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POR UM PARADIGMA TRANSPERIFÉRICO: UMA AGENDA PARA PESQUISAS SOCIALMENTE ENGAJADAS

RESUMO

Este texto propõe uma agenda de pesquisa sobre a produção de espaços de diálogo e solidariedade entre territórios periféricos. O termo ‘transperiferias’ traduz esta proposta de pesquisa e engajamento, elaborada coletivamente por sete pesquisadores/as situados/as no campo aplicado dos estudos da linguagem. A agenda das transperiferias oferece caminhos de ruptura com paradigmas que situam, de um lado, a produção de conhecimento sobre desigualdade e, de outro lado, os sujeitos e territórios que se engajam com a contestação dessa desigualdade a partir de posicionalidades marginais. Propõe-se, em outras palavras, uma aproximação entre a produção de saber “sobre” as periferias com a produção de conhecimento “das” periferias, ao mesmo tempo em que se projetam espaços de diálogo e reflexão “entre” periferias, regionais, nacionais e globais. O texto justapõe os tipos de engajamento e produção epistêmica de cada um/a dos/as pesquisadores/as, de modo a apontar para formas em que objetos de investigação, como letramentos, tradução, processos de racialização, enregistramento sociolinguístico, violência etc., podem ser revisitados numa visão transperiférica. Convidamos sujeitos de diferentes periferias, bem como campos epistêmicos diversos, a ampliarem e tensionarem essa agenda de investigação.

Palavras-chave:
mandinga; gambiarra; transperiferias; antirracismo; letramentos de reexistência

ABSTRACT

This paper outlines a research agenda centred on the production of spaces of dialogue and solidarity between peripheral territories. The term ‘transperipheries’ summarises a proposal for research and engagement developed collectively by seven researchers situated in the field of applied linguistics. The transperipheries agenda offers a pathway for breaking with established paradigms that divorce knowledge production about inequality from the subjects and territories engaged in its contestation from marginalised positionalities. In other words, we argue for bridging the distance between production of knowledge about peripheries and production of knowledge from peripheries, while also projecting spaces of dialogue and reflection between regional, national and global peripheries. The paper provides examples of epistemic work undertaken by the contributing authors as a way of showing how research on themes such as literacies, translation, racialisation, sociolinguistic registers and violence, can be revisited through a transperipheral lens. We invite readers from all kinds of peripheries and epistemic fields to build on and debate this research agenda.

Keywords:
mandinga; gambiarra; transperipheries; anti-racism; literacies of reexistance

INTRODUÇÃO

Escrito colaborativamente por um grupo multidisciplinar de pesquisadores vinculados ao campo da Linguística Aplicada10 10 Os/As pesquisadores/as vinculados ao paradigma das transperiferias adotam uma perspectiva de Linguística Aplicada como campo transdisciplinar, pragmático, crítico e indisciplinar, tal como proposto por Cavalcanti (1986) e Moita Lopes (2006), e discutido mais recentemente por Silva (2015) e Signorini (2015). Os/As participantes no desenvolvimento do conceito se filiam a campos de saber diversos, como Sociologia, Antropologia, Comunicação Social, Estudos Culturais e Estudos Literários. , este artigo apresenta a ideia de transperiferias, que evoca a construção de espaços de diálogo e solidariedade entre territórios periféricos. O termo é produto do Primeiro Seminário Transperiferias, realizado em maio de 2019 na cidade de Niterói e organizado pelo Núcleo de Estudos Críticos em Linguagem, Educação e Sociedade (NECLES), na Universidade Federal Fluminense, que promoveu debates entre acadêmicos e ativistas de diferentes partes do Brasil, em especial do Rio de Janeiro. O título do evento, A periferia no centro dos encontros transnacionais: reexistência e democracia, aponta para o desejo de contestar, de perturbar e de contribuir para deslocar as lógicas desiguais de poder e de desvalorização de conhecimentos que se estabelecem nas relações entre as periferias e o chamado centro.

