Resumo
Objetivo
Elaborar um questionário para avaliação da violência no trabalho sofrida ou testemunhada por trabalhadores de enfermagem e avaliar sua validade aparente.
Métodos
Estudo metodológico com participação de cinco juízes selecionados a critério de competência. Os juízes avaliariam o questionário segundo os critérios abrangência, objetividade, organização e pertinência. Foi apresentado, por meio da estatística descritiva, o porcentual de presença ou ausência dos critérios, em cada item avaliado, na primeira e segunda rodada de avaliação.
Resultados
O questionário foi estruturado em 5 seções, com 54 questões, e teve como referência de estrutura e conteúdo alguns dos instrumentos existentes e a literatura especializada sobre violência no trabalho. Na segunda rodada de avaliação, obteve-se avaliação favorável dos juízes quanto à presença dos critérios por item avaliado.
Conclusão
Espera-se que o questionário possa representar, aos interessados, mais uma possibilidade de mensuração da ocorrência de violência no ambiente de trabalho na enfermagem e na saúde.
Pesquisa em enfermagem; Questionários; Recursos humanos de enfermagem; Violência no trabalho; Estudos de validação
Abstract
Objective
To elaborate a questionnaire for assessing and evaluate the apparent validity of the workplace violence suffered or witnessed by nursing staff.
Methods
A methodological study with the participation of five judges selected by competence. The questionnaire was evaluated by judges according to comprehensiveness, objectivity, organization and relevance. The percentage of presence or absence of the criteria for each item evaluated in the first and second round of evaluation was presented by descriptive statistics.
Results
The questionnaire was structured in five sections with 54 questions, and had as structure and content reference some of the existing instruments and the specialized literature on workplace violence. The second round of evaluation obtained favorable assessment of the judges as the presence of the criteria of each assessed item.
Conclusion
The questionnaire may present one more possibility for the measurement of the occurrence of violence in the nursing and health environment.
Nursing research; Questionnaires; Nursing staff; Workplace violence; Validation studies
Introdução
A violência é um fator preocupante na atualidade, tendo se manifestado na maioria dos ambientes de trabalho do setor saúde, em ambos os sexos e em distintos grupos profissionais, com maior frequência em profissionais de enfermagem.(11. Ramacciati N, Ceccagnoli A, Addey B. Violence against nurses in the triage area: An Italian qualitative study. Int Emerg Nurs. 2015 Feb 26. pii:S1755-599X(15)00013-0. doi: 10.1016/j.ienj.2015.02.004. [Epub ahead of print].
2. Di Martino V. Workplace violence in the health sector - country case studies: Brazil, Bulgarian, Lebanon, Portugal, South African, Thailand, and an additional Australian study. 2002. [Internet]; [cited 2015 Sept 23]. Available from: 2002. http://www.who.int/violence_injury_prevention/injury/en/WVsynthesisreport.pdf.
http://www.who.int/violence_injury_preve...
-33. Felli VE. Condições de trabalho de enfermagem e adoecimento: motivos para a redução da jornada de trabalho para 30 horas. Enferm Foco. 2012; 3(4):178-81.) Pode ser expressa por agressão física, abuso verbal, assédio moral, assédio sexual e outros,(44. World Health Organization. International Labour Office. International Council of Nurses. Public Services International. Workplace violence in the health sector country case studies research instruments. Geneva: WHO; 2003.) que têm gerado consequências. Entre as formas de violência, pode-se citar a associação da exposição à violência com sintomas depressivos,(55. da Silva AT, Peres MF, Lopes Cde S, Schraiber LB, Susser E, Menezes PR.Violence at work and depressive symptoms in primary health care teams: across-sectional study in Brazil. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. 2015; 50(9):1347-55.)burnout ,(66. Pai DD, Lautert L, Souza SB, Marziale MH, Tavares JP. Violence, burnout and minor psychiatric disorders in hospital work. Rev Esc Enferm USP. 2015; 49(3):460-8.,77. Allen BC, Holland P, Reynolds R. The effect bullying on burnout in nurses: the moderating role of psychological detachment. J Adv Nurs. 2015; 71(2):381-90.) transtornos psíquicos menores,(66. Pai DD, Lautert L, Souza SB, Marziale MH, Tavares JP. Violence, burnout and minor psychiatric disorders in hospital work. Rev Esc Enferm USP. 2015; 49(3):460-8.) dor lombar(88. Rezaee M, Ghasemi M. Prevalence of low back pain among nurses: predisposing factors and role of work place violence. Trauma Mon. 2014; 19(4):9-14.) e uma série de outros impactos psicológicos, físicos, laborais, institucionais e/ou sociais.
