Resumos
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O trauma cranioencefálico (TCE) constitui um problema de saúde mundial, muito destes pacientes evoluem com insuficiência respiratória necessitando de intubação traqueal e suporte ventilatório artificial, apresentando como complicações freqüentes a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Dessa forma, este estudo teve o objetivo de descrever a prática clínica diária sobre o manuseio ventilatório destes pacientes. MÉTODO: Foram avaliados quais os modos e os parâmetros ventilatórios utilizados para ventilar os pacientes com TCE e SDRA por uma amostra de fisioterapeutas da cidade de Salvador, BA, a partir de um estudo descritivo, por meio de entrevistas face-a-face no período de outubro de 2005 a março de 2006. Para tanto foi elaborado um questionário semi-estruturado contendo variáveis sócio-demográficas, o perfil do hospital e a estratégia ventilatória aplicada em pacientes com TCE que viessem desenvolver a SDRA. RESULTADOS: A amostra foi composta por 70 fisioterapeutas, 41 (58,6%) eram do sexo feminino, com média de idade de 31,2 ± 6,4 (24-49) anos e tempo de formado 7,7 ± 6,4 (1-27) anos, dos quais 37 (52,9%) trabalham em hospital público; 67 (95,7%) têm alguma especialização. Sessenta e quatro fisioterapeutas afirmam utilizar o modo pressão controlada (PCV). A pressão de pico e a pressão platô desejada para ventilar os pacientes com TCE e SDRA foram em média, de 35,6 ± 5,3 (25-50) e 28,4 ± 5,8 (15-35) cmH2O, respectivamente. Quarenta e oito entrevistados (68,6%) afirmaram desejar ventilar os pacientes com TCE e SDRA com a PaCO2 entre 30 e 35 mmHg. Trinta e um (44,3%) dos entrevistados afirmaram encontrar a PEEP ideal através da PEEP que ofertasse melhor SpO2 com menor FiO2. CONCLUSÔES: É incontestável que a estratégia ventilatória de paciente com TCE grave que venha a desenvolver LPA ou SDRA constitua um autêntico desafio; observa-se uma predileção pelo modo PCV devido à já conhecida ventilação com estratégia de proteção pulmonar.
Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo; Traumatismo Cranioencefálico; Ventilação Mecânica
BACKGROUND AND OBJECTIVES: The traumatic brain injury (TBI) is a healthy-world problem, some of his patients develop respiratory failure, requiring intubation and mechanical ventilation, and the most common complications are the acute respiratory distress syndrome (ARDS). In this way, this study has the objective describe the daily clinical practice of respiratory care in this patients submit mechanical ventilation. METHODS: The methods and ventilatories parameters used to ventilate the patients with TBI and ARDS has been evaluated by a sample of physiotherapists from the city of Salvador, BA, from a descriptive study. The data were collected by face-to-face interviews in the period of October 2005 to March 2006. For in such way a half structuralized questionnaire was elaborated contends changeable social-demographic, about the hospital profile and the applied ventilatory strategy in patients with TBI that come to develop ARDS. RESULTS: The sample was composed by 70 physiotherapists, 41 (58.6%) was female, with mean of age of 31.2 ± 6.4 (24-49) years-old and graduated time 7.7 ± 6.4 (1-27) years, which 37 (52.9%) works on public hospital; 67 (95.7%) has any specialization. Sixty four physiotherapists affirm the usage of the pressure controlled ventilation mode. The peak pressure and the plateau pressure wanted to ventilate the patients with TBI and ARDS were in mean 35.6 ± 5,3 (25-50) and 28,4 ± 5,8 (15-35) cmH2O respectively. Forty eighty (68.6%) of the interviewed wants a PaCO2 in 30-35 mmHg. Thirty one (44.3%) of the interviewed finds the ideal PEEP through the best SpO2 with minor FiO2. CONCLUSIONS: It's incontestable that the ventilatory strategy of a patient with severe TBI that become to develop ALI or ARDS is an authentic challenge; a predilection for PCV mode is observed due to the already known protective ventilation strategy.
