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FUZER, Cristiane; CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa . Campinas: Mercado de Letras. 228p. ISBN 978-85-7591-326-0.

FUZER, Cristiane; CABRAL, Sara Regina Scotta. . 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras. 228p. ISBN 978-85-7591-326-0.

Palavras-chave:
Gramática Sistêmico-Funcional; Português; Abordagem Funcionalista

Key-words:
Systemic Functional Grammar; Portuguese; Functionalist Approach

A obra que por ora apresentamos é um dos volumes que integram a coleção As Faces da Linguística Aplicada, cuja publicação é coordenada pelas pesquisadoras Leila Barbara e Maria Antonieta Alba Celani, ambas afiliadas à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Trata-se de uma publicação seriada, concebida a partir da parceria entre o Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da PUC-SP com a editora Mercado de Letras. A referida coleção tem presenteado a comunidade acadêmica com volumes que versam sobre diversos temas contemplados no âmbito da Linguística Aplicada, de modo a evidenciar a dinamicidade e variedade de estudos desenvolvidos nesse campo. A título de exemplificação, os temas formação de professores, linguística de corpus, ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras em contextos diversos, indisciplina escolar, gêneros orais e escritos e letramento, revelam a amplitude do escopo dos volumes já publicados, os quais são importantes contribuições para o entendimento de questões relacionadas à língua em uso em sociedade.

Cristiane Fuzer (UFSM) e Sara Regina Scotta Cabral (UFSM) são as autoras responsáveis por apresentar a Linguística Aplicada em diálogo com a Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), no décimo oitavo volume da coleção, intitulado Introdução à Gramática Sistêmico-Funcional em Língua Portuguesa (Mercado de Letras, 2014, 228p. ISBN 978-85-7591-326-0). A LSF foi originalmente concebida e publicada em língua inglesa pelo linguista Michael Halliday; nesse sentido, a comunidade acadêmica brasileira carecia de uma introdução em língua portuguesa. Além disso, como as próprias autoras colocam, um dos objetivos do livro é “olhar a língua portuguesa sob o ponto de vista da funcionalidade de seu sistema gramatical, adaptando a Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) da língua inglesa para a nossa língua [...]” (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:13-14). Desse modo, não se trata de uma tradução direta da gramática de Halliday; adaptações foram necessárias para que a gramática fosse aplicável ao português. Por isso, a presente obra resenhada se coloca como referência importante, senão imprescindível, para aqueles, pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação, que se dedicam à investigação da língua portuguesa sob o viés da LSF. É precisamente nessa perspectiva que as autoras afirmam “o livro é uma preparação para a leitura do trabalho de Halliday” (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:11). Neste ponto, é oportuna a distinção entre LSF e GSF: enquanto a primeira se refere a uma concepção teórica mais ampla acerca da linguagem verbal, assumida como semiótica social, como manifestação do comportamento social e como um potencial de significados compartilhados, a segunda corresponde à teoria da lexicogramática, entendida como um recurso para a produção, organização e manifestação de significados, construídos a partir das escolhas linguísticas realizadas num conjunto complexo de redes de opções.

Em termos estruturais, o volume segue uma abordagem didática. É latente a preocupação das autoras, em não limitar o trabalho a uma mera apresentação e discussão dos fundamentos da GSF. Uma prova disso é a proposta de atividades para aplicação dos conceitos ao longo do livro. Tais atividades são passíveis de serem realizadas como parte integrante de um curso de graduação ou pós-graduação, de maneira que o volume não se caracteriza somente como obra de referência, mas como manual de ensino também. Assim, ao final de cada capítulo seguem atividades referentes ao conteúdo discutido. Ressaltamos, também, o bom uso feito com as imagens, quadros e figuras ao longo dos capítulos para facilitar a visualização e entendimento do conteúdo. Todavia, observamos que o uso de negrito, em vez de itálico, para o destaque da terminologia da GSF, facilitaria a identificação e a apreensão dos termos que compõem a metalinguagem da LSF. A inserção de um glossário com os termos mais frequentes e definições concisas para consulta rápida, também seria de grande ajuda, para aqueles que precisam se familiarizar com a terminologia da área. A obra contém um total de cinco capítulos, além de um prefácio de autoria da pesquisadora Nina Célia Almeida de Barros (UFSM), a apresentação das autoras, bibliografia e sugestões de respostas às atividades. Em termos de conteúdo, o foco das autoras recai sobre as três metafunções da linguagem, ou seja, Ideacional (funções lógica e experiencial), Interpessoal e Textual, de tal maneira que cada um dos capítulos se dedica a uma delas. O quinto capítulo, por sua vez, que é de natureza prática, congrega atividades de análise textual. Uma vez feita essa descrição geral, comentaremos, a seguir e em mais detalhes, cada capítulo do livro.