Em alguns locais de trabalho na área da saúde, os trabalhadores têm maior risco de sofrer violência ocupacional. O trabalho em emergência e em departamentos de internação de pacientes, por exemplo, estiveram positivamente associados com a violência no trabalho.(99. Fute M, Mengesha ZB, Wakgari N, Tessema GA. High prevalence of workplace violence among nurses working at public health facilities in Southern Ethiopia. BMC Nursing. 2015; 14:1-5.)
Estudo envolvendo 30 trabalhadores da equipe de enfermagem de um serviço de pronto atendimento hospitalar do Rio de Janeiro identificou que, destes, a maioria (76,7%) foi vítima de violência no contexto laboral. A forma de agressão mais frequente foi a agressão verbal, e os principais perpetradores foram os acompanhantes e pacientes.(1010. Vasconcellos IR, Abreu AM, Maia EL. Violência ocupacional sofrida pelos profissionais de enfermagem do serviço de pronto atendimento hospitalar. Rev Gaúch Enferm. 2012; 33(2):167-75.)
A alta carga de atividades laborais é uma característica do processo de trabalho de prontos-socorros.(1111. Lancman S, Gonçalves RM, Mângia EF. Organização do trabalho, conflitos e agressões em uma emergência hospitalar na cidade de São Paulo, Brasil. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2012; 23(3):199-207.) Nesses espaços, os trabalhadores convivem com expressiva demanda e pressões para a agilização dos atendimentos. São condições de trabalho na maioria das vezes penosas, que, somadas a alta demanda, repercutem na dificuldade de se tomarem decisões, no atendimento aos usuários, favorecendo os conflitos(1111. Lancman S, Gonçalves RM, Mângia EF. Organização do trabalho, conflitos e agressões em uma emergência hospitalar na cidade de São Paulo, Brasil. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2012; 23(3):199-207.) e a violência.
Assim, identifica-se a necessidade dos decisores políticos, da comunidade científica, dos serviços de saúde e das partes interessadas em discutir e estabelecer estratégias e programas de segurança e saúde, voltados à prevenção e à gestão da violência no trabalho.(99. Fute M, Mengesha ZB, Wakgari N, Tessema GA. High prevalence of workplace violence among nurses working at public health facilities in Southern Ethiopia. BMC Nursing. 2015; 14:1-5.) Para tanto, é necessário identificar se a violência se apresenta e, se sim, como se expressa em cada contexto de trabalho. Logo, um dos aspectos que pode subsidiar a superação dos limites atuais do contexto laboral remete às investigações centradas na análise das exposições, que podem contribuir na perspectiva de atuação sobre os determinantes.(1212. Araújo TM. Revisão de abordagens teórico-metodológicas sobre saúde mental e trabalho. In: Gomez CM, Machado JM, Pena PG. Saúde do trabalhador na sociedade brasileira contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; 2011. p. 325-43.)
Nesse contexto, os instrumentos de coleta de dados destinados à identificação e à caracterização da violência no trabalho são fundamentais. Todavia, é reduzido o rol de instrumentos validados nesse tema e passíveis de utilização no contexto brasileiro. Nesta perspectiva, a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde(1313. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde. 2a ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2008.) tem, entre suas prioridades, a “tradução, adaptação e validação, no Brasil, dos instrumentos de aferição da violência, existentes em outros países”.
Diante do abordado, a elaboração desse questionário foi motivada por não se ter encontrado instrumento brasileiro validado de medida da ocorrência de violência no trabalho a ser utilizado em uma pesquisa com trabalhadores de enfermagem e que englobasse todas as variáveis/características de interesse à investigação.
Desse modo, este estudo teve por objetivo elaborar um questionário para avaliação da violência no trabalho sofrida ou testemunhada por trabalhadores de enfermagem e avaliar sua validade aparente.
Métodos
Estudo metodológico,(1414. Lobiondo-Wood G, Haber J. Nursing research: methods and critical appraisal for evidence-based practice. 8th ed. St. Louis: Mosby; 2013.) com o desenvolvimento de um questionário, o qual foi avaliado e aperfeiçoado.
