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Para: Funcionalidade e velocidade da caminhada de pacientes após alta da unidade de terapia intensiva

AO EDITOR

É de suma relevância o tema abordado no artigo de Silva e Santos intitulado «Funcionalidade e velocidade da caminhada de pacientes após alta da unidade de terapia intensiva”,(11 Silva PB, Santos LJ. Patient functionality and walking speed after discharge from the intensive care unit. 2019;31(4):529-35.) considerando a necessidade de avaliação da capacidade funcional e física de pacientes previamente internados em unidade de terapia intensiva (UTI), a fim de gerar indicadores de qualidade que possam sustentar a prática clínica.(22 França EE, Ferrari F, Fernandes P, Cavalcanti R, Duarte A, Martinez BP, et al. Fisioterapia em pacientes críticos adultos: recomendações do Departamento de Fisioterapia da Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Rev Bras Ter Intensiva. 2012;24(1):6-22.

3 Curzel J, Forgiarini Júnior LA, Rieder MM. Avaliação da independência funcional após alta da unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva. 2013;25(2):93-8.
-44 Parry SM, Granger CL, Berney S, Jones J, Beach L, El-Ansary D, et al. Assessment of impairment and activity limitations in the critically ill: a systematic review of measurement instruments and their clinimetric properties. Intensive Care Med. 2015;41(5):744-62.) No entanto, é preciso cautela ao analisar e interpretar os resultados apresentados.

No intuito de mensurar a capacidade funcional dos pacientes após a alta da UTI e antes da alta hospitalar, foi realizado o teste de caminhada de 10m. No entanto, esse teste não é validado no ambiente hospitalar e para pacientes criticamente enfermos, o que reflete um viés importante no estudo. Além disso, o artigo relatou que o teste foi realizado três vezes com cada participante em cada um dos momentos (alta da UTI e momento antes da alta hospitalar), tendo sido utilizada a média dos três valores. Questionamos qual a razão da realização de três testes no mesmo momento e qual respaldo metodológico para o desenho do estudo.

Provavelmente, no primeiro teste, pode ter ocorrido o efeito aprendizado,(55 ATS Committee on Proficiency Standards for Clinical Pulmonary Function Laboratories. ATS Statement: guidelines for the six-minute walk test. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):111-7. Erratum in Am J Respir Crit Care Med. 2016;193(10):1185.) o qual poderia ter subestimado a distância e a velocidade percorrida pelos pacientes, e, por consequência, diminuído a média de velocidade percorrida.

Em relação à caracterização, na tabela 1, foi apresentada a amostra que é heterogênea (pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio, infarto agudo do miocárdio, entre outros), o que pode influenciar nos resultados. Adicionalmente, foi demonstrada angina instável em seis pacientes, entendendo-se que eles foram submetidos a um teste de capacidade funcional submáximo, o qual seria uma contraindicação absoluta para a realização.(44 Parry SM, Granger CL, Berney S, Jones J, Beach L, El-Ansary D, et al. Assessment of impairment and activity limitations in the critically ill: a systematic review of measurement instruments and their clinimetric properties. Intensive Care Med. 2015;41(5):744-62.) Além disso, não foram mencionadas questões pertinentes à segurança do teste nesses pacientes (critérios de interrupção, cuidados no pós teste).

Acrescentando-se, as autoras relataram melhora significativa da capacidade funcional durante a internação hospitalar (p < 0,001). No teste pós-unidade de terapia intensiva, verificou-se média de velocidade de 0,48m/s e, no pré-alta hospitalar, houve aumento para 0,71m/s.

Em relação a esse desfecho, questiona-se o quanto essa diferença (0,23m/s) tem relevância em desfechos clínicos importantes e o quanto se deve concluir que essa diferença (apesar de estatisticamente aumentada) reflete em mudanças significantes na condição clínica e na capacidade funcional. Dessa maneira, sugere-se a não extrapolação dos resultados em relação à melhora na capacidade funcional ou funcionalidade - ou seja, a interpretabilidade (grau em que se pode atribuir significância qualitativa a pontuação quantitativa avaliada) e a mínima diferença clinicamente importante, na qual a diferença no resultado de um teste deve ser necessária para que se percebam mudanças significantes na condição clínica, são relevantes.(44 Parry SM, Granger CL, Berney S, Jones J, Beach L, El-Ansary D, et al. Assessment of impairment and activity limitations in the critically ill: a systematic review of measurement instruments and their clinimetric properties. Intensive Care Med. 2015;41(5):744-62.)

Destaca-se que a utilização de um instrumento de avaliação deve se pautar na praticidade de sua aplicação e na relevância clínica dos itens investigados. O conhecimento de suas propriedades clinimétricas é decisivo para a tomada de escolha de uma ferramenta de avaliação. O instrumento deve ter boa aplicabilidade clínica, sem deixar de apresentar propriedades de medidas robustas, previamente definidas.(44 Parry SM, Granger CL, Berney S, Jones J, Beach L, El-Ansary D, et al. Assessment of impairment and activity limitations in the critically ill: a systematic review of measurement instruments and their clinimetric properties. Intensive Care Med. 2015;41(5):744-62.)

REFERÊNCIAS

  • 1
    Silva PB, Santos LJ. Patient functionality and walking speed after discharge from the intensive care unit. 2019;31(4):529-35.
  • 2
    França EE, Ferrari F, Fernandes P, Cavalcanti R, Duarte A, Martinez BP, et al. Fisioterapia em pacientes críticos adultos: recomendações do Departamento de Fisioterapia da Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Rev Bras Ter Intensiva. 2012;24(1):6-22.
  • 3
    Curzel J, Forgiarini Júnior LA, Rieder MM. Avaliação da independência funcional após alta da unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva. 2013;25(2):93-8.
  • 4
    Parry SM, Granger CL, Berney S, Jones J, Beach L, El-Ansary D, et al. Assessment of impairment and activity limitations in the critically ill: a systematic review of measurement instruments and their clinimetric properties. Intensive Care Med. 2015;41(5):744-62.
  • 5
    ATS Committee on Proficiency Standards for Clinical Pulmonary Function Laboratories. ATS Statement: guidelines for the six-minute walk test. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(1):111-7. Erratum in Am J Respir Crit Care Med. 2016;193(10):1185.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2021

Histórico

  • Recebido
    02 Maio 2020
  • Aceito
    10 Maio 2020
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