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Relações entre o temperamento infantil aos oito meses e as práticas educativas maternas aos 18 meses de vida da criança

Relations between the child's temperamental characteristics at eight months old and maternal childrearing practices at 18 months old

Resumos

Este estudo investigou as relações entre características do temperamento infantil, avaliadas aos oito meses de vida do bebê, e as práticas educativas maternas, avaliadas aos 18 meses da criança. Participaram 28 díades mãe-criança, com bebês saudáveis do sexo masculino e de nível socioeconômico baixo, residentes em Salvador. Foram aplicados o Questionário de Temperamento Infantil Revisado e a Entrevista Estruturada sobre Práticas Educativas Maternas. A análise de conteúdo permitiu a classificação das práticas educativas maternas em práticas facilitadoras e não facilitadoras do desenvolvimento social. Embora tenham sido encontradas correlações moderadas entre as dimensões limiar de resposta e aproximação-retraimento e o escore total de temperamento e as práticas educativas maternas, a análise de regressão não confirmou nenhuma dessas relações. Discute-se a relevância de variáveis moderadoras e mediadoras e, ainda, particularidades do instrumento utilizado para a avaliação do temperamento.

Desenvolvimento infantil; Práticas educativas maternas; Temperamento infantil


This study investigated the relations between the child's temperamental characteristics assessed when the infant was eight months old and maternal childrearing practices assessed when the child was 18 months old. Participants were 28 mother-child dyads consisting of healthy, male infants and their mothers of low socioeconomic status living in the city of Salvador. The Revised Infant Temperament Questionnaire and the Structured Interview about Maternal Childrearing Practices were used. Content analysis allowed the maternal childrearing practices to be classified into practices facilitating social development and non-facilitating practices. There were moderate correlations between the threshold of response and the approach-withdrawal dimensions and the total score of temperament and maternal childrearing practices. However, regression analysis did not confirm any of these relationships. The relevance of moderator and mediator variables in this relationship and the peculiarities of the instrument used for assessing temperament are discussed.

Child development; Maternal child-rearing practices; Child temperament


ARTIGOS

Relações entre o temperamento infantil aos oito meses e as práticas educativas maternas aos 18 meses de vida da criança

Relations between the child's temperamental characteristics at eight months old and maternal childrearing practices at 18 months old

Sâmia de Carliris Barbosa Malhado; Patrícia Alvarenga

Universidade Federal da Bahia, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. R. Aristides Novis, 197, Estrada de São Lázaro, 40210-730, Salvador, Bahia. Correspondência para/Correspondence to: S.C.B. MALHADO. E-mail: <carliris@gmail.com>

RESUMO

Este estudo investigou as relações entre características do temperamento infantil, avaliadas aos oito meses de vida do bebê, e as práticas educativas maternas, avaliadas aos 18 meses da criança. Participaram 28 díades mãe-criança, com bebês saudáveis do sexo masculino e de nível socioeconômico baixo, residentes em Salvador. Foram aplicados o Questionário de Temperamento Infantil Revisado e a Entrevista Estruturada sobre Práticas Educativas Maternas. A análise de conteúdo permitiu a classificação das práticas educativas maternas em práticas facilitadoras e não facilitadoras do desenvolvimento social. Embora tenham sido encontradas correlações moderadas entre as dimensões limiar de resposta e aproximação-retraimento e o escore total de temperamento e as práticas educativas maternas, a análise de regressão não confirmou nenhuma dessas relações. Discute-se a relevância de variáveis moderadoras e mediadoras e, ainda, particularidades do instrumento utilizado para a avaliação do temperamento.

Unitermos: Desenvolvimento infantil. Práticas educativas maternas. Temperamento infantil.

