Acessibilidade / Reportar erro

Uma interlíngua conexionista

A connectionist interlanguage

Resumos

Neste artigo é feita uma reflexão sobre o fenômeno dos erros lingüísticos, sua possível natureza e sua importância para os processos de aprendizagem de línguas (ASL). Após discutir o conceito de 'interlíngua' (Selinker 1972;1996) aponto semelhanças e diferenças conceituais entre a idéia de uma interlíngua e a filosofia conexionista para a aquisição e processamento da linguagem, buscando compatibilizar o construto 'interlíngua' com redes conexionistas. Concluo especulando que o processamento da linguagem parece ser basicamente regido por um sistema probabilístico.

conexionismo; aquisição de segunda língua; processos cognitivos


In this paper a reflection is made about the pervasive phenomenon of linguistic errors, their possible nature and the role they seem to play in the processes of second language acquisition (SLA) in particular. An analogy is drawn between the concept of an 'interlanguage', as originally proposed by Selinker (1972;1996), and connectionist models of language acquisition and processing. Language processing, it is suggested here, seems to be governed mainly by a probabilistic system.

connectionism; second language acquisition; cognitive processes


ARTIGOS

Uma interlíngua conexionista* * Este artigo, recentemente reformulado, foi apresentado como comunicação no 52º Seminário do GEL (Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo) realizado no IEL/Unicamp, Campinas, em julho de 2004.

A connectionist interlanguage

Fernando G. Ferreira Junior

Professor do CEFET-Ouro Preto e doutorando em Estudos Lingüísticos pela UFMG. Contato com o autor: jr_fernando@hotmail.com

RESUMO

Neste artigo é feita uma reflexão sobre o fenômeno dos erros lingüísticos, sua possível natureza e sua importância para os processos de aprendizagem de línguas (ASL). Após discutir o conceito de 'interlíngua' (Selinker 1972;1996) aponto semelhanças e diferenças conceituais entre a idéia de uma interlíngua e a filosofia conexionista para a aquisição e processamento da linguagem, buscando compatibilizar o construto 'interlíngua' com redes conexionistas. Concluo especulando que o processamento da linguagem parece ser basicamente regido por um sistema probabilístico.

Palavras-chave: conexionismo; aquisição de segunda língua; processos cognitivos.

ABSTRACT

In this paper a reflection is made about the pervasive phenomenon of linguistic errors, their possible nature and the role they seem to play in the processes of second language acquisition (SLA) in particular. An analogy is drawn between the concept of an 'interlanguage', as originally proposed by Selinker (1972;1996), and connectionist models of language acquisition and processing. Language processing, it is suggested here, seems to be governed mainly by a probabilistic system.

Keywords: connectionism; second language acquisition; cognitive processes.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido: 06/09/2005