Centro e periferia são tomados aqui como conceitos relacionais, situados e multidimensionais. Essa compreensão tem sido amplamente discutida em trabalhos atentos à produção cultural e urbana das periferias, como, por exemplo, os de Milton Santos (2000)SANTOS, M. (2000). Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record., Éder Sader (2001 [1988])SADER, E. (1988). Quando novos personagens entraram em cena: experiências, falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo, 1970-80. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 4ª edição, 2001., Érica Peçanha do Nascimento (2009)NASCIMENTO, É. P. (2009). Vozes marginais na literatura. Rio de Janeiro: Aeroplano., Tiaraju D’Andrea (2013)D’ANDREA, T. P. (2013). A Formação dos sujeitos periféricos: cultura e política na periferia de São Paulo. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade de São Paulo. São Paulo., Teresa Caldeira (2017)CALDEIRA, T. (2017). Peripheral urbanization: Autoconstruction, transversal logics, and politics in cities of the global south. In: Environment and Space D: Society and Space, v. 35, nº 1, pp. 3-20. e Mariana Santos de Assis (2018)ASSIS, M. S. (2014). A poesia das ruas, nas ruas e estantes: eventos de letramentos e multiletramentos nos saraus literários da periferia de São Paulo. Dissertação de Mestrado. Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem/Unicamp.. Sobre a importância da noção de território, o pensador baiano Jorge Augusto propõe o entendimento de que

o que deve ser intensificado nos periféricos são seus múltiplos movimentos em relação ao centro e a diversas outras periferias. A periferia é outro centro. E é também aquilo que não é o centro, e não o sendo disputa a cidade. É apenas nesse sentido que o adjetivo é aqui utilizado, de modo que o contemporâneo pode e deve ser, cada vez mais, adjetivado pelos diversos grupos e suas expressões ético-estéticas. Esse circuito de disputa e renomeação do contemporâneo é o gesto radical para impossibilitar a colonialidade do conceito, e retroagir a máquina do epistemicídio em seu funcionamento mais escroto: a produção da homogeneidade. (AUGUSTO, 2019AUGUSTO, J. (2019). Contemporaneidades periféricas: primeiras anotações para alguns estudos de caso. In: AUGUSTO, J. Contemporaneidades periféricas. Salvador: Editora Segundo Selo, pp. 31-68, 2019., p. 62).

Nessa perspectiva, nosso argumento aqui é de que transperiferias, em meio a uma constante tensão entre diferenças e contiguidades, se constituem pelos diálogos entre periferias, em sua inelutável relação com centros de toda ordem. O conceito de transperiferias, assim, constitui um espaço epistemológica e politicamente fértil para a construção de uma agenda socialmente engajada de pesquisa e de agência. Essa agenda indica vias de ruptura com paradigmas já consolidados, nos quais a produção de conhecimento sobre a desigualdade se dá de forma divorciada dos próprios sujeitos e territórios engajados na contestação dessas posicionalidades marginalizadas a eles designadas.

O I Seminário Transperiferias foi produto da colaboração entre pesquisadores e ativistas políticos e culturais das favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro. Ocorreu um ano depois do assassinato de Marielle Franco - ativista nascida no Complexo de favelas da Maré e vereadora filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) -, fato revoltante que despertou a mobilização de uma série de agentes envolvidos em redes translocais e transnacionais. O entrelaçamento entre algumas dessas redes alimentou o surgimento do seminário, que ilustra bem o que consideramos ser exemplo de solidariedade transperiférica. Entre os envolvidos, estavam Mônica Francisco, do Morro do Borel, ex-assessora de Marielle Franco e agora deputada estadual também pelo PSOL, e Anielle Franco, irmã de Marielle, professora, representada no dia por Pâmella Passos, também professora, comadre de Marielle e participante do conselho político de seu gabinete. Além delas, artivistas (DELGADO, 2013DELGADO, M. (2013). Artivismo y pospolítica: sobre la estetización de las luchas sociales en contextos urbanos. In: Quaderns-e, n. 18, nº2, pp. 66-80.; RAPOSO, 2015RAPOSO, P. (2015). Artivismo: articulando dissidências, criando insurgências. In: Cadernos de Arte e Antropologia. v. 4, nº 2, pp. 3-12.; MAIA, 2017MAIA, J. O. (2017). Fogos digitais: letramentos de sobrevivência no Complexo do Alemão/RJ. Tese de doutorado em Linguística Aplicada. Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas.) de regiões periféricas da região metropolitana do Rio de Janeiro também participaram do evento, como é o caso da MC Carol de Niterói, do rapper Dudu de Morro Agudo e da artista plástica Mariluce Mariá, do Complexo do Alemão.