ABSTRACT

This study investigated the relations between the child's temperamental characteristics assessed when the infant was eight months old and maternal childrearing practices assessed when the child was 18 months old. Participants were 28 mother-child dyads consisting of healthy, male infants and their mothers of low socioeconomic status living in the city of Salvador. The Revised Infant Temperament Questionnaire and the Structured Interview about Maternal Childrearing Practices were used. Content analysis allowed the maternal childrearing practices to be classified into practices facilitating social development and non-facilitating practices. There were moderate correlations between the threshold of response and the approach-withdrawal dimensions and the total score of temperament and maternal childrearing practices. However, regression analysis did not confirm any of these relationships. The relevance of moderator and mediator variables in this relationship and the peculiarities of the instrument used for assessing temperament are discussed.

Uniterms: Child development. Maternal child-rearing practices. Child temperament.

O termo temperamento refere-se às diferenças constitucionais em estilos comportamentais, visíveis em crianças já em idade precoce (Sanson, Hemphill & Smart, 2004). Os avanços nos estudos sobre o temperamento iniciaram-se com o trabalho de Thomas, Chess, Birch, Hertzig e Korn na década de 1960, no Estudo Longitudinal de Nova Iorque - NYLS (Carey & McDevitt, 2007). A partir do estudo de uma amostra de 133 díades mãe-bebê, foram definidas nove dimensões do temperamento: nível de atividade neuromotora, ritmicidade, aproximação ou retraimento, adaptabilidade, intensidade de reação, limiar de resposta, qualidade de humor, distratibilidade e atenção e persistência. A partir das nove dimensões, foi proposta uma classificação de tipos de temperamento infantil em fácil, difícil e de aquecimento lento (Thomas & Chess, 1977). As crianças do grupo de temperamento fácil adaptavam-se rapidamente a novas demandas do ambiente, enquanto aquelas do grupo de temperamento difícil apresentavam dificuldades de adaptação a novas situações e humor negativo. Já as crianças do grupo de aquecimento lento apresentavam dificuldades moderadas de adaptação frente a novas demandas.

Outros modelos teóricos do temperamento surgiram após a proposta de Thomas e Chess (1977), como o de Buss e Plomin (1984). Para eles, o temperamento pode ser definido como um conjunto de traços de personalidade herdados, temporalmente estáveis e evolutivamente adaptativos. No modelo proposto por esses autores, o temperamento constitui-se de quatro dimensões: emocionalidade, atividade neuromotora, sociabilidade e impulsividade.

O temperamento tem sido considerado um importante preditor das práticas educativas parentais, que se constituem como estratégias utilizadas pelos pais na regulação do comportamento infantil, visando a favorecer comportamentos socialmente desejáveis e reduzir comportamentos considerados inadequados pelo grupo social (Papalia, Olds & Feldman, 2006). Hoffman (1994) agrupou as práticas educativas em duas categorias: as estratégias indutivas e as estratégias de força coercitiva. As práticas indutivas caracterizam-se por indicar para a criança as consequências de seu comportamento, a partir de aspectos lógicos da situação. Segundo o autor, através de práticas parentais indutivas, a criança é capacitada, a utilizar essas informações na regulação de sua conduta. Já as práticas de força coercitiva caracterizam-se pela aplicação direta da força, abarcando tanto a ameaça quanto o uso de punição física e castigos. O uso excessivo dessas estratégias provoca medo, ansiedade e raiva na criança e não permite que ela compreenda as implicações de suas ações.

Grusec e Goodnow (1994) sugeriram que a escolha e a eficácia de uma estratégia disciplinar podem depender da personalidade do cuidador, da individualidade da criança e sua faixa etária, da qualidade do relacionamento cuidador-criança e dos costumes e expectativas culturais. Nesse sentido, as relações entre o temperamento infantil e as práticas educativas parentais devem ser concebidas como relações dinâmicas e complexas, que podem ser mediadas ou moderadas por vários outros fatores (Lerner, 1993; Sanson et al., 2004). Desse modo, diferenças infantis de sexo podem estar relacionadas a determinadas características temperamentais e demandar cuidados parentais mais intensivos ou diferenciados. Lima, Lemos e Guerra (2010) e Bascarán, Jover, Llácer, Carot e Sanjuan (2011) encontraram correlações entre a dimensão atividade e o sexo, apontando os meninos como mais ativos do que as meninas. Segundo McClowry (2002), a associação da alta atividade com outras características do temperamento, como a reatividade negativa elevada e a baixa persistência, pode indicar um perfil de temperamento desafiante e constituir um fator de risco para o desenvolvimento psicossocial infantil, bem como para as práticas educativas parentais.

