes com grande recorrência assim como as características próprias aos actantes, seus modos de fazer que transgridem a singularidade das situações.

Do ponto de vista enunciativo, a ação experiência é organizada principalmente sob forma de discurso interativo; mas contrariamente à ação ocorrência, o eixo de referência temporal não é delimitado e é marcado pelos advérbios ou sintagmas proposicionais assinalando a característica generalizante e reiterativa (ex: normalmente, geralmente, de todo modo, etc.). Este eixo é também homogêneo e a criação dos eixos locais está praticamente ausente. Por estas características, as marcas próprias desta figura são neutras, marcadas pelas formas do presente genérico. Com ausência de marcas pró-ativas ou retroativas, sua organização discursiva procede por justaposição processual, que tende a reproduzir a ordem cronológica do métier, cuja rede é marcada por organizadores temporais (depois, e depois, após, etc.). Uma das particularidades da ação experiência reside na abundância das marcas de variabilidade, inseridas dentro desta tomada cronológica de base, e que assinala principalmente os pontos de bifurcação do agir. Com este efeito, diversas estratégias linguísticas são utilizadas, as estruturas em si (ver exemplo 3) e as estruturas verbais, alternância das formas afirmativa e negativa (tu irrigas o ferimento ou não), sendo as mais frequentes.

Do ponto de vista agentivo, nós observamos o co-funcionamento de diversas formas pronominais (eu, tu, a gente), a forma mais frequente sendo a forma tu com valor genérico. Isso atesta a dissociação entre o autor do processo evocado e o autor da ação linguageira, a implicação da enfermeira sendo menor que nas figuras precedentes. Na verdade, seu estatuto é às vezes de ator-regulador de bifurcações, às vezes de lugar de capitalização da experiência. Este estatuto duplo se encontra também no nível das modalizações: nós constatamos ali uma dimensão sensível das modalizações pragmáticas e um nítido aumento das modalizações epistêmicas e deônticas.

2.2.4. A ação canônica

(4) S: o cuidado começa quando a gente entra no quarto // ele começa mesmo antes quando a gente antecipou o cuidado (...) a instalação ãã a gente descobre a ferida a gente prepara a / a bandeja [PESQ : hum hum] / depois a gente faz o curativo a gente comunica/ a gente fecha o curativo a gente reinstala o paciente a gente coloca a faixa a gente veste novamente / a gente coloca bem a cama na posição a gente propõe que ele vá para a poltrona se é preciso que ele vá ou ele permanece assim a gente coloca todo seu material à disposição / a gente tira a cortina e depois / a gente diz / bem / tchau ao paciente (Entrevista pré - Sylvie STT8, Tema: desenvolvimento - realização)

A figura de ação canônica reside em uma apreensão do agir sob forma de construção teórica, abstração feita de todo contexto de emprego e das propriedades do actante que a efetuam, e propõe uma lógica da tarefa que se apresenta como a-contextualizada em relação à validade geral. Deste fato, ela se dá conta, sobretudo, da estrutura cronológica prototípica do agir, assim como das normas que o regem, e cuja responsabilidade incumbe às instâncias institucionais exteriores ao actante.

Do ponto de vista discursivo, a ação canônica se organiza sob forma de discurso teórico, ou de um misto teórico-interativo. Ela se caracteriza, por um lado, pela evocação genérica dos fatos, que não são colocados em relação nem com a situação de interação, nem com uma origem temporal qualquer; e por outro lado, por graus variáveis de implicação do autor do texto no conteúdo evocado. O eixo de referência temporal não é delimitado e geralmente não marcado, os processos são tomados pelas formas de presente genérico, cuja ordem tende a reproduzir a cronologia geral do cuidado. Esta ordem cronológica é, no entanto, expressa através de uma organização frasal recorrente, corresponde à estrutura canônica SUJEITO - VERBO - COMPLEMENTO; forma de estruturação que pode ser mais ou menos rígida, contendo somente estas estruturas mínimas justapostas (ver o exemplo 4), ou incluindo estruturas argumentativas, geralmente introduzidas pelos organizadores lógico-argumentativos. Mas mesmo em suas formas menos rígidas, esta figura não comporta praticamente nenhuma marca de variação, as próprias "bifurcações" eventualmente atestáveis revelam o procedimento ou a prescrição medicamental.