Para elaboração do instrumento, inicialmente foi realizada uma busca pelos estudos existentes e pelos instrumentos de coleta de dados utilizados. A partir disso, optou-se pelo desenvolvimento da estrutura e do conteúdo do questionário, tendo como referência o modelo apresentado pela Organização Mundial da Saúde, Organização Internacional do Trabalho e de Serviços Públicos e Conselho Internacional de Enfermagem,(44. World Health Organization. International Labour Office. International Council of Nurses. Public Services International. Workplace violence in the health sector country case studies research instruments. Geneva: WHO; 2003.) baseando-se na redução da violência no trabalho em saúde e seus impactos, permitindo a identificação das vítimas de violência nos últimos 12 meses.(44. World Health Organization. International Labour Office. International Council of Nurses. Public Services International. Workplace violence in the health sector country case studies research instruments. Geneva: WHO; 2003.) Este período de mensuração tem sido utilizado por diversos estudiosos no tema.(1515. Rasmussen CA, Hogh A, Andersen LP. Threats and physical violence in the workplace: a comparative study of four areas of human service work. J Interpers Violence. 2013; 28(13):2749-69.
16. Clausen T, Hogh A, Carneiro IG, Borg V. Does psychological well-being mediate the association between experiences of acts of offensive behaviour and turnover among care workers? A longitudinal analysis. J Adv Nurs. 2013; 69(6):1301-13.
17. Al-Omari H. Physical and verbal workplace violence against nurses in Jordan. Int Nurs Rev. 2015; 62(1):111-8.-1818. Park M, Cho SH, Hong HJ. Prevalence and perpetrators of workplace violence by nursing unit and the relationship between violence and the perceived work environment. J Nurs Scholarsh. 2015; 47(1):87-95.)
Também, para a elaboração do questionário, contou-se de modo complementar com o instrumento elaborado por Contrera-Moreno,(1919. Contrera-Moreno L. Violência e capacidade para o trabalho entre trabalhadores de enfermagem [dissertação]. [Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2004. [citado 2015 Set 23]. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000316886.
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) principalmente no que se refere à questão de mensuração das consequências da violência ocupacional para o trabalhador. Houve ainda a utilização da literatura especializada como orientadora do processo.
Assim, cabe ponderar que o questionário desenvolvido, sua estrutura e conteúdo têm sustentação nos instrumentos citados e na literatura especializada, incluindo conteúdo da Organização Mundial da Saúde e de outros órgãos internacionais correlatos. Frente à necessidade observada de um questionário que mensurasse variáveis de interesse a uma pesquisa que seria realizada com trabalhadores de enfermagem e que trouxesse uma abordagem diferente às questões e/ou as opções de resposta, com auxílio da literatura especializada, houve adequações conceituais, nas seções, nas questões, na maioria das possibilidades de resposta e inclusão de novas variáveis de interesse para identificação e caracterização da violência sofrida por trabalhadores de enfermagem, e se os mesmos foram testemunhas de violência física, abuso verbal e assédio sexual no ambiente de trabalho.
Para fins conceituais, definiu-se a violência relacionada ao trabalho “como toda ação voluntária de um indivíduo ou grupo contra outro indivíduo ou grupo que venha a causar danos físicos ou psicológicos, ocorrida no ambiente de trabalho, ou que envolva relações estabelecidas no trabalho ou atividades concernentes ao trabalho”.(2020. Oliveira RP, Nunes MO. Violência relacionada ao trabalho: uma proposta conceitual. Saude Soc. 2008; 17(4): 22-34.) Por isso, optou-se por dar maior ênfase, no questionário, à violência (física, abuso verbal e assédio sexual) ocorrida no ambiente de trabalho.
A violência física foi definida pelo uso da “força física contra outra pessoa ou grupo, que resulta em dano físico, sexual ou psicológico”,(44. World Health Organization. International Labour Office. International Council of Nurses. Public Services International. Workplace violence in the health sector country case studies research instruments. Geneva: WHO; 2003.) incluindo assalto, empurrões, puxões, cuspir, morder ou arranhar, chutes e outros atos.(2121. Chapell D, Di Martino V. Violence at work. Geneva: International Labour Office; 2006.) O abuso verbal foi definido como comportamento de gritar com alguém, degradando e mostrando falta de respeito pelo valor e dignidade.(99. Fute M, Mengesha ZB, Wakgari N, Tessema GA. High prevalence of workplace violence among nurses working at public health facilities in Southern Ethiopia. BMC Nursing. 2015; 14:1-5.) O assédio sexual foi definido como o comportamento indesejado no qual a vítima se percebe colocada a uma condição de natureza sexual, de ofensa, humilhação ou ameaça ao seu bem-estar.(2222. Di Martino V. Relationship of work stress and workplace violence in the health sector. Joint Programme on Workplace Violence in the Health Sector: Geneva; 2003. p. 1-38.)