Aceito: 29/08/2006

  • Bod, R., Hay, J. & Jannedy, S. (2003). Introduction. In: Rens Bod, Jennifer Hay & Stefanie Jannedy. Probabilistic Linguistics. Cambridge, MA: Bradford/MIT Press. pp. 01-10.
  • Corder, P. (1967). The significance of learners' errors. International Review of Applied Linguistics, 5. pp. 161-169.
  • _______. (1973). Linguistics and the language teaching syllabus. In: J.P.B Allen and P. Corder (eds). The Edinburg Course in Applied Linguistics. London: Oxford University Press. pp. 275-284.
  • (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa Rio de Janeiro: Editora Objetiva.
  • Elman, J. L. (1990). Finding structure in time. Cognitive Science, 14. pp. 179-211.
  • Elman, J. et al. (1998). Rethinking Innateness: a connectionist perspective on development Massachusetts: MIT Press.
  • Ellis, N. C. (2004). The processes of second language acquisition. In: Van Patten et. al. (Eds.). Form-Meaning Connections in Second Language Acquisition. New Jersey: LEA. pp. 49-76.
  • Ellis, R. (1997). Second Language Acquisition. Oxford: Oxford University Press.
  • Ferreira Junior, F. G. (2005). Dos grupos de discussão às redes neurais: Reflexões sobre o desenvolvimento de um léxico mental. Revista Brasileira de Lingüística Aplicada, Vol.5, n.2, pp. 231-252.
  • Gómez, R. & Gerken, L. (1999). Artificial grammar learning by 1-year-olds leads to specific and abstract knowledge. Cognition, 70. pp. 109-135.
  • _______. (2000). Infant artificial language learning and language acquisition. Trends in Cognitive Science, Vol.4, n.5, pp. 178-186.
  • McClleland, J. L. & Rumelhart, D. (1981). E. An interactive activation model of context effects in letter perception: Part 1. An account of basic findings. Psychological Review, 88. pp. 287-330.
  • Rumelhart, D. & McClelland, J. (1986). On learning the past tenses of English verbs. In: D.E. Rumelhart & J. L. McClelland (orgs) In: Parallel Distributed Processing (Explorations in the Microstructure of Cognition), Vol.1. MIT Press. pp. 216-271.
  • Seidenberg, M. (1997). Language Acquisition and Use: Learning and Applying Probabilistic Constraints. Science, 275. pp. 1599-1603.
  • Selinker, L. (1972). Interlanguage. IRAL, 10. pp. 209-31.
  • _______. (1969). On the notion of 'IL competence' in early SLA research: an aid to understanding some baffling current issues. In: Gillian Brown et. al. (orgs). Performance & Competence in Second Language Acquisition Cambridge: Cambridge University Press. 1996. pp. 92-113.
  • White, L. (2003). On the Nature of Interlanguage Representation: Universal Grammar in the Second Language In: Doughty, C & Long., M. (orgs). The Handbook of Second Language Acquisition. Oxford, UK: Blackwell. pp. 19-42
  • Weinreich, U. (1953). Languages in contact The Hague: Mouton.
  • Widdowson, H. G. (1996). Linguistics Oxford: Oxford University Press.
  • *
    Este artigo, recentemente reformulado, foi apresentado como comunicação no 52º Seminário do GEL (Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo) realizado no IEL/Unicamp, Campinas, em julho de 2004.
  • 1
    Ao longo deste trabalho as expressões 'aquisição de segunda língua' (ASL) e 'aquisição de língua estrangeira' (ALE), e respectivamente as palavras L2 e LE, são tratadas como sinônimas.
  • 2
    Por falta de espaço não serão aqui detalhados os procedimentos metodológicos de estudos psicolingüísticos experimentais envolvendo bebês, como os adotados no experimento ora relatado.
  • 3
    Por exemplo, as frases dogs eat pizza e john loves books partilham a mesma estrutura de categorias, embora haja diferenças (físicas) entre membros de categorias idênticas como John e books (Gomez & Gerken, 2000:18). A mesma discussão, como veremos no item 4 adiante, é feita em Elman et al (1998) sobre modelos conexionistas que fazem apenas associações bidimensionais (relações baseadas puramente em formas) e modelos que realizam associações tridimensionais (relações baseadas em forma e espaço) das representações geradas.
  • 4
    Minha tradução de "It is important to state that with the latent structure described in this paper as compared to Lenneberg's, there is no genetic timetable; there is no direct counterpart to any grammatical concept such as 'universal grammar'; there is no guarantee that this latent structure will be activated at all; there is no guarantee that the latent structure will be 'realized' into the actual structure of any natural language (i.e., there is no guarantee that attempted learning will prove successful), and there is every possibility that an overlapping exists between this latent language acquisition structure and other intellectual structures".
  • 5
    Veja White (2003) para uma discussão acerca do conceito interlíngua de uma perspectiva inatista (i.e., chomskiana) no âmbito dos estudos em ASL.
  • 6
    Ellis (1997:127) destaca, na bibliografia comentada ao final de seu livro, que o artigo de Selinker "is not easy to read, but it gave SLA the term 'interlanguage' and it contains a rich seam of theoretical ideas that is still being mined today".
  • 7
    O conceito sinônimo de "redes neurais", implicando em uma possível plausibilidade biológica devido à metáfora do cérebro em funcionamento, através de neurônios e sinapses, também é usado nas teorizações de cunho conexionista sobre a estrutura e o funcionamento do sistema cognitivo humano.
  • 8
    Embora passe aqui a idéia de língua como um 'alvo', destaco, em tempo, ser este não um alvo estático, mas um em constante movimento e altamente dinâmico!
  • 9
    Entretanto, no tocante a aprendizagem de línguas, uma "desfossilização" é algo possível por meio de instrução com foco na forma e um "estímulo exagerado". Como observa Ellis (2004:63), um modelo conexionista desenvolvido por McClelland et al (2002, apud Ellis) mostrou-se eficaz no clássico fenômeno da discriminação dos fonemas /l/ e /r/ na aprendizagem do inglês por parte de aprendizes japoneses.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2007

    Histórico

    • Aceito
      29 Ago 2006
    • Recebido
      06 Set 2005
    UNICAMP. Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Unicamp/IEL/Setor de Publicações, Caixa Postal 6045, 13083-970 Campinas SP Brasil, Tel./Fax: (55 19) 3521-1527 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: spublic@iel.unicamp.br