No plano agentivo, o actante é quase sempre marcado por "a gente", designando uma instância coletiva neutra; é isso que assinala que toda autoria da enfermeira se encontra neutralizada, seu estatuto se aproximando mais do 'a gente'. Este estatuto é acentuado pelo fato de que as modalizações atestáveis nesta figura, na maior parte do tempo externas às relações predicativas (precisamos fazer), são quase todas modalizações deônticas.

2.2.5. A ação definição

(5) V: o cuidado com os prontuários [PESQ : ãã] bem, isso depende também dos horários que é o que a gente dizia às 8h da manhã é verdade que isso é importante porque este // este é o primeiro contato do dia na verdade por isso ãã é uma abordagem para // como passou a noite para (...) porque é importante para nós // é também uma demanda médica, mas também um pretexto para começar o dia do lado deles então bem é o que há de específicio (Entrevista pré - Véronique STT1, Tema: Caracterização)

A figura de ação definição levanta uma apreensão do agir enquanto objeto de reflexão, enquanto suporte e objetivo de uma redefinição por parte do actante. O agir é visto como um "fenônemo no mundo" engajando uma atividade de investigação que consiste, por um lado, de uma apreensão das características e do estatudo do agir, e, por outro, no exame das atitutes sócio-profissionais que se manifestam a seu respeito (inclui a sua própria). Contrariamente às outras figuras, a ação definição não tematiza nem os actantes, nem a organização cronológica do agir, nem os constituintes praxeológicos, mas une os traços considerados pertinentes, suscetíveis de o circunscreverem e de delimitá-los em relação a outros tipos de atividade.

Do ponto de vista de sua organização enunciativa, esta figura é inserida, como a precedente, nos segmentos relevantes do discurso teórico ou de um misto teórico-interativo. O eixo de referência temporal é sempre não delimitado, a forma verbal dominante é o presente genérico. Mais contrariamente à ação canônica, as formas verbais mobilizadas não são, apenas excepcionalmente, sobre atos ou gestos, a ação definição comportando assim um número extremamente reduzido de relações predicativas fortes (SUJEITO + VERBO). A grande maioria das relações predicativas (70% aproximadamente) é constituída das construções impessoais É e TEM, mobilizando o verbo "ser" enquanto verbo "fraco" (ou na medida em que marca a atribuição de propriedade: é importante, é uma abordagem) e o verbo "ter" em seu valor de identificador-introdutor de um "sujeito real" a posteriori (há um contexto). Estas construções se endereçam exclusivamente ao signo "cuidado", que elas transmitem (ver o início do exemplo 5), e são inseridos ao seu redor nas estruturas recorrentes (É + SINTAGMA NOMINAL + eventualmente outro sintagma, É + SINTAGMA ADJETIVAL, HÁ + SINTAGMA NOMINAL).

Se, em relação às outras figuras, a agentividade da enfermeira é aqui quase nula, ela é, em contrapartida, fortemente marcada no plano enunciativo, sendo a ação definição a figura que comporta proporcionalmente o maior número de marcas de posicionamento enunciativo. A atoralidade da enfermeira é assim transferida sobre o próprio ato de "dizer o cuidado", e é reforçada pelas numerosas modalizações epistêmicas (é verdade que).

2.3. A alternância das figuras

As cinco figuras de ação que nossos dados permitiram colocar em evidência - sem nenhuma pretensão à exaustividade - se constroem, na verdade, sobre o fundo de uma dupla heterogeneidade, temática e discursiva. Heterogeneidade temática no sentido de que os temas e sub-temas abordados pelas enfermeiras (caracterização do cuidado, preparação de si mesmas, realização efetiva, outras possibilidades de realização, determinantes externos ou internos, etc.) variam de uma entrevista para a outra, mais do ponto de vista de sua presença/ ausência do que da ordem em que elas são evocadas; é o que atesta o fato de que a ordem mundana do cuidado não predetermina a construção temática das produções verbais se endereçando a elas, esta última sendo sob a dependência da dinâmica da própria interação verbal. Heterogeneidade discursiva na qual, como se observa das análises que precedem, os tipos de discurso mobilizados variam também no curso de uma entrevista, nossos dados não nos permitiram, no entanto, colocar nenhuma relação biunivoque que seja entre os tipos de discursos mobilizados (discurso interativo, relato interativo e discurso teórico) e os temas ou sub-temas tratados; o que atesta o fato de que um dado tema não evoca necessariamente uma certa forma linguageira, ou um certo tipo de discurso, mas é potencialmente estruturável segundo uma ou outra organização discursiva, funcionando mas amplamente dentro da língua. No nível de uma entrevista, e às vezes mesmo no nível de um dado segmento temático (ver exemplo 6 a seguir), isso gera um fenômeno de alternância das figuras de ação. Assim, certas entrevistas apresentam duas ou três figuras, outras apresentam todas.