Nessa perspectiva, muitos estudos encontraram relações entre o temperamento difícil e as práticas educativas parentais coercitivas (Hemphil & Sanson, 2001; Clark, Kochanska & Ready, 2000; Patterson & Sanson, 1999; Chen et al., 1998). Contudo, há também estudos que não corroboram esses achados (Alvarenga & Piccinini, 2007; Crockenberg & Litman, 1990). Outras evidências apoiam a noção de que não é o perfil geral de temperamento, mas apenas algumas de suas dimensões específicas, que constituiriam preditores das práticas educativas maternas. Essas pesquisas destacam as dimensões intensidade de reação, humor e aproximação-retraimento na compreensão das práticas educativas parentais.

Por exemplo, no estudo de Clark et al. (2000), mães com altos níveis de neuroticismo apresentaram um estilo de disciplina caracterizado pela punição física, e essa característica materna em associação com a emocionalidade negativa da criança foi preditora de práticas que envolviam a coação física.

Chen et al. (1998), por sua vez, desenvolveram um estudo no qual as atitudes parentais de criação de filhos foram correlacionadas com o comportamento infantil de inibição em duas amostras culturais diferentes: canadense e chinesa. Na amostra chinesa, a inibição infantil esteve associada à ausência de punição física parental, enquanto na amostra ocidental esse comportamento esteve correlacionado com a presença da punição física parental. Esses estudos indicam a relevância de compreender as características do comportamento infantil em interação com crenças e práticas parentais, considerando-se também o contexto cultural.

Em outra investigação, Patterson e Sanson (1999) revelaram achados que sugeriram uma forte associação entre a reatividade infantil negativa e práticas parentais punitivas. Há ainda, estudos que destacam o impacto de outras dimensões do temperamento, como a alta sociabilidade e a alta atividade física infantis, associadas respectivamente a práticas parentais com baixos níveis de punição (Hemphill & Sanson, 2001) e a práticas maternas não facilitadoras do desenvolvimento social da criança (Patterson & Sanson, 1999; Goldsmith et al., 1987).

A literatura indica o impacto das características do temperamento infantil sobre as práticas educativas parentais. Contudo, além das controvérsias a respeito do caráter preditivo do perfil de temperamento (fácil ou difícil), ainda não são claras as dimensões desse construto que se relacionam de modo mais consistente com as práticas educativas parentais.

Assim, o objetivo deste estudo foi investigar as relações entre características do temperamento infantil, avaliadas aos 8 meses de vida do bebê, e as práticas educativas maternas, avaliadas aos 18 meses das crianças. Embora se compreenda o caráter dinâmico de tais relações, o temperamento infantil foi considerado preditor das práticas educativas maternas. Desse modo, o temperamento infantil foi avaliado aos 8 meses de vida do bebê para que o mesmo não sofresse um maior impacto das práticas educativas maternas. Já as práticas educativas maternas foram avaliadas aos 18 meses de vida da criança para que pudesse ser contemplado um repertório mais amplo de estratégias, já que nessa idade características do desenvolvimento infantil contribuem para situações mais frequentes de conflito entre a díade (Piccinini, Frizzo, Alvarenga, Lopes & Tudge, 2007).