A ideia do evento nasceu de conversas informais entre Sílvia Lorenso, estudiosa e ativista comunitária brasileira, professora atuante na área de intercâmbio de uma universidade americana, e Joel Windle, estudioso australiano que atua em projetos de ensino de idiomas em escolas localizadas em periferias urbanas brasileiras. Realizadas no quintal da casa deste último, essas discussões resultaram no projeto de pesquisa Transnacionalismos na periferia: construindo sentidos no contexto dos fluxos globais, que serviu de base para uma série de reuniões e colaborações. Em 2019, o texto de divulgação do I Seminário Transperiferias foi o seguinte:

O Seminário Transperiferias visa debater redes e contatos transnacionais que envolvem territórios periféricos, ou que trazem apoio e solidariedade para aqueles que estão em contextos periféricos. Os palestrantes são referências nos estudos de movimentos culturais e sociais periféricos, das áreas da linguística e da antropologia, assim como artistas conhecidos por quebrar fronteiras e pelo seu engajamento social. O evento tem como objetivo fortalecer expressões culturais e sociais marginalizadas, assim como refletir sobre a inserção de conhecimentos desenvolvidos nesses contextos na sala de aula, onde muitas vezes prevalece uma visão restrita e elitista de internacionalização, de língua e de cultura.

Assim, o evento contribui para pautas de democratização da cultura e da participação cidadã além do “centro”, dando visibilidade a novas formas de comunicação e organização comunitária, e trajetórias através das fronteiras sociais e geográficas nacionais e internacionais. O debate coloca a periferia no centro de uma reflexão sobre uma “outra globalização”, de baixo para cima (Santos, 2000SANTOS, M. (2000). Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record.), pensando em articulações translocais, transnacionais e transperiféricas na construção de identidades e experiências envolvendo questões de raça, classe social, gênero e sexualidade.

Aqui, a periferia é compreendida não só como uma dimensão de fronteira entre o sul e norte globais, mas também como parte de um sistema racializado de trocas desiguais, injustas e de exploração. Dessa forma, damos nossa contribuição para as críticas ao colonialismo e à colonialidade no desenvolvimento do sistema capitalista ao longo da história (QUIJANO, 2000QUIJANO, A. (2000). Coloniality of power and eurocentrism in Latin America. In: International Sociology , v. 15(2). Madrid: International Sociology Association, pp.215-232.; GROSFOGUEL, 2002GROSFOGUEL, R. (2002). Colonial difference, geopolitics of knowledge, and global coloniality in the modern/colonial capitalist world-system. In: Review (Fernand Braudel Center), v. 25, nº 3, pp. 203-224.).

Argumentando que as fronteiras sociais e simbólicas que constituem as periferias estão cada vez mais contestadas por parte de transperiferias emergentes, nossa proposta invoca ideias como as do cosmopolitismo vernacular e subalterno (BHABHA, 2013 [1994]BHABHA, H. K. (1996). Unsatisfied: notes on vernacular cosmopolitanism. In: GARCIA-MORENA, L.; PFEIFFER, P. C. (orgs.), Text and nation: cross-disciplinary essays on cultural and national identities. Columbia: Camden House, pp. 191-207.; PRAKASH, 2017PRAKASH, G. (2017). Whose cosmopolitanism? Multiple, globally enmeshed and subaltern. In: SCHILLER, N. G.; IRVING, A. (orgs.), Whose cosmopolitanism? Critical perspectives, relationalities and discontents. New York: Berghahn Books, pp. 27-28.), e a própria reflexão sobre fronteiras (ANZALDÚA, 2007 [1987]ANZALDÚA, G. (1987). Borderlands: the new mestiza/La frontera. 3rd. Ed. San Francisco: Aunt Lute Books, 2007.). Além disso, inspira-nos uma forte tradição brasileira de teorização sobre ativismos subalternizados, caso do trabalho de Lélia Gonzalez (1988aGONZALEZ, L. (1988a). A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro , v. 92/93. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, pp. 69-82., 1988b)GONZALEZ, L. (1988b). Por um feminismo afrolatinoamericano. In: Revista Isis Internacional , v. 9, pp. 133-141. sobre feminismo e amefricanidade afroamericana. Gonzalez e outras intelectuais do Brasil engajadas no movimento pelos direitos da população negra apontaram para a história revolucionária e potente dos quilombos, assentamentos estabelecidos por sujeitos escravizados durante o período colonial e posteriormente: um deles, o Quilombo de Palmares, território multilingue, multicultural e coletivista, lutou contra colonos portugueses e holandeses por um longo tempo. Nesse sentido, a noção de quilombo mantém-se como um espaço historicamente transperiférico, que assume papel central em imaginários que têm como propósito uma transformação que ressignifique sistemas dominados pelo capitalismo e pela supremacia racial (NASCIMENTO, 2020 [1980]NASCIMENTO, A. (1980). O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista. São Paulo: Perspectiva, 2020.).