Acute Respiratory Distress Syndrome; Mechanical Ventilation; Traumatic Brain Injury
ARTIGO ORIGINAL
Trauma cranioencefálico e síndrome do desconforto respiratório agudo: como ventilar? Avaliação da prática clínica* * Recebido da Universidade Católica de Salvador (UCSal), Salvador, BA. Apresentado à Universidade Católica do Salvador como requisito parcial para a graduação de Bacharel em Fisioterapia.
Traumatic brain injury and acute respiratory distress syndrome: how to ventilate? Evaluation of clinical practice
Lucas Montano Paternostro SabackI; Mônica Lajana de AlmeidaII; Wandalvo AndradeIII
IFisioterapeuta, Universidade Católica do Salvador (UCSal)
IIFisioterapeuta membro da Sobrafir, Fisioterapeuta da UTI do Hospital Geral do Estado da Bahia (HGE), Corpo docente da Faculdade Adventista de Fisioterapia (FAFIS) e da União Metropolitana de Educação e Cultura (UNIME)
IIIFisioterapeuta Coordenador do Hospital Geral do Estado da Bahia (HGE)
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Lucas Montano Paternostro Saback R. Sócrates Guanaes Gomes, 215/704, Cidade Jardim 40296-720 Salvador, BA Fone: (71) 3452-0458 E-mail: lucasmps@pop.com.br
RESUMO
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O trauma cranioencefálico (TCE) constitui um problema de saúde mundial, muito destes pacientes evoluem com insuficiência respiratória necessitando de intubação traqueal e suporte ventilatório artificial, apresentando como complicações freqüentes a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Dessa forma, este estudo teve o objetivo de descrever a prática clínica diária sobre o manuseio ventilatório destes pacientes.
MÉTODO: Foram avaliados quais os modos e os parâmetros ventilatórios utilizados para ventilar os pacientes com TCE e SDRA por uma amostra de fisioterapeutas da cidade de Salvador, BA, a partir de um estudo descritivo, por meio de entrevistas face-a-face no período de outubro de 2005 a março de 2006. Para tanto foi elaborado um questionário semi-estruturado contendo variáveis sócio-demográficas, o perfil do hospital e a estratégia ventilatória aplicada em pacientes com TCE que viessem desenvolver a SDRA.
RESULTADOS: A amostra foi composta por 70 fisioterapeutas, 41 (58,6%) eram do sexo feminino, com média de idade de 31,2 ± 6,4 (24-49) anos e tempo de formado 7,7 ± 6,4 (1-27) anos, dos quais 37 (52,9%) trabalham em hospital público; 67 (95,7%) têm alguma especialização. Sessenta e quatro fisioterapeutas afirmam utilizar o modo pressão controlada (PCV). A pressão de pico e a pressão platô desejada para ventilar os pacientes com TCE e SDRA foram em média, de 35,6 ± 5,3 (25-50) e 28,4 ± 5,8 (15-35) cmH2O, respectivamente. Quarenta e oito entrevistados (68,6%) afirmaram desejar ventilar os pacientes com TCE e SDRA com a PaCO2 entre 30 e 35 mmHg. Trinta e um (44,3%) dos entrevistados afirmaram encontrar a PEEP ideal através da PEEP que ofertasse melhor SpO2 com menor FiO2.
CONCLUSÔES: É incontestável que a estratégia ventilatória de paciente com TCE grave que venha a desenvolver LPA ou SDRA constitua um autêntico desafio; observa-se uma predileção pelo modo PCV devido à já conhecida ventilação com estratégia de proteção pulmonar.
Unitermos: Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo, Traumatismo Cranioencefálico, Ventilação Mecânica
SUMMARY
BACKGROUND AND OBJECTIVES: The traumatic brain injury (TBI) is a healthy-world problem, some of his patients develop respiratory failure, requiring intubation and mechanical ventilation, and the most common complications are the acute respiratory distress syndrome (ARDS). In this way, this study has the objective describe the daily clinical practice of respiratory care in this patients submit mechanical ventilation.