As hipóteses do presente estudo foram construídas com base na aproximação entre definições de dimensões de diferentes modelos teóricos do temperamento e aquelas propostas no modelo de Thomas e Chess (1977). Com relação à análise das práticas educativas maternas, foi adotada uma adaptação do modelo proposto por Alvarenga e Piccinini (2009), o qual as classifica em práticas facilitadoras do desenvolvimento social e práticas não facilitadoras do desenvolvimento social. As práticas facilitadoras abrangem a assertividade, a sensibilidade e o envolvimento positivo dos pais com a criança, favorecendo a aquisição da competência social infantil; assim, configuram um construto que envolve dimensões como motivação e envolvimento social e que está relacionado à aceitação por parte dos pares (Vaughn et al., 2009). Já as práticas não facilitadoras estão associadas ao deficit de competência social e ao desenvolvimento de problemas de comportamento infantil, por envolverem, além da coerção, características como a intrusividade e a permissividade maternas. O comportamento antissocial infantil é um exemplo de comprometimento relacionado às práticas maternas não facilitadoras (Patterson, Reid & Dishion,1992). As seguintes hipóteses foram testadas: 1) Quanto mais difícil o temperamento da criança maior será a frequência de práticas não facilitadoras; 2) A alta intensidade de reação e o humor negativo estarão correlacionados positivamente com as práticas não facilitadoras, 3) A dimensão aproximação-retraimento estará correlacionada positivamente com as práticas facilitadoras (quanto mais retraimento, mais práticas facilitadoras).

Método

Participantes

Participaram do estudo 28 díades mãe-criança. As díades foram constituídas por bebês do sexo masculino, com boas condições de saúde, de famílias de nível socioeconômico baixo, e residentes na Região Metropolitana de Salvador. As díades fazem parte da amostra de um estudo longitudinal mais amplo, que investiga determinantes sociodemográficos, familiares e individuais do comportamento antissocial na Infância e que pretende acompanhar díades mãe-filho desde a gestação até o 11º ano de vida das crianças. Para isso, o estudo longitudinal investiga uma amostra de risco para o desenvolvimento de comportamento antissocial (Colder, Mott & Berman, 2002), na qual todos os bebês são do sexo masculino e de Nível Socioeconômico (NSE) baixo. Os dados sociodemográficos foram coletados no período da gestação. A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas das díades participantes do estudo.

A idade média das mães foi de 29,64 anos (DP=5,58). A média de escolaridade, em anos de estudos, foi de 11,24 (DP=2,10) para as mães, e de 10,72 (DP=2,20) para os pais. Em sua maioria, as mães não eram primíparas e não exerciam atividade remunerada no período da gestação, contrariamente aos pais, que desenvolviam algum tipo de trabalho remunerado. A média do número de filhos para cada mãe foi M=0,71 (DP=0,89), sendo que a maioria relatou viver com o pai do bebê. A renda média da família foi de R$824,52 (DP=396,15).

Delineamento e procedimentos

Foi utilizado um delineamento correlacional (Robson, 1993), envolvendo a variável preditora temperamento infantil e a variável predita práticas educativas maternas. As mães foram inicialmente contatadas em maternidades públicas de Salvador, através da técnica de amostragem por acessibilidade, e nessa ocasião as gestantes preencheram individualmente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a Ficha de Dados Sociodemográficos e Saúde da Gestante. No oitavo mês de vida do bebê as díades receberam uma visita domiciliar durante a qual foi aplicado o Questionário de Temperamento Infantil Revisado. Por fim, no décimo oitavo mês de vida da criança foi realizada a Entrevista Sobre Práticas Educativas Maternas, novamente durante uma visita domiciliar. A aplicação dos instrumentos foi feita sob a forma de entrevista, e as respostas das participantes foram registradas pelos pesquisadores. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. Todas as providências referentes ao atendimento das diretrizes e normas éticas da pesquisa com seres humanos foram devidamente observadas e atendidas. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia em 28 de maio de 2009.

Instrumentos

1) Ficha de Dados Sociodemográficos e Saúde da Gestante: utilizada para a investigação da idade da gestante, escolaridade, renda familiar, número de filhos, estado de saúde durante a gestação, além de outras informações.