Cumpre, a partir daqui, fornecer alguns exemplos concretos de como as transperiferias podem ser constituídas como espaços de debates e como locus de negociação e de integração entre ativismo e pesquisa. Seguimos, portanto, apresentando de forma breve alguns conceitos que se relacionam com a noção de transperiferias, conferindo-lhe uma consistência teórica que sirva de alicerce para a proposição de um novo paradigma.

1. LETRAMENTOS TRANSPERIFÉRICOS

As práticas sociais que envolvem a produção e a circulação de textos de diversas modalidades nas periferias urbanas brasileiras têm sido o foco de muitas pesquisas do grupo que coletivamente assina este texto. No Brasil, o trabalho pioneiro na área de Linguística Aplicada feito por Ana Lúcia Silva Souza (2011)SOUZA, A. L. S. (2011). Letramentos de reexistência - Poesia, grafite, música, dança: hip-hop. São Paulo: Parábola Editorial., uma das autoras deste artigo, reflete sobre a maneira como as comunidades urbanas do hip-hop atuam como agências de letramento e de socialização entre identidades negras locais e transnacionais, considerando seus fluxos e atravessamentos.

No universo da cultura hip hop, as práticas de letramento de reexistência são voltadas para a concretude da vida dos sujeitos, relacionando-se às questões raciais, sociais e políticas no Brasil. Desse modo, rappers, MCs, grafiteiras(os), DJs, ampliam suas possibilidades de inserção, de contestação, de subversão e de proposição em espaços de intelectualidade periféricas e acadêmicas. Como sujeitos de direitos e produtores de conhecimentos, eles forjam brechas e atuam dentro e fora das comunidades em que vivem, denunciando as desigualdades socioeconômicas, o racismo - em especial, o genocídio da população negra -, os sexismos, entre outras formas de desigualdade que, diariamente, são responsáveis por ceifar vidas periféricas no Brasil e em muitos outros países ao redor do mundo.

Com foco na maneira potente e transformadora de como o fazer do hip-hop constrói identidades e coletividades, Souza (2011)SOUZA, A. L. S. (2011). Letramentos de reexistência - Poesia, grafite, música, dança: hip-hop. São Paulo: Parábola Editorial. propõe a noção de letramentos de reexistência. São reinvenções linguísticas que necessariamente se reportam às matrizes sócio-históricas africanas e afrodiaspóricas, ao mesmo tempo em que se apropriam de outros usos que se pretendem legitimados, problematizando-os e desestabilizando-os Além disso, tais reinvenções suscitam mudanças ético-estéticas nos discursos e práticas sociais de sujeitos e grupos que, assim, se reposicionam identitária e politicamente. Desse modo, letramentos de reexistência não pretendem apenas responder a demandas colonizadas de usos de linguagem, mas também recriar e fortalecer para dentro e para fora de seus espaços de pertença. Não é sem razão, pois, que, para além do hip hop, reexistir tem se estendido para outros grupos minorizados cujos corpos-sujeitos também se inscrevem em uma complexa rede de relações sociais transperiféricas a fim de disputar participação social, afirmar seus direitos e batalhar por espaços de poder.

Já a noção de letramentos de sobrevivência (LOPES; SILVA; FACINA; CALAZANS; TAVARES, 2017LOPES, A. C.; SILVA, D. N.; FACINA, A.; CALAZANS, R.; TAVARES, J. (2017). Desregulamentando dicotomias: transletramentos, sobrevivências, nascimentos. In: Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 56, nº3, pp. 753-780.; MAIA, 2017MAIA, J. O. (2017). Fogos digitais: letramentos de sobrevivência no Complexo do Alemão/RJ. Tese de doutorado em Linguística Aplicada. Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas.) parte de um trabalho etnográfico colaborativo realizado por pesquisadores - dois deles também autores deste texto, Daniel do Nascimento e Silva e Junot de Oliveira Maia - em conjunto com moradores de periferias da região metropolitana carioca atuantes em diversas frentes de luta, sobretudo artísticas (funk, samba, slam, pintura, fotografia, artesanato, grafite etc.). O contato entre todos esses agentes fomentou a reflexão sobre como os letramentos dos moradores de tais áreas são afetados pelas demandas cotidianas de sobrevivência na periferia, entendendo que sobreviver seja uma ação que se estabelece no limiar entre a vida e a morte.

