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APRESENTAÇÃO

O volume 45 número 2 do periódico Trabalhos em Lingüística Aplicada está inteiramente voltado para a escrita. Convém ressaltar que esse tema não foi escolhido propositadamente nem foi encomendado por um organizador, mas surgiu espontaneamente do afluxo de artigos que chegaram ao Setor de Publicações do Instituto de Estudos da Linguagem, responsável por administrar sua entrada. Tal acontecimento aponta para a grande importância que essa temática continua tendo não apenas no ensino de língua estrangeira mas, sobretudo, no de língua portuguesa e, nos dias de hoje, também, no ensino de Libras. Dessa forma, este volume reúne oito textos que passamos a apresentar de modo bastante sintético.

O texto de autoria de Marcos Baltar propõe um programa de disciplina que contemple o ensino-aprendizagem de língua materna como "uma ação linguajeira significativa, que entende a produção de textos empíricos como instrumento de interação com os ambientes discursivos constituintes do tecido social". Como exemplo, apresenta uma experiência no Departamento de Letras da Universidade de Caxias do Sul, sob sua orientação, em que o gênero resenha ganhou destaque. O trabalho com os gêneros da mídia impressa mostraram-se igualmente produtivos, propiciando o contato do aluno com uma diversidade de gêneros textuais, capaz de colaborar para a sua qualificação acadêmica e possibilitar a sua real inserção nos ambientes discursivos da sociedade.

Cátia Azevedo Fonza, Aline Lorandi e Patrícia Beatriz Lemes, a partir de um corpus de textos escritos por alunos do ensino fundamental de escolas particulares, oferecem subsídios para a forma como as crianças representam graficamente o sistema fonológico da língua, que já dominam em sua forma oral quando vão para a escola, a fim de promover um acompanhamento para a superação dessas dificuldades ao longo dos anos de escolarização.

O texto de autoria de Manoel Luiz Gonçalves Corrêa analisa uma amostra de respostas dissertativas do Provão 2001 (formandos em Letras), com base num texto supostamente atribuído a uma menina de dez anos, investigando a diversidade de saberes mobilizados nos processos de textualização. Dentre as conclusões polêmicas, pode-se destacar: a) que o grau de escolaridade não se confunde com a ausência do orla no escrito; b) que o grau de escolaridade não serve para como medida segura do grau de letramento, pois implicaria defini-lo, exclusivamente, em função de sua relação com a escrita; c) que os gêneros discursivos orais permanecem presentes no texto escrito de uma criança e nos textos de adultos que detêm um saber especializado em produção/compreensão de textos escritos; d) que uma outra concepção de escrita, capaz de reconhecer e trabalhar com a convivência entre o oral e o escrito, poderia render bons frutos no trabalho pedagógico.

Simone Bueno Borges da Silva faz uma análise dos PCN de Língua Portuguesa, com o objetivo de observar como os conceitos migram da esfera acadêmica para a esfera educacional. Para isso, serve-se do conceito de retextualização, comparando as definições apresentadas em textos fontes e suas formas retextualizadas nos PCN, para discutir a legibilidade do texto resultante, considerando o público alvo – professores do Ensino Fudamental. A eliminação das referências teóricas para a definição do conceito na fonte e a ressignificação conceitual que se dá no documento curricular, fruto das operações de retextualização, agregando e ampliando as noções provenientes de referenciais teóricos por vezes incompatíveis, são algumas das conseqüências apresentadas por essa migração que traz importantes conseqüências para a formação do professor.

O texto seguinte, de autoria de Denise Lino de Araújo, Edmilson Luiz Rafael e Maria Augusta Reinaldo pretende caracterizar a entrevista escrita tanto como gênero escrito quanto como uma prática letrada, numa situação de processo seletivo. A análise recai sobre provas escritas em que os candidatos são instados a redigirem respostas a questões guiadas por um texto base usadas na prova de leitura. A presença dessa situação de escrita no processo seletivo simplificado pode favorecer um efeito retroativo no que diz respeito ao ensino de gêneros textuais e às práticas letradas a eles relacionadas, tanto na educação básica, quanto nos cursos de formação inicial e continuada de professores.

Marília da Piedade Marinho Silva apresenta resultados parciais de sua tese de doutorado, focalizando a relação sintático-semântica dos verbos em língua brasileira de sinais, Libras, analisada de acordo com suas propriedades, representações e significações. Depois de um estudo pertinente dos verbos em Libras, classificando-os tanto do ponto de vista morfológico quanto do ponto de vista semântico, a partir da gramática gestual-visual, a autora conclui que é preciso conhecer os diferentes tipos de negociação, provenientes das diferentes representações semânticas, para aprender a respeitar a escrita dos alunos surdos, e não taxá-los, simplesmente, como cognitivamente incapazes ou deficientes. Tratase, portanto, de um texto que questiona a inserção de surdos em salas de aula de ouvintes, quando não se conhece nem se respeita a sua singularidade.

O trabalho de Maria Augusta de Macedo Reinaldo descreve, a partir de dados obtidos em dois momentos de intervenção em um curso de especialização, “como professoras de língua portuguesa do ensino fundamental e médio mobilizam saberes de referência científica e experiencial para análise de material didático sobre produção de texto escrito”.

Depois de conceituar gênero e de apresentar algumas pesquisas sobre cartas comerciais, Rodrigo Esteves de Lima-Lopes discute a estrutura de 104 cartas de venda de produtos e serviços. Introduz conceitos como o da essencialidade e o da não-essencialidade, para determinar quais os movimentos imprescindíveis para a realização do gênero e da hierarquia, na avaliação da importância de um passo dentro de um movimento. Segundo o autor, essa é uma das contribuições do trabalho para a análise do gênero.

Antes de encerrar esta apresentação, gostaríamos de informar nossos leitores de que o periódico Trabalhos em Lingüística Aplicada continua, por mais dois anos, sob a responsabilidade das mesmas docentes do Departamento de Lingüística Aplicada, embora com as funções trocadas: Profª Drª Matilde V. Scaramucci, na função de editor-chefe, e Profª Drª Maria José R. F. Coracini, na função de editor-assistente. Na certeza de poder continuar a contar com a colaboração de todos, colocamo-nos à disposição para ouvir as sugestões que possam contribuir para melhorar a qualidade de nossa revista.

Matilde V. Scaramucci

Maria José R. F. Coracini

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Out 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 2006
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