Na Apresentação, as autoras destacam a importância das gramáticas de base descritiva mais recentes no Brasil, que tomam a observação dos usos como princípio essencial para a sistematização dos dados, na elaboração de suas obras. Tais trabalhos buscam integrar a compreensão da estrutura, da funcionalidade e do uso à percepção de seu papel no contexto linguístico. Nessa linha, são situadas a Gramática de Usos do Português, de Maria Helena de Moura (Neves, 2000NEVES, Maria Helena de Moura. 2000. Gramática de usos do português. São Paulo: UNESP.) e a Gramática do Português Brasileiro, de Ataliba (Castilho, 2010CASTILHO, Ataliba de. 2010. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto.). (Fuzer e Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:13-15) apresentam três objetivos contemplados em seu livro: (1) “olhar a língua portuguesa sob o ponto de vista da funcionalidade de seu sistema gramatical, adaptando a Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) da língua inglesa para a nossa língua” (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:13-14); (2) “apresentar, de forma simples e didática, os principais subsídios da GSF” (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:15); e (3) “colaborar para o letramento em língua portuguesa” (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:15). Para tanto, as autoras buscam “aprimorar as habilidades de leitura e escrita sob a perspectiva sistêmico-funcional”, no intuito de “proporcionar subsídios para facilitar a compreensão do mundo que se revela pela linguagem” (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:15). Para alcançar tais objetivos, as exemplificações são extraídas sempre que possível de diferentes corpora de usos autênticos da língua portuguesa, seja de textos da mídia ou de contextos profissionais e do cotidiano.

Na Introdução, ressaltamos o conciso, porém informativo, percurso histórico de elaboração teórica que culminou com a consolidação da LSF. Das contribuições do antropólogo Bronislaw Malinowski, no início do século XX, passando pelo linguista John Rupert Firth e se consolidando em Michael Halliday desde a década de 1960, fluíram as ideias que levaram à publicação, em 1985, da primeira edição do que conhecemos hoje por GSF. Complementarmente, em conjunto com (Matthiessen, 1989), (Neves, 2004NEVES, Maria Helena de Moura. 2004. A Gramática Funcional. São Paulo: Martins Fontes.:58-59) explica que “[...] na base da teoria de Halliday, estão o funcionalismo etnográfico e o contextualismo desenvolvido por Malinowski nos anos 20, além da linguística firthiana da tradição etnográfica de Boas-Sapir-Whorf e do funcionalismo da Escola de Praga”. (Neves, 2004NEVES, Maria Helena de Moura. 2004. A Gramática Funcional. São Paulo: Martins Fontes.:74) também esclarece que “uma gramática funcional destina-se [...] a revelar, pelo estudo das sequências linguísticas, os significados que estão codificados por essas sequências”. Em outras palavras, a LSF tem como foco os significados construídos no discurso pelo encadeamento textual de sequências lexicogramaticais, a fim de que formas e significados adquiram uma relação de complementaridade no todo sistêmico, tendo ainda em vista o contexto social de produção e recepção de textos.

As autoras (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:19) ainda destacam uma questão epistemológica relevante. A LSF “é sistêmica porque vê a língua como redes de sistemas linguísticos interligados”, que oferecem ao falante “um conjunto de alternativas possíveis”; nesse sentido, língua é entendida como um sistema probabilístico de opções. Por outro lado, “é funcional porque explica as estruturas gramaticais em relação ao significado, às funções que a linguagem desempenha em textos”. Salientamos que o que faz da LSF particularmente interessante é o fato de ser uma teoria sociossemiótica “[...] razão pela qual prioriza a íntima relação lexicogramática em interface com a semântica e o discurso, ou seja, o texto na interface com o contexto social em que os usos linguísticos ocorrem” (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:14).

Assim, (Halliday, 1976HALLIDAY, Michael A. K. 1976. Estrutura e função da linguagem. In: LYONS, John. (Org.) Novos horizontes em linguística. São Paulo: Cultrix. p. 134-160.:160) já deixou muito claro que “a múltipla função da linguagem reflete-se na estrutura linguística [...]”, de maneira que as realizações lexicogramaticais em orações e textos são construtos multifuncionais, ou seja, as sequências linguísticas manifestadas em textos realizam, simultaneamente, diferentes funções em diferentes níveis de análise. Em termos metodológicos, é possível que se analise cada um dos níveis separadamente, mas em termos de funcionamento linguístico, os níveis são indissociáveis. Em outras palavras, apesar de as metafunções Ideacional, Interpessoal e Textual serem analisáveis separadamente, elas funcionam no todo do texto e do discurso simultaneamente. A mais recente edição (quarta) da GSF é de 2014, intitulada Halliday’s Introduction to Functional Grammar, foi publicada por Halliday em parceria com Christian M. I. M. Matthiessen. Considerando que nesse mesmo ano também foi publicada a obra que por ora resenhamos, (Fuzer e Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.) fazem referência à terceira edição de 2004 como a mais atual, revista e ampliada.