Como um desafio à suposta binariedade desses termos, os sujeitos das periferias, em condições diversas de precariedade, sobrevivem à violência e ao descaso do poder público por meio da elaboração de soluções coletivas para viver. A noção de sobrevivência em que nos pautamos surge, de um lado de Derrida (1979DERRIDA, J. (1979). Living on/Border Lines. Trad. James Hulbert. In: BLOOM, H. et al. (orgs.), Deconstruction and criticism. London: Continuum, pp. 62-142., 2004)DERRIDA, J. (2003). Sobreviver/diário de borda. In: FERREIRA, É, Jacques Derrida e o récit da tradução: Sobreviver/diário de borda e seus transbordamentos. Tese de doutorado em Linguística Aplicada. Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem/Unicamp , pp. 16-83., que, em sua desconstrução da metafísica e da nação moderna, denuncia o vitalismo -- a noção de vida como matéria orgânica, orientada ao futuro, que vence o passado inorgânico, pré-moderno e violento de outros arranjos. O sobreviver, diz Derrida, desafia tanto o vitalismo e a vida prefigurada do discurso moderno que exclui populações inteiras, quanto a própria morte, porque esses sujeitos persistem, sobrevivem. De outro lado, a noção de sobrevivência surge etnograficamente da colaboração com Raphael Calazans, morador do Complexo do Alemão e MC de funk. Em sua colaboração epistêmica com Adriana Facina, Adriana Carvalho Lopes e Daniel do Nascimento e Silva, Calazans elaborou que a sobrevivência é o que rege a cultura das favelas, surgindo da solidariedade entre descendentes de pessoas escravizadas e de outros grupos historicamente subalternizados (ver FACINA, 2014FACINA, A. (2014). Sobreviver e sonhar: reflexões sobre cultura e “pacificação” no Complexo do Alemão. In: FERNANDES, M. A.; PEDRINHA, R. D. (Orgs.), Escritos transdisciplinares de criminologia, direito e processo penal: homenagem aos mestres Vera Malaguti e Nilo Batista. Rio de Janeiro: Revan, pp. 39-48.). As favelas brasileiras, é válido ressaltar, nascem no final do século XIX em função da ausência de uma política habitacional adequada, capaz de acolher principalmente a população escravizada liberta e os migrantes que fugiam da pobreza nordestina.

Um excelente exemplo do potencial criador e inventivo dos letramentos de sobrevivência é a maneira como a artivista Mariluce Mariá utiliza seu perfil no Facebook como um sistema de alerta para advertir moradores sobre tiroteios no Complexo do Alemão (MAIA, 2017MAIA, J. O. (2017). Fogos digitais: letramentos de sobrevivência no Complexo do Alemão/RJ. Tese de doutorado em Linguística Aplicada. Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas.; MACHADO DA SILVA; MENEZES, 2019MACHADO DA SILVA, L. A.; MENEZES, P. V. (2019). (Des)Continuidades na experiência de ‘Vida sob cerco’ e na ‘Sociabilidade violenta’. In: Novos estudos-CEBRAP, v. 38, nº 3, pp. 529-551.). Nomeadas fogos digitais pela própria Mariá (MAIA, 2017MAIA, J. O. (2017). Fogos digitais: letramentos de sobrevivência no Complexo do Alemão/RJ. Tese de doutorado em Linguística Aplicada. Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas.), essas mensagens não apenas orientam as pessoas que transitam pelo morro sobre qual trajetória seguir em meio aos conflitos armados, mas também, ao servirem como enunciados de denúncia da violência policial no território, rompem com o controle exercido pelas mídias corporativas brasileiras sobre o que deve ser pautado em relação ao cotidiano das favelas. Afinal, uma vez postados no Facebook, os fogos digitais alcançam correspondentes de mídias internacionais que acompanham as redes digitais de Mariluce; então, na medida em que esses correspondentes fazem suas denúncias em seus respectivos canais, acabam pressionando os veículos nacionais a não ignorar tais acontecimentos.