(6) S : ã:: é um curativo de machucado limpo [PESQ : ahãm ahãm] // para renovar // e reavaliar na verdade [PESQ : certo (...)] um curativo de machucado limpo como diríamos entre aspas / isso depende se está infectado [PESQ : exato] os curativos dos drenos / os curativos / a reavaliar porque quem tinha um:: tinha ele / era bastante manchado outro dia nós fizemos um previamente / mas eu não penso em ter muitas surpresas porque o curativo é deixado limpo durante dois dias então ãã [PESQ : aham aham] / nós o refazemos hoje porque nós fazemos os curativos a cada dois dias / é um xxx que nós temos em cirurgia / no mais porque o curativo estava manchado então ãã / no mais ir ver se / o ferimento não inflamou [PESQ : aham] se / pois então / até o décimo dia nós cobrimos os ferimentos // e depois nós tiramos os fios nós deixamos destapados/ às vezes em algumas pessoas nós deixamos destapados, mas quando há os cintos abdominais tudo isso ou os pacientes não gostam muito que / que o ferimento fique / em / em contato com ãã // para os ferimentos pequenos nós podemos fazer, mas para os ferimentos medianos nós preferimos proteger (Entrevista pré - Sylvie STT1, Tema: Caracterização. Alternância: ação definição - ação ocorrência - ação canônica - ação ocorrência - ação canônica - ação experiência.)

A produção das figuras de ação revela assim um processo permanente de escolha que as enfermeiras efetuam simultaneamente sobre os dois vértices, temático e discursivo, o que lhes permite adotar diversos ângulos de apreensão do agir-referente (ou do cuidado), e de realizar, no curso de um mesmo texto, uma integração progressiva de diversas dimensões de si mesmas. Essa integração não toma de maneira alguma uma forma aditiva, mas é da ordem da produção de significação propriamente dita, na medida em que as enfermeiras parecem, incessantemente, tentar clarificá-la ou os lugares que ocupam as dimensões tematizadas dentro da economia geral do agir, lhes observando sob diversas facetas, abordando-as dentro do quadro de duas ou mais figuras de ação, e em lhes integrando assim em diversas configurações coerentes.

3. O duplo estatuto das figuras de ação

3.1. As figuras de ação vistas dentro de uma perspectiva desenvolvimental

Tendo em vista seu teor e suas propriedades gerais, os processos de morfogênese e de alternância das figuras parecem fornecer uma prova da validade do esquema de desenvolvimento elaborado por Vygotski (1934)VYGOTSKI, Lev Sémionovitch. 1997. Pensée et langage. Paris: La Dispute [Edition originale: 1934]., mas também e, sobretudo, um complemento/prolongamento deste esquema no campo do desenvolvimento do adulto. Se trata do fato de que as figuras de ação são portadoras de um debate gnoseológico relativo ao agir (àquilo que é um cuidado, a sua estrutura, a instância responsável, etc.). Este debate tem maior amplitude no meio professional, que cada enfermeira por sua vez reproduz pelo próprio fato de que ela propõe diversas figuras interpretativas deste agir, e o reconstrói de uma maneira que lhe é própria.