Para avaliação da validade aparente, considerada um subtipo da validade de conteúdo,(1414. Lobiondo-Wood G, Haber J. Nursing research: methods and critical appraisal for evidence-based practice. 8th ed. St. Louis: Mosby; 2013.) o questionário foi avaliado por cinco juízes (especialistas).(2323. Coluci MZ, Alexandre NM, Milani D. Construção de instrumentos de medida na área da saúde. Cienc Saúde Colet. 2015; 20(3):925-36.) Logo, este tipo de validade não é verificada usando-se a estatística, no entanto, especialistas e/ou pesquisadores podem participar da avaliação quanto à relevância de uma escala.(2424. Bannigan K, Watson R. Reliability and validity in a nutshell. J Clin Nurs. 2009; 18(23):3237-43.)
No que se referiu aos juízes, estes atuavam em áreas afins, acadêmicas e/ou profissionais, tendo sido selecionados a critério de competência. Eles tinham formação superior em enfermagem, sendo três doutores e dois mestres, com experiência em pelo menos uma das seguintes áreas: adaptação e validação de instrumentos de medida, saúde do trabalhador, violência ocupacional, assistencial ou administrativa na atenção à emergência e/ou hospitalar.
Os juízes realizaram a análise de acordo com a ausência ou presença dos critérios: abrangência, objetividade, organização e pertinência.(2525. Vedovato CA. Logística do atendimento dos serviços pré-hospitalar móvel das concessionárias de rodovias (dissertação).[Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2012. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000874813.
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) Definiu-se por “[...] abrangente aquela questão que contêm as informações importantes para alcance do objetivo do estudo, enunciada de maneira compreensível; […] objetiva aquela questão de fácil entendimento; organização […] a disposição das questões e alternativas como também seu conteúdo; […] pertinente aquela questão relevante para alcançar o objetivo da pesquisa”.(2525. Vedovato CA. Logística do atendimento dos serviços pré-hospitalar móvel das concessionárias de rodovias (dissertação).[Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2012. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000874813.
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)
A análise dos juízes deu-se por item a ser avaliado com o auxílio de um guia de avaliação.(2525. Vedovato CA. Logística do atendimento dos serviços pré-hospitalar móvel das concessionárias de rodovias (dissertação).[Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2012. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000874813.
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) Foram estes: violência física no ambiente de trabalho; abuso verbal no ambiente de trabalho; assédio sexual no ambiente de trabalho; outros tipos de violência no ambiente de trabalho referidos pelo trabalhador; e prevenção e redução da violência no ambiente de trabalho. Para cada item, o juiz teve a possibilidade de indicar a ausência ou a presença do critério correspondente e de destacar se existiam itens que eram necessários, porém estavam ausentes no instrumento, itens desnecessários do instrumento, e outros comentários/sugestões nos espaços em aberto.(2525. Vedovato CA. Logística do atendimento dos serviços pré-hospitalar móvel das concessionárias de rodovias (dissertação).[Internet]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2012. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000874813.
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) Foram considerados 70% como concordância mínima dos juízes,(2626. Marques CA, Figueiredo EN, Gutiérrez MG. Validation of an instrument to identify actions for screening and detection of breast cancer. Acta Paul Enferm. 2015; 28(2):183-9.) identificada neste estudo por meio do porcentual de presença do critério no item avaliado.
O desenvolvimento do estudo atendeu as normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos.
Resultados
O questionário se estruturou em seções, sendo inicialmente realizada apresentação conceitual, uma vez que sua estrutura teve como modelo a do instrumento apresentado pela Organização Mundial da Saúde, Organização Internacional do Trabalho e de Serviços Públicos e Conselho Internacional de Enfermagem. Considerando essa estrutura, foi dada ao participante a possibilidade de informar se foi ou não vítima da violência mencionada; se sim, houve orientação para responder as questões inerentes à caracterização do evento; se não, houve orientação para seguir para a questão que avaliava se foi testemunha do incidente mencionado.