2. PROJEÇÕES TRANSPERIFÉRICAS

Outra dimensão das transperiferias envolve o estabelecer de fluxos desafiadores de produção de conhecimento e de efetiva institucionalização. Relacionada às concepções de letramentos de sobrevivência e de reexistência, chamamos atenção para uma teorização acerca das ideologias linguísticas e de aprendizagem no que tange a questões de raça. Também autora deste trabalho, Kassandra Muniz (2020)MUNIZ, K. (2020). Linguagem como mandinga: população negra e periférica reinventando epistemologias. In: SOUZA, A. L. S. (Org.) Cultura e política nas periferias: estratégias de reexistência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2020, no prelo. analisa, com base em estratégias da capoeira e do conhecimento ancestral das religiões de matriz africana, formas como pessoas negras resistem interacional e epistemicamente ao racismo estrutural. A capoeira, importante salientar, é uma dança ritual desenvolvida entre os afrobrasileiros escravizados, uma arte marcial fundamental para a constituição das culturas negras de resistência e reexistência no Brasil. Dela emerge a principal metáfora elaborada por Muniz, a mandinga, um conceito negro-epistemológico, que se refere às habilidades de surpreender e de enganar um oponente: praticada, ela desestabiliza e subverte a branquitude construída por enunciados que sustentam relações desiguais de poder. Como exemplo disso, a pesquisadora analisa a trajetória acadêmica de intelectuais negras, tendo como foco estratégias mandingueiras (MUNIZ, 2020MUNIZ, K. (2020). Linguagem como mandinga: população negra e periférica reinventando epistemologias. In: SOUZA, A. L. S. (Org.) Cultura e política nas periferias: estratégias de reexistência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2020, no prelo.) que viabilizam o protagonismo dessas mulheres, na universidade e para além dela. Trata-se, portanto, de um tipo de agência que materializa o que aqui entendemos como projeções transperiféricas.

Já a pesquisadora negra Sílvia Lorenso Castro, também signatária deste texto, em sua apresentação no I Seminário Transperiferias, abordou os desafios e possibilidades do status de outsider within, que caracteriza sua experiência acadêmica, sua origem em uma comunidade de favela em Belo Horizonte e suas projeções transperiféricas, considerando suas possibilidades de mobilidade nacional e internacional. O termo outsider within foi amplamente discutido por Patrícia Hills Collins (1986)COLLINS, P. H. (2016). Aprendendo com o outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro. In: Revista Sociedade e Estado, v. 31, nº 1, pp.99-127., socióloga e teórica do feminismo negro estadunidense, e refere-se a um lugar enunciativo e epistemológico vivido por intelectuais negras, especialmente aquelas que confrontam sua marginalidade em contextos acadêmicos. Apesar dos obstáculos que encontram, outsiders within se valem desse entrecruzamento entre pertencimento e afastamento para gerar a habilidade de identificar padrões que outros lugares enunciativos talvez não oportunizem (COLLINS, 1986COLLINS, P. H. (2016). Aprendendo com o outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro. In: Revista Sociedade e Estado, v. 31, nº 1, pp.99-127.).

A agenda de pesquisa e de atuação de Lorenso iniciou-se nos anos 1990, no campo dos direitos humanos, tendo como foco questões de gênero e raça relativas à juventude negra e favelada no Aglomerado Santa Lúcia, mais conhecido como Morro do Papagaio, na capital mineira. Nesse período, ela percebeu algumas tensões entre temas e práticas de pesquisa acadêmica e a invisibilização do conhecimento produzido por membros da comunidade, práticas essas que também têm sido problematizadas pelo trabalho de Pâmella Passos (2019)PASSOS, P. (2019). Entre o mundo acadêmico e as realidades das favelas: (des)encontros e sobrevivências de uma pesquisa que se quer junto e misturada. In: LOPES, A. C.; FACINA, A.; SILVA, D. N. (orgs.), Nó em pingo d’água - Sobrevivência, cultura e linguagem. Rio de Janeiro: Mórula Editorial; Florianópolis: Editora Insular, pp. 269-296. sobre como fazer pesquisas com as favelas, e não sobre elas. De uma perspectiva temática que definia a comunidade a partir da lente da falta ou da violência, temas como memória, identidade racial, cultura e intercâmbio com organizações da juventude periférica de outros estados passaram a ser preponderantes nas atuações e pesquisas realizadas pelo grupo de universitários do Morro (do Papagaio), do qual a pesquisadora fez parte (CASTRO, 2010CASTRO, S. R. L. (2010). Narrativas da memória: juventude negra e direitos humanos em Belo Horizonte. In: Revista Estudos Universitários da Universidade Federal de Pernambuco, v. 26, nº 7, pp.65-71.). O status de outsider within se manteve durante a passagem de Lorenso pela Universidade de São Paulo, instituição predominantemente branca, na qual a pesquisadora passava mais tempo explicando a existência e relevância do tema estudado em seu mestrado - literatura negra - do que propriamente fazendo avanços no desenvolvimento teórico sobre a pesquisa, ou mesmo se engajando em projetos de colaboração com a comunidade fora dos muros universitários.