Conceitos Básicos norteadores da perspectiva sistêmico-funcional é o título do primeiro capítulo. Um dos principais conceitos apresentados é o de Linguagem, entendida como um recurso para a construção e troca de significados no meio social e, consequentemente, como a instanciação de um potencial amplo de significados. Também as noções de texto, assumido como a materialização ou qualquer instanciação da linguagem, como entidade semântica e construto de significados, destinado à troca social, portanto, sempre indissociável de seu contexto mais amplo de cultura e mais imediato de situação. Desse modo, as autoras elucidam acerca das variáveis do contexto de situação (Campo, Relações e Modo), que constituem o Registro. Na sequência, é apresentada a relação intrínseca que guardam essas variáveis contextuais com cada uma das metafunções da linguagem, conforme os propósitos subjacentes aos usos linguísticos, seja para compreender e representar o meio (metafunção Ideacional), seja para estabelecer relações com outros (metafunção Interpessoal), seja para organizar a informação (metafunção Textual). Por último, é apresentada a integração das metafunções aos sistemas lexicogramaticais que as realizam. O capítulo encerra com atividades de análise, que buscam identificar aspectos dos construtos teóricos estudados.

No capítulo dois, Metafunção Experiencial: oração como representação, são explorados os aspectos lexicogramaticais que representam nossas experiências no mundo, sejam elas externas ou internas. Uma distinção fundamental é feita entre as perspectivas tradicional e sistêmico-funcional, no tocante ao sistema de TRANSITIVIDADE: enquanto para a primeira interessa a “relação dos verbos com os seus complementos”, para a segunda “a transitividade é um sistema de descrição de toda a oração, a qual se compõe de processos, participantes e eventuais circunstâncias” (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:40). A associação de processos, participantes e circunstâncias forma o que se denomina figura. A noção de oração como representação deriva dessa associação, que constitui, entre outras, figuras de fazer e acontecer (orações materiais), de sentir (orações mentais), de dizer (orações verbais), de ser e ter (orações relacionais), de comportar-se (comportamental) e de existir (existencial). Desse modo, o capítulo discorre a respeito dos diferentes tipos de orações, com quadros explicativos e ilustrativos que exemplificam com listas de verbos, em língua portuguesa, que realizam os diferentes tipos de processos. Para cada uma das orações são apresentados os tipos de participantes e circunstâncias. Uma quantidade significativa de atividades encerra o capítulo, com exercícios variados para a identificação dos diferentes tipos de processos, participantes e circunstâncias.

O terceiro capítulo, Metafunção Interpessoal: oração como troca, evidencia o modo como os elementos lexicogramaticais são usados, na realização da metafunção Interpessoal da linguagem, para o estabelecimento das interações no meio social. Desse modo, são tratadas duas funções semânticas fundamentais da oração: a proposta, que consiste na troca de bens ou serviços (atividades); e a proposição, que consiste na troca de informações. Ainda nessa perspectiva, são ressaltados dois papéis fundamentais da fala, assumindo a oração como troca: dar, que significa “convidar a receber”; e solicitar, que equivale a “convidar a dar”. Assim, nas interações linguísticas, os falantes fazem ofertas ou demandas, por meio das quais dão ou solicitam bens e serviços ou informações.

O sistema de MODO, como realização no nível lexicogramatical das propostas e proposições, é apresentado nos diferentes modos oracionais: interrogativo, declarativo e imperativo. Também são apresentados os componentes interpessoais básicos da oração: o Modo, integrado pelos elementos Sujeito e Finito, ambos com motivação semântica; e o Resíduo, integrado pelos elementos Predicador, Complemento e Adjuntos. O Sujeito é comumente um grupo nominal ou pronominal, podendo ser omitido ou ficar elíptico; já o Finito é a parte do grupo verbal que apresenta o tempo ou a modalidade (opinião do falante) e a polaridade. O Finito nem sempre se faz presente como um item lexicogramatical separado em língua portuguesa. Os elementos que integram o Resíduo cumprem as funções de especificar referências temporais secundárias, aspectos e fases (semelhança, tentativa, espera), a voz (ativa ou passiva) e o processo, além de indicar causa, modo, finalidade etc. O Predicador é realizado por um grupo verbal menos o operador modal ou temporal; já o Complemento é realizado tipicamente por um grupo nominal, podendo integrar um grupo adjetival; o Adjunto, por sua vez, é realizado por um grupo adverbial (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:110-112). Antes da seção de Atividades que encerra o capítulo, são descritos e classificados os diferentes recursos linguísticos da interpessoalidade, que incluem vocativos, expletivos, verbos modais, adjuntos modais, adjuntos de comentário e expressões modalizadoras. O capítulo apresenta alguns pontos que carecem de revisão: um parágrafo duplicado (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:103-104), e ausência de concordância verbal (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:107 e 113).