METHODS: The methods and ventilatories parameters used to ventilate the patients with TBI and ARDS has been evaluated by a sample of physiotherapists from the city of Salvador, BA, from a descriptive study. The data were collected by face-to-face interviews in the period of October 2005 to March 2006. For in such way a half structuralized questionnaire was elaborated contends changeable social-demographic, about the hospital profile and the applied ventilatory strategy in patients with TBI that come to develop ARDS.
RESULTS: The sample was composed by 70 physiotherapists, 41 (58.6%) was female, with mean of age of 31.2 ± 6.4 (24-49) years-old and graduated time 7.7 ± 6.4 (1-27) years, which 37 (52.9%) works on public hospital; 67 (95.7%) has any specialization. Sixty four physiotherapists affirm the usage of the pressure controlled ventilation mode. The peak pressure and the plateau pressure wanted to ventilate the patients with TBI and ARDS were in mean 35.6 ± 5,3 (25-50) and 28,4 ± 5,8 (15-35) cmH2O respectively. Forty eighty (68.6%) of the interviewed wants a PaCO2 in 30-35 mmHg. Thirty one (44.3%) of the interviewed finds the ideal PEEP through the best SpO2 with minor FiO2.
CONCLUSIONS: It's incontestable that the ventilatory strategy of a patient with severe TBI that become to develop ALI or ARDS is an authentic challenge; a predilection for PCV mode is observed due to the already known protective ventilation strategy.
Key words: Acute Respiratory Distress Syndrome, Mechanical Ventilation, Traumatic Brain Injury
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de programas de prevenção, a melhoria dos equipamentos de segurança e a legislação de segurança no trabalho tiveram um impacto positivo na epidemiologia das lesões encefálicas1,2.
Durante as últimas quatro décadas, o tratamento do traumatismo cranioencefálico (TCE) avançou em muitos aspectos. A implementação de sistemas de rápido transporte e o advento de centros específicos de atendimento, associados aos avanços da Medicina Intensiva e da Neurocirurgia contribuiu para a redução da morbimortalidade destes pacientes1,2.
O TCE constitui um problema de saúde mundial, no que diz respeito principalmente à sua etiologia, pois pode ocasionar incapacidade ou óbito, mudar permanentemente as habilidades e suas perspectivas e modificar a vida de seus familiares3,4.
Correspondem a 200-300 admissões hospitalares por 100 mil habitantes ao ano nos EUA e Inglaterra. Esses números podem variar de acordo com o nível de desenvolvimento do país. Em 2001, na cidade de Salvador, BA, foram atendidas cerca de 11028 vítimas de TCE, no setor de emergência de hospital público de referência, de traumatizados de crânio, destes 555 (5,03%) necessitaram de internação hospitalar e quanto a letalidade, foram constatados 127 óbitos5. Relacionado a isto, têm-se como causas de maior prevalência a violência urbana, os acidentes automobilísticos, as quedas e os acidentes esportivos3,4,6.
Estima-se que cerca de 30% a 80% dos TCE estejam associados ao uso excessivo de álcool etílico7.
Os homens jovens, com idade entre 15 e 24 anos, têm maior risco pessoal; as probabilidades de serem vitimados após aos 40 anos diminui para menos de 5% em ambos os sexos3,4,6.
Os pacientes vítimas de TCE podem evoluir com perda do drive respiratório. Nestes casos de TCE grave, em que a escala de Coma de Glasgow varie de 3 a 81,4,8,9.
A intubação traqueal e a conseqüente dependência da ventilação mecânica tornam-se imprescindível, pois protege as vias aéreas, permite a sedação e a curarização, evita a hipoxemia e previne a hipoventilação, evitando aumentos da pressão intracraniana (PIC) e alterações na pressão de perfusão cerebral (PPC)1. Pacientes com lesão no sistema nervoso central (SNC) correm o risco de broncoaspiração, pela diminuição do nível de consciência e perda dos reflexos protetores das vias aéreas9-11, podendo causar a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), assim como o tempo prolongado na ventilação mecânica1,4.
