Acessibilidade / Reportar erro

Editorial

Sociedade e Estado chega ao fim do corrente ano com seu último número, mantendo a regularidade de suas publicações quadrimestrais e às vésperas de completar, em 2016, trinta anos de intensa e qualificada atuação na difusão do conhecimento científico das ciências sociais, especialmente da sociologia, no país e no exterior. Mais uma vez, sua tradição em reunir um interessante conjunto de artigos científicos, ensaios, traduções e resenhas, cuja diversidade temática, de abordagens teórico-metodológicas e de filiação institucional dos/as autores/as se mostra bastante significativa, é seguida nas presentes páginas.

Para abrir esse conjunto de publicações, temos a tradução do "Manifesto para as ciências sociais", escrito em coautoria por Craig Calhoun, sociólogo americano, diretor da London School of Economics e catedrático do Colégio dos Estudos Mundiais, e Michel Wieviorka, doutor de Estado em letras e ciências humanas, administrador da fundação "Maison des Sciences de l'Homme" e diretor de pesquisas na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Ehess), em Paris. Trata-se de um texto provocador aos/às cientistas sociais, iniciado pelos seguintes questionamentos:

Se os pesquisadores das ciências sociais de todos os países se unissem, acima de suas inumeráveis diferenças, o que seria de seu comprometimento? Que causa mereceria o risco de seu engajamento?

Na sequência, sete artigos, oriundos do fluxo contínuo de recepção da revista, são apresentados. Grosso modo, estes giram em torno de questões afeitas ao campo da sociologia do trabalho, da violência, da educação, da ciência, das políticas públicas e sociais, bem como em torno de temas como as categorias clássicas da sociologia, como desigualdade, renda, representações sociais e classe social.

O artigo assinado por Sadi Dal Rosso (UnB) e Ana Cláudia Moreira Cardoso (Dieese) intitula-se "Intensidade do trabalho: questões conceituais e metodológicas". Sua discussão central é a falta de consenso entre as definições conceituais do fenômeno contemporâneo da intensidade laboral, também entre seus pressupostos teóricos e suas implicações metodológicas, embora seja tal intensificação uma realidade comum das relações econômicas mundiais sob o paradigma da hegemonia neoliberal.

Cleber da Silva Lopes (UEL) assina o segundo artigo: "Segurança privada e direitos civis na cidade de São Paulo", o qual se volta às violações de direitos civis por seguranças particulares em comparação com aquelas cometidas por policiamento público na cidade de São Paulo. Seus resultados apontam para o fato de policiais excederem os poderes legais que lhes são delegados e usarem a força letal na manutenção da ordem pública, ao mesmo tempo que seguranças privados utilizam muito mais ferramentas físicas e corporais não letais para controlarem a ordem em espaços particulares.

"A tipologia ocupacional Erikson-Goldthorpe-Portocarrero (EGP): uma avaliação analítica e empírica" é o artigo de Flávio Alex de Oliveira Carvalhaes (Cebrap). A partir da análise crítica da tipologia EGP, o autor aponta para a importância de cientistas sociais e pesquisadores/as interessados/as no conceito de "classes sociais" considerarem particularidades impostas pelo mercado de trabalho brasileiro à sua validade empírica como dimensão heurística.

Luiz Antônio Bogo Chies (UFRGS) e Rodrigo Azevedo Passos (UCPel) discutem, em "Auxílio-reclusão: o instituto mal(mau)dito na interface das políticas sociais com as políticas penais", as representações sociais a respeito do benefício pago aos/às dependentes de detentos/as de baixa renda, o que revela uma complexa interface entre a questão social e as políticas penais no país. A pesquisa de base do artigo constata que a repulsa social a respeito do referido auxílio favorece apropriações no campo jurídico e político que levam à vulnerabilidade das conquistas sociais.

"Política energética e agentes científicos: o caso das pesquisas em células a combustível no Brasil", de Thales Novaes de Andrade (UFSCar) e Bruno Rossi Lorenzi (UFSCar), analisa as dimensões políticas e sociais das pesquisas em células a combustível e o uso energético do hidrogênio no Brasil por meio de um estudo de caso. Como referencial teórico, os autores se fundamentam na sociologia da ciência, em especial na teoria Ator-Rede de Bruno Latour e Michel Callon.

O sexto artigo é de José Alcides Figueiredo Santos (UFJF): "Mudanças de renda no Brasil: fatores espaciais, setoriais, educacionais e de status social". Nele são analisadas as influências desses fatores nas alterações de renda no país entre 1992 e 2011. Curiosamente, todos os resultados apresentados pelo jogo de controles estatísticos revelaram diminuição entre a correlação "vantagem de renda e maior escolaridade".

"Por uma sociologia do ensino de sociologia nas escolas: da finalidade atribuída à disciplina à experiência social do alunato, estudos de casos no Distrito Federal" é o nome do último artigo do fluxo contínuo, escrito conjuntamente por Sayonara Leal (UnB) e Tauvana Yung (UnB). Suas reflexões se referem à pesquisa quali/quanti sobre a finalidade intelectual atribuída à disciplina sociologia no ensino médio e as representações a seu respeito por parte de estudantes do Distrito Federal. Dois eixos epistêmicos foram basilares para a investigação: mediações pedagógicas e experiência do alunato acerca da disciplina, possibilitando às autoras apreenderem a constituição das representações.

Em trabalho de caráter ensaístico, Márcio de Oliveira (UFPR) dedica-se à surpreendente identificação de Otávio Ianni sobre a existência de preconceito contra descendentes de imigrantes poloneses em Curitiba (PR) nos anos 1950. Esse tema constitui exatamente o título do seu ensaio.

Duas resenhas finalizam a seção científica da revista. Essas foram elaboradas por Leonardo Nolasco Silva (Uerj) e Bruna Cristina Jaqueto Pereira (UnB). A do primeiro autor dedica-se à obra organizada por Júlia Almeida, Adélia Miglievich-Ribeiro e Heloísa Gomes, "Crítica pós-colonial: panorama de leituras contemporâneas". A segunda autora apresenta a resenha do livro "Mulheres negras no Brasil escravista e do pós-emancipação", organizado por Giovana Xavier, Juliana Farias e Flávio Gomes.

Resumos de dissertações e teses do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UnB (PPGSOL/UnB) são apresentados na sequência - como de praxe, realizando o encerramento de cada número da Sociedade e Estado .

Mais uma vez, agradecemos as inestimadas colaborações dos/as pareceristas, que, voluntariamente, avaliam às cegas os artigos e demais trabalhos submetidos à revista. Do mesmo modo, agradecemos aos/às autores/as que nos prestigiam com a publicação de suas originais e fecundas reflexões, bem como agradecemos aos/às leitores/as que assiduamente têm acompanhado nossos fascículos e os utilizados em suas referências de pesquisa, docência e prática profissional.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2015
Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais - Campus Universitário Darcy Ribeiro, CEP 70910-900 - Brasília - DF - Brasil, Tel. (55 61) 3107 1537 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: revistasol@unb.br