O capítulo quatro se intitula Metafunção Textual: oração como mensagem. A partir dos tópicos estrutura da informação, estrutura temática, tema marcado e não marcado, tipos de tema, progressão temática, padrão com tema constante, padrão linear e subdivisão do rema, é explorada a realização lexicogramatical dos significados experienciais e interpessoais, organizados num todo coerente nos textos. Assim, a GSF postula “dois sistemas paralelos e inter-relacionados de análise, que envolvem a organização da mensagem num texto” (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:128): a Estrutura de Informação, no nível do conteúdo, que envolve as informações dadas e novas, orientadas pelo ouvinte; e a Estrutura Temática, no nível da oração, que envolve as funções Tema e Rema, orientadas pelo falante. As autoras afirmam que, para haver coerência e coesão, um texto deve apresentar fluxo informacional, realizado por meio de um equilíbrio entre informações dadas e novas. A partir de uma exemplificação ilustrada e diversificada, as autoras elucidam acerca dos diferentes tipos de tema e da progressão temática.

No quinto e último capítulo, Prática de Análise de Textos, o leitor encontrará dezoito atividades que buscam consolidar de maneira prática as categorias de análise da teoria sistêmico-funcional explicadas nos capítulos anteriores. Em cada uma dessas atividades, são proporcionados variados exercícios, sempre a partir da leitura de excertos de textos de diferentes tipologias e gêneros. A proposta demanda tanto uma análise contextual quanto textual, na tentativa de explorar o universo classificatório estudado. Assim, estão integradas nas atividades desde as variáveis de registro e sua relação com as metafunções, até as categorias lexicogramaticais que compõem cada um dos sistemas. Ao término do livro, as Sugestões de respostas às atividades também contemplam o quinto capítulo (Fuzer; Cabral, 2014FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.:219-228). Para além de possíveis respostas, essa seção apresenta uma explicação fundamentada, que amplia e procura esclarecer ainda mais a teoria.

Cabe ressaltar que, tanto nas explicações quanto nas atividades propostas, as autoras fizeram uso de textos autênticos, como anúncios publicitários, colunas de opinião, enciclopédias virtuais, notícias de jornais, textos acadêmicos, jurídicos e também literários; todos eles passíveis de serem encontrados naturalmente no meio social. Nesse sentido, o emprego de textos autênticos contribui para o desenvolvimento do letramento dos leitores, mostrando que a LSF pode ser aplicada como um caminho que auxilie estudantes, no entendimento do modo como os significados se estruturam em orações, as orações se organizam na tessitura textual e os textos funcionam em sociedade para o estabelecimento da comunicação.

O livro assim apresentado representa um passo importante em direção à divulgação da LSF em território brasileiro, sendo um verdadeiro convite para que os não-iniciados possam se familiarizar com essa área em franco desenvolvimento e expansão. As autoras tornam a teoria sistêmico-funcional de Halliday e Matthiessen mais acessível, apresentando os pontos nodais com aplicações em língua portuguesa e preparando os interessados para a leitura de Halliday. Em termos qualitativos, o livro não deixa a desejar, visto que as autoras cumprem os objetivos que se propuseram: apresentar a língua portuguesa sob o viés da LSF, de forma simples e didática, e como um meio de colaborar para o letramento nessa língua. Esperamos que a obra germine ideias em seus leitores e instigue novos pesquisadores a se enveredarem pelos caminhos da LSF e, diante dessa apreciação, resta-nos desejar a todos leituras proveitosas e produtivas.

Referências bibliográficas

  • CASTILHO, Ataliba de. 2010. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto.
  • FUZER, Cristiane & CABRAL, Sara Regina Scotta. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.
  • HALLIDAY, Michael A. K. 1976. Estrutura e função da linguagem. In: LYONS, John. (Org.) Novos horizontes em linguística. São Paulo: Cultrix. p. 134-160.
  • HALLIDAY, Michael A. K. & MATTHIESSEN, Christian M. I. M. 2014. Halliday’s introduction to functional grammar. London: Routledge.
  • NEVES, Maria Helena de Moura. 2004. A Gramática Funcional. São Paulo: Martins Fontes.
  • NEVES, Maria Helena de Moura. 2000. Gramática de usos do português. São Paulo: UNESP.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2017

Histórico

  • Recebido
    Maio 2016
  • Aceito
    Jan 2017
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