Já no doutorado, realizado fora do Brasil, foi exatamente esse lugar enunciativo de outsider within que impulsionou a retomada da centralidade periférica na pesquisa comparativa entre dois movimentos literários, territorial e simbolicamente ligados à periferia no Brasil e nos Estados Unidos (CASTRO, 2013CASTRO, S. R. L. (2013). De ruas, bodegas e bares: um contínuum Africano em poéticas transaltânticas periféricas - San Juan, Nova York e São Paulo. Tese de Doutorado. University of Texas, Austin.; 2016CASTRO, S. R. L. (2016). Elizandra Souza: escrita periférica en diálogo transatlántico. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 49 , pp. 51-77.). A partir desse momento, Lorenso encontrou ambiente fértil junto a um grupo de pesquisadores de diferentes regiões periféricas do Brasil e acadêmicos negros e negras ativistas do programa de Diáspora Africana da Universidade do Texas. Para esses pesquisadores, ativismo acadêmico é assumido como a articulação entre ensino, pesquisa, produção de conhecimento insurgentes e a passagem do discurso para a prática (GORDON, 2007GORDON, E. T. (2007). The Austin School Manifesto: an approach to the Black or African Diaspora. In: Cultural Dynamics, v.19, nº. 1, pp. 93-97.). Assim, a palestrante encerrou sua fala no Seminário de 2019 mostrando como tem integrado criativamente seu status de outsider within ao de ativista acadêmica na gestão de um projeto de educação internacional e de estudo do português como língua estrangeira. Estabelecendo parcerias com membros da sua comunidade de origem, Lorenso viabiliza conexões entre moradores do Morro do Papagaio e intercambistas estadunidenses que buscam imersão linguística e trocas interculturais por meio de um contato que vá além dos estereótipos consagrados - sejam eles glamourizados ou deturpados - relativos à vida em ambos os países.

As projeções transperiféricas, ainda, destacam-se pelas formas como os moradores dos territórios se apropriam de recursos linguísticos e discursivos diversos e os transformam. Práticas transidiomáticas de pessoas negras queer e de brasileiros que usam o Black English como parte de seu repertório também projetam diálogos transperiféricos, os quais, nas palavras de um jovem DJ morador de Duque de Caxias, conectam a favela em que ele vive aos guetos de Nova Iorque (WINDLE; BRAVO, 2019WINDLE, J. A.; BRAVO, B. (2019). Plurilingual social networks and the creation of hybrid cultural spaces. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 58, nº 1, pp. 139-157.). O que é criativamente produzido a partir desses diálogos potencializa a improvisação em contextos pedagógicos, aqui metaforizada pela ideia de gambiarra: uma solução inesperada, temporária e, muitas vezes, contraventora para resolver um problema específico (WINDLE, 2017WINDLE, J. A. (2017). Hidden features in global knowledge production: (re)positioning theory and practice in academic writing. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 17, nº 2, pp. 355-378.). Assim, contrapondo-se à metáfora do design, central para as teorias sobre letramentos que chegam ao Brasil advindas do norte global, a gambiarra é também exemplo de projeção transperiférica que toma uma prática social das periferias como alicerce para o repensar de análises teóricas.

Argumentamos, além disso, que letramentos e projeções transperiféricos têm o potencial de se unir em função de um propósito comum, como o assassinato de Marielle Franco, o genocídio de jovens negros e o movimento Black Lives Matter, que ganha força em função da morte de George Floyd, sufocado por um policial branco nas ruas da cidade de Minneapolis, Estados Unidos. Em cenários como esses, letramentos de reexistência envolvem projeções transperiféricas pelo compartilhamento propositivo de práticas culturais e sociais que evocam a diáspora negra, ao passo que letramentos de sobrevivência criam e mobilizam canais de comunicação inesperados e inovadores para combater a violência estatal e a precariedade socioeconômica imposta por governos e interesses econômicos.

A resposta ao assassinato de Marielle Franco concretiza projeções transperiféricas, já que articulou, com base em microestratégias de sobrevivência e de reexistência, redes diaspóricas diversas na luta pelos direitos da população negra. Além disso, a morte da vereadora deu origem a novas agências de letramento, caso do projeto Wikifavelas, que consiste em uma enciclopédia da vida nas favelas, escrita colaborativamente por moradores e pesquisadores comprometidos com a questão, disponibilizada internacionalmente para transperiferias conectadas por meio de textos cuja versão para o inglês é capitaneada por Junia Zaidan, pesquisadora membro do projeto e também autora deste texto.