O objetivo deste estudo foi descrever a prática clínica diária sobre o manuseio ventilatório dos pacientes com TCE grave que evoluem com SDRA ao longo de sua permanência na unidade de terapia intensiva (UTI).
MÉTODO
Foi realizado um estudo descritivo em que se verificou a forma de ventilar os pacientes com TCE e SDRA pelos fisioterapeutas que trabalham em UTI da cidade de Salvador, BA. A coleta de dados foi realizada no período de outubro de 2005 a março de 2006, por meio de entrevistas face-a-face, sempre por um mesmo entrevistador, nos hospitais com serviços de emergências gerais e UTI gerais. Diante desses critérios de inclusão foram selecionados cinco hospitais (três privados e dois públicos) como amostra de conveniência para a realização da pesquisa. Foram entrevistados todos os fisioterapeutas que integram a equipe de fisioterapia de cada UTI e os que trabalham em mais de um serviço incluído no estudo, foram entrevistados apenas em uma vez no primeiro local em que foi encontrado.
Previamente à coleta de dados, foi realizado um estudo piloto com cinco fisioterapeutas, de uma das unidades incluídas no estudo, sendo estes não re-abordados para obtenção de dados.
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário semi-estruturado contendo variáveis sócio-demográficas, sobre o perfil do hospital e a estratégia ventilatória aplicada em pacientes com TCE que viessem a desenvolver SDRA (Anexo 1 Anexo 1 ). Sobre a estratégia ventilatória foi questionado o modo de ventilação usado (e porquê utiliza este modo), de que maneira é encontrado ou determinado o nível da pressão positiva término expiratória (PEEP), volume-corrente (VT) aplicado, valores desejados para pressão de pico (PPI) e platô (PPL). São ainda variáveis os fatores que implicam em desequilíbrio hemodinâmico, a freqüência e os parâmetros utilizados na terapia de expansão pulmonar (TEP). A análise dos dados foi realizada no programa estatístico de uso livre, SPSS v. 9.0 e o Microsoft Excel 2003. Foi realizada análise descritiva dos dados com o objetivo de verificar as características gerais e específicas da população examinada. No momento da entrevista foi ressaltado que a intenção da pesquisa era descrever a prática clínica diária, não importando os conhecimentos teóricos sobre os itens analisados; e apresentado um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual foi exposto os objetivos do estudo para todos os entrevistados, sendo garantido o anonimato, a confidencialidade dos dados e o direito de interromper a entrevista em qualquer momento, de acordo com os aspectos éticos concebidos pela resolução 196/96 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisas envolvendo seres humanos.
RESULTADOS
A amostra foi composta de 81 fisioterapeutas; houve três recusas e um questionário foi anulado por motivos éticos, fisioterapeutas que integrem mais de uma equipe ocorreu em sete situações, sendo entrevistados no primeiro local encontrado. Dos 70 entrevistados, 41 (58,6%) eram do sexo feminino, com média de idade de 31,2 ± 6,4 (24-49) anos e tempo de formado 7,7 ± 6,4 (1-27) anos, dos quais 37 (52,9%) trabalham em hospital público; 3 (4,3%) eram graduados, 43 (61,4%) tinham alguma especialização em ventilação. Em relação ao perfil dos hospitais incluídos, apenas um hospital particular não era hospital de ensino.