2) Questionário de Temperamento Infantil Revisado - 4 a 11 meses (Carey & McDevitt, 2007): utilizado para a avaliação do temperamento infantil em bebês de 4 a 11 meses de vida, a partir de informações fornecidas pelos cuidadores. É um questionário estruturado com 105 itens, que abrangem vários aspectos da rotina do bebê, como sono, alimentação, evacuações etc. Para cada item, as respostas da mãe são registradas em uma escala Likert de seis pontos. O coeficiente Alfa de Cronbach específico da versão original do Questionário de Temperamento Infantil Revisado foi 0,57. Em seis das nove dimensões (atividade, ritmicidade, aproximação/retraimento, adaptabilidade, intensidade de reação e qualidade de humor), quanto mais alto for o escore, mais difícil é o temperamento. Os escores nas outras três dimensões (persistência, distratibilidade e limiar de resposta) não compõem o escore total de temperamento da criança, que é obtido pela soma das seis dimensões mencionadas acima. Para fins de classificação dos diferentes perfis de temperamento (fácil, difícil, aquecimento lento, intermediário baixo e intermediário alto), foram utilizados os critérios de Bosa (1993). O instrumento foi adaptado para o presente estudo. A adaptação consistiu na tradução e retrotradução, que revelou mais de 80% de correspondência entre os itens da versão original e da versão retrotraduzida. A versão traduzida foi aplicada em 15 mães de bebês de 4 a 11 meses em um estudo piloto, com algumas modificações nos itens. Além disso, foram criados cartões de resposta para facilitar a aplicação do instrumento sob a forma de entrevista.

3) Entrevista Sobre Práticas Educativas Maternas: foi utilizada para a investigação das práticas educativas utilizadas pelas mães na regulação do comportamento dos filhos. É uma entrevista estruturada, adaptada a partir da proposta de Alvarenga e Piccinini (2001), apresentando seis situações que envolvem conflito e que são usuais do cotidiano de mães e de crianças com dezoito meses de vida. As respostas das mães foram submetidas à análise de conteúdo (Bardin, 1977) a partir da estrutura de categorias adaptada de Piccinini et al. (2007), em dois grupos principais de práticas maternas: a) Práticas facilitadoras do desenvolvimento social (negocia e troca; comanda verbalmente sem coerção; muda os hábitos; explica apontando consequências; explica apontando convenções e interfere no ambiente físico); e b) Práticas não facilitadoras do desenvolvimento social (faz ameaça de punir/retirar privilégio; retira privilégio/castiga; pune verbalmente; pune fisicamente; coage fisicamente e faz ameaça de cunho religioso/fictício). Foram ainda utilizadas outras três categorias de práticas (delega para outra pessoa, engana e não interfere), as quais, porém, serão desconsideradas no presente estudo. A análise de conteúdo das entrevistas foi realizada por dois codificadores independentes. O índice de fidedignidade foi calculado com base em 30% das entrevistas, obtendo-se valor médio do coeficiente Kappa de 0,83.

Análise dos dados

Foram utilizados procedimentos de estatística descritiva e inferencial, a partir dos dados quantitativos gerados pela análise de conteúdo das entrevistas e dos escores de temperamento das crianças. Assim, foi realizada a análise das correlações entre as diferentes categorias de práticas educativas utilizadas, os escores totais de temperamento e os escores em cada uma das nove dimensões de temperamento. A partir da análise de correlações, as dimensões que se mostraram relevantes foram utilizadas em uma análise de regressão.

Resultados

A avaliação do temperamento infantil revelou um escore total médio de 20,65 (DP=2,19). A análise dos perfis de temperamento dos bebês revelou que 7 deles apresentaram temperamento fácil, enquanto 21 apresentaram temperamento intermediário baixo. Nenhum bebê apresentou temperamento difícil, de aquecimento lento ou intermediário alto, de acordo com os critérios de Bosa (1993).