A tradução dos verbetes, no caso, projeta-se como prática pedagógica produtiva na medida em que, a partir dela, professores podem problematizar com estudantes representações sobre as favelas reforçadas por mídias corporativas e pelo Estado opressor. Um trabalho como esse, além de escancarar assimetrias de poder e violências delas resultantes, é capaz de forjar práticas de resistência e de intervenção situada por meio da tradução: afinal, cientes de que a língua não é espelho do mundo, a tradução - entendida não como a mera reprodução de um original, mas como a produção de um novo original - e quaisquer outras formas de produção discursiva são um empreendimento político, um gesto afirmativo que tem implicações de natureza prática (ZAIDAN, 2015ZAIDAN, J. M. (2015). A narrativa rizomática d’O evangelho segundo Satanás, de Luiz Eustáquio Soares, em tradução. In: ZAIDAN, J. M.; SOARES, L. E.; AMARAL, S. F. (orgs.), Marxismo e Modernismo em época de Literatura Pós-autônoma. Vitória: Aquarius, pp. 515-532.; ZAIDAN; AQUINO, 2016ZAIDAN, J. M.; AQUINO, F. N. (2016). Por uma outra Pedagogia para Língua Adicional e Literatura: Tradução como possibilidade de superação da cisão tecnicista. PERcursos linguísticos , v. 6. Vitória: Programa de Pós-graduação em Linguística/UFES, pp. 11-21.).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo recorre a diferentes pesquisas realizadas em contexto brasileiro para propor as transperiferias como um paradigma potente, mobilizador de conexões entre territórios periféricos na busca pela construção de uma agenda transgressora e transformadora. Os membros do grupo aqui estabelecido compartilham conexões pessoais e profissionais com contextos diversos de periferias, de modo que os trânsitos de cada um têm sido fundamentais para adensar um conjunto de reflexões éticas e epistemológicas que sustentam nossas proposições, agora mais que coletivas.

Essa percepção está presente em noções como as de letramentos de sobrevivência e de reexistência, bem como em termos que não traduzimos para o inglês, como mandinga e gambiarra. A nosso ver, nenhuma dessas ideias se restringem a descrever mais apuradamente as margens; para além disso, buscando revolucionar, elas se projetam no sentido de incentivar rompimentos em estruturas de opressão social e racial que dão sustentação ao que se entende como centro, um espaço em disputa pelas periferias que se alinham, se agrupam, se reinventam e se conectam, trocando tecnologias para recriar suas vidas. Assim, transperiferias não são, em última análise, uma proposta para descrever melhor as margens, mas para desestabelizar e revolucionar o centro.

Finalizamos afirmando que essa nossa proposição de transperiferias ainda é incipiente e um segundo simpósio, que se realizaria neste ano de 2020, tornou-se impossível em decorrência da pandemia de Covid-19. Desejosos de que outras pessoas participem da elaboração desse conceito, sentimos que seria importante delinear nosso ponto de partida e redigir este breve artigo como convite e provocação a diálogos.

  • 10
    Os/As pesquisadores/as vinculados ao paradigma das transperiferias adotam uma perspectiva de Linguística Aplicada como campo transdisciplinar, pragmático, crítico e indisciplinar, tal como proposto por Cavalcanti (1986)CAVALCANTI, M. (1986). A propósito de linguística aplicada. In: Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 7, nº 2, pp. 5-12. e Moita Lopes (2006)MOITA LOPES, L. P. (Org.) (2006). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial., e discutido mais recentemente por Silva (2015)SILVA, D. N. (2015). ‘A propósito de Linguística Aplicada’ 30 anos depois: quatro truísmos correntes e quatro desafios. In: DELTA, v. 31, nº 4, pp. 349-376. e Signorini (2015)SIGNORINI, I. (2015). Epistemologias de pesquisa no campo aplicado dos estudos da língua(gem). In: DELTA, v. 31, nº 4, pp. iii-iv.. Os/As participantes no desenvolvimento do conceito se filiam a campos de saber diversos, como Sociologia, Antropologia, Comunicação Social, Estudos Culturais e Estudos Literários.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    06 Jul 2020
  • Aceito
    06 Jul 2020
  • Publicado
    05 Ago 2020
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