Após adequações, o questionário resultante foi estruturado em cinco seções, sendo uma para cada tipo de violência a ser estudada: (a) violência física no ambiente de trabalho; (b) abuso verbal no ambiente de trabalho; (c) assédio sexual no ambiente de trabalho; (d) outros tipos de violência no ambiente de trabalho referidos pelo trabalhador; e (e) prevenção e redução da violência no ambiente de trabalho.
O questionário foi posteriormente submetido ao processo de avaliação da validade aparente, que ocorreu em etapas, sendo que, em ambas, foram analisadas e, na maioria das vezes, incorporadas as sugestões de modificação realizadas pelos juízes. Após retorno da primeira rodada de avaliação, foram realizadas modificações relacionadas à formatação, mudança na numeração das questões, alteração ou inclusão das questões e/ou das opções de resposta, troca de conceitos e/ou terminologias, adequando conforme a literatura utilizada.
Na tabela 1, é apresentada a avaliação dos juízes segundo a ausência ou presença dos critérios por item avaliado na primeira e segunda rodada.
Após retorno da segunda rodada, obteve-se avaliação favorável dos juízes, alcançando-se, no mínimo, 80% de respostas que indicavam a presença do critério no item. O item avaliado “violência física no ambiente de trabalho” foi considerado abrangente, objetivo, organizado e pertinente para 100% (5/5) dos juízes. O mesmo para os itens “abuso verbal no ambiente de trabalho; assédio sexual no ambiente de trabalho; e outros tipos de violência no ambiente de trabalho referidos pelo trabalhador”. O item “prevenção e redução da violência no ambiente de trabalho” foi considerado organizado por 100% (5/5) dos juízes e por 80% (4/5), abrangente, objetivo e pertinente.
Cabe salientar que, considerando as justificativas dadas, após o retorno da segunda rodada de avaliação, foram realizadas algumas modificações, atendendo a maioria das sugestões realizadas por dois juízes, incluindo a listagem de possíveis respostas em algumas questões abertas. Assim, mesmo quando o item foi considerado abrangente, objetivo, organizado e pertinente por 80% ou mais dos juízes, as sugestões/justificativas de alteração do item foram analisadas e, na maioria das vezes, atendidas, tendo em vista a qualificação do instrumento quanto à sua forma e ao conteúdo.
No quadro 1, é apresentada a versão resultante do questionário.
Discussão
Nesse estudo, reconhece-se como limitação, além do questionário ter se estruturado tendo como referência instrumentos já existentes, o fato de que não foi possível aplicar outros testes de validação. Também não foi realizada uma terceira rodada de avaliação posterior à realização de algumas modificações sugeridas por dois juízes, após o retorno da segunda rodada de avaliação.
O tema “violência no trabalho” tem ganhado destaque na comunidade científica pelos estudos realizados em diferentes países(11. Ramacciati N, Ceccagnoli A, Addey B. Violence against nurses in the triage area: An Italian qualitative study. Int Emerg Nurs. 2015 Feb 26. pii:S1755-599X(15)00013-0. doi: 10.1016/j.ienj.2015.02.004. [Epub ahead of print].,55. da Silva AT, Peres MF, Lopes Cde S, Schraiber LB, Susser E, Menezes PR.Violence at work and depressive symptoms in primary health care teams: across-sectional study in Brazil. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. 2015; 50(9):1347-55.,66. Pai DD, Lautert L, Souza SB, Marziale MH, Tavares JP. Violence, burnout and minor psychiatric disorders in hospital work. Rev Esc Enferm USP. 2015; 49(3):460-8.,99. Fute M, Mengesha ZB, Wakgari N, Tessema GA. High prevalence of workplace violence among nurses working at public health facilities in Southern Ethiopia. BMC Nursing. 2015; 14:1-5.) e na imprensa, de modo geral. No entanto, o número de instrumentos de coleta de dados para avaliação da violência no trabalho na área da saúde em diferentes contextos laborais brasileiros, que incluam a multiplicidade de variáveis para a caracterização do evento e que foram submetidos a algum processo de avaliação da sua validade, é ainda incipiente.
Os trabalhadores de enfermagem são fundamentais na composição da força de trabalho em saúde, pois, sem eles, grande parte do cuidado não se realiza. Todavia, a alta rotatividade entre enfermeiros, por exemplo, representa um dos grandes desafios dos serviços de saúde no mundo,(2727. Lee YW, Dai YT, McCreary LL. Quality of work life as a predictor of nurses’ intention to leave units, organizations and the profession. J Nurs Manag. 2015; 23(4):521-31.) podendo estar relacionada a diversos fatores, como a exposição às situações de violência ocupacional.