A título de exemplo (por uma análise detalhada, ver Bulea, 2007______. 2007. Le rôle de l'activité langagière dans l'analyse des pratiques à visée formative. Thèse de doctorat. Université de Genève.), ressaltamos que o exame dos textos instuticionais relativos às tarefas das enfermeiras mostraram uma verdadeira ambiguidade quanto ao tema da agentividade das enfermeiras, vemos a contrariedade desta dimensão do agir; o que comprova a existência do debate gnoseológico mencionado no nível institucional, ou no nível das representações coletivas. A dimensão agentiva se apresenta sob forma implícita nos Cadernos de encargos das enfermeiras, através da evocação massiva de processos psíquicos e de regulação. No entanto, este documento se mostra mais que reticente em atribuir explicitamente estes processos a uma instância agentiva identificável (ele não apresenta nenhuma marca de agentividade, o termo "enfermeira" é inexistente!), "abandonando-as" assim, de alguma maneira, ao próprio agir, como se esses processos fossem uma propriedade intrínseca em si mesmo. Nas Técnicas de cuidado e nos documentos de quantificação do encargo de trabalho das enfermeiras, a dimensão agentiva é totalmente apagada, para reaparecer esporadicamente nas Evoluções inclusas no dossiê do paciente, contudo sem que uma relação explícita actante-ação seja sistematicamente assumida.

Quanto a essa ambiguidade, a diversidade das instâncias agentivas que colocam em cena as figuras de ação (eu, tu, a gente) nos parece um índice perfeitamente ilustrativo da interiorização, pelas enfermeiras, da discordância colocada em cena pelos textos institucionais. Cada um deles propondo, através da alternância de figuras, das acentuações diferentes da dimensão agentiva, indo da ascendência da responsabilidade fortemente afirmada na ação ocorrência à sua neutralização na ação canônica, ou a sua elisão na ação definição. Mas paralelamente, e em muitas entrevistas, as enfermeiras parecem vizualizar um modo de contornar, ver uma solução para este debate, que reside na validação (real ou sonhada) de seu papel e de seu estatuto de ator pelos participantes.

3.2. Nos fundamentos da perspectiva desenvolvimental, uma perspectiva semiológica

O potencial de desenvolvimento das figuras de ação, como veremos, nos parece indissociável de seu estatuto semiológico. Ao voltar à questão das entidades significantes e sua extensão, sustentaremos que as figuras de ação revelam este tipo de entidade, constituindo (e se constituindo como) macro-cortes interpretativos, ou "macro-signos", que se endereçam ao agir. Estas são as razões e as condições de validade desta informação, que abordaremos nesta última parte. Explicaremos, no início, duas implicações gerais do processo de construção das figuras, e examinaremos, em seguida, suas propriedades referentes àquelas dos signos e dos signos linguísticos citado no item 1 acima.

Como subentendidas pela gestão da heterogeneidade temática e discursiva, a primeira implicação da construção das figuras se refere ao fato de que elas têm a propriedade de não procederem de nenhuma predeterminação unilateral e/ou extra-linguística: elas não estão nem sob a dependência exclusiva das propriedades do agir, nem são um "reflexo", nem uma lógica proeminente e homogênea, e nem mesmo das médias linguísticas atestáveis na língua; essa tripla autonomia testemunha a própria pluralidade das figuras e a combinação-redistribuição dos recursos linguísticos que se encontram na obra.

A segunda implicação é relativa ao teor dos produtos resultantes. Apesar do fato que a efetuação dos cortes interpretativos a propósito do agir passa necessariamente pela exploração de configurações discursivas colocadas a disposição socialmente pela língua e pelas práticas linguageiras, a produção das figuras solicita simultaneamente os planos do "conteúdo" e da "expressão", o que engendra entidades apresentando um caráter bifacial. Estas últimas são supra-ordenadas em relação às unidades significantes do tamanho da palavra e "englobam" estas últimas. Portanto, além de serem configurações discursivas "aplicadas" ao agir, as figuras de ação constituem entidades semiológicas que permitem a colocação em movimento das unidades linguísticas infraordenadas a que se endereçam (ver a relação entre a ação definição e o signo "cuidado"). Este duplo estatuto mostra o caráter encaixado, implicado, pluridimensional da produção de significação.

Voltando uma última vez à teoria saussuriana, o pertencimento das figuras de ação à ordem semiológica e/ou seu estatuto das entidades significantes parece possível pelo fato de que elas preservam a integralidade das propriedades gerais dos signos (bifacialidade, natureza psíquica e caráter diferencial), enquanto as propriedades específicas aos signos linguísticos (arbitrariedade radical, caráter discreto e linear) são modificadas, transformadas, complexificadas.