As cinco UTI Gerais totalizaram 116 leitos, destes 62 (53,5%) são de hospitais particulares. Foi consenso entre as unidades a monitorização e o registro da ventilação mecânica, e o tempo de permanência da equipe de fisioterapia 24 horas por dia. Vinte e cinco dos entrevistados (35,7%) afirmaram haver monitorização de PIC em todos pacientes com TCE e SDRA, destes, 23 (32,8%) trabalham em hospital particular; e 27 (38,6%) afirmaram haver monitorização da capnometria em todos pacientes com TCE e SDRA, destes, 22 (31,6%) trabalham em hospital particular. Em relação aos ventiladores disponíveis em cada UTI e qual o de melhor nível técnico para ventilar os pacientes com TCE e SDRA, 55 (78,57%), afirmaram estar usando o considerado de melhor nível técnico para ventilar os pacientes com TCE e SDRA, de acordo com a tabela 1. Sessenta e quatro fisioterapeutas (91,4%) afirmaram utilizar o modo pressão controlada (PCV) para ventilar os pacientes com TCE e SDRA; destes 55,7% (39) utilizam com o objetivo de proteger as vias aéreas, 18,6% (13) para melhor monitorizar as pressões e 5,7% (4) afirmaram seguir protocolo da unidade, apesar de não haver protocolo em nenhuma unidade, em posterior investigação. Houve perda de dados, n = 8 (11,4%), de acordo com a figura 1.
Seis entrevistados (8,6%) afirmaram utilizar o modo volume controlado (VCV) para ventilar os pacientes com TCE e SDRA, destes 2,9% (2) utilizam como o objetivo de garantir o VT ideal para o paciente, e 2,9% (2) seguiam protocolo da unidade, apesar de não haver protocolo em nenhuma unidade, em posterior investigação. Houve perda de dados, n = 2 (2,9%). A PPI desejada para ventilar os pacientes com TCE e SDRA foi em média de 35,6 ± 5,3 (25-50) cmH2O, já a PPL desejada para ventilar os pacientes com TCE e SDRA foi de 28,4 ± 5,8 (15-35) cmH2O. Quarenta e oito entrevistados (68,6%) afirmaram desejar ventilar os pacientes com TCE e SDRA numa PaCO2 entre 30 e 35 mmHg (Figura 2). Trinta e um (44,3%) dos entrevistados afirmaram encontrar a PEEP ideal para ventilar os pacientes com TCE e SDRA através da PEEP que oferte a melhor SpO2 com menor FiO2 (Figura 3).
Sessenta e sete (95,7%) fisioterapeutas afirmaram realizar TEP no pacientes com TCE e SDRA; destes, 56 (80%) utilizam a PEEP, nas suas diversas formas de aplicação, como técnica de escolha. A PEEP média para o recrutamento foi de 30,6 ± 5,6 (20-40) cmH2O, e como critério para realização da técnica, 57,1% (n = 40) dos entrevistados utilizam indicadores funcionais, como radiografias, hemogasometria, ausculta pulmonar e SpO2 (Figura 4).
Caso não houvesse monitorização da PIC, apenas 37 (52,9%) fisioterapeutas realizariam a TEP, desses, 31,5% utilizariam a PEEP, com valor médio de 31,2 ± 5,2 (20-35) cmH2O, o restante, 21,4% realizariam o suspiro com TEP.
DISCUSSÃO
Foi observado que a modalidade encontrada para ventilar os pacientes com TCE e SDRA é o modo pressão controlada (PCV); encontram a PEEP ideal através da maior SpO2 com menor FiO2; utilizam hiperventilação leve (PaCO2 entre 30 e 35 mmHg); PPI e PPL com valores de 35,6 ± 5,3 e 28,4 ± 5,8 cmH2O, respectivamente; e uma PEEP média para o recrutamento alveolar desses pacientes 30,6 ± 5,6 cmH2O.