Daí a importância de um instrumento de coleta de dados que tenha sido submetido a avaliação de experts e que auxilie na avaliação da ocorrência destes incidentes nos ambientes de trabalho da saúde. Sabe-se que, por meio do conhecimento da realidade, torna-se possível prover fundamentos e recursos que orientem a incorporação de programas de segurança e prevenção da violência ocupacional adequados às demandas de cada contexto laboral e, subsequentemente, com maior potencial de sucesso.
O questionário após avaliação dos juízes foi composto por 54 questões, assim distribuídas: violência física no ambiente de trabalho (17 questões), abuso verbal no ambiente de trabalho (16 questões), assédio sexual no ambiente de trabalho (16 questões), outros tipos de violência no ambiente de trabalho referidos pelo trabalhador (três questões), e prevenção e redução da violência no ambiente de trabalho (3 questões). Desse modo, a análise por parte dos juízes contribuiu sobremaneira para a qualificação do instrumento quanto à sua forma e conteúdo. Assim, acredita-se que a validade aparente, embora considerada por alguns um método pouco sofisticado, é importante na construção de um instrumento de medida.(2828. Amendola F, Alvarenga MR, Gaspar JC, Yamashita CH, Oliveira MA. Validade aparente de um índice de vulnerabilidade das famílias a incapacidade e dependência. Rev Esc Enferm USP. 2011; 45(Esp 2):1736-42.)
Cabe ponderar que, se o trabalhador referir ter sofrido violência física, abuso verbal ou assédio sexual, nos últimos 12 meses, pode ser considerado vítima de violência no ambiente de trabalho, condição também adotada por um estudo.(2929. Silva IV, Aquino EM, Pinto IC. Violência no trabalho em saúde: a experiência de servidores estaduais da saúde no Estado da Bahia, Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30(10):2112-22.)
Para a obtenção de dados sobre a ocorrência de violência ocupacional (violência física, abuso verbal ou assédio sexual) junto aos trabalhadores de enfermagem, considerou-se importante investigar variáveis como: número de vezes que sofreu violência física; profissão do agressor quando se tratar de colega que trabalha ou não na unidade; sexo do agressor e se este era ou não do mesmo sexo que a vítima; se o incidente aconteceu na unidade em que o trabalhador se encontra atualmente; se o trabalhador continuou trabalhando após o evento ou se foi liberado; se recebeu auxílio e, se sim, qual ou de quem; se houve registro do incidente experimentado; turno de ocorrência; se o trabalhador foi testemunha de violência física, abuso verbal ou assédio sexual e, se sim, o que sentiu; e outras.
Por meio de uma questão, buscou-se possibilitar ao trabalhador relatar caso considerasse que sofreu outro tipo de violência relacionada com seu trabalho. Dessa forma, embora se tenha enfocado na violência física, abuso verbal e assédio sexual, com esta questão dá-se a possibilidade de identificação de outros tipos de violência que, na opinião do trabalhador, possam estar presentes no ambiente de trabalho, sejam relacionados à estrutura, à instituição ou ao comportamento e/ou relações, dando possibilidade de abordagem às diferentes formas de manifestação da violência ocupacional(3030. Costa AL, Marziale MH. Relação tempo-violência no trabalho de enfermagem em emergência e urgência. Rev Bras Enferm. 2006; 59(3):337-43.) e a complexidade do fenômeno.
Conclusão
O questionário foi elaborado. A avaliação favorável dos juízes, obtida na segunda rodada de avaliação, sugeriu que este pode ser utilizado para mensuração da ocorrência de violência no ambiente de trabalho de profissionais de enfermagem ou da saúde, já que pode ser aplicado a diferentes grupos ocupacionais da área, representando uma possibilidade aos interessados no estudo do fenômeno.
Agradecimentos
Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq pela bolsa de mestrado de Maiara Bordignon e aos juízes pelas contribuições.
Referências
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1Ramacciati N, Ceccagnoli A, Addey B. Violence against nurses in the triage area: An Italian qualitative study. Int Emerg Nurs. 2015 Feb 26. pii:S1755-599X(15)00013-0. doi: 10.1016/j.ienj.2015.02.004. [Epub ahead of print].
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Nov-Dec 2015
Histórico
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Recebido
11 Ago 2015 -
Aceito
6 Out 2015