Se tratando do primeiro conjunto de propriedades, como já mencionamos, as figuras de ação apresentam um caráter bifacial: elas possuem um vértice "conteúdo" identificável, neste caso construído em referência ao agir, e um vértice "expressão", constituído principalmente pelos tipos de discurso que organizam. As figuras de ação também possuem um caráter psíquico já que mobilizam, atualizam ou reestruturam no curso da atividade linguageira, as representações e os conhecimentos do actante. Representações e conhecimentos relacionados ao agir e às suas dimensões, mas em igual medida aos tipos de discurso e ao seu funcionamento em francês, bem como estes últimos ficam frequentemente da ordem do desconhecido (ver François, 2006FRANÇOIS, Frédéric. 2006. Rêves, récits de rêves et autres textes. Limoges: Lambert-Lucas.). Enfim, a natureza diferencial das figuras de ação (ver o Quadro 2 a seguir) procede do fato que, se elas se constróem no interior da textualidade, elas exploram, ao mesmo tempo, os agrupamentos de recursos linguageiros, e, portanto, os conjuntos de diferenças funcionais mais amplamente na língua: diferenças entre tipos de discurso, entre unidades pronominais, entre formas verbais, etc.

Quadro 2
Características contrastivas das figuras de ação

As figuras se constituem, assim, elas mesmas como entidades globais diferenciais, se diferenciando umas das outras, e sem que esta diferenciação obedeça à estruturação mundana efetiva do agir-referente. Portanto, embora cada uma delas exiba uma certa forma de coerência, elas apresentam necessariamente um caráter incompleto, imperfeito, ou ainda não superposto às propriedades do próprio agir. Se tratando do segundo conjunto de propriedades, caracterizando as unidades linguísticas e notoriamente as unidades do tamanho da palavra, as figuras de ação parecem preservar verdadeiramente apenas o caráter linear, arbitrário e o caráter discreto passando por transformações que distinguem ou discriminam este tipo de entidade dos signos linguísticos no sentido estrito.

Em relação à arbitrariedade, ela fica em parte validada, no que, como sublinhamos, um certo tema não denominado necessariamente de um tipo de discurso, seu tratamento não sendo pré-compulsório nem pelas propriedades do referente, nem por uma organização enunciativa específica. Mas este aspecto deve ser diferenciado porque, mesmo que a tendência geral seja aquela que acabamos de evocar, constatamos, no entanto, uma limitação. Duas das figuras colocam em evidência uma forma de "afinidade" entre tema e organização discursiva: dois terços das ocorrências da ação definição repousam sobre a combinação entre o tema da caracterização e o discurso teórico e a média das ocorrências da ação ocorrência sobre aquela entre o tema da realização e o discurso interativo. Este fenômeno não invalida em nada a dupla heterogeneidade discutida anteriormente, mas mostra que neste nível o processo de diferenciação-associação se complexifica notoriamente na medida em que ele interfere necessariamente com as outras atividades linguageiras do actante : de fato, estas combinações preferenciais são visivelmente ligadas tanto às práticas verbais atuais das enfermeiras, especialmente àquelas mobilizadas durante as reuniões de troca de turno, quanto aos hábitos pessoais.

E naquilo que se refere ao caráter discreto e à linearidade, se esta última fica inteiramente válida (não podemos emitir duas figuras ao mesmo tempo, elas se organizam sucessivamente), o caráter discreto parece de alguma maneira "enfraquecido". As figuras de ação não nos parecem ter o estatuto de verdadeiros " termos " no que seu início e seu fim são gerados textualmente e não sistematicamente. Dito de outra forma, elas não se apresentam como unidades que poderiam se organizar entre elas segundo um regime associativo, nem verdadeiramente como unidades cristalizáveis, assim como elas estão em sistema, à imagem dos termos da língua (lua, preguiça, sonho, etc.). Dada sua extensão e sua complexidade, as entidades semiológicas da ordem das figuras não permitem a efetuação das operações que concedem os signos linguísticos no senso estrito, especialmente as operações predicativas (não podemos estabelecer uma relação predicativas entre duas figuras) ; pelo contrário, e aqui pode estar a sua especificidade, elas as enquadram, ao mesmo tempo que elas permitem e " suportam " a realização de outros tipos de operações, propriamente textuais e semióticas : encadeamentos e macro-encadeamentos temáticos, alternâncias, encaixamentos e tensões sémicos, exteriorização e manifestação de séries associativas àtravés de isotopias, etc. Isso somente acentua seu caráter eminentemente dinâmico, propriamente criador de significação, a existência de entidades semiológicas deste tipo se sustentando de um processo morfogenético em constante (re)construção.