A Tabela 2 apresenta as frequências médias e desvios-padrão do total de cada categoria de prática educativa materna e também do total geral de práticas facilitadoras e não facilitadoras, considerando-se conjuntamente as respostas das mães nas seis situações analisadas. Foi analisado um total de 287 unidades de análise, mas no presente estudo serão analisadas apenas as práticas categorizadas como facilitadoras e não facilitadoras equivalentes a um total de 204 práticas. De acordo com os dados analisados, a frequência média do total de práticas foi 7,29 (DP=2,65), observando-se que a frequência média do total de práticas facilitadoras (M=3,68; DP=1,63) foi muito semelhante à das não facilitadoras (M=3,61; DP=1,95).

Foi realizada uma análise das correlações (teste de correlação de Pearson) entre as duas categorias de práticas educativas maternas, o escore total de temperamento e os escores das nove dimensões de temperamento. A Tabela 3 apresenta os resultados das correlações entre o temperamento infantil e as práticas educativas maternas. Houve uma correlação negativa moderada entre o escore total de temperamento e o total de práticas facilitadoras (r=-0,39; p<0,05), indicando que quanto mais fácil é o temperamento do bebê, maior a frequência de práticas maternas facilitadoras. Foi verificada também uma correlação negativa moderada entre a dimensão aproximação-retraimento e o total de práticas facilitadoras (r=-0,46; p<0,01), revelando que, quanto mais a criança resiste a novos contextos, menos as mães utilizam práticas facilitadoras. Entre a dimensão limiar de resposta e o total de práticas facilitadoras, foi constatada uma correlação negativa moderada (r=-0,41; p<0,05), o que indica que, quanto mais sensivelmente a criança reage a estímulos do ambiente, menos ela recebe práticas educativas facilitadoras. Além disso, foi encontrada uma correlação positiva moderada entre a dimensão limiar de resposta e o total de práticas não facilitadoras (r=0,32; p<0,05), indicando que, quanto mais sensivelmente a criança reage a estímulos do ambiente, mais as mães utilizam práticas não facilitadoras.

Foram realizadas, ainda, análises de regressão múltipla com base nas hipóteses e nos resultados da análise de correlações, porém nenhuma das dimensões do temperamento inseridas nas regressões explicou a variância nas frequências de práticas facilitadoras e não facilitadoras.

Discussão

Os resultados do presente estudo revelaram que as práticas facilitadoras e as práticas não facilitadoras foram relatadas pelas mães com frequências semelhantes, embora as práticas facilitadoras tenham apresentado uma frequência levemente superior àquela encontrada para as não facilitadoras. Esse resultado obtido encontra apoio na literatura, na medida em que aos 18 meses de vida da criança ocorre um estágio inicial de incremento da competência verbal, o que se relaciona às práticas educativas parentais que também envolvem maior conteúdo verbal. Com a aquisição gradual de repertório verbal, as crianças desenvolvem, nessa fase, a habilidade de negociar as exigências e solicitações dos pais, de outros adultos e dos pares. Isso, por outro lado, também pode resultar na inabilidade parental em lidar com a mudança do comportamento infantil (Alvarenga, Piccinini, Frizzo, Lopes & Tudge, 2009; Crockenberg & Litman, 1990; Mussen, Conger, Kagan & Huston, 1990; Piccinini et al., 2007) e na necessidade de lançar mão tanto de práticas facilitadoras como não facilitadoras nesse período.

Estudos como os de Piccinini, Castro, Alvarenga, Vargas e Oliveira (2003) e de Alvarenga e Piccinini (2003) indicam o predomínio das práticas não coercitivas sobre as coercitivas. Em outro estudo, Alvarenga e Piccinini (2009) também sugerem que cuidadores com bom repertório de habilidades parentais negociam ou raciocinam com a criança sobre situações conflituosas com maior frequência, enquanto pais com repertório escasso tendem a recorrer com maior facilidade a práticas coercitivas, como ameaças e castigos. Assim, é possível que as mães do presente estudo ainda necessitem desenvolver um repertório de práticas mais amplo para que recorram com menor frequência a práticas não facilitadoras do desenvolvimento social.

