Resumos
O cirurgião muitas vezes encontra dificuldade em recompor o diâmetro interno quando realiza a anastomose término-terminal no tratamento cirúrgico da coarctação da aorta. Um dos fatores determinantes desta dificuldade são as alterações anatômicas típicas da região coarctada, cujo discernimento cirúrgico nem sempre é simples, a despeito de inúmeras e consagradas opções técnicas disponíveis. Nas crianças este fato pode se revestir de importância, dada a eventual possibilidade do reaparecimento de gradientes pressóricos, sendo até possível uma nova intervenção cirúrgica, em alguns casos. Diante disto, os autores apresentam uma proposta técnica cujo objetivo é otimizar o diâmetro da aorta ao nível da anastomose, minimizando, assim, a possibilidade do aparecimento de possíveis gradientes a longo prazo. Assim sendo, após a remoção da área coarctada, são criados, em cada coto, três retalhos de aspecto trapezoidal, os quais, ao serem aproximados, se encaixam à semelhança de uma engrenagem. Estes retalhos trapezoidais são obtidos pela ressecção de três cunhas idênticas e equidistantes em cada coto e a anastomose, com pontos contínuos ou separados, é feita de modo a encaixar as saliências trapezoidais de um coto nas reentrâncias intertrapezoidais do outro coto, dando como resultado uma linha de sutura de aspecto sinusoidal, em zig-zag. Até o presente, foram operados por esta técnica 4 pacientes, cujas idades foram: 2 meses, 4 meses, 10 anos e 36 anos (masculinos, 3). Apenas o primeiro caso tinha cardiopatia congênita associada (OAVC parcial) e todos tinham CoAo severa e HAS. Não ocorreram complicações operatórias, tendo-se observado boa evolução, até o momento. O primeiro caso (2 meses com cardiopatia congênita) recoarctou no 9º mês de evolução, tendo sido necessária reintervenção, devido, provavelmente, a problemas de técnicas ou indicação inapropriada. O método proposto permite restituir e até mesmo aumentar o diâmetro interno da aorta na área de sutura, dependendo, para tanto, do grau de profundidade dos retalhos trapezoidais de cada coto.
aorta; coarctação; cirurgia
The authors propose a technical variation that aimes to optimize the aorta diamenter at the site of the anastomosis, obviating the chance of developing fibrosis retraction and intraortic gradients at the long term follow-up. Following the removal of the coartation site, 3 trapezoidal flaps are shaped at each aorta end. These flaps when approached will fit perfectly. These flaps are shaped by 3 identical coinning at each aortic end, and the anastomosis will approached the projection of one end to the recess of the other. The result is a zig-zag sinusoid like suture. Until now 5 patients underwent this technique with age 2 months, 4 months, 10 and 36 years. Three were male. There were no surgical complication. The first case (2 months with associated congenital cardiopathy) had recoarctation in the 9th month of folow up, and required reintervention. This was problably due to technical difficulties or inadequate indication. The proposed technique yelds a large lumen, maybe even larger than the reference diameter at the anastomosis site. Such diameter depends on the flaps depht in each aortic end.
aortic coarctation; surgery
ARTIGOS ORIGINAIS
Aortoplastia trapezoidal: proposta técnica para correção cirúrgica da coarctação de aorta
Trapezoidal aortoplasty: technic proposal for aortic coarctation
Jarbas J. DinkhuysenI; Luiz Carlos Bento de SouzaI; Paulo ChaccurI; Antoninho S. ArnoniII; Camiilo Abdulmassih NetoI; Walmir F. FontesI; Paulo P. PaulistaII; Adib D. JateneIII
IDo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e do Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio
IIDo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
IIIDo Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Jarbas Dinkhuysen Centro Cirúrgico Rua Desembargador Eliseu Guilherme, 123 04004-030 São Paulo, SP, Brasil
RESUMO
O cirurgião muitas vezes encontra dificuldade em recompor o diâmetro interno quando realiza a anastomose término-terminal no tratamento cirúrgico da coarctação da aorta. Um dos fatores determinantes desta dificuldade são as alterações anatômicas típicas da região coarctada, cujo discernimento cirúrgico nem sempre é simples, a despeito de inúmeras e consagradas opções técnicas disponíveis. Nas crianças este fato pode se revestir de importância, dada a eventual possibilidade do reaparecimento de gradientes pressóricos, sendo até possível uma nova intervenção cirúrgica, em alguns casos. Diante disto, os autores apresentam uma proposta técnica cujo objetivo é otimizar o diâmetro da aorta ao nível da anastomose, minimizando, assim, a possibilidade do aparecimento de possíveis gradientes a longo prazo. Assim sendo, após a remoção da área coarctada, são criados, em cada coto, três retalhos de aspecto trapezoidal, os quais, ao serem aproximados, se encaixam à semelhança de uma engrenagem. Estes retalhos trapezoidais são obtidos pela ressecção de três cunhas idênticas e equidistantes em cada coto e a anastomose, com pontos contínuos ou separados, é feita de modo a encaixar as saliências trapezoidais de um coto nas reentrâncias intertrapezoidais do outro coto, dando como resultado uma linha de sutura de aspecto sinusoidal, em zig-zag. Até o presente, foram operados por esta técnica 4 pacientes, cujas idades foram: 2 meses, 4 meses, 10 anos e 36 anos (masculinos, 3). Apenas o primeiro caso tinha cardiopatia congênita associada (OAVC parcial) e todos tinham CoAo severa e HAS. Não ocorreram complicações operatórias, tendo-se observado boa evolução, até o momento. O primeiro caso (2 meses com cardiopatia congênita) recoarctou no 9º mês de evolução, tendo sido necessária reintervenção, devido, provavelmente, a problemas de técnicas ou indicação inapropriada. O método proposto permite restituir e até mesmo aumentar o diâmetro interno da aorta na área de sutura, dependendo, para tanto, do grau de profundidade dos retalhos trapezoidais de cada coto.
Descritores: aorta, coarctação, cirurgia.
ABSTRACT
The authors propose a technical variation that aimes to optimize the aorta diamenter at the site of the anastomosis, obviating the chance of developing fibrosis retraction and intraortic gradients at the long term follow-up. Following the removal of the coartation site, 3 trapezoidal flaps are shaped at each aorta end. These flaps when approached will fit perfectly. These flaps are shaped by 3 identical coinning at each aortic end, and the anastomosis will approached the projection of one end to the recess of the other. The result is a zig-zag sinusoid like suture. Until now 5 patients underwent this technique with age 2 months, 4 months, 10 and 36 years. Three were male. There were no surgical complication. The first case (2 months with associated congenital cardiopathy) had recoarctation in the 9th month of folow up, and required reintervention. This was problably due to technical difficulties or inadequate indication. The proposed technique yelds a large lumen, maybe even larger than the reference diameter at the anastomosis site. Such diameter depends on the flaps depht in each aortic end.
Descriptors: aortic coarctation, surgery.
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Trabalho realizado no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e no Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio. São Paulo, SP, Brasil.
Apresentado ao 21º Congresso Nacional de Cirurgia Cardíaca. Porto Alegre, RS, 24 a 26 de março, 1994.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
17 Fev 2011 -
Data do Fascículo
Dez 1994