Referências Bibliográficas

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  • VYGOTSKI, Lev Sémionovitch. 1997. Pensée et langage. Paris: La Dispute [Edition originale: 1934].
  • 7
    Tradução: Ermelinda M. Barricelli e Taiane Malabarba**
  • *
    Artigo originalmente publicado em francês: Bulea, E. (2009). Types de discours et interprétation de l'agir: le potentiel développemental des "figures d'action". Estudos Linguísticos / Linguistics Studies, 3, Ediçoes Colibri/CLUNL Lisboa, pp. 135-152.
  • **
    Ermelinda Barricelli é mestre e doutora em Linguistica Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC/SP atualmente é professora universitária em curso de pedagogia. Taiane Malabarba é mestre e doutora em Linguística Aplicada pela UNISINOS, onde atua como professora do curso de Letras.
  • 1
    Como lembra Jean-Paul Bronckart, o Curso de linguística geral (CLG, 1916) comporta um conjunto de anotações problemáticas devido às condições de sua redação. Sem "banir" esta obra, nós exploraremos, no entanto o corpus saussuriano "original", tal como ele encontra-se atualmente transcrito e disponível. Trata-se de anotações diversas de Saussure, cujo manuscrito Sobre a essência dupla da linguagem, descoberto em 1996 e publicado nos Escritos de Linguística Geral (ELG, 2002), assim como um conjunto de anotações dos alunos, tendo utilizado ou não para a confecção do CLG (ver Engler, 1989ENGLER, Rudolf. 1989. Edition critique du "Cours de linguistique générale" de Ferdinand de Saussure. Wiesbaden: Otto Harrassowitz.; Constantin, 2005CONSTANTIN, Emile. 2005. Linguistique générale. Cours de M. le professeur F. de Saussure. Cahiers Ferdinand de Saussure 58, pp. 71-289.).
  • 2
    No Tratado do Signo, escrito pelo português João de São Tomás em 1637, a formulação aliquid stat pro aliquo, surge assim definida: "aquilo que representa à potência cognitiva alguma coisa diferente de si". O signo é: "aquilo" (aliquid) "que esta por" (stat pro) "aquele outro" (aliquo), ao que J. De S. Tomás acrescenta "à potência cognitiva". Disponível em <http://semioticacc.wordpress.com/2008/11/19/semiotica-objecto-sujeito-e-pratica/> Consulta em: 18 jan. 2013 [Nota das tradutoras].
  • 3
    Do original em português: SAUSSURE, Ferdinand. Escritos de Lingüistica Geral. Editora Cultrix, Sao Paulo, 2004, p. 52 [Nota das Tradutoras].
  • 4
    Do original em português p. 39 e 40 [Nota das Tradutoras].
  • 5
    Por exemplo, se podemos identificar em francês uma sub-unidade como re, não podemos, no entanto, dizer fazer-re ou ler-re, mas unicamente refazer ou reler; dito de outra forma, a ordem linear intervém na estruturação dos signos da mesma ordem que os próprios componentes (ver as análises detalhadas que Saussure propõe em Cours I, em Komatsu & Wolf, 1996KOMATSU, Eisuke & WOLF, George. 1996. Premier cours de linguistique générale (1907) d'après les cahiers d'Albert Riedlinger. Oxford/Tokyo: Pergamon.).
  • 6
    A apresentação de cada figura comportará um exemplo, transcrito segundo as seguintes convenções: as iniciais N, A, J, etc. = nomes (fictícios) dos enfermeiros; [PESQ entre conchetes] = intervenções breves das pesquisadoras; / // /// = pausas de duração variável; no:::n = som alongado; transver- = palavra inacabada; xxx = segmento inaudível. Nós explicamos ao fim de cada extrato (entre parênteses) a entrevista da qual provem, assim como o sub-tema que é abordado (realização do cuidado, outras possibilidades de realização, caracterização do cuidado, etc.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2016

Histórico

  • Recebido
    Mar 2013
  • Aceito
    Abr 2015
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