As estratégias terapêuticas em pacientes com lesão encefálica nas UTI têm se voltado para o tratamento e a prevenção da isquemia encefálica como também da lesão pulmonar aguda e síndrome do desconforto respiratório agudo12. O manuseio da hipertensão intracraniana e o cuidado em se evitar a hipotensão sistêmica constituem o suporte principal no cuidado do paciente crítico com traumatismo cranioencefálico grave13. Torna-se imprescindível a atenção e os cuidados básicos ao paciente com TCE que venham a alterar a hemodinâmica e conseqüentemente o aumento da hipertensão intracraniana. Fatores como elevação demasiada da cabeceira (acima de 30º), aspiração endotraqueal (com aumento da PaCO2, resultando em vasodilatação encefálica), tosse, febre e o menor esforço do paciente pode estar associado com a elevação da PIC 8,913-19. Apesar da maioria dos entrevistados (64,3%) afirmarem não haver monitorização da PIC, Cremer e col.20 observaram que apenas 6% dos pacientes se beneficiariam de uma terapia-alvo para PIC (< 20 mmHg) e PPC (> 70 mmHg), considerando um risco absoluto de 90%. Em outras palavras, para que um paciente se beneficiasse, precisaria de um número superior ou igual a 16 sendo tratado20. A vasoconstrição induzida pela hipocapnia e a redução subseqüente no fluxo sanguíneo cerebral (FSC) podem diminuir rapidamente a PIC. Podem ser usados breves períodos de hiperventilação leve (PaCO2 entre 30 e 35 mmHg) como parte do manuseio da PIC 2. Observou-se concordância entre os dados da literatura e os resultados desta pesquisa, onde 68,7% desejam a PaCO2 entre 30 e 35 mmHg 4 para ventilar os pacientes com TCE e SDRA. A hiperventilação prolongada deve ser evitada na ausência de PIC elevada, e a hiperventilação profilática deve ser evitada nas primeiras 24h de lesão encefálica, porque neste período é comprovado que o FSC é reduzido a menos da metade1,2,4. Entre as complicações mais freqüentes e graves associadas ao paciente com TCE grave, destacam-se a LPA e SDRA, que se beneficiariam da aplicação da PEEP e da ventilação com proteção pulmonar1. Observou-se na literatura incidência entre 20% e 81% do comprometimento pulmonar nos pacientes com lesão encefálica1,16,21,22. A aplicação da PEEP nos pacientes criticamente enfermos, após TCE, permanece controverso. Clinicamente, a PEEP exerce efeitos benéficos na oxigenação pelo aumento da capacidade residual funcional, redução do shunt intrapulmonar, pelo recrutamento alveolar e redução da suplementação de oxigênio. PEEP em excesso, por outro lado, pode causar volutrauma, dificultar a drenagem venosa, reduzir a PAM e aumentar a PIC 13. No presente estudo, 44,3% da amostra afirmou encontrar a PEEP basal dos pacientes com TCE e SDRA através da PEEP que oferte melhor SpO2 com menor FiO2; e a PEEP para a manobra de recrutamento nesses pacientes 30,6 ± 5,6 cmH2O. Em concordância, Frost e col. não observaram alterações na PIC com o aumento da PEEP em 40 cmH2O 23. Já Huynh e col. demonstraram que a aplicação da PEEP de 20 cmH2O não ocasionou elevação da PIC ou produziram mudanças significativas na PPC, mesmo em pacientes com complacência intracraniana reduzida e hipertensão intracraniana13. Num estudo envolvendo 33 pacientes com lesão encefálica grave submetida a PEEP de no máximo 15 cmH2O, resultou em aumento clinicamente insignificante da PIC, de 1,3 mmHg. Destes 33 pacientes, observou-se elevação da PIC em 17, diminuição em cinco, e permaneceu inalterada de acordo com outros estudos11,14. Georgiadis e col.18 mostraram que a aplicação da PEEP de 12 mmHg não apresentou influência significativa na PIC em pacientes com doença céfalo-vascular, e a diminuição na PPC foram devido a mudanças na PAM. Segundo Caricato e col.15 o aumento da PEEP de 0 a 12 cmH2O não apresentou efeitos significativos na PIC em pacientes com TCE, com ou sem alterações pulmonares. Por outro lado, a aplicação da PEEP com valores acima ou iguais a 15 cmH2O pode agravar