Com relação às hipóteses do presente estudo, a primeira delas a ser testada foi de que, quanto mais difícil fosse o temperamento da criança, maior seria a frequência de práticas maternas não facilitadoras. Essa hipótese não foi confirmada. Porém, o escore total de temperamento esteve negativamente correlacionado com as práticas facilitadoras, o que constitui uma evidência a favor da noção que prevê o impacto do temperamento infantil sobre as práticas educativas maternas. Esse resultado mostra que, quanto menor o escore total de temperamento (isto é, quanto mais fácil o temperamento da criança), maior a frequência de práticas facilitadoras, no relato da mãe. A literatura tem indicado que o temperamento fácil está associado com a utilização de práticas educativas facilitadoras do desenvolvimento social infantil (Goldsmith et al., 1987; Hemphil & Sanson, 2001; Patterson & Sanson, 1999). É importante destacar que o escore total médio dos bebês foi baixo e que nenhum bebê foi classificado como de temperamento difícil. Essa característica da amostra certamente afetou as análises realizadas, diminuindo a probabilidade de que fossem encontradas correlações entre escores mais elevados de temperamento (temperamento difícil) e as práticas educativas parentais.

A segunda hipótese do estudo, de acordo com a qual a alta intensidade de reação e o humor negativo estariam correlacionados positivamente com as práticas maternas não facilitadoras, não foi confirmada. Não houve correlação entre o humor e as categorias de práticas não facilitadoras, nem entre a intensidade de reação e esse tipo de prática. Esses resultados não apresentam respaldo na literatura, como indicam os estudos de Baumrind (1996); Patterson e Sanson (1999) e Clark et al. (2000), os quais referem que as dimensões que se relacionam com o humor desagradável e a alta intensidade de reações na criança, associam-se a práticas educativas parentais punitivas. É possível que os baixos escores obtidos nas dimensões, que indicaram o predomínio de características de temperamento fácil nos bebês, expliquem, pelo menos em parte, a ausência de resultados significativos acerca dessas relações.

Por fim, a terceira hipótese previa que a dimensão aproximação-retraimento estaria correlacionada positivamente com as práticas maternas facilitadoras. Isto é, quanto maior tendência ao retraimento o bebê apresentasse, mais práticas educativas facilitadoras seriam reportadas pela mãe. Esta hipótese não foi confirmada, já que os resultados revelaram que, quanto mais a criança resiste a novos contextos, menos as mães utilizam práticas facilitadoras. A literatura tem sugerido que alta inibição em crianças relaciona-se a práticas educativas parentais de maior sensibilidade ou a um estilo mais brando de disciplina (Baumrind, 1996). Contudo, os resultados do estudo de Chen et al. (1998) referente às correlações do comportamento parental com a inibição infantil, com participantes canadenses e chineses, indicaram essa relação apenas para a amostra chinesa, na qual quanto maior a tendência à inibição na criança, mais frequente a utilização de práticas não punitivas e de práticas de aceitação. Na amostra canadense os resultados foram na direção oposta. Esses resultados podem refletir a relevância de demandas e valores culturais do ambiente no qual a criança se desenvolve, que poderiam interferir na escolha de práticas parentais (Lerner, 1993). É possível que, por se tratar de uma cultura ocidental, a cultura baiana faça com que as mães percebam as atitudes de aproximação de modo mais positivo do que as atitudes de retraimento, o que explicaria, pelo menos em parte, a relação negativa entre práticas facilitadoras e o retraimento infantil.

