PROFESSORA CAROLINA MARTUSCELLI BORI
Maria José Pereira M. de Almeida
Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas
Gostaria imensamente de saber fazê-lo, mas não acredito que seja capaz de expressar toda a admiração que tenho pela sua pessoa. Associar sua vida profissional, com dedicação, seriedade, competência, e muitas outras qualificações, diz muito pouco. Tentarei descrever algumas das pequenas coisas que tiveram grande significado para mim.
Fui sua orientanda de mestrado e doutorado. Esses foram anos fundamentais na minha formação acadêmica. Nesse período, pude notar o quanto é capaz de articular bem atividades abrangentes e diversificadas. Enquanto coordenava a Comissão de Pós-Graduação do Instituto de Psicologia da USP, e era presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, não modificou seu modo de orientar. Quando fechava a sala para uma sessão de orientação, sua atenção passava a idéia de que estava fazendo a coisa mais importante do mundo. Os manuscritos entregues pelos alunos voltavam com sua letrinha miúda, inserindo conceitos, chamando à reflexão, aleitando posições, destacando valores, questionando formas.
Lembro-me que, quando procurei a Psicologia, buscava soluções para problemas de ensino. Problemas que percebia na relação dos jovens com o conteúdo da Física, disciplina em que havia me graduado; e também problemas no trabalho com a formação continuada de professores. Nessa época, o modo como a percebia e notava era totalmente assistemático - os problemas não passavam de vagas inquietações. Como vinha de uma área plenamente identificada com o espírito científico, quando lhe pedi que me orientasse, tinha como principal expectativa a manutenção desse espírito na solução dos problemas, que, então, na minha vida profissional fugiam muito do que aprendera ao estudar uma disciplina voltada para a natureza, e considerada, por muitos, como exata.
Contudo, foi em aspectos, talvez inesperados, que a Dra. Carolina mais interferiu no meu modo de pensar o ensino da Ciência. Recordo sempre com carinho uma de suas questões mais freqüentes: "Qual a natureza das perguntas do aluno? Qual a natureza do conteúdo a ensinar?" Lembro também o questionamento que fazia sobre os por quês das idéias prontas, que eu defendia, julgando ter incorporado. Para além das razões, pautadas no já estabelecido, sua orientação sempre buscou trabalhar minhas próprias representações, tomando possível sua superação, a partir de reflexões subsidiadas em perguntas adequadamente formuladas. E não eram questões relativas apenas à aprendizagem ou ao comportamento humano. Muitas delas abrangiam a natureza filosófica do conteúdo da Física, e determinavam rumos de estudo e raciocínio diversos da Psicologia. Por esses e outros aspectos desse período de interação regular, não posso deixar de registrar aqui, que em nossas conversas sempre me senti convivendo com uma educadora, que buscava na Psicologia apenas os meios para sua reflexão.
Em cada lembrança desse período vejo seu propósito em contribuir para a autonomia de pensamento, de cada um de seus inúmeros orientandos, ou, de maneira mais abrangente, promovendo eventos e defendendo o direito à palavra e à sua divulgação. Sempre a vi contribuindo para o desenvolvimento e concretização de idéias, mesmo que divergentes do seu próprio modo de pensar, desde que estas fossem solidamente fundamentadas. E isto não me parece comum no meio acadêmico.
É, talvez, principalmente por essa característica de sua personalidade, que conheço tantas pessoas, e tão diferentes, que a admiram tão profundamente.
Feliz pela oportunidade de, publicamente, poder lhe dizer muito obrigado, querida Professora Dra. Carolina Martuscelli Bori, quero, de maneira menos formal, aqui lhe deixar também um grande e carinhoso abraço.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
25 Nov 1998 -
Data do Fascículo
1998