ou induzir a hipertensão intracraniana12. Shapiro e col. fizeram a aplicação da PEEP, de causa traumática ou não e LPA (dentre os quais dois pacientes apresentavam relação PaO2/FiO2 < 200 mmHg), com o propósito de investigar os efeitos das manobras de recrutamento a volume de acordo com a função respiratória, em 12 pacientes com lesão encefálica a PIC elevou-se em 10 mmHg ou mais em seis dos 12 pacientes em que foram aplicados PEEP de 4 a 8 cmH2O, resultando em diminuição da PPC abaixo de 50 mmHg. Bein e col.12 ventilaram 11 pacientes com lesão encefálica aguda (MRV) sobre a PIC e o metabolismo encefálico. Durante a MRV (elevação da driving pressure para 60 cmH2O) observou-se significativa diminuição da PAM e elevação da PIC, resultando em diminuição da PPC para valores abaixo de 65 mmHg 5,12. No presente estudo os valores da mecânica respiratória, "PPI e PPL", encontrados foram de 35,6 ± 5,3 e 28,4 ± 5,8 cmH2O, respectivamente; não há dados objetivos na literatura que possam discutir essa variável, no entanto esses valores estão dentro dos limites aplicáveis em pacientes com SDRA isoladamente24,26,28,31. Além disso, vêm sendo observado que a mecânica respiratória nos pacientes com lesão encefálica e pneumonia associada à ventilação, apresenta aumento da pressão intra-abdominal, da elastância da parede torácica e da resistência das vias aéreas22. Em pacientes com baixa complacência do sistema respiratório e lesão encefálica, a aplicação da PEEP (12 cmH2O) não apresentou efeito significativo na hemodinâmica encefálica e sistêmica15. Alguns autores têm acreditado que fatores que reduzam a complacência pulmonar, como pneumonia ou atelectasia, tenham efeito de proteção para diminuir a transmissão da pressão das vias aéreas15. Em relação ao modo ventilatório utilizado 91,4% dos entrevistados afirmaram utilizar o modo pressão controlada (PCV). Não há dados na literatura favorecendo um modo ou outro; questão de extrema relevância, citado por Georgiadis e col.18 "nenhum estudo tem avaliado o modo ventilatório ideal para os pacientes com doença encéfalo-vascular, particularmente para os pacientes com PIC elevada que desenvolvem pneumonia ou SDRA". Supõe-se que a predileção pelo modo PCV deva-se pela estratégia de ventilação de proteção pulmonar, onde se preconiza a utilização de baixo volume-corrente e pressão limitada nas vias aéreas para evitar a hiperdistensão alveolar, juntamente com alto ou moderado valor da PEEP, para prevenir os colapsos alveolares, resultando em melhor sobrevida dos pacientes com SDRA25-31.
CONCLUSÃO
Observou-se neste estudo uma grande discrepância entre os dados obtidos em uma mesma UTI, possivelmente pela ausência de protocolo ou fatores individuais profissionais. Outro fator que deve ser citado foi a considerável perda de dados, mesmo sendo enfatizado que não estaria sendo avaliado os conhecimentos teóricos em relação ao assunto proposto. Uma possível causa seja pelo antagonismo às condutas dos pacientes com TCE e SDRA separadamente.
É incontestável que a estratégia ventilatória de um paciente com TCE grave que venha a desenvolver LPA ou SDRA constitua um autêntico desafio. As medidas terapêuticas específicas do TCE se unem à necessidade de ventilação de proteção pulmonar, resultando, muitas vezes, em manobras terapêuticas antagônicas. Mais estudos aleatório e controlado precisam ser realizados para se determinar técnicas alternativas e qual o modo ideal de ventilar estes pacientes.
Apresentado em 29 de agosto de 2006
Aceito para publicação em 19 de fevereiro de 2007
Anexo 1 - TCE x SDRA: Como ventilar? Questionário de Pesquisa
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Anexo 1 - clique para ampliar Anexo 1 - clique para ampliar
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Anexo 1
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
23 Out 2007 -
Data do Fascículo
Mar 2007
Histórico
-
Aceito
19 Fev 2007 -
Recebido
29 Ago 2006