Outro resultado significativo que merece ser destacado foi o de que quanto mais sensivelmente a criança reage a estímulos do ambiente, menos ela recebe práticas educativas facilitadoras, e mais recebe práticas não facilitadoras. Altos escores nessa dimensão indicam a alta sensibilidade infantil em reagir frente a diferenças na percepção de cheiros, sabores, luzes e sons do ambiente. Essa reação pode estar associada a uma consequente expressão de retraimento infantil às variações de estímulos do ambiente, o que, por sua vez, pode estar implicando, no presente estudo, na maior ocorrência de comportamentos maternos que visem interromper, de modo imediato e através de práticas não facilitadoras, reações de alta sensibilidade infantil. Nesse sentido, para Thompson (1999), características de persistência, humor, adaptabilidade, nível de atividade e limiar de resposta são importantes atributos prévios dos bebês que influenciam seus cuidadores e constituem as fundações do crescimento da personalidade infantil.

Considerações Finais

Corroborando os achados da literatura, os resultados do presente estudo indicam que algumas das características do temperamento infantil podem predizer a frequência de uso de práticas facilitadoras e não facilitadoras. O temperamento fácil esteve relacionado às práticas facilitadoras, enquanto a tendência a se retrair no bebê esteve relacionada às práticas não facilitadoras, e o limiar de resposta esteve associado a ambos os tipos de práticas educativas avaliadas.

Como limitações, o presente estudo aponta características particulares de uma pequena amostra analisada, composta apenas por mães de baixa escolaridade, com bebês do sexo masculino e da região Nordeste do País. Além disso, é importante considerar particularidades da avaliação do temperamento, baseada em um instrumento com baixa consistência interna, altamente estruturado e padronizado para uma população de valores culturais diversos daqueles apresentados pela amostra pesquisada. Deve-se ainda acrescentar que as práticas educativas maternas utilizadas podem marcar especificidades culturais regionais sobre a percepção do modo mais eficaz de lidar com a criança.

De qualquer modo, apesar das limitações apontadas, as evidências do presente estudo, somadas aos achados das investigações realizadas em diferentes culturas nas últimas quatro décadas, fortalecem a noção de que certas características de temperamento dos bebês podem estar associadas a diferentes estratégias adotadas pelas mães para lidar com seu comportamento. Bebês de temperamento fácil parecem incentivar em suas mães a adoção de práticas mais amenas e associadas ao desenvolvimento social pleno.

Contudo, quanto às dimensões específicas do temperamento que estão associadas às práticas parentais, os achados do presente estudo sugerem a possibilidade de que tais características específicas variem de acordo com a cultura. As dimensões limiar de resposta e aproximação-retraimento relacionaram-se com as práticas maternas neste estudo, enquanto em outros elas não foram consideradas relevantes ou se relacionaram com as práticas de modo diverso. Nesse sentido, o presente estudo, ao mesmo tempo que aponta o temperamento como uma característica infantil que pode indicar o risco de práticas educativas mais ou menos favoráveis ao desenvolvimento, também enfatiza o impacto de características valorizadas culturalmente sobre essa relação. Esses achados revelam a necessidade de que novas investigações sejam conduzidas, se possível com amostras maiores e mais diversificadas no que se refere às características do temperamento infantil, com destaque para o perfil de temperamento difícil, e levando em conta aspectos relacionados às diferentes dimensões desse construto e à cultura. Adicionalmente, estudos longitudinais que avaliem as duas variáveis, simultaneamente, isto é, nos mesmos pontos temporais, podem indicar achados mais consistentes, uma vez que nessa etapa do desenvolvimento infantil os padrões de interação mãe-criança passam por mudanças marcantes que costumam repercutir nas práticas educativas maternas, podendo também produzir efeitos sobre o temperamento da criança.

Recebido em: 22/3/2011

Versão final em: 15/3/2012

Aprovado em: 16/4/2012

Artigo elaborado a partir da dissertação de S.C.O. BARBOSA, intitulada "Relações entre o temperamento infantil e as práticas educativas maternas: estudo longitudinal dos oito aos 18 meses de vida". Universidade Federal da Bahia, 2010. Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Fev 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 2012

Histórico

  • Recebido
    22 Mar 2011
  • Aceito
    16 Abr 2012
  • Revisado
    15 Mar 2012
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